61ª Edição dos Jogos Vorazes escrita por Triz


Capítulo 4
Capítulo 4 - A arma certa para mim


Notas iniciais do capítulo

Obrigada por lerem novamente! Boa leitura e, sei lá, boa sorte pro Brasil (?) o/



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— Oi semáforo. Vou ficar aqui, preciso de um ar. Se importa?

— Fique onde quiser, esse lugar é público. Mas como ficou sabendo daqui? — pergunta Astrid, enquanto me sento perto dela.

— Como você ficou sabendo desse lugar? — devolvo a pergunta.

— O cara louco da Capital me contou. Disse que aqui teria paz.

— Engraçado. Comigo foi igual. A mulher louca me disse que aqui teria paz — fico em silêncio por alguns segundos. — Mas não sei se posso chamar Dominique de mulher louca. Ela parece ser a única de minha equipe que quer me ver ganhar.

— Acho que te entendo. Meus mentores são preguiçosos, meu estilista é uma porcaria e tal. O homem louco é o que mais cuida de mim.

— Minha parceira de distrito é a favorita dos mentores, porém Jass é um caso perdido.

— Ah, o rapaz de meu distrito é assim também. Ele tem dezessete anos, mas já chorou mais que eu em todos os meus quinze anos.

Rimos juntos. Astrid volta a colocar o violão em seu colo.

— Então, quando começou a tocar? — pergunto.

— Minha tia me ensinou. Nossa família viaja bastante. Distrito 6, transportes. Então, nas viagens, como não temos nada para fazer em nossos velhos trens, cantamos cantigas. Tenho muitos irmãos, e tocamos juntos.

— Legal — digo.

Tudo fica silencioso novamente, mas Astrid interrompe isso tocando algumas notas no violão.

Então ela tem família. Muitos irmãos e uma tia além de seus pais. Astrid deve fazer muita falta para os familiares. E a única pessoa - ou melhor, animal de estimação - que me espera é o Castiel. Sim, eu me importo muito com ele, mas ele é um, e Astrid tem vários.

Será que se eu tivesse mais gente para me importar, ficaria mais motivado? Por que matarei muitas pessoas na arena, e destruirei muitas famílias. E eu não tenho ninguém. De certo modo, me sentirei mal, mas é menos peso na consciência para a pessoa que me matar.

E aí mesmo que minha vida não teria valor algum, então não posso morrer. Tenho que sacrificar famílias para não ter uma vida idiota em vão. Por esse motivo os Jogos Vorazes são torturantes.

— Você está com um olhar pensativo — diz Astrid, largando seu violão. — Está pensando nos Jogos?

— Que tributo não está pensando nos Jogos? E bem, estou cansado, então estou indo para a cama.

Me levanto e ando até o elevador.

— Boa noite, Astrid — despeço-me. — Nos vemos amanhã no treinamento.

— Então até lá, Geoffrey — diz ela, acenando.

Entro no elevador e volto ao 5º andar.

Chegando lá, noto todas as luzes apagadas, mas a televisão está ligada. Dominique está lá, sentada no sofá com seu pijama roxo, assistindo às Colheitas novamente. Está passando a do Distrito 5, e vejo minha cara de nada subindo ao palco.

— Não cansa disso? — pergunto. — Já não basta apresentar e assistir ao primeiro reprise?

— Shiu — Dominique me cala. — Estou prestando atenção no rosto dos tributos para ver quem parece mais forte. Não quer ajuda?

— Não posso reclamar. Você é a única que me ajuda.

— É porque quero te ver saindo vivo. Sempre tento ajudar ao máximo meus tributos, mas eles nunca têm determinação. Você é diferente, Geoff.

Diferente. Uma palavra forte, que mostra que eu me destaco no meio de tantos tributos do Distrito 5 que, à essa hora, estão à sete palmos do chão. Seria essa uma palavra muito forte para mim?

— Então — Dominique continua —, como foi a ida ao terraço?

— Foi normal, por exceção de que uma garota esquisita estava cantando lá.

— E vocês fizeram, sei lá, uma aliança?

— Não — digo, mesmo sem ter pensado numa aliança com Astrid. — Mas acho que é algo que não quero. Não posso me apegar às pessoas, porque terei que matá-las no final.

— Ou pode deixar os outros tributos matá-las.

— Aí eu me sentiria tão culpado que viveria assim pelo resto da vida. Portanto prefiro ficar sozinho.

Dominique revira os olhos.

— Você é mesmo diferente, Geoff. A maioria das pessoas quer alguém para protege-las.

— Eu só acho que uma garota de quarenta e cinco quilos com quem você sugere que eu faça uma aliança não vá me ajudar.

— E quem você conheceu?

A Colheita do Distrito 6 começa a ser exibida na televisão. Aponto para Astrid na tela.

— Ali. Astrid May. Ela sabe tocar violão.

— Bom, aparência não é tudo, trate de olhar suas habilidades amanhã no treinamento.

— Certo. Então vou dormir. Boa noite, Dominique.

— Boa noite, Geoff.

E vou para o meu quarto. Tiro as roupas estranhas de antena parabólica que estava e vou tomar banho, esfregando minha pele com força para tirar a tinta prateada. Depois, coloco um macio pijama vermelho e pulo na cama.

Caio no sono quase que imediatamente, totalmente exausto pelo dia torturante que tive com a Equipe de Preparação.

Só que o lado ruim foi que tive um pesadelo.

Nele, estava encolhido num canto, segurando as pernas e escondendo a cara. Milhares de silhuetas negras com olhos vermelhos esfumaçados jogam pedras em mim, ferindo-me por inteiro e me fazendo sangrar muito.

— Por quê? — pergunto.

As vozes respondem de maneira acusatória:

— Você matou minha filha!

— Você tirou a vida de meu irmão!

— Você venceu os Jogos, mas não tem ninguém para parabenizá-lo! Se meu filho tivesse vencido, o receberia com carinho, mas você é um ninguém! Não deveria vencer!

E as pedras continuam a acertar meu corpo. Enfraquecido, desabo de uma vez no chão, e Astrid aparece de repente com sua roupa de semáforo e dá gargalhadas à minha frente.

— Para ser importante, é só se importar com os outros.

E então ela tira de seu bolso uma faca, que se extende e vira uma espada. Astrid ergue a espada para as silhuetas, que comemoram. Então ela abaixa aquilo na minha cabeça, e acordo berrando.

"Para ser importante, é só se importar com os outros"

O que ela quis dizer? Que se eu tentar salvar alguém, serei importante para essa pessoa? Seria um tipo de mensagem secreta me mandando arranjar aliados?
Tanto faz.

Vejo pela janela que o sol já nasceu. Um novo dia começa, e é essa a hora de ver se tenho alguma habilidade.

Coloco a roupa do treinamento, calças pretas e blusa da mesma cor, com o número cinco estampado nas mangas. Penteio o cabelo, faço a higiene e vou tomar café da manhã. Lá, encontro Jass, Bree, Taylor e Dominique comendo tortas de diversos sabores e cheiros.

— Bom dia, Geoff! — diz Dominique. — Fique à vontade. Hoje temos tortas!

Sento-me à mesa, ouvindo os conselhos de Bree e Taylor à Jass. Eles não dão muita atenção à mim, talvez porque Jass tenha um físico melhor que o meu. Que seja. Posso me virar sozinho no treino de hoje, farei tudo para colocar o máximo de informação possível em minha cabeça nesses três dias de treinamento.

Enfurecido, coloco um pedaço de torta de maçã em meu prato.

— Geoffrey, se esforce — diz Dominique.

— Farei isso.

Depois do café, eu e Jass pegamos o elevador e vamos ao Centro de Treinamento. Lá, uma mulher da Capital nos passa algumas regras relacionadas às atividades e informações sobre as regras dos Jogos. Assim que termina de falar, os tributos se dispersam pela área, os Carreiristas já se formando em um grupinho. Jass parece procurar alguém no meio dos tributos, e como presumo que sou eu, acabo fugindo para um lugar distanciado. Não quero uma aliança com ela.

Começo observando os outros tributos. Leonard, o garoto estranho do Distrito 1, demonstra ser habilidoso com armadilhas, prendendo um boneco gigantesco com facilidade. Flora, a menina maravilhosamente linda do 1, conseguiu uma espada. Apesar de pequena, é ágil, e acabou decepando três bonecos com uma tacada só.

O garoto do Distrito 2, cujo nome aprendi que é Roy, pega um machado e um boneco. Seus movimentos com o machado, rápidos e precisos, fatiam o boneco em várias partes, atingindo principalmente a cabeça, coração e costas. O boneco, completamente danificado, se desfaz por completo, caindo no chão aos pedaços. A companheira de distrito de Roy, Trina, é aquela de cabelo azul. Sua mira é impecável, todas as suas flechas disparadas com o arco acertam no alvo perfeitamente.

Os do Distrito 4 não me chamam muito a atenção, mas eles são bons com o tridente.

Por outro lado, Jass parece não ter se dado bem com facas. Ela acabou cortando o dedo e sendo direcionada para a enfermaria.

— Com licença — diz uma voz exageradamente grossa. Quando me viro, vejo o garoto do Distrito 9, que tem o cabelo estilo afro, pele negra e parece durão. — Vou usar a área de plantas.

(Como assim uma pessoa do seu tamanho vai mexer com plantas!?)

— Certo.

Quando me viro, vejo diversos livros e plantas a serem estudadas. O menino começa a folhear alguns livros, mas se vira para mim:

— Vai ficar olhando, garoto de cabelo comprido? — pergunta ele, rude. — Ou você para de me encarar ou esmago essa sua cara de garota.

Sem querer arrumar confusão, saio dali e vou para a estação de espadas. Pego uma de cabo forte e lâmina reluzente, mas ela fica torta em minha mão e sinto meus braços ficarem bambos. Tento atacar um boneco, mas não consigo nem cortar seu braço. Furioso, largo a espada no chão e vou embora. E é aí que Astrid aparece.

Em uma mão ela tem uma zarabatana, e em outra, um livro de biologia. Ela me encara sorrindo. Seu cabelo está preso em dois coques laterais, o que me lembra um urso. Por um momento, parece que ela vai soprar um dardo com sua zarabatana em mim, me machucando como no sonho, mas a ideia vai embora rapidamente.

— Olá, Astrid — digo. — Vai treinar com a zarabatana?

— Infelizmente é a única arma que sei usar, portanto vou focar em me esconder e preparar armadilhas — responde, fazendo uma careta. — O livro vai me ajudar a preparar veneno, e posso colocar isso na ponta de meus dardos.

Ela me mostra algumas páginas que mostram frutas venenosas.

— Oh — digo, reparando em uma fruta vermelha pequena com machas alaranjadas, que faz com que a pessoa que a coma feche todos os poros do corpo, fazendo-a sofrer uma morte dolorosa por sufocamento. — Legal.

— Percebi que você tem dificuldade em combate corpo a corpo.

— Sério? — pergunto, fazendo uma cara de dúvida. — Esteve me observando?

— Quando te vi, resolvi falar oi. Mas estava treinando, então te esperei acabar. Então não — diz Astrid, sorrindo —, você não tem uma stalker.

Rio de suas palavras.

— Nunca pensei nessa hipótese — digo.

— Agora já existe a possibilidade de você achar que tem alguém te stalkeando. Parabéns — responde Astrid, ainda rindo. — Mas enfim, tente usar sua mira. Tem a estação de atirar facas, arco e flecha e lanças.

— Ok.

— Então vou indo. Até mais!

E desapareceu.

Sigo para a estação de lanças, onde a menina asmática do Distrito 10 arremessa-as, visivelmente cansada, arfando demais. Seu cabelo, preto, liso e longo, está colado na face por conta do suor, cobrindo uma parte de seus olhos pretos que parecem querer fuzilar os alvos. Suas sardas são marcantes.

A garota de repente larga a lança, caindo no chão com a mão no peito, que sobe e desce rápido. Ela respira de um jeito engraçado, chiando.

— Está tudo bem? — pergunto.

— Sim, estou. Só preciso... argh... — e então a garota puxa do bolso de sua calça uma bombinha de ar. Ela faz o procedimento de inalação do remédio e logo volta ao normal. — Maldita seja essa asma!

— Calma, garota — digo, ajudando-a a se levantar. — Meu nome é Geoffrey, e o seu?

— Roseline.

— Não acha melhor ir à enfermaria, Roseline?

— De jeito nenhum. Quero continuar treinando, pra ganhar isso de vez. De qualquer jeito, obrigada Geoffrey.

Lentamente, ela sai de vista.

Roseline é forte, mesmo com um problema sério, a asma, não deixa de lutar para sobreviver. Alguns dos tributos não tem problema nenhum e possuem frescuras até mesmo para segurar uma arma. Já Roseline, que provavelmente tem zero de resistência, não é nenhuma coitadinha. Sabe muito bem o que quer.

E isso é um exemplo aos outros tributos.

Enfim, após Roseline ir embora, decido desistir das lanças. Não é para mim. Chego na estação de facas, que está vazia. Pego algumas com lâminas prateadas e muito afiadas e com a ajuda de um treinador, começo a arremessá-las nos alvos, sem maiores dificuldades.

As facas são, para mim, a melhor coisa daqui. Astrid estava certa, sou bom em mira. Continuo errando alguns alvos, mas a cada tiro, meu corpo parece se adaptar à arma, e assim continuo melhorando a pontaria.

— Você é bom! — diz o treinador, após ver-me acertando um alvo a uns cinco centímetros do centro. — Deveria investir no treino com facas.

— Claro que sim.

E aí até o final do dia fiquei com as facas nas mãos, mirando os alvos.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem! Não se esqueçam de fazer uma certa autora feliz, então escrevam um comentário, mesmo que curto