Hell of Wonderland escrita por Capitã Sparrow


Capítulo 2
Medo


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora para postar mas tive um bloqueio criativo :/
Espero que esse cap tenha ficado bom... Alice vai conhecer um pouco mais do ambiente em que está e personagens familiares irão surgir ^^
Boa leitura ;)



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Quando pisou fora da salinha sentiu um vento frio soprar seus cabelos, ainda molhados pelo sangue fétido que escorrera da boca do monstro. Alice observou seus pelos se eriçarem cada vez mais a cada passo, ela só usava um vestido de verão, que não a protegia do ar gélido. Olhou para o céu e não conseguiu distinguir se o que flutuava em meio àquele mar de sangue era a Lua ou o Sol. A estrela redonda parecia ter sido mordida por algo, pois lhe faltava um pedaço e assim como o resto do céu, era escarlate e brilhava de maneira incomum. A menina não saberia dizer se o céu era vermelho por causa da luz que a estrela emanava ou se a estrela era dessa cor por causa do céu. Ela ficou alguns segundos hipnotizada, mas voltou a si quando uma nova corrente de ar soprou seu rosto, fazendo-a se contorcer de frio.

A garota olhou ao seu redor, sem saber para onde correr. Tinha medo que os gatos viessem atrás dela. Sua altura dificultava a visão, mas a menina optou ir pela direita, tentando evitar o centro do jardim. Andou se esgueirando entre plantas e flores, sempre atenta a qualquer barulho suspeito. Quando ela passou pelas roseiras, estranhou, pois as vermelhas pareciam escorrer como se tivessem jogado tinta sobre elas. Lembrou-se das paredes que deixaram a mesma impressão e sentiu um arrepio atravessar seu corpo, fazendo a garota estremecer.

Ela seguiu até chegar à parte mais “suja” do jardim, onde a grama era mais alta que a menina escondendo-a por completo. Com um suspiro de alívio continuou andando escondida sob a grama molhada de orvalho. Ela viu uma trilha a sua direita e tentou não ficar muito afastada, para não se perder em meio à névoa que começava a se formar.

A garota andou e andou, até perceber que a trilha fez uma pequena curva, contornando uma árvore morta. Seu tronco acinzentado era fino e retorcido como se um gigante a tivesse espremido. Ela parecia reverencia algo, pois se curvava até o chão. Galhos compridos se esticavam como braços tortos que tentavam agarrar o nada, alguns se esticavam tentando alcançar o céu, outros encostavam no chão, o que dava uma personalidade a árvore, como se tivesse sido um monstro mumificado pelo tempo.

Alice, curiosa, olhou para os lados, e percebendo que estava sozinha se aproximou da trilha para observar a árvore mais de perto. A luz escarlate tornava a árvore ainda mais tenebrosa e a neblina se acumulava ao seu redor. A menina notou que algumas placas pendiam dos galhos secos, e davam direções estranhas como “para cima”, “para baixo”, “por aqui”, “por ali”, “desse lado” e etc. Deixando-a confusa.

Como a árvore era grande e tapava boa parte dos dois caminhos a menina teve que ir para um lado e depois para o outro para decidir qual deles era mais atrativo. O da esquerda era repleto de árvores mortas e a neblina era ainda mais densa, dificultando que a garota conseguisse enxergar qualquer coisa. Já o da direita possuía algumas árvores, mas eram diferentes... Eram um tanto amareladas? Alice nunca vira igual. Havia um pouco de iluminação e a neblina era um pouco mais fina. A menina optou pelo caminho da direita e logo correu até a primeira árvore, observando-a de perto. Ela era alta e bem fina, com apenas quatro ou cinco galhos que apontavam para todos os lados. Uma rachadura se estendia da raiz até o topo, formando uma fenda no centro dela, que permitia ver através do buraco da árvore. Apesar do lugar assustar a menina, ela não conseguia conter sua curiosidade com o ambiente incomum e suas plantas diversificadas. Aquilo a encantava de uma maneira que a fazia perder tempo observando os detalhes.

Ela voltou a si e percebeu o tempo que havia perdido. Esse sempre fora seu maior mal, a menina se perdia em seus pensamentos. O medo voltou “à tona” fazendo a garota sacudir a cabeça de leve e ir em frente com passos apressados, sem se deixar distrair pela paisagem.

O clima foi mudando, as cores das árvores eram mais diversificadas em tons de amarelo, marrom e laranja, e o clima começava a ficar mais úmido e quente. O céu continuava escarlate, mas a estrela parecia diferente, menor e oval.

“Parece até outro país! Que lugar doido!”

A menina continuou caminhando, mas já estava começando a ficar ofegante e sentia seus pés reclamarem. Ela resolveu tirar os sapatos, ficando apenas com sua meia 3/4 macia. Sentiu seus pés agradecerem, quando algo a fez parar. Uma doce melodia inundou sua mente fazendo a menina seguir o som sem se importar com os sapatos que deixara para trás.

As vozes angelicais ficavam cada vez mais altas fazendo a menina quase correr. Ela não parou até chegar num lugar verde. Tudo era verde. Árvores, flores e o solo também. Mas era um verde muito vivo, quase fluorescente e algumas plantas tinham sua parte interna avermelhada. As cores eram tão vivas que novamente confundiram Alice.

“São lugares tão diferentes em um único ambiente. Gostei daqui. Talvez seja um bom lugar para descansar.”

A doce melodia vinha de todas as flores, que cantavam docemente fazendo a menina bocejar.

Do lado esquerdo, estavam árvores e plantas que pareciam uma espécie de jarro com uma pequena tampa, e no chão, algumas flores um tanto amareladas com pétalas pendidas. Ainda do lado esquerdo, um pouco mais a frente, tinha um pequeno lago. Tão pequeno que a menina conseguia enxergar toda sua extensão, apesar de sua altura. Na sua superfície, Alice podia ver flores redondas e um tanto abertas. De pé, ao lado do lago, sobre o solo úmido, estavam centenas de folhas lisas de ponta arredondadas, lotadas de insetos de todas as cores.

Do lado direito algo similar a cipó pendia das árvores e, grudada nelas, uma espécie de flor que lembrava isopor, com suas pétalas furadas. No chão repousavam algumas plantas que possuíam gotículas pegajosas e mais a frente uma planta que chamou a atenção da menina. Era como uma folha oval gigante dobrada ao meio com espinhos compridos que, quando a planta estava fechada, se cruzavam. Havia insetos sobre todas as plantas, como se dormissem silenciosamente.

Ela escolheu uma árvore sem muitas plantas ao redor, e se deitou, aconchegada no solo quente. Fechou os olhos, preparada para se desligar e descansar um pouco. Ela permaneceu assim, quando um barulho fez a menina abrir apenas um dos olhos, com muita dificuldade. Ela viu um rato, alguns centímetros maior que ela, correndo em direção àquela planta que chamara sua atenção. Seu olho pesava, mas ela continuou observando o ratinho correr. Ele pareceu parar de repente ao chegar bem perto da planta, que em uma fração de segundos se curvou sobre o rato abocanhando-o de uma vez. O ratinho guinchava, mas estava preso naquela jaula de espinhos. Assustada, Alice levantou em um pulo e percebeu que se encontrava numa floresta de plantas carnívoras. Lembrava-se de ter lido sobre isso num livro certa vez.

“Eles só comem insetos, e às vezes alguns sapos e rãs. Não tem perigo.”

Tentava acalmar sua respiração ofegante se convencendo com seu pensamento. Mas a menina percebeu que havia cabelo e dentes humanos em algumas plantas. O coração da menina gelou e ela não conseguia se mover, paralisada pelo medo. Percebeu que havia sangue coagulado no solo e pequenos animais sendo devorados pelas plantas carnívoras.

Com o canto dos olhos viu um cipó se mover em sua direção, e se esquivou para o lado. Mas outro foi mais rápido se enrolando nos pés da menina que começava a gritar em desespero. Ela se segurou em uma planta jarro, mas soltou rapidamente ao sentir sua mão arder. Uma substância venenosa derreteu parte da pele da menina, deixando a palma de sua mão em carne viva. As lágrimas começaram a escorrer, a dor era imensa, mas o medo era maior. Cravou as unhas no cipó que pareceu guinchar afrouxando um pouco o aperto. Aproveitou para se desvencilhar, deixando a meia grudada no cipó. Correu sem olhar para a direção que tomou e não olhou para trás. Correu o mais rápido que pode e quando finalmente parou percebeu que estava perdida entre as árvores gigantescas. A menina soluçava de dor e se perguntava que lugar horrendo era aquele. Queria voltar. Voltar para qualquer lugar que não fosse ali. Voltar para sua vida anterior, que estava perdida em sua memória.

Desmaiou, acordando apenas algumas horas depois, e percebeu que sua mão começava a assumir um tom arroxeado. Pegou a outra meia, e a enrolou na mão fortemente, fazendo um nó de escoteiro.

“E agora? Para onde irei?”

A menina se perdeu em pensamentos, sem saber para onde ir, então decidiu apenas seguir em frente. Sentia as veias de sua mão pulsar fortemente, aumentando a dor. Mas ela não parou. Decidiu que não descansaria até encontrar a saída daquele lugar.

Depois de um tempo achou a trilha novamente, mas ouviu um assovio, se escondendo atrás de uma árvore. Então dois seres, que pareciam humanos passaram em sua frente. Os dois eram imensamente gordos e usavam a mesma roupa. Camisa amarela, shorts vermelho e um grande avental branco, que estava sujo de terra e sangue. Eram parcialmente carecas, tendo apenas fiapos de cabelo que cresciam para os lados. Alice não conseguiu ver a expressão dos dois, pois passaram em passos largos por ela, deixando um rastro escarlate. Eles carregavam um facão e um saco de pano cada um. Ela nem queria imaginar o que havia dentro, mas os pensamentos vinham sem sua permissão.

Então, de repente, o segundo gordo parou. Ele fungou pesadamente aspirando todo o ar para dentro de si. O perfume era familiar. Ele tinha certeza. Tinha o melhor olfato que qualquer ser daquele lugar.

– Tem alguém aqui. E é ela.

– Ela? Tem certeza?

O gordo começou a voltar na direção que a menina estava escondida, que prendeu a respiração, sentindo seu coração parar. Ele a viu e quando a menina percebeu, tentou correr, mas ela a alcançou apenas esticando o braço. Bateu na cabeça da menina que apagou e a levantou pela alça do vestido, mostrando-a para o outro.

– Tenho.


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Notas finais do capítulo

E ai? Gostaram? Esse cap foi mais uma descrição, para vcs poderem ter uma ideia de como é Wonderland.. A partir do proximo cap as coisas vão ficar mais tensas e Alice vai ter que se virar nos 30 pra escapar, ou não escapar hehe
XOXO