– Você está atrasada, Rosemarie! – Lissa exclamou batendo o pé igual criança.

– Desculpe. Eu tive um imprevisto ocorrido durante o banho.

– Você está ficando muito safada. – sua transbordava censura, mas seu sorriso lhe traia. Eu arqueei uma sobrancelha. – Mais que o normal, digo.

– Bem, você sabe o que dizem sobre mulheres grávidas e hormônios. – nós começamos a rir histericamente e os guardiões a nossa volta me olhavam com censura. E havia um verdadeiro batalhão deles, incluindo Dimitri, que era o único - além de Eddie e Mikhail - que parecia divertido ali. Uma coisa rara de se ver.

Assim que entramos na estrada eu peguei no sono e só fui acordar com o carro estacionando no estacionamento do shopping. Mais uma vez, o sobretudo de Dimitri estava jogado em cima de mim, o perfume de seu pós barba invadindo minhas narinas.

– Você estava encolhida. – ele disse como que explicando.

– Tudo bem Camarada. Eu aprecio você cuidando de mim. – ele sorriu, mas era um sorriso tão triste e melancólico que eu senti meu coração se apertar. Engolindo em seco, segui Lissa para dentro do shopping.

No fim das contas, o passeio até foi divertido. Lissa comprou quase que um guarda roupa inteiro de roupas novas, além de coisas para o bebê, por mais que eu tenha insistido, ela disse que era seu dever de madrinha. Acabei comprando algumas peças novas pra mim, por que em breve não caberia mais em roupa alguma que tinha no meu guarda roupa. Entretanto, teve apenas um lugar que eu quis ir.

– Victoria Secrets? Isso é sério? – ouvi um dos guardiões bufar. Dimitri por outro lado parecia constrangido. Subitamente lembranças de nossa única noite na cabana invadiram minha mente, fazendo-me corar.

– Você sabe que isso é maldade, certo? – disse Lissa enquanto andávamos pelas araras pegando peças para experimentar.

– O que é maldade?

– Forçar Dimitri a ver você comprando lingerie pra usar com outro homem. – olhei para trás, onde Dimitri nos observava enquanto fingia procurar um presente para alguém.

– Eu lutei por ele, Liss. Você sabe que sim. E ele não me quis. Não posso ser culpada por decidir seguir em frente.

– Não te culpo por isso. Eu estou muito feliz por você e pelo Adrian. Sei que você o ama. Mas também sei que você ainda não esqueceu o Dimitri.

– Esse negócio de ler aura às vezes é um saco.

– Eu não preciso ver sua aura pra saber disso. Fica estampado na sua cara toda vez que olha pra ele. E caso você não tenha notado, ele também te ama.

– Como você pode ter tanta certeza disso? – perguntei frustrada. – Você não estava lá Lissa. Não viu a expressão dele quando me disse que não sentia mais nada por mim. Ele realmente acreditava nisso.

– Exato. Quando ele retornou ao que era antes, toda a sua visão do mundo foi alterada. Ele não acreditava ser capaz de amar ou até mesmo de merecer tal amor. Mas ele está se redescobrindo, como um bebê recém-nascido. E acredito que o primeiro sentimento que ele percebeu ainda ter foi o amor por você.

– Lissa, pare. Eu não posso mais me dar ao luxo de pensar nisso. Estou grávida. Ele tomou a decisão dele e agora é tarde demais pra voltarmos atrás.

– Você está certa. – disse envergonhada. Após encerrar o assunto vergonhoso, decidimos experimentar as lingeries. Eu decidira comprar um espartilho pra usar enquanto eu ainda podia, mas obviamente fui barrada pela vendedora, dizendo que qualquer coisa que apertasse muito a barriga poderia fazer mal para o bebê. Decidi então por um conjunto de calcinha, sutiã e liga de renda preta.

– Lissa, tá bom? – perguntei saindo da cabine e dando de cara com Dimitri. Seus olhos se arregalaram e por um instante vi o desejo estampado em seus olhos. Senti um arrepio percorrer meu corpo.

– Tá ótimo Rose. Perfeita. – Lissa disse aparecendo na hora certa. Desviei os olhos de Dimitri, lutando para manter o foco.

– Minha barriga tá enorme. – reclamei fazendo uma careta.

– Você está linda. – eu pensei ter ouvido Dimitri dizer.

A viagem de volta foi tranquila, dormi de novo, mas desta vez acordei sem o sobretudo de Dimitri em cima de mim. Os guardiões descarregaram as compras e acompanharam Lissa de volta ao seu próprio quarto, enquanto eu andava lentamente de volta pra casa.

– Rose. – Dimitri correu para me alcançar. – Podemos conversar?

– Claro. – ele olhou em volta, parecendo incomodado.

– Pode ser em um lugar mais vazio? – olhei para ele, em duvida, tentando entender meus próprios sentimentos.

– Deixe apenas eu guardar essas bolsas. – Dimitri me acompanhou até em casa em silencio e esperou enquanto eu entrava e sorrateiramente guardava as sacolas no armário. Adrian dormia tranquilamente. Do lado de fora Dimitri esperava pacientemente.

– Venha comigo. – ele me guiou por um caminho desconhecido e quando dei por mim estávamos atrás da garagem. Distante de qualquer olhar curioso.

– Estamos aqui. Agora diga o que você quer. – acho que devo ter soado um pouco grossa, mas a verdade é que estava nervosa com toda essa aproximação entre nós.

– Eu preciso saber da verdade, Rose. Por que não ter ideia alguma está me corroendo.

– Que verdade? Do que você está falando Dimitri?

– Você ama o Adrian? Tem certeza de que você quer se casar com ele? Você ainda sente alguma coisa por mim? – senti meu queixo bater no chão.

– Nada disso importa mais. – respondi friamente.

– Pro inferno que não! – ele socou a parede ao meu lado me fazendo pular de susto. Eu nunca tinha visto Dimitri perder o controle, nem mesmo quando era um Strigoi. E de repente decidi que não queria vê-lo assim.

– Por que eu estou grávida dele. E por que foi você quem me chutou. Amor acaba. – nunca pensei que fosse ter tanto prazer em jogar essas palavras de volta pra ele. Seus olhos arregalaram e a mágoa que sentia ficou estampado neles.

– Não, ele não acaba. – e para minha surpresa Dimitri me prensou na parede, seus lábios tomando os meus de forma faminta. Por um instante senti-me sucumbir sob seus dedos. Ele era Dimitri, afinal de contas. E uma parte de mim sempre o amaria. E entretanto, enquanto ele enlaçava minha cintura, eu sabia que nada poderia acontecer entre nós. Tudo estava diferente agora.

– Dimitri, pare. – disse lutando para me desvencilhar dele. – Não é certo fazer isso com o Adrian e eu sei que você não é esse tipo de homem.

– Me desculpe. – disse num sussurro. Ele encostou sua testa na minha e fechou os olhos. – Você está certa quanto a isso ser errado, mas meu Deus! Como eu me arrependo de ter te deixado ir. – havia tanta dor em sua voz, tanta vulnerabilidade... Eu amava o fato de ser uma das poucas pessoas com quem Dimitri era capaz de se abrir, mas me doía ver o quanto ele estava ferido.

– Eu sei. Mas não tem nada que possamos fazer agora. É tarde demais. – Dimitri suspirou e para a minha completa surpresa, vi uma lágrima escorrendo de seus olhos. Aquilo me alarmou mais do que qualquer outra coisa. – Dimitri. – eu o afastei de modo que pudesse olhar em seus olhos. – Eu preciso que você me prometa uma coisa.

– Qualquer coisa. – disse-me.

– Você precisa seguir em frente. Encontre alguém que você possa amar, que possa te fazer feliz. Por favor. Você é importante demais pra mim e eu não suportaria ver-te sofrer. Você mais do que ninguém merece ser feliz. Merece encontrar alguém que te entenda e saiba te apoiar nos momentos de escuridão. Prometa-me que não vai desistir, que você não vai se voltar pra dentro e esquecer do resto do mundo, por favor. – implorei para ele. Ele fechou os olhos por um instante e os abriu após uma respiração profunda.

– Eu posso prometer que vou tentar, mas não mais do que isso.

– Tentar já é bom o suficiente. Por enquanto. – eu o segurei pela mão enquanto voltávamos ao caminho.

– Não pense que você não é importante para mim, por que você é. Você sempre será importante pra mim. - E eu provavelmente sempre irei te amar. - disse a mim mesma. Mesmo que eu não pudesse dizer em voz alta, não iria mentir para mim mesma.

– Você está ficando cada dia mais sábia. – brincou. – Acho que são os cabelos brancos.

– Hey! Eu não tenho cabelos brancos! – rebati. Ele apenas riu, enquanto me deixava na porta de casa com um beijo na testa e um “até mais”.