Então era verdade. Ele quer dar cabo de mim sozinho, Sasuke sorriu satisfeito ao ver que os subordinados de Iori Kuroshini haviam tomado aparência fantasmagórica e, muito provavelmente, seriam meros expectadores daquele confronto. Esse é o cenário ideal. Seria impossível enfrentar todos de uma vez, brandiu a catana Kusanagi à frente do rosto. Por outro lado, já que estão aqui, ativou os poderes oculares: Fuumetsu Mangekyou Sharingan no olho direito e o Rinnegan no esquerdo, será um prazer envergonhar o líder diante dos capachos.

Com a mão esquerda, Sasuke formou o Chidori. Os raios azuis chilreavam ruidosamente como pássaros entre seus dedos. Ao moldar chakra novamente, Sasuke Uchiha pressentiu o poder e a vitalidade crescendo dentro de si. Eles fluíam, a partir do braço esquerdo, para o resto do corpo. Era uma sensação bem agradável. Entendo, as células do Primeiro Hokage estão em sinergia com meu DNA Uchiha, pensou.

Do outro lado da ponte, a voz de Iori Kuroshini pareceu cortar o ar.

— Não se engane. Nós dois sabemos o que vai acontecer aqui — disse o líder dos Yuurei —, e no meu caso, eu literalmente já vi a sua morte.

Sasuke sorriu.

— O Doujutsu da Premonição, é? — infundiu chakra para Inton (Estilo Yin) ao Chidori; os relâmpagos assumiram a coloração branco-arroxeada. — Garantirei que sua visão sobre mim não passe de um sonho.

Suki ouviu aquilo e abafou uma risada.

— Aquele homem é tão petulante e estúpido... — comentou com desdém. — Uma vez que o Doujutsu da Premonição enxergue o evento morte, é impossível modificá-lo, não importa o quanto tente! Sasuke Uchiha já está morto.

— Não está.

Incomodada, Suki imediatamente virou-se para o lado. Mas Kioto Hyuuga não a olhava de volta.

— O que disse?

— Embora possuam o mesmo Doujutsu, seus níveis de poder são bem distintos — explicou Kioto friamente. — O Líder-sama conseguiu seu Rinnegan copiando-o de Nagato Uzumaki. Já Sasuke Uchiha o despertou após receber chakra do próprio Rikudou Sennin.

— E daí?

— Tudo que o Rinnegan do Líder-sama pode fazer, o de Sasuke Uchiha também pode. No entanto, a mesma lógica não se aplica em sentido inverso — respondeu Kioto. — O mesmo Doujutsu, mas com níveis distintos.

Suki se calou por um momento.

— Além disso — prosseguiu Kioto em sua análise —, o Sharingan do clã Uchiha possui habilidades muito além da pura previsão de eventos aleatórios, que é tudo que o Doujutsu da Premonição pode fazer. É aí que a distância entre os poderes oculares se torna ainda maior.

— Não seja ridículo! — Suki exclamou cética. — O Líder-sama pode prever o futuro, incluindo algo tão certo e inevitável quanto a morte.

Kioto assentiu com um brilho vago no olhar.

— Mesmo a morte pode ser contornada; e todo o futuro, alterado — comentou, finalmente virando o rosto na direção de Suki. — Este é o poder dos Três Grandes Doujutsu.

Suki semicerrou os olhos e encarou Kioto Hyuuga suspeitosamente. O Terceiro Oficial dos Yuurei era um homem notadamente frio e distante; talvez só estivesse analisando as coisas de maneira objetiva e imparcial. Mas por ele possuir o Byakugan, outro dos Três Grandes Doujutsu, Suki não deixou de se perguntar se, com seu último comentário, Kioto também não estaria enaltecendo as próprias habilidades.

— Explique — exigiu Suki.

— Entre as técnicas proibidas do clã Uchiha, há uma feita exatamente para este fim — Kioto novamente pôs os olhos em Sasuke. — É capaz de transformar até mesmo um evento real, como a morte, em ilusão.

Shozu Ibuke deu um sorrisinho.

— O Izanagi — o titeriteiro confirmou com a cabeça. — Será que o veremos aqui hoje?

— Izanagi? — Suki nunca ouvira aquele nome.

— É um Genjutsu superpoderoso, Suki-sama — explicou Hana Sakegari, com a voz subitamente mais cautelosa do que antes. Após Kioto fazer menção ao Izanagi, Hana realmente passou a considerá-lo uma possibilidade para Sasuke Uchiha naquela luta. — Ao contrário do Genjutsu convencional, o Izanagi transforma a própria realidade em ilusão; mas para isso, o usuário precisa sacrificar um dos olhos.

— Isso mesmo! — Shozu lhe dirigiu um sorriso de lábios fechados e Hana imediatamente fechou o semblante, enojada. — Como o Izanagi é um Genjutsu autoaplicável, Sasuke-kun pode ativá-lo a qualquer momento; e o Líder-sama não conseguirá impedi-lo.

Suki desviou o rosto de volta para Sasuke. O ninja da Folha aparentava uma tranquilidade admirável.

— Entendo — disse, pensativa. — Sendo assim, Sasuke Uchiha pode usar esse Genjutsu no máximo duas vezes... — deu de ombros. — Mas não importa. É impossível derrotar, ou mesmo arranhar, o Líder-sama.

Após dizer isso, Suki virou-se novamente para conferir a expressão de Kioto Hyuuga. O Terceiro Oficial dos Yuurei, como de praxe, mostrava-se sereno e bastante observador.

— Talvez — disse Kioto, ciente que Suki o provocara a responder. — Por outro lado, aquela espada não é uma arma convencional; é toda feita de Meiton. Sintético. Mas ainda assim é Meiton.

— Oh, é quase igual à Kokujin! — admirou-se Hana, lembrando-se da espada que os Yuurei haviam feito para seu subordinado Iruzu Ibe, o líder dos antigos Oukami. — Mas como Sasuke Uchiha a conseguiu?

Pouquíssimas explicações eram razoavelmente capazes de justificar aquela sintetização do Estilo Escuridão dos Yuurei; e, dentre elas, apenas uma se aplicava ao caso de Sasuke Uchiha. Kioto Hyuuga e Suki, que pensaram exatamente a mesma coisa, trocaram olhares sutis e concordantes. Orochimaru, concluíram.

— Tanto faz onde ele arranjou aquela coisa — disse Kan para que todos os colegas escutassem. — É como falou a Suki-sama: derrotar o Líder-sama é impossível!

Todos os Yuurei concordavam com aquela máxima. Contudo, reluzia nos olhos brancos e frios de Kioto Hyuuga uma pequena centelha de dúvida. Tal incerteza — tímida e surpreendente, era quase imperceptível —, e passou desapercebida por quase todos os Yuurei ali presentes.

Todos, exceto Hana Sakegari.

Timidamente, ela levou a mão esquerda à frente, buscando a mão direita de Kioto. No que está pensando, Kioto-sama?, perguntou-se Hana assim que conseguiu tocá-lo.

Os dedos de Kioto Hyuuga envolveram gentilmente a pequena mão de Hana Sakegari; porém ele próprio mantinha-se todo virado para frente, escrutinando Sasuke Uchiha por meio do Byakugan. Ainda assim, foi como se os pensamentos de Hana lhe fossem conhecidos, pois Kioto respondeu à pergunta:

— Seja como for, ele não teria vindo enfrentar o Líder-sama sem um plano — disse Kioto Hyuuga. — Mas acima de tudo, neste momento — via o poder aumentando progressivamente dentro do ninja da Folha —, Sasuke Uchiha é alguém mais perigoso que Naruto Uzumaki.

As sombras bruxuleavam inquieta e incessantemente ao redor de Iori Kuroshini, como animais famintos saboreando a refeição por vir. A pressão no ar já era enorme e insuportável para qualquer um que estivesse a menos de trinta metros do líder dos Yuurei. Sasuke sabia que a partir daquele instante não poderia se dar ao luxo de cometer nenhum erro, por mais ínfimo que fosse.

Primeiro vou testar seu Meiton; e verificar o quanto de energia luminosa você consegue absorver de uma só vez, pensou Sasuke, erguendo a mão com o Chidori para o céu. Depois vou aumentar essa quantidade de novo, e de novo... até que seu Meiton seja incapaz de acompanhar.

Só que antes mesmo que pudesse invocar seu primeiro Ninjutsu, o medo que Sasuke Uchiha escondia no íntimo de sua alma inesperadamente explodiu dentro dele. A ansiedade crescia, levando seu corpo a se pôr em um estado de alerta descontrolado. A respiração e os batimentos cardíacos ficaram mais rápidos; a pele, mais pálida; e os lábios, mais secos. Depois vieram as contrações musculares, o frio e a tremedeira; e o suor gelado empapou-lhe a testa. O que está acontecendo comigo? O que é isso?

De repente, seu corpo já não o respondia. Sasuke, trêmulo e entorpecido com o pavor, caiu com os dois joelhos diante de Iori Kuroshini. A sensação de terror era tão esmagadora que Sasuke sentia-se quase incapaz de manter a cabeça erguida; sua mente gritava com ele, dizendo para fugir daquele vulto rodeado por trevas. Isso... isso é ele?, gaguejou.

— Você cometeu o mesmo erro da Kaguya. Ela também pensava que o Meiton se resume à ausência da luz — devagar, Iori atravessava a ponte, indo em direção a Sasuke, que sentiu a respiração falhar apavorada. Eu preciso sair daqui... eu vou... eu vou... — Só que... escuridão é um conceito bastante amplo — continuou Iori, já na metade da ponte. — Você entende isso, Sasuke Uchiha?

Sasuke procurou atenuar o efeito da tremedeira pressionando o pulso direito com toda a força, ao mesmo tempo em que lutava para se levantar. No entanto, era como se seus dois joelhos estivessem colados no chão. Seu corpo simplesmente recusava-se a obedecê-lo.

Iori escarneceu.

— Sua posição é apropriada — o líder dos Yuurei já havia atravessado a ponte e estava parado em pé bem diante de Sasuke Uchiha. — É um instinto natural buscar a própria sobrevivência... — pôs a mão no queixo de Sasuke e o fez encará-lo. O rosto de Iori estava todo encoberto debaixo do capuz; Sasuke mal enxergava o brilho roxo dos olhos do Yuurei. — E neste caso, a única forma de sobreviver é prostrar-se e suplicar por minha misericórdia.

Um forte arrepio percorreu toda a espinha de Sasuke Uchiha. O toque de Iori Kuroshini em sua pele era tão gelado; como se fosse a própria morte a segurá-lo pelo queixo. A única vez em que Sasuke se vira naquela mesma situação e tivera o mesmo pressentimento fora diante de Kaguya Ootsutsuki. Ironicamente, a Deusa Coelho também o segurara da mesma forma.

— O seu Meiton... — a voz de Sasuke era trêmula e baixa — você pode... manipular sentimentos com ele?

Algo como um sorriso se formou nos lábios de Iori.

— Eu chamo de Influência — confirmou o líder dos Yuurei. — Esta é a habilidade primordial da Escuridão. Uma que minha bela Kaguya jamais pôde prever...

Sua Kaguya?, estranhou Sasuke.

Iori Kuroshini abafou uma risada.

— A Árvore Shinjuu sobrepujou a Escuridão, mas até onde isso é verdade? — continuou Iori. — Apesar de ter vencido nossa batalha, Kaguya cometeu dois erros terríveis, que lhe custaram tudo depois. Então, quem saiu vitorioso afinal?

Influência... isso é algum tipo de Genjutsu?, pensou Sasuke enquanto tentava mover ao menos um dos braços a fim de livrar-se de Iori. Porém, seu corpo estava tão paralisado que sequer o respondia. Não, concluiu Sasuke. Seja lá o que for, a habilidade dele não usa chakra. Então, o que é isso?

— O primeiro erro dela foi a compaixão — prosseguiu Iori, ignorando Sasuke totalmente. — Kaguya, que sempre foi tão gentil, não pôde me destruir naquele dia. Ao invés disso, ela decidiu me poupar, selando meus poderes; e, em parte, conseguiu. Kaguya me tirou todos... exceto um.

— A Influência.

— Sim — Iori balançou a cabeça —, e este foi o segundo erro que Kaguya Ootsutsuki cometeu: a ignorância. Kaguya, que possuía todo o poder do chakra nas mãos, acreditou que, após ter derrotado a Escuridão, poderia finalmente apaziguar o mundo dos homens...

Iori Kuroshini riu, e sua risada não era humana.

 — Infelizmente — completou o líder dos Yuurei —, minha esposa não viu que seu próprio coração, tão amável, aos poucos também escurecia.

Sasuke ligou os pontos.

— Não foi o poder que corrompeu Kaguya Ootsutsuki... — com dificuldade, encarou Iori Kuroshini. — Foi você.

— Mesmo sendo considerada uma deusa, Kaguya era tão humana quanto os demais; sujeita às mesmas fraquezas... — respondeu Iori Kuroshini — mas não penso que eu a corrompi — pôs a mão livre sobre a cabeça de Sasuke. — A escuridão já existe dentro de cada ser humano; e todos, sem exceção, estão contaminados por ela. No caso de Kaguya, eu apenas trouxe à tona o que já existia nela...

Agora não era apenas o medo que Sasuke Uchiha sentia crescendo dentro de si. Frustração, tristeza, ódio, ressentimento; tudo isso se espalhava, preenchendo cada centímetro da mente de Sasuke como um oceano transbordante e descontrolado. Sasuke reviu suas piores memórias. A maldição do ódio, que ele pensava haver soterrado no solo mais profundo de sua alma, o encarava do fundo do abismo; e era Iori Kuroshini quem a fazia emergir.

Num momento de delírio, Sasuke Uchiha deixou uma palavra escapar:

— Itachi...

— Isso mesmo — a voz de Iori Kuroshini já não era uma só. Duas vozes, uma masculina e outra feminina, aglutinavam-se em um único som demoníaco. — O que seu irmão fez, o que fizeram a ele... lembre-se, Sasuke Uchiha. Está tudo dentro de você...

Sim, estava. Era como um filme de horror interminável passando repetidas vezes dentro dele. Sasuke só não conseguia gritar por que a voz também não lhe saía.

— Você é alguém que a conheceu bem de perto, não é mesmo, Sasuke Uchiha? A escuridão... você está cheio dela — sibilou a criatura que se chamava Iori Kuroshini. As sombras abriam-se como duas mãos por ambos os lados do corpo do demônio, envolvendo e fechando-se ao redor de Sasuke. — Para mim, seu coração é como um banquete.

Quando as trevas finalmente encobriram todo o corpo de Sasuke, Iori Kuroshini silvou triunfantemente.

— Seja meu, Sasuke Uchiha.

— Interessante — disse Kioto Hyuuga sem qualquer emoção.

— O que foi, Kioto-sama?

 — Por um breve momento, o chakra do Líder-sama ficou todo desordenado.

Hana arregalou os olhos, incrédula, e virou-se abruptamente para Kioto.

— Não me diga que... — mas não terminou a frase verbalmente. Por causa do Zero Caudas, não deve ter durado nem dois segundos... mesmo assim Sasuke Uchiha conseguiu pegar o Líder-sama em um Genjutsu?! Incrível, admirou-se Hana Sakegari, vendo Iori Kuroshini ainda parado no meio da ponte.

— Sasuke Uchiha quebrou a Influência — observou Kioto através do Byakugan —, ao mesmo tempo em que contra-atacou com Genjutsu.

— Como ele conseguiu? — resmungou Suki tão embasbacada quanto impaciente. — Ele não deveria ser capaz de resistir à Influência, muito menos quebrá-la!

Apesar de seus protestos, Suki tinha razão, pensava Kioto. Alguém com um coração tão enegrecido, como era o caso de Sasuke Uchiha — que até pouco tempo estava sedento por ódio e vingança —, deveria ser uma presa muito fácil para a Influência do Meiton. Mesmo com seu Doujutsu superior, você sozinho seria incapaz de quebrá-la. A Influência do Líder-sama pôde corromper até mesmo Kaguya Ootsutsuki. Mesmo a Progenitora do Chakra não resistiu à escuridão de seu próprio coração, meditou Kioto com curiosidade. A que luz seu coração está se apegando, Sasuke Uchiha?

Com seu Byakugan, Kioto Hyuuga procurou escrutinar a expressão facial de Sasuke. O último membro do famigerado clã Uchiha se permitia um sorriso de puro desdém; mas por trás da arrogância, havia sim o medo da morte; e por trás do medo, um desejo vívido e inabalável, que ardia como chama dentro dos olhos de Sasuke Uchiha. Entendo. Você fez uma promessa de que voltaria vivo para alguém, concluiu Kioto, é a isso que você se apega.

Ao lado de Kioto, Suki murmurou audível:

— Bom, não importa como ele tenha feito. Sasuke Uchiha não sairá vivo daqui.

Iori pestanejou um pouco confuso. Ao contrário do que havia imaginado — e visto — até poucos segundos, ainda estava bem no meio da ponte. E Sasuke, na outra extremidade do precipício, aos poucos se punha de pé.

— Parece que seus olhos te enganaram, líder dos Yuurei — o sorriso convencido, típico de Sasuke Uchiha, agora estava mais à mostra do que nunca. — Previu isso também?

— Seu... você tinha um Genjutsu engatilhado...

— O Doujutsu da Premonição — disse Sasuke, assentindo orgulhosamente — descende do Byakugan do clã Hyuuga; mas em se tratando de poder, está muito longe de ser comparado com o ancestral. Já o seu Rinnegan, ele é bom. Mas o meu é melhor.

Suki escutava aquilo tudo furiosa; mas quando olhou para o lado, percebeu o sutil sorriso evanescendo nos lábios de Kioto Hyuuga.

— Graças a você, pude entender melhor como esse seu Meiton funciona — acrescentou Sasuke, formando novamente o Chidori na mão esquerda. — A tal Influência estimula os sentimentos negativos dos outros, aumentando-os a seu bel-prazer — infundiu chakra para Inton (Estilo Yin) ao jutsu. — E você se alimenta disso... da mesma forma que o Demônio Roxo fazia com o Naruto.

— Estou impressionado, Sasuke Uchiha — assentiu Iori Kuroshini — e, devo dizer, curioso também. Como escapou da Influência? Seus poderes oculares seriam insuficientes por si só.

O sorriso de Sasuke mudou de arrogância para leveza.

— Eu me resolvi com minha própria escuridão — em seus pensamentos, Sasuke Uchiha via Sakura Haruno a abraçá-lo e beijá-lo, e podia jurar sentir ali o frescor que era o perfume dos cabelos rosados da noiva; Naruto Uzumaki, o melhor amigo que nunca desistira dele, a gritar alguma coisa estúpida e os dois rirem a seguir; e até um Itachi Uchiha revivido pelo Edo Tensei a sorrir bem perto de seu rosto. Não importa o que você faça, eu sempre vou te amar, dissera-lhe o irmão mais velho antes de sumir bem diante de seus olhos — e tive ajuda.

E Sasuke não deu oportunidade para o líder dos Yuurei fazer qualquer coisa. Fez um selo rápido na mão direita, acionando todas as trajas explosivas que havia implantando debaixo da ponte antes de os Yuurei chegarem àquele local. Em um microssegundo, Iori Kuroshini foi engolido dentro de uma bola de fogo expansiva e, no instante seguinte, já a havia devorado por completo com seu Estilo Escuridão.

Mas Sasuke já esperava por isso. Enquanto a explosão era engolida, Sasuke erguia a mão esquerda — com o Chidori — para o céu tempestuoso, cujas nuvens negras estavam tão próximas pela altitude em que se encontravam.

Os raios prontamente responderam ao chamado.

— Eu disse! Eu disse! — berrou Kan, vendo os relâmpagos no céu ganharem a forma de um gigantesco dragão elétrico. — Eu disse a vocês que esse céu estava bem estranho!

— Ele preparou tudo antes de chegarmos... — Shozu Ibuke abafava a boca para segurar a risada nervosa. — Isso é...

— ... simplesmente incrível! — Hana Sakegari estava boquiaberta, completamente deslumbrada com a cena diante de seus olhos. — Quer dizer, vejam o tamanho daquela coisa! É maior do que um animal de invocação!

— E milhares de vezes mais rápido — observou Musashi Yamamoto.

— Vamos, seus idiotas, aquietem-se! — ralhou Suki dirigindo um olhar feroz para trás. — Não se impressionem tão facilmente. É só mais um jutsu.

Foi como se o destino quisesse envergonhar a Assassina de Kages. Todos os Yuurei ouviram a voz de Sasuke ecoar baixinho, mesmo através do estrondoso rugido dos trovões. Variante: Yamata no Orochi, dissera o Uchiha. Imediatamente, outras sete cabeças do mesmo dragão elétrico irromperam de trás das nuvens; e ao mesmo tempo que Sasuke usava somente uma mão para controlar aquela monstruosidade de oito cabeças, seu chakra fluía para fora do corpo, tomando a forma de uma armadura humanoide: Susano’o.

Iori Kuroshini flutuava no meio do precipício, e parecia uma mancha escura no ar se comparado ao jutsu de Sasuke.

— Só esse ataque pode destruir toda esta montanha — comentou Kioto, casual.

Suki ouviu aquilo... e decidiu permanecer em silêncio.

— Este jutsu é um aperfeiçoamento do meu Kirin original; e eu o criei especialmente para você — disse Sasuke ao líder dos Yuurei. — Agora vejamos o quanto de “luz” sua escuridão consegue suportar.

Iori ergueu o rosto para o céu.

E Sasuke abaixou a mão esquerda, ordenando ao monstruoso dragão de relâmpago que seguisse seu movimento. Longas ramificações de eletricidade dissiparam toda a escuridão das nuvens, riscando o céu negro com seu brilhante tom azul-arroxeado e espalhando-se em todas as direções mais e mais. Um espetáculo da natureza poderoso, que durou menos de um segundo.

Em um abrir e fechar de olhos, a eletricidade do céu se juntara em uma única rajada elétrica com bilhões de volts, a qual foi redirecionada por Sasuke Uchiha para cair toda sobre Iori Kuroshini. A luz do relâmpago era completamente cegante e irradiou por centenas de metros ao longo da linha do horizonte. Já o ruído do trovão ecoando no alto da montanha era quase tão ensurdecedor quanto o de uma bomba.

Até que, passados não mais do que três segundos, Sasuke viu o feixe de eletricidade se distorcer no ar e afinar-se como um espaguete; e o jutsu inteiro, assim como tudo ao redor, ser distorcido e sugado para dentro de um vórtice escuro que girava em volta de Iori Kuroshini. O líder dos Yuurei, que até então ainda olhava para o céu — agora clareando —, virou o rosto na direção de Sasuke.

— Disse ter criado este jutsu para mim. Pois bem — estendeu a mão direita para o Susano’o. — Se ainda desconhecia o potencial destrutivo do seu próprio jutsu, permita-me demonstrá-lo a você.

Da palma da mão, Iori Kuroshini disparou a mesma rajada de energia elétrica contra o Susano’o perfeito de Sasuke Uchiha, que desapareceu no meio daquela enorme explosão de luz. O raio lançado na horizontal cortou tudo pelo caminho, como se fosse uma gigantesca espada de eletricidade condensada percorrendo dezenas de quilômetros à frente.

Quando Iori Kuroshini abaixou o braço, a montanha à sua frente estava fendida em duas; e parte dela se despedaçava para despencar através do largo abismo.

— Entendo — Iori olhou para cima e encontrou o Susano’o de Sasuke planando. — Usou outro Genjutsu e me fez mudar a direção do disparo. Agiu rápido.

E pensar que, mesmo dessa distância, a Vila Oculta da Nuvem ainda pode ser envolvida, Sasuke olhou de esguelha para todo o rastro de destruição causado. Toda a vegetação havia sido obliterada, e a montanha dividida em duas, em questão de pouquíssimos segundos. Tudo isso por apenas um ataque do líder dos Yuurei — com um jutsu que, originalmente, pertencia ao próprio Sasuke. Não tenho escolha, pensou Sasuke, concentrando chakra no olho esquerdo, agora fechado.

Sasuke fez o Susano’o brandir as espadas e avançar contra o líder dos Yuurei. Quando chegou a uma boa distância, abriu novamente o olho esquerdo.

— Amaterasu!

— Inútil — apesar de se ver cercado por chamas negras de repente, Iori sequer fez um movimento com os braços. O buraco negro que o líder dos Yuurei mantinha ao seu redor puxava para si todo o Amaterasu a uma velocidade muito superior à da absorção do Kirin: Yamata no Orochi.

Um detalhe que não passou desapercebido.

— Enton: Kagutsuchi (Estilo Chama: Deus do Fogo) — agora com o poder de seu olho direito, Sasuke deu forma às últimas chamas do Amaterasu, ampliando-as, espalhando-as e fazendo-as circundar por Iori Kuroshini, cobrindo-lhe completamente a visão.

Quando Iori devorou toda a cortina do Amaterasu, Sasuke já tinha outro ataque pronto. As duas espadas do Susano’o eram uma combinação harmoniosa entre o Estilo Chama e o Estilo Yin; e as duas naturezas trabalhando juntas aumentavam o poder destrutivo uma da outra. O Susano’o brandiu as espadas em um movimento de corte transversal — similar ao de uma tesoura —, com Iori Kuroshini entre as lâminas.

O líder dos Yuurei estendeu ambos os braços como se fosse segurar as duas espadas gigantes. Porém Sasuke foi mais rápido.

— Genjutsu: Rinnegan! — conquanto Iori sempre escapasse rapidamente, usar Genjutsu continuava sendo efetivo. Mesmo que não conseguisse mantê-lo preso em Genjutsu, Sasuke forçava Iori a desperdiçar segundos preciosos para escapar de suas ilusões; e isso já era suficiente para que o Yuurei perdesse totalmente o tempo de reação aos ataques físicos de Sasuke.

Ao menos, era o que se imaginava.

O buraco negro não só anulou todo o ataque do Susano’o, como também se expandiu inesperadamente, multiplicando o próprio tamanho e alcance em dezenas de vezes em um tempo inferior a um segundo. O vórtice escuro praticamente explodiu à queima-roupa do Susano’o de Sasuke, que se viu perto demais do centro gravitacional.

A força de sucção daquele monstro era simplesmente absurda; e crescia à medida que o buraco negro se alimentava de tudo que existia ao redor. A montanha que estava atrás de Iori desapareceu inteira dentro do vórtice. Mais de cinco mil metros de rocha sólida, com tudo nela existente, foram sugados para dentro da singularidade num instante.

Quando Iori parou o buraco negro e pôs os pés no chão, no lugar da montanha devorada, o espaço vazio de um extenso vale seco e empoeirado surgiu bem no meio da cadeia de montanhas. Sem qualquer esforço, Iori Kuroshini havia modificado a geografia do País do Relâmpago. Um feito ridiculamente impressionante por si só; e para os Yuurei que assistiam àquele espetáculo, embora já cientes do quão assombroso poderia ser seu líder, tal demonstração de poder causou-lhes espanto, temor e admiração.

— Ainda bem que estamos na forma de projeção astral... — Kan suspirou, admirado. — Já pensou se fôssemos pegos naquilo?

Hana balançou a cabeça em concordância

— Isso está acima de todos os padrões humanos — riu de nervoso. — Ao contrário desse seu Jashin, o Líder-sama é um deus de verdade.

— É uma pena que Sasuke Uchiha não tenha durado nada — Shozu encolheu os ombros, desapontado. — Eu esperava tanto dele.

Suki, que não pretendia dizer mais nada precipitadamente, olhou primeiro para Kioto Hyuuga na esperança de ler a situação através dos olhos precisos do colega. No entanto, a expressão de Kioto era incerta. Nem mesmo Kioto sabe explicar o que aconteceu lá, admirou-se Suki.

— O que você viu? — perguntou ao Hyuuga.

— Sasuke Uchiha desapareceu.

— Mas você acha que ele ainda pode estar vivo — deduziu Suki, estudando o rosto de Kioto Hyuuga. — Como?

Kioto balançou a cabeça em negação.

— Tudo aconteceu bem depressa, até mesmo para mim — disse com frieza. — Mas não creio que Sasuke Uchiha tenha morrido tão facilmente.

— Ninjutsu de espaço-tempo, é o que está querendo dizer? — Suki franziu a testa.

— Sim.

— Então ele fugiu? — Hana franziu a testa, meio decepcionada.

Kioto Hyuuga lembrou-se da determinação que encontrara ardendo nos olhos de Sasuke Uchiha. Não, respondeu mentalmente. Ele não fugiu. Como um ninja da Folha, Sasuke Uchiha também possui a Vontade do Fogo.

No campo de batalha, Iori Kuroshini tinha a mesma impressão. O líder dos Yuurei, apesar de seu ataque massivo, parecia insatisfeito e, olhando de um lado para o outro, procurava pelo oponente desaparecido.

— Sim — uma súbita visão do futuro chegou ao conhecimento de Iori, que conteve uma pequena risada por baixo do capuz. — Sim, é isso mesmo...

O Yuurei virou-se rapidamente e interceptou o ataque que Sasuke Uchiha executava com a catana. Sasuke aparecera ali de repente, mais rápido do que um raio. Iori bloqueou a investida-surpresa travando a lâmina de Sasuke com uma espada toda feita de Meiton, a qual saía pela manga de suas vestes.

— Seu Rinnegan é quase como o Rinne Sharingan da Kaguya — disse Iori Kuroshini, medindo forças com Sasuke, espada contra espada. — Para não ser morto, você saltou para outra dimensão.

Sasuke permaneceu em silêncio. Agora que o combate se desenrolava na curta distância, esperou o momento ideal para lançar o próximo ataque; que, desta vez, seria à queima-roupa.

— Amaterasu! — Sasuke primeiro invocou as chamas negras. Já sabia que, por si só, elas não infligiam qualquer dano ao corpo de Iori Kuroshini, cujo manto parecia ser todo feito de Meiton. Não obstante, isso era apenas o começo. — Enton: Hono-Ikazuchi! — na sequência, Sasuke modelou as chamas negras na forma de espinhos ao redor do próprio corpo enquanto Iori se aproximava. Com isso, pôde acertá-lo em diversos pontos vitais ao mesmo tempo.

Entretanto, o líder dos Yuurei apenas ignorou os golpes; e quando chegou bem perto de desferir um ataque letal contra o pescoço desprotegido de Sasuke, este apenas sussurrou:

— Shinra Tensei.

— Banshou Ten’in! — a resposta de Iori veio ao mesmo tempo. As forças repulsivas e atrativas do Rinnegan anularam-se perfeitamente entre os dois lutadores; e a lâmina de Iori Kuroshini, que já não tinha mais qualquer obstáculo em seu caminho, separou a cabeça do pescoço de Sasuke Uchiha num único golpe.

O corpo decapitado de Sasuke explodiu num bando de corvos. Genjutsu outra vez, pensou Iori.

— Katon... — Sasuke apareceu atrás de Iori. Suas mãos faziam os selos rapidamente enquanto ele puxava ar para os pulmões. — Goukakyuu no Jutsu! (Estilo Fogo: Técnica da Grande Bola de Fogo)

Iori virou-se para absorver a técnica, e Sasuke novamente já reaparecia às suas costas. O rosto, no lado esquerdo, estava todo riscado por lágrimas de sangue.

— Amaterasu! — e após trocar de lugar pela terceira vez, Sasuke, com o Chidori na mão esquerda, transformou a forma do jutsu, estendendo-o como uma lança de eletricidade contra Iori Kuroshini. Ao atingi-lo, alterou novamente a forma do jutsu, fazendo sair outras lâminas de eletricidade a partir da lâmina principal. Chidori Eisou, anunciou Sasuke.

— Meiton: Rīpāu-ēbu (Estilo Escuridão: Onda Ceifadora) — o próprio corpo de Iori liberou uma onda de energia negra que se expandia para todas as direções uniformemente, devorando tudo pelo caminho. Os ataques sucessivos de Sasuke contra o líder dos Yuurei foram absorvidos num instante.

Mas apesar das circunstâncias claramente desfavoráveis, Sasuke Uchiha não demonstrava inquietação. Pelo contrário, havia um quê de contentamento em seu rosto; e tal reação foi logo percebida por Kioto Hyuuga.

— Aparentemente, ele já entendeu o segredo — disse o Terceiro Oficial dos Yuurei. — Esses três últimos ataques serviram para confirmar sua suposição.

— Tem certeza disso? — perguntou Suki.

Kioto assentiu.

— O Sharingan também pode ver o chakra, além de perceber o próprio tempo à uma velocidade dezenas de vezes superior ao olho humano comum — explicou Kioto casualmente. — Aquelas técnicas que ele executou agora há pouco, embora fossem de naturezas bem distintas, utilizaram precisamente a mesma quantidade de chakra; e Sasuke Uchiha ainda teve o cuidado de arremessá-las da exata mesma distância, em três pontos diferentes — pontuou ainda o Yuurei. — Isso não é coincidência. Tampouco um mero capricho.

Suki respirou fundo, compreendendo o raciocínio de Kioto. Qualquer ser humano normal teria visto as técnicas de Fogo, Chama e Raio sendo absorvidas pelo Estilo Escuridão ao mesmo tempo. Já um usuário do Sharingan extremamente habilidoso saberia distinguir qual das três transformações de natureza foi devorada primeiro, bem como qual delas o Meiton teve maior dificuldade em assimilar.

Os olhos de Suki foram ao encontro de Sasuke. Um sorriso mordaz se formou em seus lábios vermelhos.

— Odeio admitir isso — ronronou a mulher —, mas Sasuke Uchiha é um homem interessante. Muito interessante.

Então essa era a “luz” a qual você se referia, Kakashi?, Sasuke executou os selos enquanto mantinha-se a uma distância relativamente segura. Shikamaru acertou em sua interpretação; quanto mais luminosa for a técnica..., os raios azuis crepitaram na mão esquerda de Sasuke; o Chidori crescia e saltava para frente, assumindo a forma de um grande lobo feito de pura eletricidade, mais tempo o Meiton demorará para absorvê-la.

Após formar o Raiton: Raijuu Hashiri no Jutsu (Estilo Raio: Técnica da Besta Corredora de Relâmpago), Sasuke acrescentou ainda mais chakra ao jutsu, variando-o para que um segundo lobo de eletricidade surgisse bem ao lado do primeiro. Raiton: Raijuu Hashiri no Jutsu: Sō (Estilo Raio: Técnica da Besta Corredora de Relâmpago: Gêmeas).

— Esta técnica pertencia ao Sexto Hokage, Kakashi Hatake — disse Sasuke ao líder dos Yuurei. — Meu professor.

Iori flutuava poucos centímetros acima do chão. A capa de seu manto abriu-se como duas asas negras.

— Acho que já a vi antes — respondeu Iori, indiferente. — Kakashi Hatake tentou muita coisa antes de morrer.

A outra mão de Sasuke segurou com mais firmeza o cabo da catana.

— Vão — e as duas feras correram pelo ar em direção a Iori Kuroshini. Os lobos gigantes ziguezagueavam entre si em altíssima velocidade, de modo a confundir o alvo. Era uma tarefa quase impossível adivinhar onde cada um deles acertaria; e mesmo que o Doujutsu da Premonição, por um acaso, mostrasse ao líder dos Yuurei a resposta, Iori ainda teria que acertar o tempo de cada um dos ataques, e reagir a ambos em intervalos de tempo curtíssimos.

— Shinra Tensei — Iori dissipou o primeiro ataque por meio do Rinnegan; e com o segundo lobo já bem na sua frente, não poderia dissipá-lo com outro Shinra Tensei por pelo menos cinco segundos. Meiton, preparou-se Iori.

Mas o lobo de eletricidade sumiu do nada; e Sasuke, brandindo a espada Kusanagi, surgia de repente, para a surpresa de Iori. Amenotejikara?

— Ele trocou de lugar com o próprio jutsu! — gritou Hana de longe.

Com a infusão simultânea das naturezas de Raiton e Inton à espada de Meiton sintético, a lâmina negra de Kusanagi ficou revestida por uma fina camada de raios branco-arroxeados, os quais aumentavam, e muito, seu poder de corte e perfuração.

Assim, diante de todos os Yuurei, Sasuke Uchiha atravessou a garganta de Iori Kuroshini.

Hana Sakegari esfregou os olhos repetidas vezes, embora já soubesse que aquilo não se tratava de um Genjutsu.

— Não acredito no que estou vendo... — disse a garota pasma, com o olhar arregalado e a boca aberta. — O Líder-sama... está sangrando?

— Impossível! Alguém como ele jamais poderia...

Mas a voz de Suki travou dentro da garganta. A Assassina de Kages, de uma forma mais acentuada que a dos outros ali presentes, tinha seu rosto como que petrificado, parecendo uma criança em um espetáculo de horror. Para Suki, a cofundadora dos Yuurei, era simplesmente inimaginável que seu líder pudesse ser tocado involuntariamente por qualquer ser humano. Muito menos ferido.

 O choque de realidade, no entanto, veio a ela quando Sasuke girou a catana dentro do pescoço de Iori, provocando no líder dos Yuurei um uivo terrível e agonizante. O som era agudo, nada humano e causava-lhe arrepios.

Suki estava atônita. Começara acreditando que Sasuke Uchiha seria morto em questão de minutos. Agora, de longe, via um líquido preto e viscoso escorrer da garganta perfurada de Iori Kuroshini.

— Líder-sama...

Sasuke afundou ainda mais a lâmina.

— Pelo visto, o demônio também sangra. Isso é bom — exibia um sorriso bem satisfeito nos lábios; e o rosto estava propositalmente bem próximo ao capuz do líder dos Yuurei. — Se você sangra, também pode ser morto.

Por baixo do capuz, os olhos de Iori fuzilavam Sasuke Uchiha.

— Quem você pensa que é... humano?

Iori agarrou os braços de Sasuke com ambas as mãos e o encarou por baixo do capuz. Debaixo das sombras que ocultavam o rosto daquele Yuurei, Sasuke Uchiha pressentia algo terrível — uma presença furiosa, faminta e sufocante. Era algo tão extenso e pesado, que só de estar perto daquilo Sasuke sentiu que poderia desmaiar. Você é...

A bocarra escura e grotesca saiu de dentro do capuz; e Sasuke Uchiha só não foi engolido vivo por que usara outra vez o Amenotejikara, trocando novamente de lugar com o lobo elétrico restante.

— E pensar que você se manifestaria fisicamente...  — Sasuke manteve uma distância considerável. — Significa dizer que Naruto está livre por enquanto?

O Zero Caudas abriu a boca maior, repleta de dentes tortos em sua cara roxa, e deu uma gargalhada gutural.

— Depois da interferência da mulher Yamanaka, tive que ajustar algumas coisas. Agora posso estar aqui e também lá com ele — a criatura falava através da boca menor, que tinha lábios vermelhos e finos de mulher sobre uma máscara toda branca. — Mas se isso te deixa confortável, minha consciência e a de Naruto Uzumaki não podem se encontrar por enquanto.

Em outras palavras, Naruto não reabriu o Selo dos Oito Trigramas, refletiu Sasuke. Por isso você não pode afetá-lo.

— E Iori Kuroshini? — perguntou Sasuke para a Besta de Zero Caudas. — Ele está dentro de você agora?

— Nós somos um.

— Ótimo. Isso facilita as coisas — brandiu a espada.

O demônio roxo silvou ferozmente com as duas bocas sobrepostas.

— Você é tão inconveniente, Sasuke Uchiha — disse o Zero Caudas. — Depois que eu te matar, profanarei o seu corpo, exibindo-o como meu troféu pessoal para Naruto Uzumaki...

O pescoço gelatinoso e alongado da criatura se retraía de volta para dentro do capuz, até sumir completamente.

— ... e para o mundo inteiro — completou, na forma humana, Iori Kuroshini.

Novamente, Sasuke fez surgir raios branco-arroxeados sobre toda a extensão da lâmina de Kusanagi. Desta vez, deceparei a sua cabeça, demônio maldito.

Sasuke fez como se fosse atacar, e logo se viu incapacitado de dar nem mesmo um passo. O quê?, estremeceu com os pés colados no chão. Isso é aquela Influência de novo?

Cuidadosamente, Sasuke esquadrilhou o próprio coração, mas não encontrou nada em desordem; e foi exatamente isso que o deixou perturbado. Se Iori Kuroshini não estava manipulando seus sentimentos negativos desta vez, então o que o deixava paralisado agora?

A resposta veio logo. A mão esquerda de Sasuke, como se tivesse vida própria, agarrou-se fortemente ao pescoço, ávida para sufocá-lo. Simultaneamente, suas pernas se afastaram uma da outra e a coluna vertebral se reclinou involuntariamente para trás, empurrando a cabeça de Sasuke quase para as costas.

Minha sombra, exclamou Sasuke ao desvendar o truque. Ele está controlando meu corpo através da minha própria sombra! A habilidade de Iori Kuroshini em manipular as sombras era similar — mas ao mesmo tempo muito superior — às técnicas do clã Nara, da Vila Oculta da Folha. Diferentemente do Ninjutsu dos Nara, o líder dos Yuurei não estava restrito à curta e à média distância; e tampouco necessitava conectar a própria sombra à do alvo para somente então poder subjugá-lo. Ao que tudo indicava, Iori conseguia manipular sombras livremente, e isso lhe permitia executar ataques-surpresa mesmo com os alvos estando longe, como era o caso de Sasuke.

— Eu disse a você — Iori não fizera qualquer movimento com as mãos. — Escuridão é um conceito bastante amplo.

A mão direita de Sasuke, que empunhava a catana, virou-se na direção de sua garganta exposta.

— Droga...

— Adeus.

Sasuke mal teve tempo de visualizar o ambiente ao redor. A lâmina envolta em raios avançou rápida e precisamente, deslizando para dentro da madeira e partindo o tronco da árvore como se fosse papel.

Iori suspirou.

— Esse seu Rinnegan é realmente um estorvo.

O líder dos Yuurei encontrou Sasuke ainda mais recuado do que antes; quase no limite do seu campo de visão. Como não existia absolutamente nada por perto que Sasuke poderia ter usado para substituir-se, o Amenotejikara inverteu a posição de Sasuke com a primeira coisa que ele havia encontrado fora da área atingida pelo buraco negro: uma pequena árvore conífera no sopé da montanha ao norte.

Sasuke invocou novamente a forma perfeita do Susano’o. Sabia que sua maior probabilidade de causar algum dano efetivo, como antes, viria através de um ataque corpo a corpo. Porém, admitindo que Iori Kuroshini era capaz de manipular sombras à vontade, aproximar-se descuidadamente significaria a morte. Não posso ser pego naquilo outra vez, pensou Sasuke. Mesmo com as células do Primeiro, usar o Amenotejikara várias vezes é desgastante.

O Susano’o abriu as asas e alçou voo para frente.

— Isso mesmo, venha — disse Iori.

O Yuurei abriu os braços, fazendo o ar atmosférico distorcer-se em pequenos e múltiplos redemoinhos de massa escura; e espalhou-os ao longo do campo de batalha. Uma vez dispersados, os buracos negros, além de ampliarem o alcance do líder dos Yuurei, transformaram todo o ambiente num verdadeiro caos para Sasuke. O Susano’o se viu incapaz de locomover-se no ar; a gravidade desordenada atraía-o para múltiplas direções simultaneamente, junto com rochas inteiras, árvores, rios e toda a matéria encontrada nas montanhas ao redor. Tudo ia sendo repuxado ao ponto da disformidade por aqueles monstros de apetite insaciável; e quanto mais matéria os buracos negros ingeriam, maiores e mais poderosos ficavam.

Aquele poder gravitacional era simplesmente insuperável. O Susano’o estava a ponto de despedaçar-se, e Sasuke junto com ele. Sequer havia conseguido chegar perto de Iori Kuroshini.

O líder dos Yuurei acumulou energia negra na palma da mão e apontou-a para o Susano’o.

— Meiton: Jajimento (Estilo Escuridão: Julgamento).

Iori disparou uma rajada de energia fantasmagórica tão extensa quanto uma Bijuu Dama explodindo. O raio negro, imune às distorções gravitacionais, foi direto ao encontro do alvo. O Susano’o desapareceu nas trevas.

Para todos os Yuurei, aquela batalha estava mais do que encerrada. Mesmo assim, Suki queria ter certeza.

— Ele escapou? — virou-se para o companheiro Hyuuga.

Em um silêncio mórbido, Kioto respondeu apenas balançando a cabeça.

                                                                            ***

A luz do sol era fraca e distante, mesmo assim ele pôde encontrá-la. Fazia frio, muito frio à sua volta; e o incômodo de não estar vestido apropriadamente foi o que o trouxe de volta à realidade. Nem havia percebido que perdera a consciência por alguns instantes. Tudo acontecera tão depressa que não tivera tempo de se recuperar. A mente ainda processava o salto repentino.

— Onde eu...?

Viu-se no topo de uma montanha toda coberta de gelo, assim como tudo que existia naquele mundo glacial. Gotas de cristais brancos choviam insistentemente de um céu cinzento, e o vento norte soprava impiedoso. Ah, então estou aqui, não demorou a reconhecer o lugar. Pelo menos não caí na dimensão vulcânica.

O olho esquerdo doía demais. Apesar das células de Hashirama Senju implantadas no corpo, Sasuke Uchiha sabia que seu Rinnegan demoraria alguns bons minutos até estar totalmente recuperado. Até lá, estaria preso na dimensão glacial de Kaguya Ootsutsuki.

Pelo menos, o toque da neve era gentil em seu rosto.

Depois de vaguear por um tempo, finalmente encontrou abrigo entre as rochas. Uma vez lá dentro, Sasuke pôde, enfim, parar e ponderar toda a situação na qual se encontrava. Com o Rinnegan parcialmente recuperado, em tese, já poderia retornar ao seu mundo. Por outro lado, se voltasse ao País do Relâmpago, poderia se deparar novamente com Iori e seus Yuurei. Mas se saísse em outro lugar, então absolutamente ninguém poderia proteger a Vila Oculta da Nuvem daquela aberração que era Iori Kuroshini. Mesmo que àquela altura o Quarto Raikage já tivesse retornado, ele e seus homens não teriam qualquer chance.

Mas não fora pela Vila Oculta da Nuvem, pelas forças aliadas da União Shinobi nem nada do tipo que Sasuke aceitara aquela missão. A Quinta Hokage também não o constrangera a enfrentar o líder dos Yuurei sozinho. Tsunade o havia informado do iminente ataque à Nuvem e, em breve síntese, de todo o resto; mas havia sido o próprio Sasuke quem escolhera partir naquelas circunstâncias. Tinha seus próprios motivos para isso.

 Pensando neles, Sasuke desembainhou Kusanagi e a deitou sobre as pernas. A espada com escamas de serpentes talhadas na empunhadura trazia um brilho opaco no fio da lâmina, com manchas mais escuras do que o próprio material que compunha a espada. O sangue negro de Iori Kuroshini — o sangue negro da Besta de Zero Caudas —, era tão anormal que ainda estava fresco na lâmina apesar de tanto tempo já haver se passado.

A mão direita foi até o estojo de ferramentas, de onde Sasuke tirou um pequeno frasco transparente. As quinze Pílulas de Soldado especiais, das vinte que Kabuto Yakushi fizera para ele, estavam todas ali. Sasuke soltou um pesado suspiro. Da última vez em que tivera de apelar para aquelas drogas — na luta contra Dairama Senju —, os efeitos colaterais em seu corpo haviam sido devastadores e a recuperação lenta. E Sasuke consumira apenas cinco delas.

Mas Kabuto fabricara as Pílulas de Soldado justamente para aquele fim dramático e fatídico, para que Sasuke pudesse enfrentar o líder dos Yuurei. Este era o verdadeiro propósito delas. E ao contrário da missão na ilha Misuto, Sasuke agora tinha certeza de onde encontraria Iori Kuroshini.

— Cinco não serão suficientes — disse para si mesmo enquanto dedilhava o frasco à altura do rosto. — Mas se eu tomar tantas de uma vez...

Eu literalmente já vi a sua morte, lembrou-se do que lhe dissera Iori. Entendo, pensou Sasuke conformado. Não há outro jeito.

Ciente do destino que o aguardava, permitiu-se sorrir com brandura. Quando Sasuke havia deixado a Vila Oculta da Folha com a missão de interceptar o avanço Yuurei no País do Relâmpago, Iori Kuroshini ainda era uma grande e terrível abstração em sua mente. Porém, tendo confrontado o líder dos Yuurei e sido experimentado no fogo do combate, Sasuke agora possuía uma noção bem mais apurada e factível do monstro que iria enfrentar; e já não tinha mais medo.

Por outro lado, não era como se não tivesse arrependimentos.

— Kuchiyose no Jutsu — Sasuke invocou Senjumaru, um pequeno falcão mensageiro com asas cor-de-grafite e o resto da plumagem toda branca. A ave grasnou baixinho antes de empoleirar-se num de seus ombros.

Em seguida, Sasuke rasgou parte da capa preta, dividindo o pedaço de tecido cortado em outras duas partes menores. Com a primeira, colheu um pouco do sangue de Iori que estava na lâmina de Kusanagi. Isso será útil para a Hokage, para a Divisão Médica e a Inteligência, pensou ele, guardando a amostra dentro da bolsa que Senjumaru trazia nas costas.

Depois, Sasuke tirou o anel de noivado da mão direita e, cuidadosamente, embrulhou-o com o outro pedaço de tecido. Antes de confiá-lo de vez a Senjumaru, Sasuke ainda gastou alguns segundos olhando para a embalagem improvisada. De todos os seus arrependimentos, aquele, sem dúvida, era o mais doloroso.

— Queria que tivéssemos tido mais tempo, Sakura — fechou os dedos ao redor do anel embrulhado. — Eu deveria tê-la tornado minha esposa primeiro.

Após também guardar o anel, Sasuke fez um selo na mão direita e lacrou a bolsa com um pequeno jutsu de selamento, cuja chave era conhecida apenas por Sakura Haruno. Em seguida, usou o Rinnegan para criar uma pequena janela dimensional, onde, do outro lado, via-se o País do Fogo.

— Já sabe para onde ir — disse Sasuke ao falcão.

Senjumaru soltou um piado alto e agudo em resposta. Depois, a ave voou até sumir completamente pelo portal que se fechava.

Assim que a ave o deixou, Sasuke mordeu o polegar direito; e com o sangue da ferida, desenhou símbolos de um ritual de invocação no antebraço esquerdo. Muito bem. Hora de começarmos, pensou.

— Kuchiyose no Jutsu.

Uma risada cruel e reptiliana tilintou nos ouvidos de Sasuke. A cobra que emergiu da fumaça não possuía mais que dois metros de comprimento e tinha um corpo delgado e cilíndrico todo preto, com uma distinta cabeça em forma de caixão. Seus olhos eram duas orbes escuras.

— Dentre tantas opções, escolheu invocar justamente a mim... — a serpente silvou feroz e num piscar de olhos já havia deslizado para o pescoço de Sasuke, enroscando-se nele como que para sufocá-lo. — Sasuke Uchiha... você deve estar mesmo muito desesperado.

— Mamba.

A cobra aproximou-se e mostrou as presas para Sasuke, que via o veneno gotejar literalmente a milímetros de seu rosto. Dentre todas as serpentes da Caverna Ryuuchi, Mamba era quem possuía o temperamento mais difícil e imprevisível; exceto no que dizia respeito à sua agressividade e ao seu veneno altamente letal. Para piorar, Mamba nutria um ódio particular por seres humanos... e por Sasuke Uchiha em especial.

— O que você quer?

— Vou enfrentar um inimigo bem poderoso. Preciso da sua ajuda para matá-lo.

A cobra silvou uma risada.

— Talvez eu deva entregá-lo a esse seu inimigo e ir embora — disse Mamba. — Ou então, eu posso matá-lo aqui mesmo.

É verdade, Sasuke pensou. Conhecendo você, é bem capaz de que faça uma coisa ou outra. Por isso nem Orochimaru nem Kabuto confiavam em você, e evitavam chamá-lo a todo custo.

Porém Sasuke não respondeu nada de imediato. Se o fizesse, provavelmente seria atacado pelo mais mortífero dos venenos que a Caverna Ryuuchi poderia oferecer. As habilidades de Mamba permitiam-no produzir venenos específicos para qualquer tipo de alvo; e eram substâncias tão concentradas, que, segundo Orochimaru, uma gota do veneno de Mamba já possuía toxinas suficientes para matar cem pessoas.

Mas não era só isso. Também de acordo com Orochimaru, Mamba possuía o bote mais rápido e preciso dentre todas as serpentes que habitavam a Caverna Ryuuchi, sendo capaz de atacar sua vítima e voltar à posição inicial em um décimo de segundo. E ao contrário do gigantesco Manda, que Sasuke pôde manipular com seu Sharingan, Mamba, que era cego de ambos os olhos, estava totalmente fora do controle de Sasuke. E ele tem o meu pescoço, avaliou.

Mamba pôs a língua negra e bifurcada para fora.

— Não sinto o cheiro de medo em você — a língua tateava o ar em volta do rosto de Sasuke — mas sinto raiva, muita raiva... e tristeza também.

— Tenho bons motivos para estar assim.

— Então é verdade — disse Mamba com a cabeça parada entre os olhos de Sasuke. — O moleque arrogante precisa mesmo de ajuda.

— Sim.

A resposta monossilábica havia sido calma e firme, como já se poderia esperar de Sasuke Uchiha. Mesmo assim, Mamba percebera algo diferente desta vez; e fora exatamente esse detalhe sutil na voz de Sasuke que despertara sua atenção. A cobra rodeou a cabeça de Sasuke, examinando-o meticulosamente.

— Esse seu inimigo poderoso... — balbuciou Mamba em curiosidade — quem ele é?

— O líder dos Yuurei.

A serpente pareceu sorrir com aquela resposta.

— Eu ouvi falar — disse Mamba. — O usuário de Meiton. Conte-me o que sabe sobre ele.

Em poucas palavras, Sasuke contou a Mamba sobre o Rinnegan, o Doujutsu da Premonição e todas as habilidades que o Estilo Escuridão já havia manifestado. Sasuke também falou sobre o, até então, misterioso vínculo que Iori Kuroshini tinha com a Progenitora do Chakra, Kaguya Ootsutsuki; e com Reibi, a Besta de Zero Caudas.

— Uma Bijuu que não provém do Dez Caudas... — Mamba silvou pensativo. — Aí está algo que não se vê todo dia. Tem certeza disso?

Sasuke fez que sim.

— Pude confirmar três coisas até agora — disse, sombrio. — A primeira, que tínhamos uma ideia limitada do que é o Meiton. A segunda, que Iori Kuroshini e o Zero Caudas são uma coisa só. E a terceira... — estendeu Kusanagi manchada de sangue — que o Estilo Escuridão pode ser afetado por si mesmo.

Mamba virou a cabeça em direção à catana e mostrou as presas envenenadas. O cheiro de Kusanagi lhe era simplesmente repugnante.

— Isso é...

— Meiton sintético. Um presente do Orochimaru — disse Sasuke, sorrindo. — E essa coisa preta viscosa é o sangue de Iori.

— Entendo. Por isso me chamou.

Sasuke assentiu.

— Custe o que custar, Iori Kuroshini morre hoje; e o Zero Caudas vai com ele — estreitou os olhos, resoluto. — Com isso, Naruto estará livre; e mesmo que o Zero Caudas acabe ressuscitando como fazem as outras Bijuu, os Yuurei ainda terão o trabalho de refazer todo o selamento. Mas não poderão.

— Por que diz isso?

— Porque Naruto já terá vencido Mira Uzumaki — disse Sasuke firmemente. — Sem a vice-líder, os Yuurei não podem anular os poderes do Naruto.

— É tão estranho te ver pensar em algo que não seja vingança — Mamba comentou sarcástico, afrouxando o nó no pescoço de Sasuke e endireitando-se diante de seu rosto. — Muito bem, Sasuke Uchiha, suponhamos que eu te ajude... como espera vencer?

— Tenho um plano, e já comecei a executá-lo — respondeu Sasuke friamente. — Mas preciso da sua força para concluí-lo.

Mamba semicerrou os olhos, desconfiado.

— Fale.

Sasuke contou tudo detalhadamente. Mamba, que ficara tão imóvel quanto uma estátua, escutou o plano em silêncio; e só mostrou algum sinal de vida após Sasuke terminar as explicações.

— Isso é loucura — criticou Mamba. — Você morrerá, e não será uma morte rápida nem indolor. Não que eu me importe.

— Não morrerei assim — retrucou Sasuke, baseado exclusivamente em sua própria vontade. — Pode fazer isso?

A mamba-negra sibilou ofendida.

— É claro que posso — dirigiu a cabeça para o pescoço de Sasuke. — Pegue logo suas pílulas, garoto.

Sasuke assim o fez. Com o frasco aberto, virou-o todo na boca, usando a língua e outros músculos bucais para empurrar todas as quinze Pílulas de Soldado goela abaixo de uma só vez. Após ingeri-las, Sasuke sinalizou para Mamba.

O bote havia sido tão rápido que a dor no pescoço só veio minutos depois; e logo em seguida, a visão meio turva, o corpo febril e uma terrível dor no estômago. Foi por muito pouco, mas Sasuke conseguiu conter a vontade de vomitar.

— Já está começando — disse Mamba calmamente.

Sasuke podia sentir o poder de Mamba fluindo através da picada para o resto do corpo, misturando-se ao seu chakra aumentado várias vezes graças às Pílulas de Soldado e às células de Hashirama Senju. É muito mais intenso do que antes, pensou. Meu corpo parece que vai desfarelar.

— Por quanto tempo seu soro vai funcionar? — perguntou Sasuke, observando sua pele ganhar uma pigmentação mais escura do que o normal.

— Não se preocupe — respondeu Mamba com acidez. — Não sentirá nenhum efeito colateral daquelas pílulas por pelo menos uma hora; mas é melhor já ter acabado com o usuário de Meiton quando eles começarem — alertou a serpente. — Do contrário... bom, você já sabe.

Sasuke assentiu, soturno. Àquela altura, sua pele já estava toda cinza-escura, com uma marca negra atravessada na ponte de seu nariz. Seus lábios assumiram um tom azulado e as unhas haviam crescido como garras de um animal. O cabelo — que se tornara também azul espetado — havia crescido até a altura da cintura.

Uma aparência grotesca e muito familiar para Sasuke Uchiha.

— Para nossa sorte, seu corpo já conheceu o poder do Selo Amaldiçoado do Orochimaru; e com essas células de Hashirama Senju em você, sua adaptação será ainda mais rápida — disse Mamba, satisfeito. — O soro que injetei imita o Juinjutsu (Técnica do Selo Amaldiçoado), mas é um poder de curta duração — explicou, ainda, a cobra. — Sua aparência voltará ao normal assim que o efeito dele passar.

— E junto com ela, virão os efeitos colaterais das Pílulas de Soldado.

Mamba deu um sorriso.

— Precisamente.

— Certo — deu de ombros. — Sua vez.

Sasuke estendeu a lâmina de Kusanagi para Mamba. A cobra silvou, claramente incomodada, mas acabou provando o sangue negro de Iori Kuroshini. Depois, Mamba deslizou o corpo para dentro da gola de Sasuke, escondendo-se entre suas roupas.

— De quanto tempo precisa?

— Não muito. Venenos são mais fáceis de produzir — respondeu Mamba, que acrescentou com uma pontada de incerteza: — Se tudo sair como planejou e esse Iori morrer mesmo, você ficará completamente vulnerável no fim da batalha... — observou a cobra. — Como espera lidar com os outros Yuurei?

O silêncio de Sasuke foi, em si, uma resposta.

— Entendo — disse Mamba.

O tempo já era chegado. Com seu Rinnegan totalmente restabelecido e o corpo adaptado a todo o poder recém-acumulado, Sasuke Uchiha embainhou Kusanagi à cintura e desfez-se da capa negra. Imediatamente, algo como duas massas escamosas romperam a parte posterior de sua camisa, abrindo-se feito asas gigantes, parecidas com mãos humanas. Os “dedos” eram todos interligados por membranas.

— A transformação está completa — disse Sasuke, usando o Rinnegan para abrir um portal de volta às montanhas do País do Relâmpago.

— Vamos indo — sibilou a serpente. — E lembre-se, Sasuke Uchiha, você tem uma hora.