Só o que Davi queria era tirar Megan daquela casa, do alvoroço que a imprensa faria, dos ataques nervosos de Pamela e Jonas. Ele próprio queria um tempo pra pensar no que o empresário lhe dissera. Eles estavam tendo uma parceria boa, e agora isso acontecia para lhe pôr em dúvida, para reascender a velha desconfiança.

Não planejava uma fuga. Uns dois dias seriam suficientes, pelo menos até a poeira baixar. Sim, ele iria se ausentar da Marra mesmo com a confusão, e se reclamassem ficaria uma semana!

–Onde estamos indo, Davi?

Ele arqueou as sobrancelhas e sorriu.

–Topa ficar uns dois dias acampando comigo... na praia?

–What?

–Isso mesmo. Tem um camping que eu adoro, super tranquilo. Com certeza teu pai vai fazer uma busca por todos os hoteis do Rio e, se a ideia é ficar fora do ar por dois dias, eu não vejo nada melhor...

Ela sorriu.

–Eu já acampei quando fui obrigada a fazer parte do clube dos escoteiros quando era criança, só que foi um tédio porque meu dad mandou dois seguranças pra me acompanhar. As outras crianças mal chegavam perto de mim, com medo deles. Mas... acampar com o namorado deve ser bem mais interessante...

–Olha só, que danadinha! Então vamo logo que eu não vejo a hora de chegar! Preparada pra subir a Serra?

Ela gargalhou.

–Let's go!

Depois de saber por Edmilson que o carro de Megan não estava na garagem, Pamela ficou extremamente preocupada pois já tinha ligado dezenas de vezes para a filha.

–Tem certeza que ela dormiu em casa? Ela pode ter ido dormir com o Davi! -Brian tentou acalmar a amiga.

–No, o celular de Davi também não atende, mas eu liguei para Rita e ela disse que ele passou cedo lá para tomar café da manhã sozinho, deve estar na Marra.

–Ótimo, a minha vida já está um inferno e a Megan resolve voltar a aprontar! Jonas entrou na sala irritado.

–Oh, menos Jonas Marra, bem menos... Parte disso é culpa sua que confundiu a cabecinha dela!

–Eu não tenho culpa se a jornalista que o Brian indicou era uma sensacionalista e inventou aquelas calúnias a meu respeito, mas eu vou processar aquele jornalzinho! Aquele site sai do ar ainda hoje se depender de mim! -Ele gritava no mesmo tom de voz de Pamela.

–E porque você não usa esses super poderes uma vez na vida pelo bem de Megan, hã? Trate de achá-la!

–Pamela, porque você está contra mim? Por acaso está acreditando que eu seja capaz de matar uma pessoa? É isso?

O clima estava muito tenso.

–Oh, então agora você se importa com o que eu penso?

Dorothy entrou na sala.

–Oh my God! Dá pra ouvir os gritos de vocês a quilômetros de distância! Vocês tem que se empenhar em procurar a Megan, ok?

–Isso mammy! Esses dois sempre escolhem brigar nas horas erradas, good Lord!

Pamela se acalmou um pouco.

–Você dois têm razão. Eu vou me acalmar, porque logo logo meu marido super poderoso vai trazer notícias da minha filha. Estarei esperando...

Pamela saiu na intenção de voltar para o quarto. Brian e Dorothy lançaram olhares de reprovação a Jonas que tratou de ir logo para a Marra.

Mas a vida não estava fácil para o empresário. Depois de conseguir passar com dificuldade pelos jornalistas, recebeu alguns olhares audaciosos de funcionários ousados, mas não perdeu a pose. Entrou em sua sala sem cumprimentar a ninguém, Murphy o seguiu como sempre.

–Boss, bom dia! Mas... receio lhe dizer que o Davi não...

–Sem conversa, Murphy, eu preciso que você procure a Megan. Sugiro que ligue para essas baladas que ela costuma frequentar, enfim, ache-a imediatamente! E chame o Davi aqui, agora!

–Era isso que eu estava tentando lhe dizer, boss. Davi não apareceu na empresa essa manhã.

Jonas fechou os olhos, irritado e aliviado ao mesmo tempo.

–Nesse caso, procure Megan em todos os hoteis, com certeza estão juntos...

–Sim, boss, mais uma coisa: a jornalista Verônica Monteiro esteve aqui duas vezes ontem para falar com o senhor, ela estava muito aflita e...

–Murphy, presta atenção! Se essa mulher voltar aqui, ligar ou o que quer que seja, diga que ela vai ser processada e nunca mais vai escrever nem pra jornal de bairro! Ouviu?

–Sim, senhor, com licença!

O assessor saiu, também estava esgotado já no começo do dia.

Não estava mesmo sendo fácil pra ninguém, com exceção de Megan e Davi que curtiram cada minuto daquele dia. Se divertiram montando a barraca, tomando banho de mar e quando a noite caiu, ficaram ali, juntos, observando e admirando a beleza da noite.

Ela sentou à frente dele que a abraçou, apoiando o corpo dela no seu. Só podiam ouvir o som das ondas batendo à beira do mar que Davi achava estar em sincronia com a respiração de Megan bem próximo da sua, a brisa marinha bagunçava os cabelos, os beijos eram calmos, o abraço não se desfazia. Tudo era tão reconfortante. Era como o paraíso na terra. A todo momento Davi a fazia rir com suas costumeiras implicâncias, mas ela não se importava, só era importante o fato de que ele estava cumprindo sua promessa, lhe protegendo de tudo.

–Tá mais tranquila? -Perguntou Davi, apertando mais o abraço em volta do corpo de Megan.

–Sim, estou seguindo seu conselho e tentando não lembrar dos problemas.

–Megan, se você tiver se arrependido de ter vindo a gente volta agora mesmo, tá? Seu pai, apesar de tudo, tá doente, e talvez a Pamela esteja precisando de você também...

–E eu de você, Davi. Eu vejo esse momento como o que vai me dar coragem pra suportar os próximos dias.

Ele sorriu docemente.

–O que foi?

–Você... Amadureceu tanto que eu mal consigo acreditar. Mas relaxa, prometo que não vou estragar sua reputação de bad girl...

A garota riu.

–Acho bom... E a gora a bad girl e o bom moço vão fingir que o mundo é só isso. Esse mar... Essa vista e essa noite...

Ela abriu os braços e se levantou, correndo pela beira da praia, ele, percebendo que ela agora se divertia, entrou na brincadeira e passou a perseguí-la. As risadas do casal se perdiam em meio ao barulho ensurdecedor das ondas.

Para Davi, era precioso cada sorriso que ela abria num momento como aquele. Breve voltariam para a realidade, não sabia o que lhes esperava. Embora não soubessem, era bom que aproveitassem o momento, tempos muito difíceis ainda estavam por vir.

Depois de um longo dia de trabalho, irritações, mau humor e chateações, Jonas pensava em ir pra casa, mas algo foi mais forte que ele e quando se deu conta, estava na Gambiarra procurando a ONG Plugar. Sim, queria de uma vez por todas saber quem era o homem que apenas de ouvir o nome, o deixava inquieto.

Encontrou o mentor de Davi, no trailer ao lado da Plugar, de costas, com um celular na mão.

–Herval Domingues?

Herval se virou e Jonas não pôde deixar de perceber que a expressão dele pareceu ser tomada pelo ódio, de repente.

–Jonas Marra, certo? A que devo a honra?

Jonas deu o mesmo sorrisinho de canto que viu no rosto dele. Um sinal claro de ironia.

–Você não me pareceu honrado quando me viu...

O homem riu.

–Ah me desculpe, não estendi o tapete vermelho... - Os dois ficaram se encarando por alguns instantes e Bira que estava detrás do balcão, acabou percebendo o clima pesado.

–Ô Seu Jonas, vai querer beber alguma coisa?

–Não. -Disse sem olhar, mantendo os olhos fixos em Herval. -Será que nós podemos conversar em particular?

–Nós? Sobre o quê? -Bira perguntou sem entender nada.

–Relaxa Bira! Dessa você tá livre, parece que o assunto é comigo...

Os dois caminharam um pouco e pararam em frente a Plugar.

–Então foi dentro desse lugar que o Davi aprendeu tudo que sabe?

–Acho que você não veio aqui falar sobre as raízes do Davi... Tô errado?

–Envolve o Davi, sim. -Jonas disse, observando a fachada da ONG. -Ele me contou da sua... "prontidão" em contar a minha filha sobre as notícias que saíram sobre mim.

–Você veio aqui só pra isso? A Megan ia saber de qualquer forma...

–Sim, mas por mim! E não foi só por isso que eu vim. Nos últimos dias eu percebi que ela estava com umas ideias diferentes, falando coisas que eu só ouviria do Davi. Você está tentando colocar a minha filha contra mim, Herval Domingues? Qual o seu interesse nisso?

Herval cruzou os braços e sorriu, cínico.

–Jonas, sabe qual o seu problema? Achar que o mundo gira em torno de você. Você sempre foi assim!

Jonas franziu a testa.

–O que você sabe sobre mim. Eu te conheço?

–Responda você! Você me conhece?

–Eu não tenho certeza. Mas eu vou descobrir. Por enquanto eu só quero que você me diga pra onde o Davi levou a Megan.

Os olhos de Herval brilharam de satisfação.

–Como é?

–Minha filha fugiu de casa e eu acredito que ela esteja com ele. Agora eu estou sem filha, sem sucessor, e minha esposa resolveu me odiar. E eu espero sinceramente que esse sorrisinho que eu vejo no seu rosto, não seja o que eu estou pensando.

Herval passou a caminhar ao redor dele.

–Por quê? Vai fazer o quê, Jonas Marra? Me apagar também? Não se esqueça que sua filha agora confia em mim mais do que tudo, enquanto em você...

Com essas palavras, Jonas teve certeza sobre com quem estava falando.

–Não ouse tocar na Megan!

Herval deu uma risada.

–Relaxa, eu até gosto dela. Só não sei até quando...

Herval disse essas palavras, mas sua intenção não era atingir a garota, Pamela ou Davi, apenas o próprio Jonas. Mas o empresário sentiu uma dor forte na cabeça naquele instante, insuportável. Herval continuou:

–Não é horrível a sua família estar se acabando desse jeito? Não é péssimo não ter o controle de tudo como você sempre achou que tinha?

Jonas continuava com uma expressão de dor e, o dono da Plugar, percebendo o que acontecia, sorriu.

–É, parece que o grande Jonas não é tão forte e superior como pensa...

Depois de ver Jonas desmaiar na calçada, simplesmente saiu como se não tivesse visto nada.