You're The One escrita por Giovana Serpa


Capítulo 10
The one with the ride


Notas iniciais do capítulo

Heeeeey, pessoinhas o/ Eu ia postar só amanhã (segunda), mas, como vocês mandaram bastante reviews no capítulo passado, resolvi postar logo esse :) E também, eu não aguento escrever um capítulo e demorar pra postar '-' Sei lá, não consigo.
Boa leitura!



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Clary Fray

Minha mãe estava fazendo um ótimo trabalho em me manter trancada em casa. Eu tentava não deixar transparecer que aquilo estava começando a me irritar, mas toda a vez que eu olhava pela janela tinha vontade de sair pelas ruas, mesmo que sem um destino. Nova York havia se tornado o centro da minha curiosidade.

O pior de tudo era que ainda estávamos no começo do mês de janeiro, e eu precisava esperar até o final dele para que finalmente pudesse sair de casa. Passaria meu segundo mês naquela cidade indo de casa para o colégio e do colégio para casa. Pela primeira vez na vida, eu me sentia mais presa do que havia me sentido em Vermont.

Na sexta-feira — dia 7, 24 dias de castigo restantes —, eu percebi que havia me acostumado à liberdade que Nova York impunha a mim, mesmo que não a aproveitasse.

— Acordou cedo.

Foi o cumprimento de Sebastian, que já estava na cozinha quando eu cheguei lá, às 07:10. Ignorei-o, disposta a não dizer uma palavra, e vasculhei o armário em busca de algo para comer. Fazia tempos desde que eu tomava café de verdade, mais por falta de tempo do que qualquer outra coisa. Enchi uma tigela com leite, mesmo que fosse desnatado, e despejei cereal colorido lá dentro. Depois, misturei achocolatado com um copo de leite e peguei três pequenos pães doces. É, pode-se dizer que eu estava com fome.

— Você está quieta ultimamente — Sebastian observou, remexendo seu copo de café com uma colher.

Não tirei os olhos do prato.

— Por que? — Insistiu.

Suspirei ao finalmente olhar para ele com uma careta. Pela primeira vez na vida, senti apenas a típica raiva fraternal, e isso quase me alegrou. Nada melhor que uma briga de irmãos para deixar minha vida mais normal.

— Você me dedurou para Jocelyn — resmunguei. — Se fosse ao contrário, eu não teria falado nada. Mas não, o sempre tão certinho Sebastian precisa sempre ter a razão.

Sua expressão de culpa me pegou de surpresa. Ele abaixou os olhos para a xícara que segurava e tomou um gole lento de café. Quando eu estava prestes a desistir da possibilidade de uma resposta, ele disse:

— Eu só estava preocupado com você.

Revirei os olhos.

— Sebastian, me poupe — balancei a cabeça. — Isso não é desculpa. Você deveria estar preocupado com o castigo eterno em que Jocelyn me colocou.

— Não é um castigo eterno — ele bufou. — Além do mais, eu estava preocupado. Você vem estando estranha de uns tempos pra cá, de verdade. Parece que tem alguma coisa preocupando você, e eu pensei que...

Ele não continuou a frase, deixando milhões de finais possíveis pendurados no ar a nossa volta. Suspirei. Pelo jeito, Jocelyn não havia sido a única a notar que eu estava com certos... problemas. Mas eu meneei a cabeça, negando qualquer probabilidade de haver alguma coisa acontecendo, e o silêncio voltou novamente.

Pensei em Jace. Nós havíamos nos ignorado durante aquela semana inteira, como se a leitura na segunda já não houvesse sido incômoda o suficiente. A última vez em que eu havia dirigido a palavra a ele fora para entregar seu livro de poesias na terça, e, depois disso, nada. Eu não sabia o que fazer. Queria falar com ele, mas não sabia como. Tinha medo de falar alguma coisa e estragar a imagem perfeita de relacionamento que eu havia fantasiado — o que provavelmente aconteceria se Jace ouvisse minha voz irritante mais uma vez.

Antes de se levantar para sair da mesa, Sebastian murmurou:

— Não vou à escola hoje. Jocelyn pediu que eu a ajudasse a descarregar o resto das nossas coisas que vão vir de Vermont. Acha que consegue achar o caminho da escola sozinha?

Não respondi, apenas lancei um olhar para ele que misturava a minha indiferença quanto ir para o colégio sem ele e a inveja porque eu teria que ir para a escola e ele não.

Às 07:40, eu já estava descendo as escadas na direção da rua. Uma parte de mim estava animada por finalmente ser sexta-feira, mas a outra ficava me lembrando de que não fazia diferença, porque eu estava de castigo mesmo.

Quando cheguei na rua, a primeira coisa que reparei foi que o céu acima de mim estava cinzento e feio, com nuvens grossas se empurrando à medida que o vento soprava. A segunda foi Simon, parado em frente à porta com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco e uma expressão de indecisão no rosto. Quando me viu, sua boca abriu e fechou, como se ele não soubesse o que falar. Franzi a testa.

— O que está fazendo aqui? — Perguntei, parando em frente a ele.

— Eu... hã... — ele gaguejou — pensei em te acompanhar até o colégio. Se não tiver nenhum problema, é claro — acrescentou rapidamente, para depois olhar em volta. — Seu irmão não parece gostar muito de mim.

— Bem — dei de ombros. — Nesse caso, é o seu dia de sorte. Sebastian não vai ao colégio. E tem razão. Ele não gosta de quase ninguém.

Comecei a caminhar, esperando que Simon me seguisse, e foi o que ele fez. Nós atravessamos a rua em silêncio. Era agradável ter Simon ali. Ele era o tipo de cara que você não precisa ficar nervosa para lidar, diferente de certas pessoas cuja presença por si só já me causava arrepios elétricos na coluna. Contanto que você soubesse um pouco sobre super-heróis, poderia começar uma conversa com Simon.

— Você não me contou o que aconteceu depois que chegou em casa na outra noite — ele falou de repente.

Levei um segundo para perceber sobre o que ele falava. Mesmo que almoçássemos juntos todos os dias no colégio e fizéssemos a aula de Geometria juntos, não havíamos comentado sobre a noite da festa.

— Fiquei de castigo — contei, fazendo aquilo soar menos importante do que realmente era. — Até o final do mês. Passei o Ano Novo trancada em casa.

Ele fez uma careta.

— Me desculpe por isso — murmurou.

— Por me levar à melhor festa de Hanukkah do planeta? — Ri, balançando a cabeça. — Acho que valeu a pena.

É claro que eu havia falado mais do que deveria para Simon e que o castigo era um porre, mas eu realmente havia gostado. Aquela festa me havia feito perceber o quanto precisava dar um jeito na minha própria vida bagunçada, e que talvez Nova York não fosse tão assustadora quanto parecia. Pelo menos eu estava tentando me acostumar. Estava até mesmo perdendo o estranho sotaque da Nova Inglaterra que cultivara por longos dezesseis anos.

— Se é assim, me lembre de levá-la da próxima vez também — ele disse, sorrindo, e eu retribuí com um empurrãozinho no ombro.

Nós chegamos ao colégio em poucos minutos e nos separamos para nossas respectivas aulas. Tentei controlar meu estômago revirado ao pensar em Jace, mas era o mesmo que tentar nadar no meio de um maremoto: completa e cruelmente inútil.

Era ingenuidade pensar que eu poderia controlar meus nervos sempre que encarava seus olhos dourados ou ficava sentada ao lado dele, perto o suficiente para sentir o calor emanado de sua pele e cada movimento de seu braço, que algumas vezes esbarrava em mim. Em pouco tempo, eu já sabia mais do que consideraria normal sobre Jace. Ele não prestava atenção nas aulas, mas parecia ter máxima facilidade em qualquer exercício que o Sr. Brosnan passasse; ele sempre olhava as pessoas nos olhos, independentemente de quem fosse; ele usava um agradável perfume masculino que parecia grudado em todas as suas roupas; e sempre usava a mesma jaqueta cinza.

Mas, como de costume, eu fingi desinteresse e tédio ao sentar na cadeira ao seu lado. Eu estava aprendendo a mascarar todas as emoções que davam rodopios no meu estômago sempre que Jace resolvia dar o ar da graça. Joguei a mochila aos meus pés, abri o caderno e comecei a rabiscar um desenho qualquer abaixo da redação que eu havia feito na última quarta-feira. Fiquei surpresa ao sentir o olhar de Jace sobre mim e o caderno, e reparei que ele não segurava nenhum livro de poesia naquele dia. Bem, aquilo era uma surpresa.

O sinal tocou, me obrigando a largar o lápis e prestar atenção no que quer que o Sr. Brosnan dizia. O tema da aula era tempos verbais. Entediante. Voltei a desenhar, rezando para que o professor não percebesse, porque não queria ser forçada a prestar atenção naquela aula.

Sempre que eu estava distraída, me pegava desenhando minha mãe, e não foi diferente naquele dia. Ela era agradável de retratar, cheia de detalhes que eu havia capturado e aprendido ao longo dos anos. Desenhei o formato elegantemente acentuado de suas bochechas, os lábios delicados e o nariz reto salpicado de sardas claras que eu havia herdado.

— Você desenha bem.

A voz de Jace me pegou de surpresa. Levantei os olhos para ele, tentando capturar alguma dose de sarcasmo, mas não havia nada além de simples casualidade em sua expressão. Ele estava sendo sincero. Pisquei, estranhamente confusa, e inclinei a cabeça de lado.

— Obrigada — agradeci, mantendo a voz baixa para que o professor não reparasse na conversa. — Mas isso é só... um rabisco.

Jace levantou uma sobrancelha.

— Não — ele negou, inclinando-se para fazer alguma coisa em seu caderno. Quando se afastou, haviam linhas embaralhadas feitas de caneta, um total caos. — Isso é um rabisco — ele apontou para o que havia feito.

Ri, entretida com o tom de voz dele. Tentei não deixar claro o quanto o elogio me surpreendeu, mas antes que eu pudesse falar alguma coisa, a voz do professor nos advertiu:

— Vocês dois, aí — ele apontou para nós com um dedo ossudo. — É melhor ficarem quietos.

E nós ficamos. Pelo resto da aula.

***

Quando o sinal da saída finalmente tocou, a chuva caía como se num dilúvio. Antes mesmo de sair do colégio eu já conseguia escutar o caos que era a água lá fora, molhando tudo e todos que não estivessem protegidos. Mas eu não contei a melhor parte ainda.

Eu estava sem guarda-chuva.

Para o meu azar, minha mãe não estaria em casa, o que significava que eu não poderia ligar para ela e pedir uma carona. Eu poderia procurar por Simon para ver se ele tinha algum guarda-chuva sobrando, mas o cara não estava em lugar nenhum, simplesmente sumira no emaranhado que eram os alunos se acotovelando pelos corredores.

Perfeito, pensei, enquanto avançava lentamente para as portas. Vou virar ensopado de Clary. Como não havia mais opções, eu apenas saí do colégio, a mochila sobre a cabeça na esperança de que eu pudesse pelo menos me proteger um pouco. E daí que meus livros fossem ficar encharcados? Eu não gostava de Matemática mesmo.

Mas, enquanto eu corria pelas escadas na direção de uma pequena proteção perto do estacionamento, apenas para me recuperar um pouco, alguém tocou meu ombro para chamar minha atenção. Me virei com um pulo, um pouco assustada, para ver Jace. Mesmo com a chuva, seus olhos eram muito dourados. Ele estava molhado, mas não tanto quanto eu, e franzia a testa para evitar que a água entrasse nos olhos. Tive que me esforçar bastante para desviar os olhos da camisa molhada que grudava em seu peito e braços, destacando os músculos. E que músculos.

— Você não vai para casa nessa chuva, certo? — Ele gritou para que sua voz transpassasse o temporal.

Balancei a cabeça.

— Vou, sim — gritei de volta, sentindo meu rosto corar apenas com a memória do elogio que ele havia feito naquela manhã sobre o desenho de Jocelyn que eu fizera. Não é nada, eu havia dito a mim mesma depois. Ele elogiaria qualquer um que pudesse desenhar razoavelmente. Jace não liga se você pode fazer desenhos idiotas. Ele não liga para você. — Infelizmente, eu não tenho escolha.

Ele suspirou e, um segundo de hesitação depois, ofereceu:

— O que acha de uma carona até em casa?

Afastei uma mecha grudenta de cabelo do rosto, sem conseguir acreditar direito no que estava escutando. Olhei em volta. A maioria das pessoas já havia ido embora. Repeti para mim mesma o que as palavras de Jace significavam. Ele estava oferecendo uma carona. Estava oferecendo uma carona para mim. Desviei os olhos para os meus sapatos molhados.

— Acho que não é má ideia — falei, encolhendo os ombros.

— Ótimo — ele sorriu e se virou, acenando para que eu o seguisse, e foi o que eu fiz.

Nós corremos pelo pátio — eu, milagrosamente, não tropecei uma vez sequer — na direção do estacionamento traseiro, que era onde os alunos colocavam seus carros. Jace me guiou até um carro prata, que era o único ainda estacionado ali, e abriu a porta do carona.

— Obrigada — sorri ao entrar no carro, e percebi que estava completamente encharcada. — Meu Deus. Eu estou...

— Não importa — ele ligou o carro. — Estava precisando mesmo de uma lavagem.

Não estava, não. O carro era perfeitamente limpo, e minhas botas haviam sujado os tapetes com lama. Me senti envergonhada, mas já era tarde demais quando ele avançou para a rua, virando numa curva e deixando a escola para trás.

— Onde você mora? — Perguntou.

Como eu não sabia o endereço exatamente, dei uma série de coordenadas, ruas onde se virar e morros a serem descidos. Para a minha sorte, Jace pareceu ter entendido.

— Eu já estive por aqui antes — ele murmurou, ao entrar numa rua perto de casa.

Respirei fundo ao reparar no café em que Maia, Jordan e eu havíamos frequentado algum tempo antes. Era perto da minha casa. Foi lá onde eu havia encontrado Jace e ele havia ido embora como se a ideia de ficar no mesmo lugar que eu fosse repugnante. Senti meu rosto corar imediatamente, mas fiquei quieta, sem falar nada sobre o episódio. Mesmo assim, Jace percebeu quando passamos pelo Java Jones. Certamente, pelo olhar constrangido em seu rosto, ele se lembrou da mesma ocasião. Então ele se lembrava. Não consegui decidir o quão estranho era aquilo.

No meio do silêncio, percebi que o rosto de Jace estava tenso, como se ele se esforçasse para manter os olhos na rua. Imaginei o que aquilo significava, mas nada me veio à mente. Era como se ele precisasse se esforçar para ficar ao meu lado. Havia reparado aquilo de manhã também. Sem um livro para ler, ele parecia não saber para onde olhar, pelo menos quando estava perto de mim. Talvez eu o incomodasse. Talvez pensasse que eu fosse algum tipo de garota esquisita, o que não seria nada fora do comum, já que a maioria pensava assim.

Num gesto inconsciente, estiquei o braço para aumentar a potência do aquecedor que estivera ligado no mínimo, porque as roupas úmidas e geladas ameaçavam me congelar. Mas, infelizmente, Jace teve a mesma ideia. Ele esticou o braço no mesmo momento que eu e, no caminho para o botão no painel, nossas mãos — a dele quente, a minha fria — se encostaram.

Ele me olhou surpreso, como se só percebesse naquele momento que eu estivera ali o tempo todo. Mas não era só isso. Seus olhos estavam arregalados com algum tipo de expressão que eu não consegui identificar naquele momento. Afastei minha mão imediatamente, assim como ele fez. Ninguém aumentou a potência do aquecedor.

Mas, de qualquer modo, antes que eu pudesse pensar em alguma coisa mais, a imagem de três andares da minha casa surgiu, e eu disse:

— É aqui. Minha casa.

Ele parou ao lado da calçada e suspirou. A chuva ainda caía.

— Obrigada — falei, percebendo que já era a terceira vez naquele dia que eu o agradecia. — Pela carona. Eu teria virado 99% água a essa altura se não fosse por você.

Ele sorriu.

— Não foi incômodo algum — levantou a sobrancelha ao olhar para mim. — Muito pelo contrário.

Como se arrependido pelo o que acabara de falar, Jace desviou os olhos para o volante e fechou a cara. Abri e fechei a boca antes de abrir a porta e, com um aceno, agradecer mais uma vez, me desculpando brevemente pela sujeira que havia feito.

Corri para casa antes que ele pudesse dizer algo mais, fingindo estar incomodada apenas com a chuva. Abri a porta às pressas e corri escadas acima, sentindo meu coração martelar no peito. Eu sentia uma coisa estranha, algo que misturava felicidade e confusão. Foi só quando — depois de jogar minhas coisas totalmente encharcadas pelo chão — me deitei sobre o tapete no quarto que percebi. Havia sido o olhar no rosto de Jace quando nossas mãos se tocaram. Ele aparentava estar quase... feliz. Havia algo que ele parecia se esforçar para esconder, como um sorriso, só que muito maior. O grande problema era que eu não sabia o que era.


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Notas finais do capítulo

Clary, sempre tão lerda que dá vontade de bater na cara dela '-' Enfim...
Espero que tenham gostado :3 O próximo deve sair lá pra terça-feira ou quarta, dependendo dos reviews, da minha criatividade, do meu boletim (que vai sair amanhã, rezem por mim) e da minha internet, que tá querendo pifar ;-; Pensando assim, vai ser uma sorte tremenda se eu conseguir postar antes do ano que vem...
Beijos! Até o próximo c: