Observo meus amigos lançarem os capelos no ar e automaticamente faço o mesmo. Alguns se abraçam e pulam a alegria é nítida naquele momento e não é para menos estamos terminando uma fase importante de nossas vidas, me junto à rodinha animada dos meus amigos do time de basquete em uma algazarra contagiante, algumas meninas da torcida estão com os olhos cheios de lagrimas quando se juntam a nós e por mais que eu faça piadinha junto com os demais também sinto um aperto no peito em meio a alegria. Tudo esta mudando, cada um irá seguir um caminho diferente a partir de agora e sei que não nos veremos mais como antes, quer dizer foram anos vendo todo dia aquelas pessoas, vivemos momentos únicos juntos alguns desde o primário, crescemos juntos e agora depois de anos vamos nos separar para encarar a vida “real” cada um ao seu modo.

Fotos são batidas aos montes e promessas são feitas, entre elas que aquele seria o verão das nossas vidas, que não iriamos esquecer, que manteríamos contato entre outras, sei que algumas iriamos cumprir outras dificilmente seriam mantidas por muito tempo pelo menos não com todos, mas deixo para pensar nisso outra hora. Os familiares que estavam assistindo começam a se aproximar e não demoro a avistar minha família esperando por mim, meus padrinhos, tios, avos, primos, irmãos e claro meus pais estão com o sorriso largo esperando por mim e assim que me aproximo sou bombardeado por abraços e pelos parabéns.

– Você esta tão lindo, estou tão orgulhosa de você – minha mãe esta com lagrimas nos olhos enquanto me abraça e embora esteja tentado a pedir para ela parar com todo o discurso sobre eu estar crescendo sei que ela não é a única mãe a fazer isso, ao nosso redor muitas mães estão emotivas então me mantenho em seu abraço e inevitavelmente penso em tudo que passamos para chegar até aqui.

Afinal quando eu entendi realmente que Clove tinha ido embora, que tinha me deixado eu acabei deixando de confiar nas pessoas acredito que isso seja em partes o meu modo se ser, e quando Katniss entrou em nossas vidas eu definitivamente acreditava que ela logo iria embora, fico feliz em saber que estava errado afinal ano após ano ela permaneceu conquistando cada vezes mais espaço na minha vida, lembro como facilmente Pietro passou a chama-la de mãe e de como ela sempre com calma veio ganhando minha confiança, a ideia de aprender a fazer doces era um jeito muito obvio de uma tentativa de aproximação e embora eu estivesse relutante foi algo que realmente surtiu efeito e acabou se tornando uma coisa nossa, e até hoje cozinhamos juntos e até hoje ela erra na hora de fazer um bolo de chocolate, mas isso ainda pouco importa afinal essas tentativas são responsável por ótimas lembranças.

Confesso que não demorou tanto para gostar dela de verdade o que demorou mesmo foi demostrar isso, por mais estranho que seja ainda tinha meus receios e mesmo quando passei a confiar nela completamente ainda continuei chamando-a pelo nome por um bom tempo e quando notei eu era o único a fazer isso já que Nico já estava falando algumas palavras que incluíam mamãe. Na verdade chama-la de mãe pela primeira vez foi quase involuntário. Eu estava com treze anos quando um motorista bateu na lateral do carro dela em um cruzamento próximo de casa, reconhecer o carro dela quando eu estava voltando para casa da escola fez meu coração acelerar, a lataria totalmente amassada me fez correr o mais rápido que pude para casa. Por sorte ela apenas cortou a testa e machucou o braço, mas estávamos realmente preocupados e quando ela chegou em casa do hospital a primeira coisa que fiz foi abraça-la e pergunta se ela estava bem o mãe saiu involuntariamente no final da frase, mas o sorriso que ela deu foi suficiente para fazer isso outras vezes até se tornar um habito mais que justo afinal é esse o papel que ela exerce na minha vida desde que entrou nela.

– Mamãe chorou quando sua foto apareceu no telão – Pietro contou nitidamente segurando a risada – Na verdade ela chorou a cerimonia quase toda.

– Devia ter gravado, Katniss esta toda emotiva hoje – meu tio Gale estava se divertindo com a reação exagerada da minha mãe – Tem certeza que não é mais um Mellark a caminho cunhadinha?

– Vamos continuar essa conversa daqui alguns anos na formatura da Diana – o comentário dela rendeu algumas piadinhas já que Diana sempre seria a garotinha do papai para meu tio mesmo não sendo mais a única, mas não consegui prestar atenção já que foi nesse momento que a avistei.

Lana estava a apenas alguns metros de nos junto com os pais, nossos olhares se cruzaram e ela sorriu embora não fosse o sorriso que estava acostumado sorri de volta, não nos falávamos a mais de uma semana e por um instante quis ter coragem de ir até ela, mas não o fiz assim como não fui contra nosso termino semanas atrás. Senti o olhar do meu pai sobre mim e voltei minha atenção a minha família que estava combinando onde iriamos almoçar já que naquela noite eu sairia com meus amigos para uma festa.

– Você ainda gosta dela não é? – a pergunta do meu pai me pegou de surpresa

– Gosto – respondi com sinceridade sem olhar para ele e mantendo meu olhar nos familiares caminhando um pouco mais a frente.

– Talvez vocês devam conversar novamente, tentar fazer dar certo relacionamento a distancia é complicado, mas não é impossível.

– Ela não quer tentar pai, acha que não vai dar certo que vamos apenas nos machucar dia após dia e no final terminar de uma maneira ruim.

– E você o que acha?

– Que devíamos pelo menos tentar – eu realmente queria tentar, mas quando Lana resolveu que terminar nosso namoro era a melhor solução eu não me opus a ideia mesmo discordando completamente da decisão – Não posso força-la pai se ela não quer estar ao meu lado.

– Eu sei, mas talvez vocês devessem conversar melhor, vocês terminaram em um momento tumultuado cheio de coisas acontecendo, seja sincero com ela conversem direito e com calma quem sabe não chegam em uma outra solução – concordei com a cabeça e ele bagunçou levemente meu cabelo, ele provavelmente tinha razão havíamos mesmo terminado em um momento tumultuado estávamos fazendo as provas finais, resolvendo as papeladas das universidades que iriamos cursar e eu com meu jeito de ser não fiz absolutamente nada para mostrar que ela estava errada, para ser sincero não sou bom em demostrar o que sinto facilmente e com Lana não foi diferente, muitas vezes ela mesmo disse duvidar dos meus sentimentos e sei que isso foi algo crucial para ela escolher terminar o que tínhamos.

Entrei no carro e tentei deixar esses pensamentos de lado afinal aquele era um momento para aproveitar com minha família e por mais que eu amasse a Lana deixar de aproveitar esse momento não era certo e não mudaria o que tinha acontecido. Dizer que o almoço foi divertido é pouco afinal dezesseis pessoas reunidas em um pequeno restaurante no centro do distrito fez com que sentíssemos que tínhamos fechado o estabelecimento, observando minha vó na outra extremidade da mesa não consigo defini-la com uma palavra que não seja alegria, por mais que todos nos gostássemos desses momentos ela era a que mais ficava alegre, éramos a família grande que ela sempre quis reunida a sua volta.

Chegamos em casa no fim da tarde com planos para um churrasco na casa dos meus avos no domingo e como acabamos ficando mais tempo do que o planejado fora fui direto para o meu quarto tomar banho e me aprontar para sair. Estava terminando de me trocar quando ouvi passos na escada, Prim entrou e sem uma única palavra sentou na minha cama e ficou olhando a rua pela janela. Não era preciso de muitas explicações eu sabia que ela provavelmente tinha discutido com Pietro, as vezes os dois pareciam ainda ter seis e quatro anos e para ela estar aqui provavelmente ele havia levado a melhor com nosso pais dessa vez.

– O que houve? – perguntei me aproximando.

– Pietro me tira do serio, as vezes o Nico é mais maduro que ele – segurei a risada com o comentário, meu irmão podia ser muito maduro as vezes mas quando a questão envolvia nossos irmãos mais novos ele involuntariamente parecia bem mais novo do que realmente era – Você vai com essa camisa?

– Vou, por que? – ela não disse nada apenas foi ate meu armário e em seguida pegou outra camisa.

– Essa fica melhor em você – me entregou a camisa e voltou a se sentar na cama, sorri antes de ir trocar a camisa, não que tivesse um gosto ruim para escolher minhas roupas. Para ser sincero considero que ando muito bem vestido, mas Prim tinha um ótimo senso de moda e um bom gosto incrível o que sem duvida me fazia confiar no bom gosto da baixinha que atualmente tinha colocado na cabeça que faria faculdade de moda, obviamente ano passado ela iria ser medica e no anterior veterinária entre outras carreiras que começaram com a ideia de ser princesa – Bem melhor agora.

– Será que consigo uma nova namorada hoje? – brinquei me olhando no espelho e gostando realmente do resultado final.

– Se você quisesse com certeza conseguiria uma, mas você não quer – minha irmãzinha era sem duvida muito inteligente isso eu não poderia negar, e por mais nova que ela fosse ela me conhecia bem assim como eu a conhecia.

– Isso é verdade, mas nunca se sabe não é vai que eu acho alguém que me faça mudar de ideia – ela sorriu, e pelo sorriso dela eu soube que algo estava errado – O que foi Patinha você parece triste – me aproximei e vi o quanto ela estava crescendo.

Uma das melhores coisas em ser o irmão mais velho são as recordações que guardamos de cada um dos nossos irmãos. Eu ainda me lembro do dia em que vi Pietro pela primeira vez eu era apenas uma criança e embora a lembrança seja vaga consigo lembrar o momento em que meu pai entrou em casa após voltar do hospital com Clove, eu estava muito curioso com a chegada do bebê e assim que meu pai se aproximou e me apresentou aquele pequeno bebê com uns poucos cabelos loiros eu sabia que tudo iria mudar eu seria um irmão mais velho, e segundo meu pai ele seria meu melhor amigo e como sempre ele estava certo, afinal por mais que tenhamos uma diferença considerável de idade Pietro é alguém em que posso confiar, fomos só nos dois por um tempo eu o vi crescer em alguns momentos me senti responsável por ele. Nico me traz mais recordações afinal não faz tanto tempo assim que fui conhece-lo ainda no hospital e confesso que no momento em que minha avó o colocou nos meus braços aquele carinha me ganhou e os anos seguintes só fortaleceram nossa ligação, ainda me lembro do dia que ele saiu andando atrás da bola de baquete na garagem e de como de forma enrolada chamou meu nome pela primeira vez, confesso que ele e Pietro tem muito em comum.

Prim por outo lado foi totalmente diferente, ela tinha quatro anos quando nossos pais se casaram e confesso que não estava nem um pouco feliz com o casamento repentino do meu pai, e por mais que eu estivesse determinado a não me relacionar com nenhuma das duas na época lembro perfeitamente o momento em que a vi pela primeira vez com o gato nos braços e um sorriso enorme que em poucas horas deu lugar ao medo do novo e da aranha do meu projeto de ciências. Eu não sei como ou por que, mas em pouco tempo ela já conseguia me convencer a brincar com ela e não foi preciso muito para que eu sentisse uma necessidade de protegê-la do mundo, Pietro costuma dizer que eu a protejo e fico do lado dela sempre o que não deixa de ser verdade, de alguma forma por mais que os anos passem ela sempre vai ser aquela garotinha com medo que levei para brincar no jardim enquanto nossos pais conversavam e que segurou minha mão para se sentir segura.

– Tudo vai mudar agora – ela disse baixinho um tempo depois voltando a olhar pela janela em seguida.

– Prim não quero te ver triste.– me sentei ao lado dela

– Como não ficar triste se você vai ir embora, não queria que você fosse.

– Eu não prometi voltar todo feriado e podemos nos falar por telefone e por chamada de vídeo sempre, assim como você fazia com a Diana quando ela morava no Dois, e quando eu me formar vou voltar a morar aqui no Doze.

– Quando você se formar eu vou estar indo para faculdade – aquilo era verdade por mais que eu tivesse planos de voltar depois de me formar ainda sim seria diferente, tanto ela quanto Pietro estariam na faculdade, por mais que não quisesse admitir tudo realmente mudaria – Eu sei que você tem que ir, mas eu vou sentir sua falta.

– Eu também vou sentir sua falta, mas você ainda vai ter a família toda aqui – ela concordou com a cabeça, e não pude deixar de pensar em tudo que iria perder durante esses anos. As competições de natação do Pietro, Nico entrando para o time de basquete ou começando qualquer outra atividade, as apresentações de ballet dela, o dia em que ela sairia para o primeiro encontro, o primeiro baile no colégio. Confesso que odeio pensar nessa possibilidade e desejo que isso só aconteça quando ela for bem mais velha, tenho que admitir que ela esta crescendo e logo iria estar pensando em garotos de outra forma e existe uma grande possibilidade de não estar aqui para ajudar meu pai a alertar o sujeito de que se magoa-la estará perdido. Afinal nenhum marmanjo vai magoar minha irmãzinha, pelo menos não sem ter que lidar com os homens da família Mellark, pensar nessas coisas fazia com que eu deseja-se que ela ainda fosse a garotinha que ensinei a amarar os sapatos e queria ser uma princesa quando crescesse – Vamos lá quero ver um sorriso, temos o verão inteiro para aproveita antes que eu vá para faculdade – ela sorriu fraco – Você pode fazer melhor – ela sorriu novamente no momento em que a campainha tocou.

– Deve ser a Diana e eu não arrumei nada ainda – ela levantou apresada parando na porta e voltando em seguida para me abraçar – Eu realmente vou sentir sua falta todos os dias. E realmente não sei quem vai ficar do meu lado contra o Pietro agora – ela brincou – Vai ser difícil levar a melhor em uma discussão assim - sorri

– Você nunca precisou de mim para levar a melhor em uma discussão com o Pietro sabe disso, e talvez seja a hora de vocês se unirem.

– Contra o Nico? – ela perguntou sorrindo – Não daria certo ele ganha no quesito fofura.

– Não custa tentar

– Divirta-se hoje.

– Você também – observei ela descer e não precisou muito tempo para ouvir os gêmeos batendo na porta do quarto do Nico os três provavelmente deixariam Pietro louquinho hoje. Desci a tempo de ver meu tio Gale ainda na sala conversando com meus pais vestido elegantemente – Quanta elegância tio aprontou o que?

– Viu ele também pensa assim, toda vez que você se leva Madge a esses lugares elegantes você esta tentando limpar sua barra.

– Peeta – mamãe o repreendeu – Gale como eu ia dizendo aproveite a noite as crianças vão ficar bem.

– Obrigado Katniss, mas olha quem fala de mim esta todo arrumado para uma festa de garagem, tentando arrumar uma namorada para o verão?

– Quem sabe tio, sempre existe uma possibilidade – comentei, embora o que eu deseja-se mesmo era Lana como minha namorada novamente - Mãe, pai já estou indo estou com o celular.

– Lembre-se que o motorista não bebe – meu pai alertou enquanto eu pegava a chave do carro próximo a porta.

– Pode deixar como o motorista da vez ficarei apenas no refrigerante e no suco – se havia algo que meu pai nunca aceitou foi álcool e direção.

– Divirta-se

– Juízo – minha mãe disse antes de se despedir com um beijo

– Pode deixar.

Sai em direção a garagem ainda pensando nas mudanças que minha vida teria no final do verão, ir para outro distrito me virar sozinho eram ótimas coisas que me levariam a alcançar a profissão que escolhi e a minha independência, mas eu não tinha duvida que sentiria falta da minha família todos os dias, da correria pela manhã, das briguinhas dos meus irmãos, de ver o carinho que meus pais tinham um com o outro de jantar todos juntos e todas as pequenas coisas que eu tanto gostava afinal independente do que viria pela frente eles sempre seriam minha base porque se existe algo que aprendi é que família é tudo.