Você Me Bagunça escrita por AnaShipper


Capítulo 8
Capítulo 08


Notas iniciais do capítulo

Esse é um capítulo extra, eu sempre posto duas vezes na semana, mas senti a necessidade de dividir o capítulo em dois, pois acabou ficando gigante. Aproveitei e expliquei nele porque o Davi desencantou com a Manu.



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–São Francisco, Davi? Que maravilha! –Rita sorriu quando soube da novidade.

–Aê garoto, já começou a ficar importante! –Dante deu tapinhas nos ombros dele.

–Ai, acho que cedo até demais! – A tia se lamentou enquanto o puxava para um abraço.

–Ei, relaxa, vão ser só alguns dias. Inclusive, acho até que vai ser bom pra mim, pra eu ter uma dimensão do que tá acontecendo na minha vida, né? Ficando aqui em casa, nesse bairro, tudo isso não deixou que a ficha caísse ainda. –Davi dizia isso, mas não deixava de sentir um frio na barriga, herança de sua timidez ainda não totalmente curada.

–Davi, vem cá um instante! –Dante o puxou para um canto, para uma conversa mais “pai e filho” deixando Rita desconfiada.

–A loirinha vai?

Davi sorriu, já sabia o que ele diria a seguir.

–Vai.

–Maravilha! Então se o que eu vi hoje no jantar for o que eu tô pensando e se eu te conheço bem, eu sei que você não vai me decepcionar, não é meu chapinha?

–Tio, olha só –Davi juntou as mãos –Eu não sei o que você viu, mas entre mim e ela não tem nem nunca vai ter nada.

–Não tem se você não quiser, porque aquela ali, já arrasta um caminhão por você! –Disse Dante com toda convicção, deixando Davi pensativo.

*** *** ***

No dia seguinte, final da tarde, assim que o Jato de Jonas Marra decolou e ainda sobreava a linda cidade do Rio de Janeiro, Davi se ocupou em ler um livro enquanto era observado por Megan que, apenas aparentemente, mexia no celular. Numa dessas, ele a surpreendeu num olhar, que desviou rapidamente, Davi sorriu enquanto virou uma página do livro. O que era mesmo que estava lendo? Ah, lembrou e teve que voltar ao início do capítulo. Sem ser percebido, Jonas apenas observava o comportamento dos dois, Pamela, perto da janela, folheava distraída uma revista e Murphy, como sempre, se ocupava em seu tablet.

Na segunda hora de viagem, Megan caiu no sono ao lado da mãe. Jonas e Davi, que conversavam, em certo momento pararam pra observar as duas loiras adormecidas. Eram tão parecidas. Jonas só conseguia pensar no quanto amava as duas e, sentiu culpa por não saber demonstrar. Na noite anterior, ele ainda conseguiu roubar um sorriso da filha quando comentou que usaria uma das noites em São Francisco para levar Pamela ao seu iate particular. Megan adorou saber disso, mas só fortalecia a idéia da cabeça dela de que só eram felizes quando estavam em casa. No Brasil Jonas era o homem da empresa e se esquecia que tinha família, pelo menos na concepção dela.

Enquanto Megan dormia, Davi podia olhá-la livremente e, não pôde evitar pensar no momento em que se despediram na casa dele, quando ela caiu na sua própria armadilha. Ele percebeu isso pelo olhar dela, desconsertado, o que era raro. Mordeu o lábio inferior ao lembrar das palavras de Dante. Que absurdo! Claro que Megan Marra não estava interessada nele!

–Davi -Jonas o tirou de seus pensamentos. -O que você acha dela?

–De quem? -Ele se surpreendeu com a pergunta inesperada.

–Megan. Vocês estão se dando bem?

–Ahn... Sim, nós estamos tentando. Mas você tem que admitir que ela é bem difícil de lidar. -Jonas riu.

–Eu avisei. Sabe, às vezes parece que ela é minha filha e não da Pamela. Acho que de alguma forma, nós dois estávamos predestinados a ser pai e filha, ainda que não seja de sangue.

Davi não esperava que Jonas tivesse esse tipo de pensamento, principalmente por causa do que leu de Megan.

–Você já disse isso a ela? -Jonas o olhou, surpreso.

–Acho que não.

–Devia tentar. -Dizendo isso, Davi voltou a pegar o livro que tinha abandonado há meia hora.

Jonas se tocou de que Davi já tinha percebido as carências da garota, como ele previu. Lembrou-se do que ele fez por Vicente quando estavam na ilha, quando não se importou em perder suas moedas para salvar o amigo. E algo lhe dizia que ele estaria ali para Megan quando ela precisasse, mesmo que arriscasse perder o que fosse preciso. Sabia que apesar da maneira escusa que ele colocara a filha nas mãos de Davi, ela não poderia estar em melhor companhia.

Horas mais tarde, Megan despertou e percebeu que só uma pessoa permanecia acordada. Davi não mais se ocupava de ler o livro apenas olhava pela janela, embora só se visse o nada lá fora. Ela se aproximou devagar.

– Pensando em quê? -Ele não se assustou, pois a voz dela foi baixa e calma. Apenas a encarou vendo-a sentar ao seu lado.

– No que vai ser a minha vida a partir de amanhã. Eu vou entrar num universo que é seu, Megan. Me ajuda?

Ela riu.

Oh really? Se é assim, então vai ter que ir na balada comigo. -Ela brincou.

–Tá doida? Eu falei sério.

Relax, Davi. I'm kidding! Você nem combina com o ambiente dos lugares que eu frequento.

– O que eu quis dizer é que eu sei que vou me sentir deslocado. Eu não tô acostumado com gente se aproximando de mim, por interesse. Eu nunca tive nada, então as pessoas ao meu redor só estão ali por minha humilde amizade.

Megan sorriu. Ela não sabia o que era isso, mas entendia perfeitamente o que ele estava dizendo.

It's so funny, Davi!

–Isso quer dizer... engraçado? Por quê?

Easy! Como você acha que eu me senti quando de repente eu me vi numa sala falando com você e dad sobre "a área de TI que cresceu nos últimos anos"? Ali, eu é que estava no seu universo...

Davi entendeu e sorriu, os dois falavam baixo. Megan continuou.

I not understand! Porque você não aceitou o acordo que eu te propus? Você podia estar agora ao lado daquela garota.

Davi baixou a cabeça. Fazia dias que ele sequer pensava em Manuela. Sempre evitava lembrar das decepções de sua vida.

–Megan, a Manuela tinha outros planos. Quando eu percebi que não fazia parte deles, caí fora.

– Como você descobriu?

Davi então contou do dia em que eles pensavam em desafiar Jonas. Eles comunicaram a ele, sobre o aplicativo que criariam juntos. Jonas, relutante em aceitar, deu um ultimato, dizendo que desistissem, pois se o aplicativo não bombasse, Ernesto voltaria a disputa.

–Jonas, mesmo que a gente aceite, o que não vai acontecer, nenhum de nós teria outro aplicativo pra apresentar. Não é Manu? -Quando Davi disse isso, percebeu que ela ficou muda.

–Eu acho que sua parceira não te contou tudo, rapaz. -Jonas entendeu logo.

–Davi, na verdade eu... já tenho uma ideia de aplicativo. Há um ano eu estava trabalhando nele, vai ser bom usar isso agora. Eu acho melhor cada um fazer a sua parte... -Ele ficou perplexo.

–Mas Manu, juntos a gente pode fa...

–Davi! Não dá pra arriscar, isso é um jogo! E me desculpa, mas eu não pretendo perder. Eu prefiro muito mais trabalhar num aplicativo que eu sei que é bom e já tá 60% concluído, do que em um que ainda nem foi criado.

That tramp girl! -Megan não acreditava no que acabara de ouvir. Pelo menos ela teve o que mereceu e seu aplicativo foi um sucesso! E o dela foi like... a flop! -Ele riu

O fato é que foi aí que eu vi que a gente não tinha nada a ver um com o outro. E eu não falo de diferença de personalidade, por que isso é até interessante às vezes, eu falo em atitudes, sabe? Ela pensou só nela, e egoísmo pra mim é um dos piores defeitos de alguém.

Enquanto ele permanecia de cabeça baixa, Megan o observava em silêncio.

–Davi, o que você achou do que eu escrevi?

–Ah... Eu fiquei surpreso. Eu não imaginava que vocês passassem por esse tipo de problema, sempre foram A Família Perfeita. Você costuma escrever sempre o que sente?

–Sempre escrevi. Na verdade, é o que eu mais amo fazer. Quando nós chegarmos, eu quero te mostrar uma coisa que é like, o meu tesouro.

Davi franziu a testa.

– O quê?

–Eu disse "Quando nós chegarmos..." -Ambos riram.

–Percebeu que a gente não implicou um com o outro nenhuma vez hoje? -Ele lembrou. -Embora eu ache muito divertido, prefiro assim.

Os dois perceberam a presença de Murphy e deram a conversa por encerrada.

*** *** ***

Davi estava impressionado com o luxo e o tamanho da casa. A elegância em cada móvel, cada cômodo era de cair o queixo. Ele nunca havia estado num lugar daquele. As paredes de vidro da sala, onde dava uma bela visão para a parte de fora, a enorme piscina, o requinte em cada objeto o impressionaram, embora também o deslocassem. Assim que entraram, uma empregada da casa, um pouco idosa, deu um abraço afetuoso em Megan que sorria largamente, provavelmente ela estava ali há anos e viu a garota crescer.

Eles chegaram de manhã cedo, então depois de todos estarem instalados, foram dormir, cansados da viagem. Durante todo o dia, ele só viu os donos da casa na hora do almoço. Caminhou um pouco ao redor da mansão à tarde, sentou no sofá, ainda meio sem jeito. Viu uma bonita foto num porta retrato e cruzou a sala para ver melhor. Lá estavam Jonas, Pamela e Megan, o detalhe é que a garota estava sorrindo nos braços do pai, ainda um bebê. Lembrou-se do que Megan escreveu: "Qual de nós mudou?" Se quem mudou foi Jonas, ele precisaria ter cuidado para não passar pelo mesmo processo.

A sala já estava escurecida pela noite chegando, a empregada acendeu as luzes e saiu. Em seguida o casal Marra desceu as escadas, bastante elegantes, sendo seguidos por Megan.

–Davi, eu e a Pam vamos sair pra jantar. Megan vai ficar e te fazer companhia. -Jonas avisou.

–Tudo bem, bom jantar!

Depois que os dois saíram, Davi viu quando Megan se aproximou dele e o puxou. O arrastando em direção às escadas.

–Tá maluca?

Let's go! Quero te mostrar uma coisa!

Os dois chegaram ao quarto dela. Não era muito diferente daquele que ele viu no Brasil. Só parecia ser mais... pessoal, pois devia ser dela desde criança. Ela tirou de uma gaveta um caderno, bastante alto, com muitas folhas. Cheio de detalhes femininos e coloridos na capa. Megan sentou no chão, ao lado da cama apoiando as costas ali, ele fez o mesmo.

–O que é isso? -Ele perguntou quando ela abriu o caderno.

–Minhas histórias. Look, essa da primeira página foi a primeira que eu escrevi, quando tinha 13 anos.

–Eu... não tô entendendo.

–Eu escrevo. É a paixão da minha vida. Há um ano eu ganhei um concurso de roteiros promovido pela internet. Ok, não era tão importante, mas eu ganhei sem que soubessem quem eu era, e isso significou muito pra mim.

Davi relacionou o que ela disse com a conversa que tiveram na viagem. Entendeu que ela sabia perfeitamente o que era ter pessoas a sua volta que só a valorizavam pelo seu nome.

– E o que foi o seu prêmio?

I don't know! Eu nunca fui receber. Tive medo, dúvidas.

Davi não disse nada, pegou o caderno das mãos dela.

–Tem algum escrito em português?

–Yes, tem vários. - Ela passou algumas páginas, achando uma, ele começou a ler.

Embora o português dela fosse confuso, ele entendia perfeitamente. Era de uma sensibilidade incrível, ela parecia ser íntima das palavras. Ele se levantou, mas sem desgrudar os olhos um segundo das páginas, andou pelo quarto sem parar de ler. Ele levantou a cabeça para olhá-la e sorriu.

–Megan, é incrível!

Ela se levantou, sorrindo.

Really? Gostou mesmo?

Davi percebeu que era a primeira pessoa pra quem ela mostrava aquilo. Ele não respondeu a pergunta dela, ao contrário, fez outra.

–É isso que eu não entendo. Por que você não para de perder seu tempo fingindo ser uma coisa que não é ao invés de investir em algo que te satisfaz, que te faz feliz?

Megan defez o sorriso. E olhou para Davi, cerrando os olhos.

–Você se acha perfeito não é? Pois eu odeio isso, odeio pessoas que acham que sabem de tudo!

–Não, mas eu me recuso a ser alguém que trata os outros como coisa como vi você fazer algumas vezes durante o programa, beber até não se aguentar de pé, fingir, dissimular.

Davi sabia que estava sendo injusto ao dizer isso, mas ela mais uma vez o tirava do sério. E ele nunca pensava antes de falar quando isso acontecia.

Shut up! Você não me conhece, não sabe nada de mim!

O clima ameno entre eles, nitidamente tinha ido embora.

–Isso aqui Megan, me diz o bastante sobre quem você é. -Ele levantou o caderno enquanto falava. Ela avançou e tentou pegar de volta, mas ele foi mais rápido a prensou contra a parede, segurando os dois braços.

Olhando nos olhos dele, Megan perdia as forças para resistir.


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Notas finais do capítulo

Não me matem pela briguinha, mas tenho que fazer jus ao título da fic, essas picuinhas precisam acontecer rsrs' Mas como eu disse, essa semana ainda vai ter outro capítulo, então prometo que me redimo.
Bjs!