Os Três Winchester's escrita por Cassiela Collins


Capítulo 12
Pensamentos Infernais


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo um pouco mais longo aí para o pessoal!



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No dia seguinte, nada prendia a concentração de Katherine.

Ela chegou na escola avoada, distraída. Havia um Anjo em seu encalço. Um Anjo de verdade. Um Guerreiro dos Céus.

Anjos eram reais. Demônios? Com isso ela sempre lidara. Nunca se dera ao trabalho de ponderar o fato. Se haviam demônios, por que não Anjos? Se só houvessem os monstros... por Deus, aquilo era um ponto de vista muito pessimista, não?

Mas algo não estava certo. Se haviam Anjos, onde estavam eles? Por que não ajudando-os, aos Caçadores, e combatendo os seus inimigos, os Demônios? Não era esse seu objetivo? Lutar contra os seus equivalentes do andar de baixo?

Katherine caminha até a classe, pensativa. Nada fazia sentido.

.

A aula de português estava confusa e inútil como sempre.

Kath não se deu ao trabalho de prestar atenção, mas, nem que tentasse, conseguiria.

Atrás de si, um garoto chutava-lhe insistentemente a carteira.

Ela tenta ignorar o fato, concentrando-se em um dos livros que trouxe no dia, 'O Inimigo Secreto'. Tentativa comicamente falha.

Durante vários minutos, ela se encolhe a cada chute, repetidamente.

Por fim, ela perde a paciência.

– Quer fazer o favor de parar? - reclama, em voz baixa.

O garoto ignora e continua chutando, agora com ainda mais insistência.

– Para com isso!

– Senhorita Win... alguma coisa... gostaria de compartilhar algo com o resto da sala?

Ela ergue os olhos para a professora.

– Ahn, não, ahn, professora. - ela resmunga.

– Fale mais alto, senhorita. Não sabe que é feio resmungar?

O rosto de Kath cora furiosamente enquanto o coro de gargalhadas domina o ambiente com a velocidade e intensidade de um relâmpago.

– Não, professora! - ela repete, contendo a raiva.

A professora fica imóvel por um instante. As gargalhadas lentamente se extinguem, dando lugar à curiosidade. O que ela faria?

Então, ela anda até a mesa da garota, devagar.

– O que é isso? - ela pega o caderno de Kath.

– É meu caderno de lazer! - responde ela, agora com um leve tom de alarme na voz, esticando o braço para pegá-lo de volta.

Mas a professora é mais rápida. Ela o folheia, provocativamente, enquanto volta à frente da sala.

– 'E eu chorei, e chorei, e chorei' - lê. - 'As lágrimas escorreram de minha face como mágoa liquefeita. Era tão óbvio. Eles nem se davam ao trabalho de esconder: eu era um fardo.' - comentários irônicos e risinhos divertidos começam a fazer-se ouvir por toda a sala. - 'Meu irmão Sam dizia que não, mas era o único. Dean não dizia nada em minha defesa, e meu pai continuava dizendo para mim. Dizendo o quanto eu era inútil, como tinha sido idiota. Devia ser fácil, vigiar o campista, mas eu não tinha conseguido! Eu era um fracasso. Eu era um fracasso e sabia disso.'

– Ainda bem que admite! - grita a voz de uma garota no meio do resto dos alunos.

Kath olha para a professora, incrédula. Era falta de educação resmungar, mas e quanto a isso?

Ela sabe que a professora ouviu. Um sorriso de escárnio surge nos lábios da mulher, para prová-lo.

Mas ela simplesmente ignora a exclamação. É como se ninguém tivesse dito absolutamente nada.

Ela vira mais algumas páginas.

– 'Não, Kath, insiste Dean. Você vai ficar aqui, e ponto. Por que ele sempre me tratava como se eu fosse uma criança? Só porque era a menor, não tinha o direito de ajudá-los? Tenho doze anos, e não dois, Dean, replico...'

– Que tipo de gente fala 'replico'? - ri um outro aluno.

– '... Sério? Não dá para ver a diferença... retruca ele, com aquele ar irônico que só ele consegue fazer.'

Katherine cora ainda mais, raivosa. Seu estômago revira e só o que ela sente é vontade de se encolher no chão e sumir. Ela se sente esquentar, como um pavio de vela, chegando cada vez mais perto da cera - que, para ela, era o limite de sua paciência.

A professora vira mais algumas páginas.

– 'Meu mundo é minha cabeça. Só o que deveria me importar é o que está lá dentro. Para quê me arrumar? Para quê pentear o cabelo, fazer as unhas, limpar o rosto quando acordo? Só o que importa é como me sinto. Aqui dentro, sou livre. Posso fazer o que quiser. Ser o que quiser.'

– Duvido! - grita outra aluna. - Se nem a fada madrinha pode deixar você bonita, duvido que sua cabeça possa!

Mais páginas.

– 'Hoje, tive um pesadelo horrível. Eu podia voar, e isso era bom, mas o problema é com onde eu estava. Estava sobre um cemitério. Era noite. Por mais que eu voasse, nunca chegava ao seu fim. Lápides e mais lápides, se estendendo em todas as direções até onde alcançava a vista.'

– Ai, que medo! O fantasminha mal vai te pegar, vai? - provoca o garoto que a chutara antes. - Chama o irmãozão grandão para te proteger!

Nesse momento, Kath explode.

Ela se levanta de súbito.

– Já chega! - grita, furiosa.

A sala se silencia repentinamente com mudança na cena.

– Eu não sou obrigada a ouvir isso de você. Você é minha professora, mas me deve tanto respeito quanto eu a você! - ela continua, com a voz aguda em puro ódio. - Você não tem o direito de fazer isso comigo, e eu não tenho a obrigação de baixar a cabeça e ficar ouvindo!

A professora a encara, inabalada.

Então, se aproxima. É muitas vezes mais alta do que a garota, que tem que olhar para cima para olhá-la nos olhos.

– Escute aqui, garotinha. Eu tenho todo o direito de fazer o que quiser com você. E, como prova disso, vou te dar uma detenção. - Kath abre a boca para protestar, mas a professora a interrompe. - Durante uma semana inteira, você vai chegar aqui vinte minutos mais cedo. Estarei aqui para verificar. E você vai limpar a sala inteira, antes e depois da aula, para os seus colegas. E esteja aqui. Da próxima vez, eu não serei tão boazinha.

Elas se encaram por um longo tempo. Então, o sinal da escola toca, e todos os alunos deixam a sala, seguidos pela professora, deixando Katherine sozinha.

Com um último acesso de fúria, ela solta um grito furioso e esmurra a mesa.

Então, se deixa cair novamente na cadeira, e respira fundo.

A garota olha para a mesa por um longo segundo.

– Desculpe - ela sussura, acariciando a superfície gelada. - Eu sei que você não tem nada a ver com isso.


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