Mel escrita por Capitã Sparrow


Capítulo 1
Oneshot


Notas iniciais do capítulo

Eu comecei a escrever essa fic há muito tempo mas não conseguia imaginar um final que se encaixasse à história... Mas consegui :3E tenho certeza de que não haveria final mais perfeito >Boa leitura o/



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Mel estava entediada.

Andava de um lado para outro procurando algo que chamasse sua atenção. Seus olhos cinzas faiscaram quando viu seu brinquedo perto do sofá, preparou-se para o bote e pulou sobre ele que fez um “quick” parecendo assustado. Ela jogou-o de um lado para o outro, mas logo se entediou novamente e largou-o em qualquer canto. Foi até a cozinha e observou o ponteiro do relógio movimentar-se lentamente.

Felipe estava atrasado. Para Mel aquela espera era uma eternidade, o relógio era seu pior inimigo, parecia não gostar dela. Tudo que ela podia fazer era esperar. Às vezes tirava um cochilo, outras ficava na janela observando o que acontecia lá fora. Não costumava sair muito. Mas não se importava desde que Felipe estivesse com ela.

Mel deitou no sofá ouvindo as gotas de chuva começando a bater contra a janela e adormeceu. Só acordou quando ouviu um barulho na porta. Sentiu um cheiro familiar. O cheiro do seu amado.

Num pulo, foi direto até a porta, e chamou o nome dele.

“Felipe! Felipe. Felipe...”

Ele abriu a porta se deparando com a pequena. Sorriu e a pegou no colo.

— Sempre espera por mim, não é? Espero que tenha se divertido hoje. – disse o rapaz enquanto fazia cafuné na cabecinha dela.

“Me diverti sim, mas estava com saudades... Por que demorou tanto?”

— Eu me atrasei um pouco, não foi? Mas trouxe uma surpresa.

“O que é? Um presente?”

Os olhos dela brilharam curiosos. Normalmente ele trazia um brinquedo novo ou uma comida gostosa.

“Diga logo Felipe!”

— Beca.

“Beca? O que é isso? É de comer?”

Mel olhava para Felipe confusa, que chamou novamente:

— Entre Rebeca.

— Ah. Desculpe Fê. Estava distraída. – disse uma voz feminina que vinha do corredor.

A garota ruiva entrou no apartamento sorridente.

— Essa é a Mel? Que lindaaaa! – disse roubando Mel dos braços de Felipe e abraçando-a apertado.

“Que garota escandalosa! Quem é ela?”

— Mel, essa é Rebeca. Minha namorada.

“Namorada? Namorada??? O Felipe é meu! Sua... Humana fedida!” Mel mordeu a mão da ruiva e pulou para o chão com raiva.

— Ai!!! Ela me mordeu! – disse mostrando um filete de sangue em sua mão.

“Como ousa Felipe?! Você prometeu... Nós dois para sempre! Meu amor não é suficiente pra você?”

O rapaz sentiu os olhos felinos fitando-o, como se falassem com ele. Felipe não soube o motivo, mas naquele momento, sentiu uma forte sensação de culpa apoderar-se de seu ser.

A gata pulou na janela e encarou os pingos que escorriam. Estava furiosa e triste ao mesmo tempo, não sabia ao certo o que sentia, mas era algo... Explosivo. Passou a noite inteira ali enquanto seu dono e a namorada assistiam algum filme romântico idiota.

***

Depois de uma longa e melosa despedida, Rebeca foi embora. Felipe fechou a porta e olhou para sua gatinha que estava no mesmo lugar, tinha o olhar perdido, como se estivesse triste. Ele não entendia a estranha mudança de humor da gata. Às vezes ela era mesmo mal humorada, estava acostumado àquilo, mas estranhou a atitude arisca, pois adorava ser paparicada pelas visitas.

Ele se aproximou da gata e massageou levemente as pequenas orelhas, e ela ronronou fechando os olhinhos.

“Por que? Por que eu te amo tanto? Por que, Felipe?”

O rapaz olhou carinhosamente a gatinha que ganhara em seu aniversário de sete anos. Desde então fora sua fiel confidente, sempre contara tudo pra ela, que nunca o julgava, ou maltratava. Simplesmente o amava da forma mais pura e inocente. Em sua sofrida adolescência a pequena continuou a ser sua melhor amiga, era a única com quem pode contar naqueles anos difíceis.

Continuou fazendo cafuné na cabecinha da gata que parecia ronronar cada vez mais alto, apreciando aquele pequeno prazer felino. Mel tinha o costume de pedir carinho passando as patas nas bochechas do dono, que sempre se prontificava em satisfazê-la. Quando ele parou foi isso que ela fez, encarando-o com suas pupilas completamente dilatadas.

“Ah, Felipe... Se você soubesse o quanto eu te amo tanto... Queria tanto que meu amor fosse suficiente... ”

O rapaz sentiu um enorme aperto no coração. Pegou a gatinha no colo e a abraçou, Mel adorava sentir o pulsar forte do coração de seu amado dono. Se fosse humana teria chorado naquele momento, e, na verdade chorou, com seu jeitinho de gata.

***

Uma semana se passou, e Felipe não parava mais em casa, sempre saindo com sua namorada. Mel estava totalmente entediada e seus dias estavam muito solitários. A gata mal comia ou sequer brincava, apenas se arrastava tristonha pela casa.

Era uma quarta feira chuvosa, quando a pequena recebeu uma visita inesperada. Seu dono não havia dormido em casa naquela noite e a gata estava deitada no sofá, sem ânimo de levantar, apenas fitava o nada, com olhar perdido.

Então ela sentiu um cheiro diferente no ar, quase imperceptível. De alguma forma parecia familiar, mas não conseguia identificar o que era. Mel fechou os olhos e aspirou aquela fragrância exótica, meio adocicada e ao mesmo tempo ardida. Parecia... Gelada? Sim, lembrava-se do cheiro que esteve presente no dia em que sua mamãe havia partido.

“Então, chegou minha hora?”

— Não. – ela sentiu um sussurro rouco perto de suas orelhas. – Apenas gostaria de companhia.

Mel olhou aquele ser sentado ao seu lado. Parecia uma garotinha comum com cerca de dez anos, tirando o fato de ser extremamente pálida, como uma boneca de porcelana. Seus cabelos cacheados pareciam um ninho de passarinhos de tão bagunçados, uma parte deles caia sobre o olho direito, escondendo-o quase que por completo. Vestia uma túnica preta que parecia ser grande demais para seu pequeno corpo e sorria docemente para Mel.

“Você não penteia o cabelo não?”

A menina riu do atrevimento da gatinha.

— Você é pequena, mas é bem afiada.  

“Claro! Caso você não tenha notado sou uma gata. Gatos têm garras muito afiadas.”

A menina riu ainda mais irritando a gatinha que, parecendo esquecer seu desanimo, pulou do sofá arranhando a perna da menina, mas Mel viu que nada aconteceu. Ela olhou confusa para a menina que simplesmente respondeu:

— Eu não sinto dor, nem posso sofrer ferimentos. Também não posso morrer, pois sou eu que levo a morte aos outros e ninguém a traz até mim.

“Você é a morte?”

— Sim e não. Eu era outra coisa antes de ser o que sou, mas não consigo lembrar. – respondeu pensativa. Mirava a parede, mas pareciam enxergar algo além.

“Você vive sozinha?”

— Viver? Eu não sou um ser vivente para ter vida... Todos tem medo de mim, e os que não me odeiam nem temem, me querem por interesse.

“Interesse?”

— Sim, querem que eu silencie suas preocupações e sofrimentos, que eu acabe com sua dor. Mas assim que entrego o que desejam, vão embora e fico sozinha novamente.

“Pra onde eles vão?”

— Não sei ao certo. Acho que não vão a lugar algum, deixam de existir simplesmente. – disse soltando um longo suspiro e estendeu a mão, esperando pelo consentimento da gata que não a impediu dessa vez. Então começou a fazer cafunés na pequena.

As duas ficaram juntas a tarde inteira, ora conversando, ora apreciando os sons do silêncio. As duas pareciam compreender uma a outra de modo sobrenatural.

Quando a noite caiu Mel sentiu o cheiro de seu amado e junto ao dele um perfume adocicado.

“Ótimo. Ele trouxe a humana fedida aqui.” A gata aninhou-se ainda mais no colo da garota. “Não vá embora. Gosto da sua companhia.”

— É a primeira vez que ouço isso. –  falou exibindo um tímido sorriso. – Eu também não quero ir... Mas preciso. Tenho muito trabalho a fazer.

“Sozinha?”

— Sim, mas se quiser pode vir comigo.

“Eu? Ir com você? Mas... Mas e o Felipe?” Mel olhou-a tristonha.

— Esta é uma decisão sua, mas agora ele tem mais alguém que o ama, e não estará sozinho. E bem... Eu não tenho ninguém.

As duas ficaram em silêncio ouvindo as vozes se aproximando cada vez mais.

“Eu o amo mais que tudo, mas talvez seja a hora de deixá-lo. Sei que essa insuportável da Rebeca o ama e sei que ela cuidará dele. Eu vi o amor através dos olhos dela. Mas eu tenho medo... Eu não vou mais sofrer?”

— Nunca mais. – o sorriso da menina era triste, como se sentisse o peso amargo do sofrimento da pequena que a encarava.

A gata pensou longamente e disse:

“Leve-me com você.”

Sorrindo a garota curvou-se sobre ela, mas, antes que pudesse fazer algo, a pequena disse:

“Espere. Quero senti-lo uma última vez.”

A menina apenas assentiu e esperou.

Felipe entrou pela porta e correu até a Mel.

— Sentiu minha falta? – perguntou abraçando-a.

“Eu te amo, Felipe.” A gatinha abraçou-o também, e o rapaz sentiu o toque do amor puro felino.

— Eu também te amo, minha pequena.

Rebeca observava a cena da porta, sorrindo como uma criança.

Ele a colocou novamente sobre o sofá e foi esquentar um pouco de leite lembrando-se dos momentos doces com sua gatinha mais doce ainda. Mel amava leite, a única coisa que amava mais era um bom petisco de salmão que ganhava do dono de tempos em tempos.

O rapaz lembrou-se de quando sua mãe levou-a para casa e preparou um leite com mel, dando para a gatinha que tomou tudo em um só gole, sempre fora muito voraz. Os dois riram da pequena esganifada, nesse dia ele escolheu seu nome. Mel. A gatinha pareceu adorar.

Poucos minutos se passaram quando ele voltou com o potinho vermelho da gata em mãos e deu-lhe de beber, como fazia quando ela era apenas um filhote. Ele sentou no sofá e colocou-a no colo, passava a mão nos pelos macios da gata, arrancando da pequena um leve ronronar.

Mel sentia-se amada e não encontraria melhor momento para dizer adeus. Lambeu com sua língua áspera a mão do seu amado e afundou-se em seu peito.

Felipe sorriu e a abraçou carinhosamente.

A gata esticou a pata tocando a mão gélida. A menina de porcelana sorriu e curvou-se sobre a gata, depositando um pequeno beijo em seu focinho. Mel fechou seus olhos lentamente.

“Adeus... Felipe.”


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Notas finais do capítulo

Desculpem os erros, acabei não revisando (ooops kkk)Mas e ai? Gostaram? Aceito reviews :3xoxo