Um coração pode se partir e continuar batendo igual. Eu descobri isso no meu primeiro ano em Dartmouth. Eu segui em frente. Quer dizer, mais ou menos, meu coração, que havia amado alguém tão intensamente no ano anterior, tinha se fechado de alguma forma. Eu mudei bastante. Admito que muitas das minhas mudanças se deram as minhas novas amizades. Rosalie e Alice. A primeira cursava Engenharia Mecânica, uma loira deslumbrante que era apaixonada por mecânica, a segunda cursava moda, uma baixinha tão elétrica que parecia que não tinha sangue nas veias e sim cafeína.

Ela se tornou minha melhor amiga.

Eu tinha a Angie, mas  era diferente, a conexão que houve entre mim e Alice foi algo inexplicável, como se o destino tivesse nos unido.

Elas me ajudaram nas mudanças que aconteceram comigo, minha timidez passou bastante, vou um trabalho duro, mas no segundo ano eu já falava com alguns calouros e não gaguejava.  Eu entrava em debates e em discussões com os professores. Bem a outra mudança foi meu altruísmo, mudei bastante, eu passei sempre a vir em primeiro lugar, que dizer dependendo do que se tratava e às vezes eu fazia algumas coisas que a Alice queria só pra ela parar de me perturbar, principalmente em relação às roupas.

Ah, os garotos, eu fiquei com alguns garotos sim, mas nada sério, meu máximo foram dois meses que passei com o Tom, um carinha que conheci numa exposição de arte, outra coisa que eu não fazia, eu não ficava com os caras da universidade. Nunca. Se for aluno de Dartmouth eu não quero ter nada. Sabe era que os caras de lá eram tão decepcionantes, e como eu não queria nada sério ter que encontrar com eles depois de dar o fora era bem chato. O que incentivou o boato de que eu era lésbica, mas eu não me importava.

O único cara que eu fiquei e me tornei amiga depois foi o Jacob. O conheci numa festa na casa da Alice, acho que foi no meu 3º ano, ele é primo dela, nós ficamos, estávamos bem bêbados, aí no dia seguinte notamos que a atração foi pura e simplesmente por incentivo da bebida. Ele é lindo, mas não rolou. Ele se tornou um grande amigo.

A Angie terminou com o Eric no nosso primeiro ano também. Mas ela encontrou alguém bem mais especial o Ben. Eles são o casal mais lindo que eu já vi. Entendem-se de uma maneira especial. São o único casal do nosso grupo. A Rosalie não namora por que diz que tem que se concentrar nos estudos, fica, muito, também os homens se jogam aos pés dela. A Alice fica com um aqui outro ali, mas ela não namora, diz que o grande amor dela vai chegar, que ao contrario de mim ela mantém o coração aberto para que todos tentem. Ela diz que meu coração é mais protegido que os arquivos da CIA.

Elas não sabiam o porquê, na verdade eu também não, quer dizer eu nunca tive nada com ela pra não ter permitido que ninguém mais entrasse em meu coração. Mas, não era algo que eu controlasse. Era culpa do meu coração, eu não podia fazer nada.

Eu evitei o máximo contar essa história para elas. Até que há dois meses, depois de eu ter recusado uma proposta de namoro de um cara chamado James, lindo e inteligente, rico e agradável. Elas caíram em cima de mim novamente, quando eu digo ela - leia-se Alice, aquele ser saltitante e irritante passou dias me perturbando, dizendo que eu era louca, que tava começando a acreditar no boato que eu era lésbica.

Então, uma noite na festa do pijama que fizemos na casa dela, só nós,  garotas, eu contei, claro depois de certa pressão da Angela, o que havia acontecido.

Flash – on -  2 meses atrás – casa de Alice

- vai Angela, você sabe de algo, conta, tem que ter uma explicação essa atitude dela. Alice pedia segurando o braço de Angie.

- eu não posso, a história é dela não minha. E eu também não sei de tudo, não adiantaria de nada.

- não há história – eu disse cansada – e parem de falar como se eu não estivesse aqui.

Eu me deitei no colchão frustrada. Senti alguém deitando perto de mim.

- Bellinha... – Alice falou numa voz manhosa e com o dedo no meu braço – fala pra gente vai.

Eu tive que rir. – alguém já falou que você é impossível? O ser mais irritante da terra?

- já. Alguém que eu também amo muito. Por favor?

- se eu contar, você promete nunca mais, NUNCA MAIS, falar nisso?

- juro. Pela minha bolsa Prada eu juro.

- ok. – disse e me sentei novamente.

Ela deu um gritinho e veio sentar na minha frente junto com Rosalie e Angela. Essa última, acho que estava curiosa em saber a história sob a minha perspectiva.

- sem nomes tá – elas concordaram – faz cinco anos que eu conheci um garoto. E...eu me apaixonei por ele – Alice arfou – só que havia um problema. Um das minhas amigas na época também era apaixonada por ele...

- piranha. – disse Angie baixinho.

- espere-me contar tudo.  Só que ele também era apaixonado por mim. Só que... Entendam eu era jovem, uma pessoa diferente, apesar disso eu não fiquei com ele, eu abri mão dele em favor da minha amiga, e apesar de ambos sofrendo e depois de uma conversa dura, ele concordou. Ele me prometeu que a faria feliz como eu estava pedindo, e assim o fez. Começou a namorar ela. O namoro  durou 5 meses, eu sofri não nego era terrível vê-los juntos... Doloroso. Mas eu achava que era o correto, afinal era minha amiga.

Então quando o fim do ano chegou, eu iria embora, viria para cá. Então na noite da formatura, estávamos numa festa quando ele me avisou que iria terminar com ela, e que eu sempre estaria com ele. Aquele foi nosso primeiro e ultimo beijo. – Alice arou novamente.

- o banheiro.

- exato. Dois dias depois recebi a visita da minha amiga, e descobri que tudo que eu havia feito tinha sido em vão por que ela nunca foi minha amiga de verdade, e apesar de saber que nós dois sofríamos ela ficou com ele. E depois eu tentei ligar pra ele, mas ele já estava com outra. Eu não o culpei quem se deixou enganar fui eu. Eu não sinto mais nada por ele, quer dizer faz 5 anos, por Deus, eu nem ao menos tive nada com ele, só que eu acho que depois de sofrer tanto e tão jovem meu coração se fechou, não é algo que eu controle, só acontece.

O silencio perdurou. Até Alice se mexer e vir me abraçar. As outras meninas também. Eu ri.

- gente não é pra tanto. Agora que tudo está esclarecido, eu gostaria muito de um pedaço de pizza.

- eu vou buscar. – Rosalie falou levantando pra ir para cozinha – agora eu preciso de alguém pra trazer a bebida  e os doces.

Angela foi em seguida. Alice se soltou de mim e ainda ficou me olhando por alguns segundos, com uma cara triste.

- ei por que você tá assim? Num foi você que insistiu pra eu contar.

- é... eu sei, eu gostaria de não ter feito isso. – falou e levantou.

- por quê? – perguntei confusa,

- por que eu te amo. E foi doloroso demais ver a tristeza que eu vi em seus olhos dois minutos atrás. – foi para a cozinha também.

Eu suspirei pesadamente. Coloquei a mão no meu peito. Meu coração doía tanto que eu tinha que verificar que ele ainda estava ali. E depois o alivio que agora ninguém me faria contar aquele historia de novo.  As meninas voltaram. Alice ainda mantinha uma expressão triste. Mas em poucos minutos as coisas pareceram melhorar. As fofocas voltaram, o filme foi colocado e as risadas voltaram. Tudo normal de novo. Tirando meu coração que sangrava no meu peito.

Flash – off

Aí quando eu achei que as coisas fossem melhorar, ter contado aquilo a elas foi um alivio de certa forma, como se alguma coisa tivesse se ajustado, o fato delas saberem. Foi quando eles voltaram... Os sonhos, os malditos sonhos  que eu não tinha há anos voltaram, os sonhos com o Edward. Diferente dessa fez, agora era apenas ele sorrindo para mim, ou então vindo em minha direção e pegando na minha mão e sorrindo. Parecia, não sei o que parecia. Então faz dois meses que eu ando convivendo com esses sonhos novamente.