Acordei com os primeiros raios de Sol.

– Merida… Anna… – ouvi Hans a sussurrar. As suas pálpebras estavam cerradas e tremia como varas verdes – Tu não vais fazer o que lhes fizeste a mim, seu Monstro.

Ele tremia, não fazia mínima ideia do que ele falava. Nunca ouvi nada referido a um monstro. Olhei para a entrada da caverna. Não encontrei ninguém. Elsa e Hiccup continuavam a dormir. Voltei a minha atenção novamente para Hans. Pensava se devia acordá-lo mas antes que fizesse algo a sua expressão suavizou e eu levantei-me para apanhar um pouco de Sol.

– Rapunzel? – ouvi e virei-me – Que estás aqui a fazer?

Olhei para o rapaz que estava sentado em cima da gruta e me dirigia a palavra. Os seus olhos azuis brilhavam e sobressaíam na sua pele branca e irradiada pelo sol.

– Vim apanhar ar – respondi – e tu?

– Vigia – ele resmungou e veio ter comigo – a minha irmã já acordou, Rapunzel?

– Não – respondi e decidi acrescentar – todos os meus amigos me chamam Punzie.

– Somos amigos? – ele pergunta claramente divertido e apoia-se num cajado, que só agora eu reparo, que ele estava a segurar.

– Suponho que sim. Espero que sim – eu sorrio.

– Ainda bem. Eu pelo menos não tenho nada contra, Punzie – ele dá mais um sorriso sem mostrar os dentes.

– Para que serve o cajado? – olho para o cajado curiosa.

– Encontrei-o e achei-o bonito e interessante – explica ainda a sorrir.

– Eu vou procurar algo para comermos – tartamudeio com um sorriso no rosto.

Procuro algo para o pequeno-almoço de todos. As reservas estavam a ficar mesmo escassas.

Há medida que espero e calculo para quando mais tempo vai chegar, os restantes acordam. Trocamos sonolentos bons dias e a seguir sentamo-nos para comer.

– Elsa – chamo e Elsa levanta a cabeça na minha direção – onde fica o lago? Estamos a ficar praticamente sem comida.

– Aqui perto. – responde e acrescenta com um sorriso embaraçado – obrigada pelas roupas, mais uma vez.

– Não tens de quê – sorrio.

– Achas que deves vir? – Jack pergunta – Não queremos que caias novamente.

Elsa sorri bastante falsamente mas não diz nada. Ouço Jack engolir em seco, não sei se para entrar na brincadeira ou se estava mesmo com medo da irmã.

Quando acabamos de comer levantamo-nos e saímos para abrirmos as asas e ir para o bendito lago. Todos olhamos para Elsa que era a única que ainda não abrira as asas.

–Ah, não acham melhor alguém ficar a vigiar a gruta? – ela pergunta envergonhada.

– Eu posso ficar – Hans fala.

– Não, a sério eu fico. Marshmallow pode mostrar-vos onde fica a lagoa – porque é que ela estava a ser tão insistente?

– Okay. Alguém aqui sabe pescar sem uma cana de pesca? – pergunto.

– Merida – Hans responde quase por reflexo mas logo se corrige – Eu sei mais ou menos.

– Eu sei – Hiccup levanta o braço.

– Vão eu fico de vigia. – acrescenta – acho que ninguém quer perder um banho.

Todos, até eu, concordámos e voámos dali para fora seguindo uma coruja branca e elegante e deixando a dona para trás.

Depois de um voo pequeno chegamos a uma lagoa com um tamanho considerável. Desaguava lá uma pequena cascata que dava um ar mágico à paisagem verdejante e cheia de vida. Por momentos pensei que nada acontecera. Que não tínhamos fugido de Weerfins e de tudo o que nos era conhecido. Mas eu não estava sozinha. Tinha os meus amigos que me faziam companhia e me alegravam o dia.

– Cá vai bomba! – ouço Jack gritar e, no outro instante, pingos de água salpicam-me a cara.

– Jack! – o rapazinho de cabelos castanho resmunga – assim vais assustar os peixes.

Vejo todos a tirarem as camisolas e a atirarem-se à água, prontos para pescar. Eu não sabia como entrar na água. Ou tirava o vestido, o que não era opção, ou molhava o vestido, o que também não era o ideal mas não me queixei.

A água estava fria mas agradável pois sentir água no meu corpo a limpar a maior parte da sujidade era uma sensação incrível e incrivelmente limpa.

Enquanto nadava, uma tarefa um pouco difícil com um vestido molhado a fazer peso, um pouco na água límpida ria-me do espalhafato que os rapazes faziam ao apanhar os peixes. Cada um tinha trazido um cesto e pareciam estar a fazer uma competição de quem apanhava mais peixes. Neste momento, Hiccup era o vencedor com dois peixes já que tanto Hans como Jack estavam com as cestas vazias.

– Boa – Jack grita de entusiasmo com um peixe nas mãos mas logo o peixe escorrega e salta – Raios.

– Vamos lá meninos – eu grito a encorajar – é o vosso jantar que aí está!

– E o teu também – o rapaz de cabelos brancos resmunga – Anda ajudar.

Pouso os pés no chão da lagoa e aproximo-me deles pois era onde havia maior concentração de peixes.

– Uso a cesta de quem? – pergunto, confiante e Hiccup olha-me com uma cara de pura incredulação como se dissesse “Boa sorte, se conseguires apanhar algum.”

– Podes usar a minha – Hans fala com pouca seriedade. O cabelo de todos os rapazes escorria pela cara todo molhado. Hans, que tinha o cabelo volumoso, estava agora com ele escorrido o que lhe dava um ar mais jovem. Mais da sua própria idade, 15 anos.

Desvio o olhar para baixo e tento ficar quieta. Um peixe debica na minha perna. Aquilo faz cócegas mas eu não me rio. Abaixo-me lentamente e num, movimento brusco, tento agarrá-lo com as mãos. O peixe foge assustado e eu desequilibro-me e caio.

– É fácil, não é? – Jack gozava comigo e eu baixo a cara furiosa em busca de outro peixe.

Passado alguns momentos de puro tédio vejo outro a andar lentamente e calmamente. Aproximo-me devagar. Mais um pouquinho e zás! Atiro-me contra o peixe e consigo agarrar no peixe. Levanto-o em triunfo e vejo Jack a olhar-me com inveja. De facto, estavam todos com um olhar um bocado surpreendido devido ao peixe ter um tamanho considerável.

– Bem temos três peixes o que significa que vamos comer bem. Que tal voltarmos? – ouço um guincho. De repente três sombras irrompem o ar e mergulham na água. Voltam para o pé de nós e vejo o dragão de Hiccup com um peixe na boca e os hiddicks de Jack e Elsa com um nas garras de cada.

– Afinal já são seis – Hiccup fala surpreendido – Parece que vai ser um banquete.

Regressamos com a nossa coleta e cozinhamos os peixes numa fogueira que Elsa já tinha preparado. O cheiro dava água na boca pois comer peixe era algo raro, impossível até, desde que fugimos.

– Isto está mesmo bom – Elsa fala com a boca cheia. Demos um pouco aos hiddicks que comiam rapidamente mesmo não necessitando, realmente, de comer.

Adormecemos de barriga cheia com Hiccup de vigia à entrada da caverna. Pascal enrolava-se nos meios dos meus cabelos com a tonificação dourada destes.