Pov. Katy

Um mês depois...

Assim que sai da faculdade peguei a maior chuva no caminho para o hospital, que a proposito já virou minha segunda casa. Logo que cheguei lá as enfermeiras me reconheceram e acenaram pra mim. Também, já havia se passado um mês. Um mês de longos exames, de noites em claro, de um sinal de vida ou algo do tipo. Mas ate agora nada com que pudéssemos realmente nos animar.

Abri a porta do quarto dela e Cassie e Lucy estavam lá. Como sempre. Cassie fazia as unhas da Vick (que a proposito estava do mesmo jeito, imóvel, com os olhos fechado e respirando a base de aparelhos) enquanto Lucy trocava o canal da televisão esparramada no sofá.

–Esse hospital precisa urgentemente de TV a cabo! - Reclamou ela. Só quando eu fechei a porta atras de mim que as duas perceberam minha presença. - Você esta toda molhada!

–Obrigada por reparar!

Tirei meu casaso e coloquei na poltrona na qual eu me joguei cansada. Deixei minha bolsa escorregar pro chão e puxei um saco de dentro dela.

–Trouxe comida! - avisei.

Nos trocavamos horários pra vir ficar com ela no hospital o que deixava nosso tempo curto pra lembrar de coisas básicas como comer ou dormir. Apesar do medico dizer que não havia necessidade de acompanhantes 24 horas por dia, nos vinhamos todos os dias, eles não estavam nem um pouco animados com a recuperação dela. Apesar de que se olhasse bem pra ela, seu rosto já estava limpo sem nenhum arranhão ou hematoma do acidente, a tala da perna já tinha sido retirada e a fratura da costela estava completamente curada. Mas ela ainda não acordava.

Os médicos diziam que a presença da familia e amigos pode ajudar na recuperação, porque eles não sabem como esta o estado de consciência dela, se ela pode ouvir ou não. Mas caso ela esteja ouvindo, a presença constante de familiares era sempre muito recomendada.

A mae da Vick foi embora faz alguns dias, ela teve uma briga feia com Chad quando descobriu que a filha era oficialmente esposa dele e de mais algumas coisinhas que não agradaram muito a senhora Stark. Pelo que eu entendi quando ela contou essa novidade pro pai da Vick ele não gostou muito e foi parar no hospital e ela teve que voltar pra Los Angeles com a promessa de que não iria demorar pra visitar a Vick de novo. Por isso a deixou por nossa conta.

–Hum... Meu pai ligou hoje - murmurou Lucy - Disse que conseguiu fazer um acordo com o Sr. Flinns. Não podemos nos aproximar daquele prédio. 30 metros de distancia.

–30 metros de distancia? - Repeti indignada - E se eu precisar ir ao banheiro e não tiver outro lugar pra eu ir? Ou se eu estiver fugindo de assaltantes e não tiver outro lugar pra procurar ajuda?

–Ah não ser que você queira ser presa, ai você pode entrar e gritar por socorro. Caso contrario, é melhor você passar a sua bolsa! - Disse Lucy rindo.

–Não gosto disso. Estou me sentindo uma delinquente por ter uma ordem judicial de distancia! - Cassie falou.

E assim passamos mais uma tarde. Mais uma longa tarde naquele hospital.

[...]

Pov. Chad

Depois de tomar um banho e me trocar, eu sai disparado de casa ate o meu carro. Dirigi como todos os dias, com pressa ate o hospital. Eu chegava mais cedo do que o normal e ia embora mais tarde do que deveria.

Combinava com as meninas de que chegaria as 19:00 mas eu sempre acabava chegando mais cedo. Como agora, por exemplo, chequei no relógio e eram 18:08. Estacionei o carro e decidi que ia espera um pouco mais.

Ainda conseguia me lembrar da mãe da vick gritando comigo a três dias atras. Era como se ela tivesse aqui de novo falando aquilo dentro da minha cabeça - "Você destruiu ela. Ela nunca vai te perdoar. Você acabou com a vida da minha filha, não quero mais você perto dela..." - e assim se seguiu mais de meia hora falando essas coisas pra mim. Fiquei sem vê-la no hospital por dias, a mae dela não me deixava entrar e eu não tive coragem de ir depois que ela foi embora. Hoje seria a primeira vez que veria ela depois de uma semana.
Não sabia se poderia suportar tanto tempo sem olha-la, mesmo que doesse vê-la daquele jeito. Imóvel e sem vida. Entao decidi que não iria esperar mais um minuto!

Sai do carro me encolhendo por causa da chuva e entrei no hospital. Estava silencioso e parecia que o elevador iria demorar uma eternidade pra chegar. Mas quando ele enfim apareceu, em segundos eu me deparei no corredor do quarto dela. Dava pra ouvir a voz das meninas logo no inicio do corredor. Dei uma batidinha na porta e abri meio sem jeito.

–Oi!

Elas pararam tudo que estavam fazendo como se o mundo tivesse congelado e olharam pra mim.

–Chad! - Cassie disse surpresa ao me ver. As três me encararam do mesmo jeito que ela. Cassie tentou sorrir sem graça - Pensei que não fosse aparecer tão cedo.

–Eu tinha que aparecer uma hora - Disse.

Fechei a porta e cumprimentei as meninas.

–Já sabe da nova? - Katy perguntou descontraindo e eu neguei com a cabeça - Estamos proibidos de nos aproximar do prédio do Sr. Flinns!

–O que?

–Isso mesmo - Lucy confirmou - 30 metros de distancia. Ordem judicial.

Eu ri. E precisava mesmo. Ate porque a única coisa que eu queria agora era ficar bem longe daquele velho maluco, essa ordem judicial só esta cooperando pra que isso de certo.

–Só eu que nao vejo graça nisso? - Cassie perguntou horrorizada. Katy deu de ombros ignorando ela - Me sinto aquelas assaltantes de padaria!

Eu respirei fundo enquanto as meninas riam e me recuperei e lembrando meu verdadeiro proposito de estar aqui.

Me aproximei da cama dela fitando seu rosto. Nada tinha mudado, ela estava completamente igual. Parada ali, com aquela mascara de oxigênio no rosto, os olhos fechados, a boca seca e sem cor. Peguei na sua mao e ela estava fria. Soltei um suspiro revoltado. Porque ela não acordava? Porque?

–Ela vai... - senti alguem tocar meu ombro. Lucy disse como se lesse minha mente - Tenho a sensação de que ela vai acordar logo!

–Não que eu tenha perdido as esperanças mas... As vezes não tenho certeza se estou pronto pra quando ela acordar - Lucy me encarou confusa e tentei explicar - Já imaginou como ela vai me olhar quando lembrar de tudo?

–Chad - Katy começou a falar - Ela vai saber que não foi culpa sua. Ate por que não foi não é mesmo? - Aquilo parecia mais um pedido de confirmação.

–Mas, é claro que não. Vocês não estavam lá? Jullie disse aquelas coisas de proposito, ela sabia que Vick estaria ouvindo... E ela ouviu, e interpretou tudo errado.

Não suportava lembrar daquela noite. O ódio que eu sentia da Jullie tava superando as minhas expectativas.

–Então você não tem com que se preocupar. Quando ela acordar eu mesma vou fazer questão de contar a ela a versão verdadeira dos fatos. - Katy me garantiu.

–Me sinto culpado do mesmo jeito. Ela sabendo ou não da verdade, eu ainda me sinto culpado.

–Mas porque? - Lucy perguntou.

Eu soltei um suspiro e afundei no sofá ao lado da cama dela. Tirei do casaco o envelope que recebi naquele dia e estendi pra Lucy que tava de pé na minha frente.

–Meu advogado me levou o papel do divorcio no dia da festa. Mas eu não contei pra ela, não queria que ela soubesse e agora eu penso que se talvez ela tivesse assinado essa droga, não teria se sentido daquele jeito e saido correndo. - Não entendi porque tava falando aquilo pra elas mas Ok. - E eu também não quis assinar.

Elas não falaram nada por um tempo. Cassie tava me encarando confusa.

–Porque não quis assinar? Não era isso que vocês queriam? - Ela perguntou.

–Eu.. Eu não sei. Na verdade não tinha certeza se queria me separar dela.

–Ta, espera. - Katy balançou a cabeça confusa - Você tinha ou tem certeza?

–Antes eu não tinha mas agora eu tenho. Eu queria ficar com ela, tanto que nem contei sobre o papel pra que ela não me abandonasse. Mas agora... Ela vai me deixar de qualquer jeito quando acordar e descobrir como eu fui um idiota e eu também não quero destruir mais ainda a vida dela!

–Mas uma vez ressaltando que a culpa não foi sua. Foi da Jullie e o que é dela ta guardado! - Lucy disse. Me estendeu o envelope de volta - Bom, agora é com você. Você sabe o que é melhor pra você, assinando ou não você a ama. Ela pode não saber agora, mas vai saber quando acordar.

Sem pensar duas vezes puxei uma caneta da escrivaninha ao meu lado e deixei minha assinatura gravada na parte de baixo daquele papel. Decidi que não ia obriga-la a me aturar. Se um dia ela quisesse isso, seria quando ela acordar. Agora pra finalizar o divorcio só faltava a assinatura dela.

As meninas me olhavam. Ao mesmo tempo que me apoiavam não entendiam muito bem minha decisão, mas eu não queria explicar de novo. Só queria que ela acordasse logo pra que eu mesmo contasse a ela.