Amores De Guerra

Capítulo VII:

Culpa.

Os gritos agudos de Hinata percorreram os corredores do Hospital Geral de Konoha, chamando a atenção de médicos e pacientes. Com um nós na garganta e o coração na mão ela se aproximou do jovem desacordado. Estava trêmula, tanto que não conseguiu medir o pulso dele, se vendo obrigada a colocar sua cabeça sobre o peito do maior, vendo o quão seu coração batia fracamente.

O desespero dela aumentava cada vez mais, assim como um sentimento de culpa brotava dentro de si. Usava seu controle de Chakra para tentar estabilizar o corpo do moreno, e mesma assim berrava por ajuda, ou melhor, tentava, sua voz embargada pelo choro quase não saia.

– S-Sasuke-kun? - murmurava com certas dificuldades por conta do choro. - V-vamos! F-fale algo... S-Sasuke-kun... - abaixou a cabeça, deixando que os cabelos azulados cobrissem seus olhos. Persistia na ideia de tentar ajudar o Uchiha.

Mal prestava atenção no que ocorria ao seu redor, por isso não notou os passos apressados aproximando-se de si, muito menos viu os olhos negros se arregalarem com a cena.

– Hinata-san? - a jovem adulta exclamou, ajoelhando-se ao lado dos dois mais novos. - O que houve aqui? - chacoalhou um pouco a menor, fazendo-a se despertar de seus devaneios.

– F-foi culpa minha Sihizune-san! - os gaguejos misturavam-se a soluços, era claro que ela estava sofrendo com aquilo. A outra olhou-a confusa, sem saber o que ela queria dizer. - Se eu não tivesse corrido... E-ele não teria vindo atrás de mim... E... E N-não teria c-caído da escada!

A mais velha a encarou de olhos arregalados por alguns momentos, digerindo a informação. Acariciou os ombros dela, com um sorriso doce.

– Não se preocupe... Nós vamos resolver isso. - tentou acalmar a menina, esta lhe olhou esperançosa. - Agora, me ajude a leva-lo para emergência. Segure as pernas. - Shizune ordenou enquanto se preocupava em levantar o tronco do Uchiha desmaiado.

Hinata assentiu fazendo o que lhe fora mandado, e as duas seguiram com pressa para uma das salas de emergência onde o garoto foi imediatamente entubado. O morena chamou mais alguns médicos para lhe auxiliar, fazendo diversos exames.

Ela seguia com os olhos cada movimento dos profissionais ali, o jeito com que eles extraiam sangue do jovem, a forma que faziam alguns raio-X, os múrmuros entre si... Será que algo de grave estaria acontecendo? Poderia ele morrer em função daquilo.

Abaixou a cabeça não querendo aceitar esse tipo de coisa. Não... Sasuke era forte o bastante para sobreviver, afinal, ele era um Uchiha! Um usuário do sharingan! Não morreria fácil assim... Não é?

Só de pensar nisso sentiu seus olhos se molharem um pouco, sentindo-se extremamente culpada. Tratou de limpa-las logo, não queria simplesmente ser vista chorando ali... Precisava ser forte.

Rodou os orbes perolados por toda a sala, vendo-os começar a enfaixar a cabeça do moreno e engessar lhe o braço fraturado. A Hyuuga se sentia extremamente avulsa naquele lugar, era óbvio que não precisavam dela.

Levantou-se com calma, apenas avisando Shizune que sairia para tomar um ar, disse que precisava respirar um pouco, que ainda não havia se acalmado. A mulher assentiu, deixando-a sair com extrema serenidade.

A se ver do lado de fora do lugar Hinata suspirou, sentindo as pernas bambearem. Começou a andar pelos corredores, lentamente. Não tinha pressa em chegar ao seu destino. Aliás, não tinha destino.

Tudo o que queria era que aquele dia acabasse.

[...]

A porta do quarto foi aberta com extrema violência, as lágrimas pendiam pelos olhos esmeraldas daquela rosada. Ela entrou sem fazer qualquer cerimônia, abraçando o loiro que ali estava, sem se importar se a Yamanaka estava por perto.

A Haruno gemia em meio ao choro, apertava-o forte contra seu corpo, tremendo. O garoto, por outra parte, sorria acariciando as costas dela, tentando acalma-la de qualquer maneira.

– Calma... Calma Sakura-chan... O que aconteceu? Conta pra mim, conta? - dizia com doçura na voz, limpava as gotas de água cristalinas que caiam por sua face. - Vamos... Estou ouvindo... Pode dizer.

– S-Sasuke-kun... - soluçou, o apertando ainda mais. - E-eu odeio o Sasuke-kun! - tais palavras fizeram Ino entreabrir os lábios, surpresa, mas não causaram nada demais no jovem. - E a Hinata também!

– Mas por que? - Naruto perguntou, tentando consola-la e ao mesmo tempo descobrir o motivo de seu pranto. - Diz pra mim Sakura-chan, o que eles te fizeram pra você odiá-los?

– E-eles estavam se apelidando... Fazendo amizade... Parece que estão gostando um do outro! - seu coração estava magoado, doía. - H-Hinata... Ela sabe o quanto eu gosto dele! E o Sasuke-kun sabe disso melhor que qualquer um! Como eles podem?

– Vai ver o Sasuke-kun gosta de carne. - Ino sorriu pervertida, colocando as mãos em frente aos seios, para deixar claro o que queria dizer. - E bem... Hinata tem muita carne! - estendia as mãos mais à frente, brincando.

– Cale-se! - a voz do Uzumaki vinha grossa, fria. Não ia deixar que 'qualquer' um falasse daquela maneira de 'sua' rosada. - Ino quer fazer o favor de não se intrometer nesses assuntos? - resmungou entredentes. - Isso é algo relacionado ao time sete! Não a você!

– Que eu saiba a Hinata não é do time sete, é do time oito! - retrucou cruzando os braços. De maneira alguma o deixaria falar de tal maneira com ela só por que era considerado um herói de guerra. - E eu falo o que eu quiser, quando quiser, do jeito que quiser, entendeu?

Tudo o que o loiro fez foi encara-la com raiva, e talvez um pouco de desprezo momentâneo.

[...]

Ali, ao lado de fora da recepção daquele hospital, com os olhos semicerrados Hinata sentia o vento bater e seus cabelos. A sensação de frio causada por ele de maneira alguma a incomodava, muito pelo contrário, era como se parte do pesar em seu coração se esvaísse.

Contudo, seus pensamentos voltavam-se apenas para Sasuke, que ali estava em uma sala branca e sufocante, cercado de médicos. Seu pequeno e frágil coração doía ao lembrar-se que era por culpa sua que tudo acontecera.

Sentada no bando de maneira balançava os pesinhos, como queria ter um balanço, ia para cima e para baixo... Esquecendo-se do Mundo... Esquecendo-se de tudo... Ser a Hinata inocente e pura de duas semanas atrás, quando a guerra finalmente terminara.

Suspirou pesadamente, cerrando por fim seus olhos de um tom leitoso. Seus punhos permaneciam fechados, enquanto silenciosamente ela entoava uma prece ao seu Deus, pedindo que o garoto de madeixas negras melhorasse. Que não fosse nada de grave.

Ouvia passos ecoando por trás de si, uma voz doce e preocupada a chamando. Levantou-se, antes batendo em suas roupas para tirar algum pó que lá tivesse se fixado. Entrou, andando imediatamente até a mulher morena, que ao vê-la, sorriu com tristeza.

– Hinata, precisamos conversar sobre o Sasuke-kun. - Shizune dizia serena, dando apenas um tempo para a moça assentir, logo depois estava puxando-a com cuidado pela mão enquanto subia os degraus. - Essa queda não foi lá muito grave, mas ele acabou por ter um hematoma na cabeça e quebrar o braço... - o tom de voz da maior era calmo, mas ao mesmo tempo podia ser sentida uma pontada de desespero.

– É só isso mesmo, Shizune-san? - perguntou, tentando esconder o fato que percebera a alteração na mais velha, vendo-a ficar em silêncio, constatou que algo de mais grave havia acontecido. - O que houve? Sasuke-kun... - abaixou os olhos, fitando os pés enquanto parava de andar. - Sasuke-kun vai ficar bem?

Ambas ficaram em silêncio por poucos momentos. Os barulhos que ecoavam pelos corredores pareciam não existir, era como se apenas as duas estivesse ali, paradas, uma fitando a outra.

– Sasuke-kun...- finalmente pronunciou-se, escolhendo bem as palavras que usaria para falar com a garota sensível que se encontrava em sua frente. - Acabou por ferir os pulmões... Isso ainda na guerra... Mas com o acidente de hoje... Creio que não voltará a respirar sozinho tão cedo.

Shizune ficou por encarar a azulada por alguns segundos, observando sua reação ao arregalar os olhos e entreabrir os lábios num gemido surpresa, ela viu como sua pele ficou mais pálida do que já era, dando a menina uma aparência ainda mais frágil.

Os batimentos cardíacos da Hyuuga se aceleravam, seu coração queria sair pela boca. Lágrimas cristalinas se formavam no canto de seus olhos, molhando-os enquanto era assolada pela dor infinita da culpa.

– Nós vamos fazer o possível para mantê-lo bem... - dizia, tentando trazer algum conforto a pequena jovem de madeixas azuladas. - Mas no momento, tanto eu quanto todos os outros médicos estão ocupados com os pacientes mais graves da guerra... Por isso... - neste ponto foi interrompida pela menor.

– Eu devo cuidar do Sasuke-kun, não é? - enfiou o rosto entre as mãos, para secar das lágrimas que pendiam de seu rostinho delicado, levantando-o com determinação. - Certo. Eu irei fazer tudo o que estiver ao meu alcance para concertar esse erro.