–Eles só têm que achar a ONG funcionando, as crianças interagindo, não é nada demais.

Herval dava as instruções para o jovem, antes de sair.

–Tá bom. Que horas você acha que eles chegam?

–Tá marcado pra daqui há uma hora.

–Tudo bem, cara, eu fico aqui...

–Isso, garoto! Olha a meninada chegando aí!

Herval saiu e deixou Davi em seu posto. Minutos depois a turma já estava completa, desfalcada apenas pelas crianças da apresentação. Ele iniciou a aula, como de costume, aproveitando pra matar a saudade. Estava bastante à vontade, e escrevia algo na lousa, quando uma criança o alertou:

–Davi, a gente têm visita!

Ele gelou antes de virar pra trás. Herval já tinha mencionado que aqueles investidores eram muito exigentes. E ele já tinha sido responsável pela perda de investimento na Plugar uma vez e ficou arrasado. Uma segunda vez e ele nem teria coragem de olhar na cara dele e de Rita. Virou-se, mas se espantou ao ver de quem se tratava. Megan estava parada na porta e retirou os óculos escuros, dando um sorrisinho. Ele não sabia se deveria se sentir aliviado por não serem os investidores ou desesperado por ver a sua "Garota Problema" bem ali, na sua frente, justo naquele dia.

–Só um minutinho, meninos!

Caminhou até ela e com as mãos na cintura em sinal de impaciência, perguntou:

–Tá fazendo o quê aqui? Sério que o Jonas te mandou aqui pra me buscar?

–Oi pra você também! Look, Davi, eu não sei como devo interpretar essa sua aversão a mim, de repente, mas nós ainda trabalhamos juntos. Remember? And Yes, dad me mandou aqui te buscar. Você enlouqueceu pra faltar justo hoje?

–Isso é coisa minha. E eu não vou voltar agora, de jeito nenhum!

–Well, então eu também não vou embora. -Jogou a bolsa em cima de uma mesa qualquer, chamando a atenção dele. -O que acha?

–Contanto que você não venha com seu habitual talento pra me enlouquecer, tudo bem...

–Eu te enlouqueço de que forma? -Disse ela, se aproximando dele com um sorriso sedutor, que ele não deixou de perceber, mas teve de se conter.

–Ainda não descobri todas as formas, mas esse não é um bom momento, Megan. Eu tô esperando uma visita importante, o futuro da Plugar depende disso. Eles precisam ver o nosso trabalho e gostar dele. Então promete que vai se comportar?

–Sim, professor! -Ele riu com a resposta, enquanto isso, seu celular vibrou com uma mensagem de Matias.

"Cara, me ajuda! Só você pode me tirar dessa com o Cidão, ele tá querendo te ver!"

A esperança de Rita e Dante era que Davi ajudasse Matias a sair do "trabalho" com Cidão, principalmente porque o bandido estava ansioso para revê-lo agora que ele era famoso.

–Logo agora isso, cara? -Davi coçou a cabeça.

–O que foi? -Megan quis saber, ele olhou no relógio.

–Acho que dá tempo, fica aqui e não sai por nada nesse mundo. Eu já volto. -Dizendo isso, ele rumou rapidamente para a porta.

–Mas Davi, eu...

–Já volto! -Repetiu.
Megan olhou para as crianças dentro da sala com um certo desespero enquanto era observada por elas. Acenou timidamente, sem saber o que fazer.

*** *** ***

–Murphy, como está indo tudo lá fora?

–Tudo está perfeito, o senhor já vai dar uma olhada em tudo?

–Eu vou dar uma volta por aí. Tenho certeza que a Megan não vai conseguir trazer o Davi, aquele ali tem um gênio terrível!

–Mas o senhor não disse que precisaria dele aqui?

–Pouco me importa se ele está aqui ou não, será que eu não consigo nem mais andar pela minha empresa sozinho, só porque agora tenho um sucessor?

Jonas atravessou a porta e, mesmo sem entender nada, Murphy o seguiu.

–Sory boss, eu não disse isso. Claro que consegue, o senhor sempre consegue tudo! –Como sempre, ele não perdia a oportunidade de “elogiar” o patrão.

Megan não sabe de onde tirou papo pra conversar com as crianças. Há alguns minutos, Davi tinha saído e ela teve que se virar, afinal todas começaram a fazer muitas perguntas. Depois de entretê-las um pouco, decidiu ir lá fora pra ver se via algum sinal de Davi, viu que um carro havia parado em frente, e ouviu alguém falando ao telefone.

"Sim, já chegamos na ONG do Herval Domingues, só viemos por que ele insistiu muito, mas a que visitamos ontem já me impressionou demais, por mim seria ela."

Ela se afastou um pouco, discretamente.

–Shit, cadê o Davi?

Vendo que os dois homens estavam prestes a entrar e Davi resolvera sumir, tomou uma atitude.

–Hoje, Megan Lily trabalha na ONG Plugar! - Mas olhando para si mesma e vendo que seu visual não convenceria, prendeu os cabelos e rapidamente foi até a mesa de Davi, pegando os óculos que ele deixara.

Os homens finalmente entraram observando todo o espaço. Megan foi até eles e os cumprimentou. Eles olharam para ela fixamente, quase reconhecendo.

–Por favor, o sr. Herval?

–O Herval não se encontra, mas me deixou responsável por recebê-los hoje.

Meu nome é M... Melissa.

–Melissa, nós queremos conhecer tudo, cada parte da ONG e todo o trabalho pedagógico de vocês.

Megan se deu conta de que não saberia o que dizer, então teve que improvisar.

–Que tal se vocês conhecerem as crianças primeiro?

–Claro, nós podemos assistir uma aula?

–Uma... uma aula? Ok, pode ser.

"Eu posso fazer isso, eu posso fazer isso, eu posso fazer isso!" Tentava se convencer enquanto caminhava com eles até a sala. "Eu não sei como fazer isso!" Teve que admitir, mas agora era tarde, teria que dar um jeito.

Entrou na sala e começou "dar sua aula" como se realmente fizesse parte da ONG, claro que as crianças não estavam entendendo nada do que acontecia, mas prestaram atenção nela, que estava até conseguindo interagir bem com todas. Leu o que Davi escreveu no quadro para que pudesse falar a respeito. Tinha um pouco de conhecimento do assunto. Nessa hora foi útil, as raras vezes que prestou atenção nas explicações de Jonas.

Davi entrou em desespero quando chegou e viu um carro em frente à Plugar. Praticamente correu até a sala, quando viu que alguém estava explicando perfeitamente o conteúdo. Sorriu ao ver Megan bastante à vontade no posto de professora. Ela dava uma aula para as crianças que mais parecia uma conversa divertida, pois ela não sabia nada dos conceitos técnicos da informática. Olhou para os homens ali de pé e se apresentou.

–Oi, meu nome é Davi, trabalho junto com o Herval aqui na Plugar. -Estendeu a mão em cumprimento aos dois. - Peço desculpas pelo meu atraso. O Herval também tinha uma palestra hoje e não pôde cancelar.

–Tudo bem, Davi, não tem problema. Sua colega, Melissa, nos recebeu muito bem. -Ele olhou para ela que continuava a "aula". - Aliás, uma ótima professora, vocês tem aqui.

–Ah, claro, a Melissa é muito boa mesmo...

Ele se aproximou de Megan e passou a ajudá-la. Aos poucos, ela foi deixando que ele assumisse o controle, agradeceu aos céus por ele ter chegado, pois já não tinha mais palavras para "enrolar".

Depois da aula, Davi deu todas as informações que aqueles homens iam pedindo. Se ele não tivesse ganhado o Reality, já teria saído no lucro, pois acabou perdendo quase toda a sua timidez. Ele mostrou os pequenos projetos das crianças, isso impressionou demais os investidores.

–Foram eles mesmos que produziram isso? Mas como?

Com um sorriso de satisfação, Davi mostrou a eles o Júnior. Desde que as crianças aprenderam com ele o básico da programação, se arriscavam em pequenos projetos.

Megan percebeu o quanto os olhos dele brilhavam ao falar de sua criação e o que almejava através dela. Independente da relação estranha que estava acontecendo entre eles, ele era alguém admirável, de um jeito que ela jamais poderia ser.

Quando se viram completamente sozinhos, Davi se achou na obrigação de agradecer pelo que ela fez.

–Valeu, Megan! Você apareceu aqui na hora certa, afinal.

Antes que ela respondesse, uma criança se aproximou dos dois, surpreendendo-os, pois achavam que todas já tinham ido embora.

–Megan, promete que vai voltar!

Ela se admirou com o pedido, nunca foi muito boa com crianças. Seu pai costumava dizer que elas tinham medo dela.

–Yeah... sim, eu prometo.

A menina apenas sorriu e abraçou. Saiu correndo, em seguida. Davi, com as mãos nos bolsos, apenas observou a loira ficar paralisada vendo a menina se afastar.

–Ela é nossa caçulinha, parece que gostou de você. Mas não devia ter prometido que volta, é muito feio iludir crianças!

–Como você sabe que eu não vou voltar?

–Só estou dizendo que...

–Você não sabe nada sobre mim, Davi. Posso não ser boa o suficiente pra você, but... acho que consigo visitar uma ONG de vez em quando simplesmente por ter gostado das crianças. -Ela disse pegando a bolsa, indo em direção a porta, pronta pra ir embora.

–Ei, ei, peraí! Foi mal!

Davi percebeu que tinha feito besteira e correu ficando a frente dela. Ela parou, imediatamente, assim que esbarrou no corpo dele. Não foi intenção de Davi ficar tão perto. O que viveram juntos na California passou com um filme por eles, lembranças que não podiam ser ignoradas.

–Desculpa! -Embora ainda achasse errado Megan se deixar ser usada pelo pai para algo tão egoísta, sabia que ela não era uma pessoa ruim. -Eu não queria te ofender. E tem mais: você pode voltar quantas vezes quiser aqui na Plugar.

Nenhum dos dois se afastou, o que fez Megan perguntar:

–E agora? Você vai me beijar e depois fingir que nada aconteceu, como das última vezes?

–Você sabe muito bem que eu não poderia mais te beijar, mesmo que eu quisesse... -Ele disse olhando para os lábios dela.

–Hum, quer dizer que você não quer? -Ela disse, provocando-o.

Ele engoliu a seco.

–Não... -Mas seus olhos o contradiziam. Ela aproximou os lábios, tentando-o.

–E porque você não pode?

Perto demais, o suficiente para perturbá-lo, como sempre.

–Você... sabe que... eu não vou entrar no jogo do Jonas.

Nessa hora, ela se afastou. Não conseguiu seguir com a provocação já que ficou sem entender o que ele dissera. Davi agradeceu internamente por isso, sabia do poder de Megan de derrubar suas defesas, fazia isso perfeitamente e ele se sentia um fraco, pois nunca conseguia resistir a ela.

–Quer saber? Nem você se entende! I'm leaving!Se você não quer voltar para a Marra now, que se entenda com dad depois!

Ele não deixou que ela se afastasse.

–Espera, fica! Que tal a gente tomar um açaí?

–What?

–Açaí. É um suco, você vai gostar!

Megan tentou conter um sorriso, mas este saiu naturalmente. Olhou para o braço dele que segurava seu pulso, fazendo-o perceber esse gesto e a soltou.

–Well, um suco? Ok!

Apesar de saber do perigo que era manter Megan Marra por perto, Davi simplesmente queria prolongar a permanência dela ali.

“Claro, o convite foi só uma forma de agradecer pelo que ela fez...” –Ele pensou.