Forever (jakeness) escrita por NiaBlack


Capítulo 29
Rio de Janeiro




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Eu mal sentei na poltrona macia da primeira classe e apaguei completamente. Estava relaxada como se Jasper estivesse entre nós, usando seus poderes. Acordar foi algo muito mais que impossível, meu corpo estava pesado, e os olhos insistindo não abrir, minha insistência para continuar dormindo foi tanta que Jake me tirou no colo de dentro do avião. Foi ridículo, que vergonha. Preferi continuar de olhos fechados e não ver que todos nos olhavam.


-Nessie, eu não entendo nada que esse povo fala, pode acordar agora?


Finalmente desgrude as pálpebras, Deus, que sol horrível! Tratei de pegar logo os óculos escuros que Alice havia colocado em uma bolsa de mão (a qual ela me obrigou a carregar, já que eu nem estava com os sapatos). Havia um motorista nos esperando na porta do aeroporto.


Perdemos mais alguns minutos de carro e outros de barco.


Eu continuei dormindo, dentro do carro, ou do barco, eu acordava apenas para fazer um pequeno trajeto com os pés de Jacob, afinal os meus estavam no ar, pendurados por seus braços musculosos. Não sei o que estava acontecendo comigo, mas eu não queria me mexer, apenas dormir até o dia seguinte (e ainda era tarde!). Também não gostei daquele sol exagerado, era janeiro, e ele estava torrando minha cabeça se piedade.


Jacob foi gentil, como sempre, e me levou até a cama. Para alguém ansiosa e curiosa como Renesmee Cullen... Quero dizer, Renesmee Black... Aquilo dava a impressão de estar doente ou pior, nem ser eu mesmo. Eu não olhei absolutamente nada ao meu redor. Apenas mantive os olhos cerrados e a respiração lenta e regular, dormindo num sono estranhamente profundo.


Sonhando.


 


“Aquelas malditas crianças tornaram a me perturbar, o menino lindo, pálido de cabelos negros, ao lado da pequena garota, exatamente igual a ele. Na verdade era difícil saber quem era quem, pois ambos usavam os cabelos nos ombros, e possuíam aquele olhes olhos brilhantes e curiosos. Eu não queria me afastar deles, sentia isso, precisava tê-los ali, ao meu redor.


Eu estava sentada em uma pedra gigante numa clareira em Forks, olhando os dois brincando em meio a sons atordoantes de seus choques e risinhos alegres. Eram vampiros legítimos, era visível graças a forma rígida de seus corpos e a velocidade que alcançavam, entretanto, os olhos eram chocolates e eles não brilhavam ao sol, até eu, que era mestiça possuía um mínimo brilho.


Foi ai que tudo ficou confuso. Em meio às risadas e corridas curtas, eles simplesmente explodiram, bem diante de meus olhos. Explodiram se tornando dois lobos brancos, mas não eram gigantes, talvez por ainda serem filhotes possuíam o tamanho comum dos lobos. Em seguida atacaram um felino que passava entre nós, usando-o como alimento”.


 


Acordei gritando mais uma vez, e imediatamente aquele corpo fervente me segurou num abraço forte, enquanto uma das mãos bagunçava meus cabelos numa tentativa de acariciá-los.


-Calma linda, calma!


-Ai Jake, que sonhos malucos! Não agüento mais isso!


Ele deu uma breve risada e passou os dedos por minhas bochechas. Seus olhos brilhavam, mostrando uma satisfação praticamente desesperada. Eu enruguei a testa, e olhei rápido por uma janela. Já era noite.


-Meu Deus, por quanto tempo eu dormi? –perguntei zonza por ter me sentado rápido demais.


-Já são oito da noite, e acabou de anoitecer, não se preocupe. –brincou ele, num tom de ironia.


Parei um segundo para analisar o quarto a minha volta. Era todo branco e enorme, com os móveis em um marrom claro, e a maior cama que eu já havia visto na vida, com um edredom azul bem claro, que me cobria. Estava frio lá dentro, e eu fiquei procurando o motivo, até achar um ar-condicionado próximo a janela, a qual possuía persianas brancas, abertas, deixando apenas uma tela contra insetos nos separando do exterior.


Havia também três portas, uma para sair e as outras provavelmente eram uma suíte e um closet, em uma parede a qual só não estava vazia por conta de um quadro o qual eu reconheci ser meu. Lembro de tê-lo dado à Esme e Carlisle no Natal retrasado.


-Desculpe amor, você provavelmente morreu de tédio este tempo todo, não é?


-Na verdade não, fiz algumas coisas úteis. –disse ele satisfeito.


-Tipo o que? –eu já estava rindo, esperando as respostas de Jake.


-Comi... –eu o interrompi com outra risada. –Desfiz as malas, embromei num ‘portunhol’ com aquela mulher lá que eu esqueci o nome, comi de novo, tomei banho e aí vim aqui dormir com você.


-Nossa, tirando a parte das malas, que foi mesmo útil, de resto você foi apenas Jacob, um comilão dorminhoco.


Ele fez uma expressão forçada de ofensa e me arrancou uma nova risada, no momento seguinte ele riu também, me agarrando num abraço esmagador, o qual me deixou totalmente sem ar por alguns segundos.


-Nem acredito nisso, é tão... –ele pareceu perder as palavras. –Surreal!


-Surreal? Não amor, é totalmente real, eu estou aqui, ao seu lado, e será assim por toda a nossa eternidade.


Colei nossos lábios ao término da frase. Ele estava carinhoso, me dando beijos doces e calmos (o que era incomum para nós). Mas eu gostei... Correção, o que eu não gostava em Jacob? Nem pude responder esta pergunta, afinal ele era a perfeição diante de meus olhos.


-Deve estar com fome. O fuso-horário mexeu com seu sono e acabou que você nem comeu hoje. –disse ele preocupado.


-Estou mesmo... Morrendo.


-Então vamos logo!


Jake deu um salto da cama, com um ânimo fora do comum. Estávamos exaltados com toda esta história de casamento, entretanto, nem assim ele entendeu o que eu estava falando.


-Vou tomar um banho, arranje uns chocolates pra mim, ok? –pedi.


-Claro que arranjo. Qualquer coisa que quiser, senhora Black.


Eu ri.


Ainda era estranho pensar em mim mesma como a ‘senhora Black’. Perder o sobrenome dos Cullen era triste por um lado, afinal, eles eram minha família. Espreguicei-me e corri para o banheiro, tomando o banho mais veloz de minha vida, enquanto ouvia Jacob se confundir enquanto tentava pedir chocolates e outras coisas para esta tal mulher (que eu nem havia visto).


Apaguei as luzes do quarto e abri o armário enrolada em uma tolha. Por sorte minha visão era boa, o que me permitiu encontrar exatamente o que eu queria. Havia uma mala inteira feita, e eu tinha certeza que, conhecendo os escrúpulos de Jacob, era exatamente ali que estavam as coisas que Alice separou para mim.


Ouvi seus passos pelo piso de madeira corrida e tratei logo de me aprontar. A porta se abriu, e ele entrou desastrado, com uma bandeja prateada na mão, com frutas, sucos e muito chocolate.


-Ness, amor, eu trouxe mais algumas coisas, sabe, pra você matar um pouco a fome antes de...


Ele ficou estático, parado à porta com a boca aberta em sinal de surpresa. Soltou a bandeja, e ela só não caiu graças ao seu instinto de lobo, e o reflexo veloz que o fez segurá-la antes que atingisse o chão.


-Deus do céu... –murmurou ele.


-Que foi? Está ruim? –perguntei mordendo os dedos.


-Ruim? Está ótimo e aí é que mora o perigo! Cuidado Ness, você vai querer me ver pirado, então tente não me atiçar deste jeito.


 Meu rosto ficou quente e rubro. Eu estava usando uma lingeries com etiquetas francesas, de muitas que Alice havia comprado especialmente para mim. Era algo minúsculo, eu não me sentia nada a vontade usando. Era toda preta, contrastando com minha pele estupidamente clara. Cheia rendas, babadinhos e detalhes exagerados. Tinha também uma meia (estranhíssima) no conjunto, e ainda me pergunto como vestido aquela coisa tão rápido.


Comecei a comer os dedos outra vez.


-Achei que estivesse com fome. –disse ele tentando disfarçar.


-E estou mesmo.


Lancei-lhe um sorriso malicioso, e parece que finalmente Jacob entendeu. Ele largou a bandeja, desesperado, em cima de uma pequena cômoda ao lado da porta e veio em minha direção, com a respiração extremamente irregular, a ponto de ser visível seu peito subir e descer. Nossos corpos ferventes se chocaram, arrancando arrepios, e os lábios quentes e macios se uniram aos meus com urgência. Eu retribuí com a mesma pressa ao seu beijo caloroso. Nossas línguas dançavam de forma sensual e provocante. Nós éramos assim: desesperados todo o tempo, querendo um ao outro como se não nos víssemos há séculos.


 


Abri os olhos, preguiçosa.


Minha garganta estava ardendo muito mais que o comum, mas até que havia explicação: eu praticamente não comi nada ontem o dia inteiro. Foi apenas sono e Jacob. Obviamente aquilo me satisfazia, mas ainda assim precisava comer algo.


Me desvencilhei dos braços fortes de Jacob e saltei pela janela, correndo em meio aos galhos e folhas daquela mini floresta tropical que existia na ilha. Me afastei o suficiente para encontrar animais, e ataquei a primeira coisa que vi. Mas estava com tanta forme! Mordi sua jugular, para que não sofresse e suguei até a última gota de sangue. Queria mais, muito mais. Usei as garras para dilacerar a pobre criatura de forma animalesca, nem parecia eu mesma mastigando toda aquela carne crua, mas e daí? Eu só queria comer...


Comer?


Soltei a carcaça imediatamente, parando para analisar aquela cena nojenta. Mãos e rosto ensopados de sangue, e ele escorria por minhas roupas brancas, empapando-as. Deus, o que estava havendo comigo? O cheiro de carne crua me causou náuseas, e imediatamente virei o rosto de lado, respirando fundo para que não colocasse tudo aquilo para fora de meu corpo outra vez.


Levantei do chão, com os joelhos cheios de terra e meio ralados, pois havia uma pedra abaixo de mim, a qual eu nem havia percebido. Não pude me limpar por culpa das minhas mãos sujas, então comecei a correr outra vez, de volta para a casa, e pulei a janela fazendo um estrondo contra o piso de madeira.


Jake pulou da cama desesperado, e me olhou tonto. Foi aí que tudo piorou, os olhos dele se arregalaram de forma apavorante, e eu cheguei a dar um passo para trás quando ele saltou em minha direção, agarrando meus braços e sacudindo meu corpo.


-NESSIE O QUE HOUVE?


-Calma Jake... Não é meu.


Ele pareceu se concentrar um pouco, e o cheiro deve ter dedurado não ser meu, e sim de algum animal selvagem que teve a infelicidade de cruzar meu caminho.


-Que horror Ness, meu Deus, o que houve com você? O que você atacou pra ficar assim? Um animal gigante?


-Eu comi Jake... –respondi estática.


-Isso eu percebi.


-Não Jake, eu não bebi. Quer dizer, eu bebi primeiro, mas depois eu comi... Carne... Eu não sei o que deu em mim, eu simplesmente comi o bichinho.


Ele pareceu confuso e me olhou desconcertado, enquanto maltratava seus próprios cabelos com as mãos, era seu modo de demonstrar preocupação... Provavelmente aquela cena estava o enojando também, mas como uma boa pessoa ele jamais demonstraria qualquer tipo de repugnância sobre mim.


-Venha, vou te dar um banho. Você não parece em condições de se mover muito.


-Nem sei como cheguei aqui.


Por mais que conseguisse falar perfeitamente, eu corpo estava parado como uma pedra, tremendo da cabeça aos pés, e totalmente ensangüentado. Aquela situação me deixou constrangida e agoniada. Eu não sabia o que fazer, queria apenas devolver tudo aquilo que entrou em mim, mas não podia porque eu precisava. Não sei o que está acontecendo, mas eu precisava da carne...


Jacob me tomou em seus braços e levou para o banheiro, me colocando de roupa e tudo dentro da banheira. Ele a tirou delicadamente, talvez com medo de fazer qualquer movimento brusco e receber outro em troca (afinal, nada parecia normal).


Fiquei sobre a água fria por algum tempo. Começou a chover no exterior da casa, e o cheiro de terra e grama molhada foi me acalmando. Respirei fundo cem vezes, e fui contando cada uma elas para que desviasse a atenção daquela cena bizarra a qual havia acontecido. Enfim meu corpo estava relaxado outra vez, o que também era um problema, pois senti que meu estômago queria expulsar o que estava dentro.


-Ness?


Ele bateu na porta e abriu em seguida. Eu continuava sentada na banheira (praticamente deitada), com água até o nariz, de olhos cerrados.


-Jake. O que está acontecendo comigo? Será algum tipo de mutação, sei lá? Já sou tão esquisita mesmo... Vai ver estou virando um monstro de vez.


-Você não é nada disso Renesmee! –ele ficou furioso, mas se controlou rápido. –Se sente melhor?


-Se isso ajudar, posso dizer que sim.


-A verdade ajuda, Ness.


-Não, estou com vontade de vomitar e aquela cena horrível não sai da minha cabeça... Me ajuda Jacob.


-Calma, pode ter algo a ver com aquele sonho estranho que você sempre tem, aquelas criancinhas, pode ter te desequilibrado e aí deu nisso... Sei que você teve o mesmo sonho de ontem, me passou ele.


-Desculpe, tentarei dormir sem te encostar, assim você poderá dormir em paz sem ver meus pesadelos.


-Até parece que vou te deixar ficar longe. –ele ajoelhou ao lado da banheira e me deu um beijo na testa. –Melhor se deitar, está começando a ficar enrugada.


Eu ri.


Tinha algumas capacidades humanas, e esta era mais uma delas, ficar com os dedos enrugados por ficar tempo demais debaixo da água. Respirei fundo mais uma vez e decidi acatar ao pedido de Jake. Vesti uma roupa qualquer e fui me deitar um pouco.


À noite eu já estava bem melhor, me sentia forte, de alguma forma estranha parece que todo aquele acontecimento me deixou com uma disposição anormal. Ou talvez fosse apenas a sensação de ‘barriga cheia’.


Jacob era muito mais perfeito do que eu podia imaginar. Como amigo ele era ótimo, como namorado perfeito, e como marido nenhum adjetivo estava a altura. Ele fazia questão de não me deixar ficar entediada, sempre inventando algo pra fazer, no final do dia estávamos sempre exaustos, mas não o suficiente para atrapalhar o real propósito de estarmos ali.


Há algo estranho entre nós dois, uma certa brutalidade atípica. Não sei se herdei isso dos vampiros (afinal todas as histórias revelavam coisas absurdas como casas destruídas), mas creio que era algo das raças mesmo. Jake não era nada santo, pelo contrário, o sangue lobo o fazia forte até demais (coitada da cama, mudamos de quarto três vezes em quatro dias!). Mas era engraçado, vendo por um lado.


Eu achava que todo aquele fogo ia acabar logo, mas na verdade só piorava conforme o tempo, nada conseguia nos aquietar, absolutamente nada nos acalmava. Nós éramos assim, exagerados e desesperados um pelo outro, a ponto de nos deixarmos levar pelo desejo e acabar tornando o quarto um destroço de madeira. Pareciam com dois fios desencapados, positivo e negativo, soltando faíscas pelos cômodos.


 


Acordamos em mais uma manhã, rindo dos rasgos nos travesseiros, lençóis e até mesmo no colchão. Chamamos uma mulher, com traços indígenas e rugas vincadas no rosto, para dar um jeito naquilo, não vou negar que me sentia mal por isso, preferia eu mesma arrumar para que ninguém visse as gotas de sangue que eu arrancava dele. Ah, quase esqueci de mencionar, eu estou conseguindo beber o sangue de Jacob sem pirar. Praticamente provo um pouco toda noite, e isso ocasiona algumas manchas.


Saímos do quarto para que ela arrumasse e fomos para a cozinha. O café já estava pronto e nem preciso dizer que Jacob comeu feito louco, desta vez eu o acompanhei, estava gastando muita energia, e acabava tendo mais fome que o comum, mas nada muito assustador. Pouco depois ela voltou, e ficou nos encarando feio por tanto tempo que chegou a ponto de me incomodar:


-O que houve? –perguntei em português, graças ao sábio Edward.


-Demônio!


Kaure cuspiu as palavras e eu arregalei os olhos e quase caí da cadeira, como assim? Claro que tudo aquilo era muito suspeito, camas quebradas, colchões em frangalhos, além da visita constante de uma família pálida de olhos amarelados e beleza incomparável. Era óbvio que os empregados suspeitavam de algo, mas aquilo era demais!


-Demônio? –eu perguntei incrédula, enquanto Jacob olhava para nós duas, extremamente confuso.


-Você foi o demônio que nasceu daquela pobre menina que o Sr. Cullen, aquele ruivo, trouxe pra cá, eu me lembro muito bem, foi há seis anos e olhe só para você, já é uma adulta! –sua voz tinha um tom de medo e a expressão perplexa.


-O que está havendo? –Jake perguntou, cada vez mais confuso, enquanto mexia nos cabelos nervosamente.


-Pelo visto você sabe de muito mais que deveria, sim, eu sou filha deles... –olhei


para Jake e tornei a falar em inglês ligeiramente irritada -Fique calmo, depois te conto tudo.


-Não, você é um monstro que nasceu destruindo sua própria mãe, e agora trouxe um dos nossos protetores! Deus, o que fez com ele, hipnotizou? Como conseguiu persuadir um lobo para que caísse em suas garras, besta?


-Primeiro, pare de falar comigo como se eu fosse um bicho! –bradei, nada cordial, aquele exagero estava destruindo meu autocontrole. –Segundo, aquela garota, Bella, ela está viva sim, eu não a matei quando nasci, se é o que pensa. E outra, ele é meu marido, sendo lobo ou não nós nos amamos, e ninguém quer matar ninguém por aqui!


A mulher ainda estava apavorada, ouvia seu coração pulsando de forma descompassada, e a respiração anormalmente falha, uma de suor escorreu em sua face. Comecei a ouvir o exterior da casa, passos idênticos e apressados, distantes demais para que eu percebesse em meio a um estresse. Apurei a narina e senti que era o outro empregado. Parei alguns segundos, meus sentidos pareciam mais aguçados, de alguma forma eu estava mais detalhista que antes, mas deixei pra pensar nisso depois, afinal estávamos em meio a uma discussão. Neste momento Gustavo, a pessoa que estava nas proximidades, entrou pela porta e parou para nos observar.


-Eu sei o que vai fazer. Está com ele parece criar outro monstro! Acha mesmo que eu não percebi seus enjôos? Seu marido, como diz, pode não ter notado, mas eu não sou burra e nem tão jovem quanto ele. Você deixa rastros de sangue e carcaças dilaceradas por onde passa! –Kaure estava cada vez mais descontrolada.


-Vamos nos acalmar, e conversar como pessoas civilizadas. –respirei fundo, antes que voasse no pescoço dela para não ouvir mais sua voz irritante. –Pare e pense, senhora somos raças opostas, é impossível gerarmos algo nosso.


-Será mesmo? –seu tom de ironia me fez morder o lábio com força e apertar os olhos.


-Acalme-se Kaure, nós não temos nada a ver com isso, estamos apenas trabalhado. Graças aos Cullen vivemos aqui há anos, tomando conta de ilha, então fala o favor de não arranjar problemas com um deles! –Gustavo se meteu.


Jake batia nos dedos com força na mesa há um bom tempo, provavelmente se roendo de curiosidade e agonia para saber o que estava havendo. Ouvi um leve som, uma espécie de crac bem suave. Ele havia rachado a parte onde fazia os movimentos. Era estranho como as coisas pareciam mais lentas ao meu redor, mais uma vez pensei em meus movimentos e os outros, eu parecia mais rápida até mesmo que Jacob. Engoli seco, havia mesmo algo errado, algo que esta mulher sabia.


-Explique-se, por favor. –pedi cuidadosamente.


-Há uma lenda, sobre a pior criatura que já pisou neste mundo, mas eles foram extintos há séculos, talvez milênios. –começou a mulher.


-Kaure! Não devemos falar sobre isso! –pediu Gustavo.


-Não. Por favor, eu quero muito ouvir, então deixe-a falar.


O homem prendeu a respiração temporariamente, vi seus olhos mudarem, como de alguém que obedece a uma ordem impossível de se negar. Franzi a testa para tentar entender um pouco, ele estava seguindo meu pedido como se fosse um servo obedecendo a seu mestre. Como assim?


-Bom. –a mulher interrompeu meus pensamentos, eu toquei em Jacob, para que ele ouvisse diretamente de minha cabeça a tradução. –Eram criaturas terríveis, então as suas duas raças decidiram fazer uma trégua para caçar todos mos mestiços que nasceram e extinguir de vez com esses animais incontroláveis. Tornou-se uma espécie de lei, qualquer rumor da existência de algum destes seres, duas legiões de caçadores iam imediatamente averiguar, e caso fosse real, eram exterminados.


Eu congelei, e Jacob ficou catatônico. Como assim animais incontroláveis? Deus do céu, não mesmo! Uma cria minha e daquela perfeição que eu chamava de marido jamais seria um monstro... Bom... Ele podia puxar a mãe, e se puxasse eu deveria concordar em ser uma coisa.


-E o que aconteceu depois? –perguntei.


-A maioria nem chegava a nascer, de qualquer forma misturar os sangues não é algo fácil, deve haver uma compatibilidade perfeita entre os dois. Mas também há uma diferença entre estes lobos e os filhos da lua originais, mas mesmo assim tenha cuidado... -ela respirou fundo, e eu tirei as mãos de Jake, para que ele não ouvisse. –Não sei se está acontecendo ou não, mas caso esteja, acho bom se livrar dessa coisa rápido! Lobos são lobos, e acredito que essa união resultará em um monstro sim.


Eu engoli seco. Então talvez, algum dia, aparecesse um monstro em meu ventre? Algo ainda pior que eu? Não, impossível... Afinal eu mataria minha própria mãe para nascer, e tenho certeza que ele não seria tão horrível... Toquei Jake outra vez.


-Como eles nascem? –perguntei sem pensar. –Quero dizer, híbridos entre vampiros e humanos mordem a barriga das mães para nascer, mas e estes tais monstros?


-Como? Quer mesmo saber? –Kaure estava receosa até demais para meu gosto.


-Sim. Eu preciso saber, caso tenha que lidar com isto algum dia.


-Bom, se ele for limpo...


-Limpo? –eu a interrompi, confusa. –Como assim?


-Limpo, com sangue puro, sem nenhuma porcentagem humana. Se eles forem desta forma, geralmente os bebês se transformam em lobo quando estão dentro das mães, conseqüentemente a mão morre, pois a barriga explode literalmente. Mas se houve porcentagem humana, nascem como qualquer híbrido, abrindo a mãe.


-Obrigada por esclarecer minhas dúvidas. –eu disse, tentando amenizar meu próprio nervosismo


-Espere, ainda tem uma coisa. –a mulher me chamou outra vez. -Desculpe por ter te acusado daquele jeito senhora Renesmee, pelo visto você me parece muito mais sensata do que imaginei. Então... Tenha cuidado, este tipo de híbridos são bestas que se alimentam unicamente de humanos e das próprias raças, nada de animais. São canibais, e gostam principalmente de vampiros quando não há humanos. Primeiro sugam o sangue para depois comer sua carne, nada os para, absolutamente nada! Sua força é imensa, a velocidade surreal, sem contar nas habilidades, pois todos eles, sem exceção, têm dons como alguns de sua família, entretanto, são maiores e já nascem evoluídos. Imagine uma coisa desta nascendo dentro de sua casa, cheia de vampiros para que ele possa comer, mesmo quando bebê, vocês seriam uma presa fácil, pois cuidariam dele com amor e jamais suspeitariam de um ataque.


-Obrigada pelo aviso, tomarei cuidado, e me chame apenas de Nessie, ok?


Ela sorriu e nos deu as costas junto com Gustavo.


Eu respirei fundo e tornei a comer, enquanto contava para Jacob os detalhes de nossa conversa, mas tive que omitir a suspeita dela sobre eu estar esperando um dessas coisas horríveis. Claro que aquilo nunca podia acontecer... Ou pelo menos era o que eu queria pensar, afinal, agora a situação piorou ao descobrir que dá sim para gerarmos um bebê-monstro.


As coisas ficaram um pouco abaladas a partir daquele dia, Jacob parecia estar de olho em mim o tempo inteiro! Querendo me seguir nas caças e observando cada mínimo movimento, e ela também, Kaure estava muito mais preocupada que qualquer um de nós. Para compensar, meus sentidos estavam mais aguçados, talvez pela proximidade do meu sétimo ano de vida, então eu conseguia esconder alguns pequenos detalhes que os levassem a tirar conclusões precipitadas.


 Eu conversava com a mulher todos os dias, querendo saber tudo sobre as lendas, mitos e verdades daquelas duas raças tão poderosas. Jacob também, ele adorava ouvir as histórias sobre os verdadeiros lobisomens, aqueles amaldiçoados por uma mordida de outro da espécie.


 


Estava chovendo, eu ouvia os pingos de chuva caindo no telhado e ao lado de fora da casa, aquele cheiro era maravilhoso e relaxante, e mesmo se tratando de plantas, era totalmente diferente de Forks. Mesmo com o tempo nublado cheirava à alegria, vivacidade e frescor. Meus instintos estavam tão apurados que eu mal conseguia dormir, passava a noite inteira me deliciando com cada sensação que me invadia. Jacob ressonando era uma das coisas mais engraçadas, ele resmungava, sussurrava e sorria, e assim me tomava toda a atenção visual.


-... Pára Jake. –pedi pela quinta vez, com voz rouca.


-Não Nessie, vamos logo, vamos dar uma volta, está um dia tão bonito, então vê se sai dessa cama!


Ele respondeu, enquanto puxava meu braço, insistindo para que eu saísse da minha posição preguiçosa da cama. Eu estava de bruços, com as roupas rasgadas (graças à ele, obviamente) com o cobertor na metade das minhas costas. Minha respiração ainda estava pesada e os olhos cerrados graças ao cansaço e sono.


-Não quero. –insisti. –Desde quando um dia chuvoso é bonito?


-Simples, quando chove mesmo tendo sol, isso é muito diferente do que estamos acostumados, tem um arco-íris no céu e a água que cai é quente, temos que aproveitar! Nessie, por favor, nós vamos embora amanhã, então tente não passar o dia todo deitada aí nessa cama.


-Já vou.


Ele realmente conseguiu me arrancar da cama por pura teimosia. Eu estava definitivamente exausta, dormi apenas uma ou duas horas por dia, quando minha necessidade de descansar estava muito maior que o normal, talvez pelo desgaste físico diário fazendo trilhas, nadando, apostando corridas...


Eu abri uma boca imensa no café da manhã e Kaure se aproximou e mesmo sem dizer nada eu sabia exatamente o que aquela expressão curiosa estava tentando me dizer. Dei um longo suspiro, provavelmente aquela conversa ia demorar.


-Senhora. –ela começou errado como sempre, pelo amor de Deus, eu só tenho seis anos, não precisa me chamar de senhora!


-Por favor, Kaure, me chame de Nessie.


-Claro... Nessie... É que eu andei lhe observando desde aquele dia em que te acusei sem saber da história real, e... Bom, eu não quero ser pessimista... Mas...


-Kaure, por favor, pare de embromar e vá direto ao ponto. –pedi.


-Certamente... Você está definitivamente grávida.


Fechei a cara e virei o rosto para ela mecanicamente.


-Não me venha com essas historinhas e “achômetros”, eu não estou grávida, na verdade não estou nem perto disso!


-Não? E como explica essa indisposição, a fome que até mesmo seu marido diz ser anormal, o ataque a animais quando ele não está por perto e pior, você está forte... Forte demais, pelo que me contou, disse que está ouvindo coisas que jamais sonhou, sentindo o mundo à sua volta.


-Já lhe disse, estou cansada e com muita fome pelo desgaste, eu nunca me exercitei, se é que posso dizer assim, como estou fazendo agora, o ataque faz parte da fome, e eu sou uma incógnita, ou esqueceu que também sou uma mestiça? Talvez os sentidos tenham a ver com minha maioridade chegando.


-Porque está tentando se enganar? Sabe onde isso vai dar, fica mentindo para si mesma e para seu marido, e em vez de se livrar logo, que deixando passar, mas vai chegar uma hora que esse monstro vai parecer importante à seus olhos, e você vai querer vê-lo nascer, como qualquer instinto materno obriga.


-Olha, se eu tiver mesmo grávida, assim que voltar para os Estados Unidos pedirei ao meu avô tirar essa coisa de dentro de mim, falou?


-O que ela quer desta vez? –meu lobo não gostava nada da forma com Kaure se dirigia a mim, ele a achava folgada.


-Nada Jake, ela só está preocupada comigo.


-Não me faça de bobo Renesmee. –ops, Jacob me chamou pelo nome todo, era sinal que suspeitada de algo. –Por todas as conversas que tivemos comecei a entender algumas poucas palavras, além disso, me apóio no Espanhol. Então não tente me enganar! Ela falou algo sobre monstros!


-Sim. São só alguns avisos já que amanhã partiremos cedo.


Porque eu mentia para ele?


Eu sempre odiei qualquer tipo de mentira, mas estava tão envolvida com elas que mal percebia como estava descarada, pelo menos quando o assunto era este. Seus lábios se espremeram, ficando retorcidos sobre a face, enquanto os olhos estreitaram, respirei fundo, era hoje que ele definitivamente arrancaria toda a verdade de mim. Pois eu não suportaria vê-lo com raiva ou decepcionado.


-Conte à ele. –pediu a mulher.


-Contarei, mas não tem nada para se preocupar, afinal eu não estou grávida.


-Fale logo Renesmee! –ele rosnou. -O que ela quis dizer com ver alguma coisa nascer, e ainda por cima monstros, o que está me escondendo? Acha que eu não percebi, que as vezes foge a noite e ataca a primeira coisa que vê pelo caminho? Eu te vejo da janela sempre que pula, sinto o cheiro do sangue que você derrama à quilômetros. Pelo amor de Deus, me conte de uma vez o que está acontecendo?


-MAS QUE SACO!


Eu gritei, levantando na mesma hora, fazendo a cadeira cair no chão com um baque oco. Aquilo era o cúmulo, como eles podiam suspeitar de mim desta forma? Meus nervos estavam à flor da pele com aquela conversa sem fundamento. Toquei em Jacob e nela, para que os dois me ouvissem:


–PORQUE VOCÊS CISMAM COM ISSO? ENTENDAM, OS DOIS, EU NÃO ESTOU GRÁVIDA, NEM DOENTE, NEM VIRANDO UM BICHO OU NADA DISSO, SÓ ESTOU CANSADA!


Meu peito subia e descia com força, enquanto o coração disparava dentro de meu peito por conta do movimento brusco inesperado. Estava com uma raiva incontrolável que crescia cada vez mais. Fechei os olhos para me acalmar, e em seguida comecei a prestar atenção nas pequenas coisas no exterior da casa, como um pequeno primata que roubava bananas de uma árvore. Tinha mais, muito mais, pássaros filhotes e adultos, voando e nos ninhos, um número incontável deles, de várias espécies diferentes, fazendo sons distintos. O tintilar das asas de um mosquito que nos rondava, tentando inutilmente nos arrancar algum sangue. Uma fruta caiu de uma árvore, e um mico marrom correu para pegar, entretanto achou um inimigo, um rival, que pegou a outra metade do fruto, assim começou uma briga de arranhões e tapas. Uau, aquilo era tão humano!


O que mais? Eu estava perdida no mundo selvagem ao nosso redor. Uma serpente pequena rastejava pouco mais distante, enquanto um peixe pulou de dentro da água, fazendo um som agradável... Insetos, claro, milhões ou talvez bilhões de insetos! Besouros, percevejos, aranhas e formigas. Havia um formigueiro por perto, e eu ouvia os pequenos passos macios das operárias, enquanto caminhavam numa fila perfeita para buscar alimento... Formigas? Eu estava ouvindo formigas? Meu Deus! Isso não é um pouco demais não?


Todos esses sons aconteceram em segundos, talvez menos, foi tão rápido e inexplicável como eu conseguia prestar atenção em todos ao mesmo tempo, aquilo me preocupou. Não me lembro de ouvir Bella falando de formigas, de ouvir o estouro delas saindo de dentro de um formigueiro qualquer.


Sacudi a cabeça tentando me livrar daqueles pensamentos estranhos.


-Vou me deitar. –e disparei para o quarto, enquanto ouvia os dois chamando meu nome.


-Meu amor.


Jake entrou, se deitando ao meu lado na cama. Imediatamente escondi o rosto num travesseiro branco macio de penas, para que ele não visse minha expressão de pavor e as lágrimas que escorriam incansáveis por minha face.


-Nessie. –ele me chamou de novo. –O que está havendo?


-Kaure disse que estou com sintomas da tal gravidez mutante.


-Quer ir embora? Posso ligar para o aeroporto e deixamos a ilha hoje mesmo.


-Não, vamos esperar, por favor, é nosso último de puro sonho, então vamos deixar tudo isso pra lá e apenas aproveitar, ok? Será que pode fazer isso por mim? Esquecer tudo por hoje e apenas aproveitar nosso momento juntos?


-Eu faço qualquer coisa por você, pequena, entenda isso, ok?


-Eu te amo, meu lobinho. –puxei seu rosto e lambi sua bochecha, como ele fazia comigo quando estava transformado em lobo.


-Eu também te amo, morceguinha. –respondeu ele, rindo e mordendo meu pescoço para me imitar.


Acho que não preciso dizer o que aconteceu depois, preciso?


Bom, tivemos um último dia de lua-de-mel irrevogavelmente perfeito! Esquecemos de todos os problemas e dúvidas que nos cercavam, pensando apenas em nós mesmos e aproveitando cada milésimo de tempo que se passava.


Não dormimos, deixamos isto para quando estivéssemos sentados na poltrona macia do avião, voltando para Forks, e deixando que a vida real destruísse todos os nossos lindos sonhos.


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Notas finais do capítulo

Hey meninas! Espero que tenham gostado, pq eu não consigo (nem posso) escrever lemons pra FOREVER (e tb nem sou bom com lemons =x). A fic ta quase alcançando o cap que eu estou escrevendo agora, mas não desanimem, os próximos caps prometem!

Bjoooooo!!



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