Um segundo escrita por Lira Scarlet


Capítulo 1
Capítulo 1




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Eu só tive um segundo, um mero e curtíssimo segundo. Tente entender que, para mim um segundo é tão insignificante, quanto uma folha cair de uma arvore para você. Mas aquele “um segundo” mudou toda a minha eternidade, minha existência.

--Kurosaki Ichigo.—ele falou.

--Kuchiki Rukia.—respondi.

As apresentações só foram feitas na segunda vez que o vi. Na primeira, ele não tinha me visto, havia passado por mim como se eu não existisse, o que não achei estranho, já que ele era um humano e eu, uma shinigami. No entanto, na segunda vez que o vi, por meio das circunstâncias, acabamos sendo obrigados a nos conhecer.

Ichigo era de certa forma e do jeito dele, perfeito. Eu só levei um segundo para ver os olhos castanhos, os cabelos ruivos e a pele marcada pelo sol para saber, que ele tinha a aparência perfeita de um humano saudável de 17 anos. Até o momento, eu não tinha me apaixonado. Quer dizer, quem se apaixonada logo de cara? Tirando aquelas mocinhas dos livros água-com-açúcar que eu aprendi a odiar? Mas quer saber, eu não me apaixonei por ele no primeiro segundo...

--porque foi me salvar?—perguntei. —quer dizer, você podia ter ficado aqui, cuidado da sua família, podia ter ficado tranquilo, ninguém iria perturbar você. Não era obrigado a me salvar, então por quê? Porque arriscar a sua vida, por alguém que você mal conhecia?—era uma pergunta lógica, só tinha sido feita meio tarde... O.K. Muito tarde. Afinal, já faz quase um ano desde que Ichigo enfrentou todo o mundo para me salvar.

--Acabaram as perguntas?—assenti. Ele se levantou, deixando os cadernos e livros espalhados na cama, jogou o lápis no meio da bagunça e depois me puxou pelo pulso até ficar de frente para o espelho. –pode sorrir?—ele perguntou.

--o que?—ele revirou os olhos e fez cosquinha na minha barriga.—ichi...—não pude terminar o nome dele, uma crise de riso, contra a minha vontade escapou dos meus lábios.

--Está vendo?—ele perguntou.

--O que?—eu devolvi a pergunta.

--A sua resposta. —ele disse como se fosse óbvio.

--Dá pra responder?!—eu já estava perdendo a paciência.

--Ver seu sorriso, faz tudo valer a pena.

Foi nesse segundo. Nesse segundo eu arregalei os olhos e procurei pelos dele. Foi ao ver os castanhos me encarando, ver aquele sorriso torto de quem diz: “viu, eu sou de mais, não sou?”, foi nesse segundo, que eu me apaixonei. Do mesmo jeito que alguém cai no sono: gradativamente e de repente, de uma hora para outra.

--Não diga uma coisa dessas.—falei me distanciando.

--Porque não?—ele perguntou.

--Porque isso só vai fazer eu chorar depois! Acha que eu já não tenho boas lembranças de mais ao seu respeito?!—ele franziu as sobrancelhas, tão perdido quanto eu estava a segundos atrás.

--Ter boas lembranças não é algo bom?—eu senti as lágrimas queimando os meus olhos.

--Não! Você perdeu seus poderes, se lembra? Agora os tem de volta, mas ele podem se perder de novo!—ele suspirou.—Enquanto você estava aqui, como acha que eu estava? Eu ficava me lembrando de todos os dias em que tinha passado com você! Me lembrando de todos os seus momentos de shinigami, das aventuras, das suas caras exageradas e de como você foi me ensinando a viver.—eu enxuguei algumas lágrimas teimosas que insistiam em escorrer pelo meu rosto.

--O quer que eu faça então?—o olhar dele parecia estar me pedindo para parar com aquilo.—Quer que eu grite?! Quer que eu brigue com você? Do que vai adiantar? Não vai se lembrar também? Diferente das boas lembranças, as memórias das nossas brigas só vão nos fazer sentir culpados.—eu sabia que ele estava certo, sabia que deveria ter simplesmente desistido da discussão, mas eu nunca me rendia assim, muito menos quando se tratava dele.

--Eu quero que você... não sei! Só não queria ter que me despedir de novo! Queria poder ficar todos os dias aqui, queria poder ficar perto de você!—me sentei no chão, encostando as costas na cama. –eu sei que vou me lembrar de você, já é tarde de mais... Você já fez eu me apaixonar.

E o sorriso dele, naquele segundo, foi o sorriso mais lindo que já vi em toda a minha existência. Apesar de nós dois termos falado o que sentíamos, não houve nenhum pedido de namoro, acho que estou falando por nós dois quando digo que isso só pioraria as coisas. Mas, aquele segundo, aquele mísero e insignificante segundo, me fez a shinigami mais feliz de toda a Soul Society, e claro, foi o segundo que ficou gravado como ferro na minha memória. Mesmo que a distância entre mim e Ichigo fosse, de um mundo inteiro, eu me lembrava dele, eu podia sentir a sua falta, cada vez mais, cada vez pior.

--você voltou.—ele sussurrou, assim que eu aterrissei no chão no quarto dele.

--é claro que eu voltei. Eu sempre vou voltar. O.K?—perguntei.

--isso é uma promessa?—assenti. –O.K.—ele respondeu.

--sua vez de prometer algo.—disse cruzando os braços.

--Eu sempre vou te amar. O.K?—ele sorriu ao terminar de dizer, eu simplesmente tive vontade de bater nele. Como ele podia dizer algo daquele tipo e ficar assim? Calmo?

--O.K.—respondi depois do que pareceu, uma eternidade.

As minhas visitas eram constantes, algumas curtas, outras bem mais cumpridas do que deveriam ser. Algumas vezes eram rápidas, as vezes eu até sumia por um tempo. Por sorte, sempre que arranjava uma folga (graças ao meu taichou) corria para a casa dele. E sempre que eu já estava sem vê-lo a muito tempo, ele acabava por me beijar por longos minutos, e só depois de muito tempo, me deixava respirar.

--finalmente.—ele dizia na maioria das vezes.

--O.K.—era tudo que eu dizia.

--O.K.—era tudo que ele respondia de volta.

Cada ida ao mundo humano significava que eu teria mais um segundo, mais um insignificante segundo igual ao primeiro, e eu acabaria me apaixonando mais e mais pelo ichigo. Se eu me importei com isso? Nunca.

--o que acha de nós nos casarmos?—eu o encarei durante longos minutos.

--Eu teria que ficar aqui, no mundo humano.—disse.

--Qual o problema? Meu pai ficou aqui pela minha mãe.—neguei com a cabeça.

--Seu pai não tinha um irmão chamado Kuchiki Biakuya.—ele suspirou.

--Seu irmão vai fazer o que?—ele perguntou.—Tentar me matar? Ambos sabemos que ele não vai conseguir.—revirei os olhos.

--Porque quer isso? Você acabou de fazer 18 anos.—ele sorriu.

--Eu estarei aqui para sempre. E mesmo que eu vire um shinigami, posso me esquecer de tudo, não é?—assenti.—então, eu só quero ficar infinitamente ao seu lado.

--uma vida.—falei.—não é infinitamente.

--Alguns infinitos são maiores que outros...—foi tudo que ele respondeu.

Quanto tempo eu levei para tomar a decisão mais importante da minha existência? A decisão que mudaria todo o meu mundo? O que faria eu ser feliz, ou infeliz pelo resto dos meus dias? Diferente de muitas pessoas e shinigamis, eu só demorei um segundo. Um mísero e insignificante segundo para perceber que, mesmo que fosse só uma vida, valeria a pena. Mesmo que não fosse a eternidade, mesmo que eu não fosse ficar infinitamente ao lado dele, eu poderia fazer o meu pequeno infinito.

E, eu nunca agradeci tanto por todos aqueles segundos, por cada um deles. Que me levaram a tomar aquela decisão, e me renderam outros tantos momentos, lembranças e sorrisos.


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Notas finais do capítulo

E então? como ficou? meloso? açucarado? chato? legal? bom?péssimo? Conselhos? elogios? -se quiserem contar sobre o dia de vocês eu aceito! só preciso de uma resposta!- Beijos, e espero que tenham gostado!



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