O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 123
Encruzilhadas do destino - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Nota inicial: não havia planejado dividir este capítulo em duas partes, mas ele ficaria gigantesco. Sorry not sorry.


Olá a todos! Boa noite!

Sexta-feira, um calor do cão aqui no Hell de Janeiro... a única coisa que está fresquinha é o capítulo.

Obs.: alguém aqui lê Boku no Hero Academia e/ou Jujutsu Kaisen?


Boa leitura a todos o/



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— Um mapa? — o dono do quiosque coçou a cabeça pensativo, desconfiado e, acima de tudo, perplexo. Vivia à beira-mar desde que se entendia por gente e já escutara as histórias de pescadores mais absurdas, e por não ser nenhum garoto já vira e ouvira muita coisa estranha no mundo ninja. Mas aquela era a primeira vez que conversava com um sapo. — Não tenho nada do tipo, é, hã... desculpe, como devo chamá-lo mesmo?

O sapinho verde entornou o resto da garrafa de saquê garganta abaixo.

— Fukasaku-sama, ou apenas de Chefe — o velho sapo limpou a boca, satisfeito.

— Entendido, hã... Fukasaku-sama — disse o homem incerto, com um relance para o companheiro de viagem do sapo, o homem alto de capuz, que não fizera qualquer outra coisa senão ficar sentado olhando sem parar na direção da ilha longínqua. — Bom, acho que vocês não acharão o que procuram em lugar nenhum por aqui. Há anos que ninguém se atreve a ir lá.

Enquanto falavam, pescadores que vinham da praia sentaram-se à mesa de madeira mais próxima. Sete ao todo, a maioria jovens adultos; outros dois eram meninos de doze ou treze anos e, por fim, um homem grande, enrugado e experimentado no mar. Este viera mancando na perna direita. Um dos jovens gritou pelo “o mesmo de sempre” ao quiosqueiro enquanto o grupo conversava entre si.

— Ninguém se atreve? — estranhou Fukasaku, mas não tanto.

O dono do quiosque assentiu pesadamente, enquanto preparava o pedido dos clientes recém-chegados.

— É um lugar amaldiçoado, aquele.

— Engraçado — Fukasaku pestanejou —, todos dizem a mesma coisa. Falam que a ilha é uma terra de demônios.

— Porque é verdade, Fukasaku-sama! — ratificou o quiosqueiro. — Mas não é só isso. Tem também o...

— ... Terror Escarlate — intrometeu-se o pescador mais velho, com voz seca e desgostosa. — O espírito guardião do País do Redemoinho. Uns pensam que é um fantasma, outros que é uma bruxa do mar. Tudo que sei é que aquilo tem a forma de uma mulher.

Por um momento, o companheiro encapuzado de Fukasaku desviou sua atenção da ilha.

— Mulher? — Fukasaku arqueou a sobrancelha; o pescador não parecia surpreso por se dirigir a um sapo. — Deixe-me adivinhar: roupas pretas e cabelo ruivo?

O pescador deu uma risada gutural.

— Por que acha que a chamamos de Terror Escarlate, velho amigo? Sim, ela é ruiva! Quer conhecê-la?

— Não me interprete mal, sou muito bem casado — Fukasaku deu um risinho —, mas adoraria conhecer essa mulher, ou melhor, esse fantasma chamado Terror Escarlate.

— Não sabe o que procura...

— Pelo contrário, acho que sabemos exatamente o que estamos procurando — e olhou rapidamente para o companheiro de viagem.

O dono do quiosque retornou com o pedido do pescador.

— Kishimoto-san foi o único homem a se deparar com o Terror Escarlate e escapar com vida — disse-lhes orgulhosamente, indicando o velho pescador. — Embora isso tenha lhe custado caro.

Fukasaku então percebeu que no lugar da perna direita do homenzarrão havia um pedaço de pau.

— Foi ela? — perguntou ao homem chamado Kishimoto.

— Um presente — o pescador riu sem graça. — Acho que o Terror Escarlate não gosta de homens como eu.

— Como assim?

Kishimoto mordeu um belo pedaço de carne, chupando os dedos devagar.

— Intrusos, velho amigo.

— Quando mais jovem — um dos rapazes se aproximou —, papai e alguns amigos foram até a ilha. O País do Redemoinho já tinha a fama de ser um lugar desgraçado por causa da tragédia do clã Uzumaki. Muitos barcos partiram para lá e nenhum havia retornado. Mas papai foi mesmo assim...

— Acha que pode entrar em conversa de adultos só porque criou barba, garoto? Ter pelos na cara não é o mesmo que ser um homem! — repreendeu Kishimoto; e virou-se para Fukasaku. — Mas o moleque está certo. Foi mais ou menos isso.

— O que viu lá?

Kishimoto fez uma careta.

— Tempestades, vendavais e, adivinhe, redemoinhos no mar. Se algum barco não afundasse com aquilo, certamente seria arremessado contra as rochas antes de ter alguma chance de chegar à praia — suspirou. — Mas, por ironia do destino, meu barco conseguiu atravessar.

— E o que aconteceu?

O rosto do pescador enrijeceu. Kishimoto olhou firme para Fukasaku e, com um sorriso azedo, começou a assobiar: zum, zum, zum. Fukasaku franziu a testa com ar de dúvida.

— Não me esqueço do barulho até hoje — disse Kishimoto sombrio —, o ruído daquelas correntes... elas vieram do nada, uma atrás da outra. Zum, zum, zum, era tudo o que ouvíamos entre a neblina. E quando dei por mim, só eu havia restado do meu grupo. Foi aí que ela apareceu.

— O Terror Escarlate?

Kishimoto fez que sim.

— Sabe, é engraçado quando conto essa história — disse o pescador —, e há quem me chame de maluco por pensar assim, mas quando a vi pensei várias coisas, menos em “Terror” — pigarreou. — Aquela mulher, aquele fantasma... seja lá o que for, não me deixou com medo. Eu fiquei mais...

— Admirado — completou o companheiro de Fukasaku, juntando-se à mesa. Kishimoto mostrou-se surpreso e, então, assentiu com a cabeça.

— Ela parecia um espírito entre a neblina, mas tenho certeza de que era de carne e osso — continuou o pescador. — O cabelo, longo e vermelho, era como um véu de sangue; e aqueles olhos azuis, ah, eu me lembro bem... frios e duros, me encarando com desprezo. A voz era bonita, mas amarga, e me disse exatamente estas palavras: avise aos demais; esta terra pertence ao clã Uzumaki e nenhum estrangeiro pisará aqui outra vez. Depois disso, a mulher simplesmente desapareceu.

— E quanto à sua perna? — perguntou o encapuzado.

— Eu disse que ela tinha desaparecido, não que tinha ido embora; e fui idiota o bastante para não obedecer — Kishimoto serviu-se de saquê. — Vi meus amigos boiando na água, com aquelas correntes atravessadas em seus pescoços, e simplesmente quis matar a desgraçada. Saltei na água e corri até a areia, berrando para que a covarde aparecesse — sua risada saiu seca e mórbida. — Foi o que ela fez. Vi as correntes de novo... e a mulher... ela me tocou bem aqui.

Kishimoto ergueu a camisa e mostrou-lhes uma marca preta na altura do coração. Fukasaku e o companheiro trocaram olhares.

— Ela falou que eu não a veria mais — acrescentou Kishimoto. — Então, aquelas correntes estranhas me jogaram dentro do barco e a correnteza, do nada, me puxou de volta para o oceano.

— Mas você a viu, não foi? — o encapuzado apontou para o toco na perna do pescador.

— Tentei — admitiu Kishimoto. — Eu estava obcecado para matá-la, e até cheguei a reunir muita gente do vilarejo para isso — cuspiu no chão. — Mas fui amaldiçoado, rapaz, e a maldição dela me fez isso — deu tapinhas na perna de pau. — Um pouco antes de embarcarmos, essa coisa no meu peito correu para a minha perna e a pintou de preto na hora... e quando voltou para o lugar, só lembro de estar gritando no chão do barco. Depois desse dia, ninguém desse vilarejo ousa ir até lá.

O homem encapuzado balançou a cabeça e se levantou. Kishimoto acompanhou-o com os olhos, curioso. Quem fosse aquele homem, parecia gostar de observar a ilha amaldiçoada do clã Uzumaki.

— O País das Ondas fica perto... — comentou o encapuzado de costas para a mesa, estudando o horizonte. — Reúnam alguns homens e vão até lá. Procurem por um homem chamado Tazuna, ou então o neto dele, Inari, e digam para evacuarem o país pela Ponte Naruto e se protegerem no País do Fogo.

— Do que diabos você está falando, rapaz?

— Uma briga muito feia está para acontecer lá — disse o encapuzado. — Não quero que nenhum inocente seja envolvido nela. Eu protegerei o País do Fogo e o País das Ondas nos lados mais próximos do País do Redemoinho. Mas por favor, partam imediatamente.

— Partir? Briga? Do que está falando? — Kishimoto se remexeu na cadeira, impaciente. — E quem é você?

O viajante removeu o capuz e se virou para Kishimoto, que arregalou os olhos no mesmo instante.

— Só pode ser brincadeira... — o queixo de Kishimoto quase caíra.

— É o Naruto Uzumaki! — com um grito agudo, um dos garotos apontou-lhe para os irmãos, os quais, do menor ao maior, correram até Naruto, ainda sem acreditar no que estavam vendo. Num instante, Naruto estava completamente cercado não só pelos filhos de Kishimoto, mas por outros curiosos que, passando, reconheciam-no imediatamente.

— Caramba! É ele mesmo! — disse um.

— O Herói do Mundo Ninja em pessoa! — outro, inconveniente, tocava-lhe as roupas. — Eu não posso acreditar!

— Disseram que tinha desaparecido...

—  Naruto, me dê alguma coisa — pediu um dos garotos. — Preciso mostrar aos meus amigos.

Enquanto Naruto se virava para atender a todos, Fukasaku sorriu distante. A impressão era de que haviam feito todos esperarem mais do que o suficiente. Por isso achou graça em Naruto se revelar àquelas pessoas. Fora um gesto pequeno, mas ao mesmo tempo tão significativo. Era o homem mais conhecido, o herói mais admirado de todo o mundo ninja; e, especialmente em sua terra natal, o País do Fogo, o rosto de Naruto Uzumaki significava esperança.

— Vamos derrotar o Terror Escarlate — disse Fukasaku para Kishimoto.

O pescador balançou a cabeça, como se tivesse saído de um transe.

— O quê? Oh, sim, sim — ajeitou o corpo, pôs-se de pé e gritou acima de todas as vozes: — Ei, seus molengas! O que estão esperando? Não ouviram nosso herói? Para os barcos! Agora!

 

 

 

 

O primeiro passo fora invocar do Monte Myoboku exatos vinte e dois de seus clones que estavam armazenando chakra para Senjutsu. Após isso, Naruto dividiu-os em dois grupos de onze. Um seria responsável pela costa do País do Fogo enquanto o outro seguiria na direção do País das Ondas via terra através da Grande Ponte Naruto. Os pescadores haviam partido na frente, levando sua mensagem para Tazuna e Inari. Com sorte, o pequeno e pouco povoado País das Ondas seria evacuado até o anoitecer.

— Kuchiyose no Jutsu — o Naruto original tocara a palma no chão. Fukasaku coçou o cavanhaque com ar de incerteza.

— Trazer todo o esquadrão de barreira do Monte Myoboku de uma vez? — questionou. — Francamente, Naruto-chan, não acha que está sendo um tanto exagerado?

Naruto fez um sinal com as mãos e metade dos clones foi consumida de uma vez. Enquanto toda aquela energia era canalizada dentro de seu corpo, Naruto acenou para os sapos, os quais, também já divididos em duas equipes, posicionaram-se lado a lado ao longo da praia. A outra equipe de sapos se colocou atrás da linha protetora, junto com Fukasaku e os demais clones de Naruto.

Sem perder tempo, Naruto, após sequenciar os selos necessários, bateu as duas palmas das mãos. Os sapos em linha imitaram seu movimento.

— Senpou: Shisekiyoujin (Arte Sábia: Quatro Formações Vermelhas Yang) — Naruto e os sapos disseram em uníssono.

A muralha vermelha percorreu a costa de fora a fora por centenas de metros. Era pelo menos quatro vezes mais alta do que a Besta de Dez Caudas em sua terceira forma, e larga o suficiente para proteger o litoral do País do Fogo de um maremoto. Fukasaku estava realmente surpreso por Naruto utilizar uma técnica de barreira daquele nível de dificuldade — e com tamanha proeminência, ao ponto de transformar uma formação de barreira cúbica, como a Shisekiyoujin, em uma parede plana e estendê-la ao longo da costa —, mas não podia estar mais preocupado. Ainda que com o auxílio das equipes do Monte Myoboku, manter aquela barreira de pé em dois lugares distintos simultaneamente exigiria um nível altíssimo de concentração do próprio Naruto.

De concentração e, principalmente, chakra.

— Sei que está tentando proteger a todos, Naruto-chan — o velho sapo vislumbrou o muro vermelho filtrando a luz solar no céu —, mas achei que o plano fosse guardar os clones para a luta contra Mira Uzumaki.

— A luta contra Mira já começou, Vovô Sábio.

— O que quer dizer?

Naruto se dirigiu primeiramente aos seus clones:

— Um de vocês levantará a barreira; os outros dez, desfaçam o jutsu. Redistribuirei o chakra para o clone responsável pela barreira — depois falou para a outra equipe de sapos. — Façam o mesmo quando chegarem ao País das Ondas. Conto com vocês para manter a barreira estável.

— Não se preocupe, Naruto — disse o chefe da equipe de sapos. — Lute sossegado e deixe o resto conosco.

Quando ficaram sozinhos na praia, Naruto, finalmente, virou-se para responder à pergunta de Fukasaku.

— Mira não vai se importar com danos colaterais, ela quer destruir o mundo de qualquer jeito — disse Naruto seriamente. — Mas eu estou aqui para salvá-lo.

— Entendo, mas gastar vinte e dois de seus clones para Senjutsu antes mesmo de encontrar o inimigo pode ter sido uma decisão precipitada, Naruto-chan — protestou o sapo.

— Preciso deixar as duas barreiras o mais resistentes possível — explicou Naruto. — Não posso arriscar, Vovô. A luta pode tomar proporções inesperadas.

— Vamos lutar em uma ilha isolada no meio do mar... — Fukasaku pestanejou. — Espera tanta destruição assim, Naruto-chan?

— O último Yuurei que Sasuke matou era o Número Cinco, um Senju que fez a ilha Misuto se levantar. Vou enfrentar a Número Dois, e se quero proteger a todos, então não posso medir esforços — respondeu Naruto.

Ditas essas palavras, Naruto deu as costas ao sapo e fixou o olhar novamente para o País do Redemoinho ao longe. Fukasaku entendeu que não haveria mais discussão. Não adianta, quando ele mete algo na cabeça é quase impossível convencê-lo do contrário, pensou o velho sábio. Espero que saiba o que está fazendo, Naruto-chan.

Mas no fundo, Fukasaku tinha certeza de que Naruto sabia bem o que estava fazendo. O Herói do Mundo Ninja agira consciente e calmo, muito seguro de sua decisão; e isso às vésperas de sua luta mais importante contra os Yuurei até ali. A aura de Naruto Uzumaki exalava confiança, serenidade e, acima de tudo, concentração.

Isso foi suficiente para convencer Fukasaku. Tinha fé em Naruto Uzumaki, a Criança da Profecia que se provara o salvador do mundo Shinobi mais de uma vez. Aquela não seria diferente; e por uma razão que ele próprio não sabia explicar, Fukasaku estava convicto de que um Naruto desconhecido apareceria diante da vice-líder dos Yuurei. Mesmo que Mira Uzumaki o estivesse estudado a fundo, Naruto Uzumaki sempre surpreendia seus adversários, por mais preparados que fossem. E, sendo este o caso, então Mira havia perdido tempo tentando prever o imprevisível.

O velho sapo deixou escapar um sorriso confiante.

— Muito bem, garoto. Mas recomendo que poupe suas energias agora. Pode deixar que eu invoco a Mãe.

Naruto fez uma careta incerta.

— Disse que a Vovó tinha recebido nossa mensagem.

— Sim — o sapo assentiu confortavelmente. — Não se preocupe. Ela vai nos trazer o pergaminho.

— Aquele que nós... — Naruto falou retraído — bom, esquecemos.

Só então Fukasaku entendera onde Naruto queria chegar. De repente, o velho e destemido sapo via-se suando frio enquanto uma sensação de tremedeira subia por suas pernas até a espinha.

— Tomara que Mãe esteja de bom humor.

 

 

                                                                            ***

 

 

Quando terminou todo o trabalho, Mira tratou de recolher suas coisas o mais depressa possível. O espelho desaparecera numa explosão de fumaça, assim como o altar do ritual.

O corpo do Kazekage caiu estirado no chão com um baque abafado.

— Vai deixá-lo aqui mesmo? — indagou o Shinigami.

— Sim — respondeu Mira, virando-se. — Não preciso levá-lo comigo. Uma vez que já tenho parte do chakra dele selada, posso terminar o ritual de transferência a distância. Além disso, se eu sequestrar o Kazekage, Iori me mandará matá-lo imediatamente; e preciso dele vivo.

— Eu sei, pirralha! Mas não acha que é arriscado? A Areia deve ter seus especialistas em Fuuinjutsu também.

Mira negou com a cabeça.

— Tomei cuidado para deixar a fórmula bem protegida. Sem a chave, é quase impossível desvendar a combinação.

— Quase — frisou o Shinigami —, mas suponhamos que haja alguém capaz de travar a sua técnica. Todo esse seu plano vai por água abaixo, e aí...

Mira parou de andar e olhou friamente para trás.

— Iori não terá o Naruto. De jeito nenhum.

Por que os malditos Uzumaki são sempre assim, tão teimosos?, murmurou o Shinigami.

A Donzela Celestial se aproximou do Shinigami.

— O que meu irmão está tentando dizer, Mira-hime, é que talvez Iori Kuroshini não se contente em ter o Kazekage como novo receptáculo — explicou a Donzela Celestial suavemente. — Embora também seja um Jinchuuriki perfeito, não há garantias de que ele suportará a transferência das Nove Bijuu e do Zero Caudas.

Mira olhou para Gaara por um instante.

— A vida do Naruto é inegociável para mim — disse a Yuurei. — Se o Kazekage não servir, ainda tenho outra alternativa.

O Shinigami e a Donzela Celestial trocaram olhares receosos.

— Mira-hime...

— Iori jamais o recusaria — garantiu Mira Uzumaki. — Sasuke Uchiha possui o chakra do Rikudou Sennin, assim como Naruto.

— Mas não é um Jinchuuriki e você sabe bem disso, pirralha — repreendeu o Shinigami. — Não poderia afetá-lo como fez com Naruto Uzumaki.

— O que significaria ter de derrotá-lo diretamente em uma luta, Mira-hime — completou a Donzela Celestial. — Mesmo o seu Fuuinjutsu não é imune ao Sharingan e poderia ser copiado.

Mira olhou com dureza.

— O Sharingan não é invencível e posso contorná-lo — disse a Yuurei. — Depois da morte da minha irmã, gastei anos desenvolvendo uma técnica que não pode ser copiada.

A Donzela Celestial assentiu vagamente. As duas sabiam que o ataque da Nove Caudas à Folha, o qual vitimara Kushina Uzumaki, nunca fora acidental e sim provocado. E Mira, que juntara todas as peças, sabia que o assassino possuía o Sharingan. Infelizmente, a caçada ao responsável nunca lhe rendera frutos; e quando Mira descobriu a autoria do ataque, Obito Uchiha, o falso Madara, já estava definitivamente fora de seu alcance.

— Mesmo assim, você está se colocando em perigo, pirralha — advertiu o Shinigami. — Sua subordinada já desconfia de você. Se o líder também o fizer...

— Não somos páreos para Iori Kuroshini, Mira-hime — a Donzela Celestial falou cautelosa —, e nem você. Por favor, não seja imprudente.

Mira ponderou por um momento. Iori e ela já foram tidos como a dupla mais entrosada da organização. Minha vontade é uma só com a de Iori, dissera uma vez. Porém agia pelas costas do Líder dos Yuurei, deixando-o o mais longe que conseguia de Naruto; e Iori já a havia torturado diante dos demais membros quando Mira, num deslize, deixara sua emoção falar mais alto do que deveria. Agora, estava até considerando a possibilidade de lutar contra o próprio parceiro, o mesmo a quem confiara seu futuro e de quem esperava a realização do Banbutsu Souzou no Jutsu.

Olhando para trás, todo aquele entrosamento que tinham entre si parecia ser uma grande ilusão de óptica. Eu me enganei de novo e só agora percebi?, perguntou-se.

Mira concluiu que não. Talvez as mudanças tivessem acontecido de maneira gradual e sutil, sem que ela própria, percebesse. Duas coisas, entretanto, estavam muito claras para Mira Uzumaki: a primeira, que nada mais era como antes, quando decidira seguir Iori e se juntar aos Yuurei; e a segunda, que tinha tudo a ver com Naruto. Sempre fora por causa dele.

Sentiu que perdera tempo demais pensando quando o toque de um dos Eremitas veio sobre seu ombro. A criatura cochichou-lhe em seu ouvido e Mira arregalou os olhos.

— O quê?! — disse sobressaltada.

— Sentimos duas perturbações surgindo na costa do País do Fogo e na ilha vizinha, o País das Ondas — disse o Eremita do Sul. — Barreiras, Mira-sama. Barreiras poderosas.

— A quantidade de chakra gasto sugere que alguém de nível Kage as levantou. Pensávamos que a Hokage tivesse liberado seu Byakugou no Jutsu, mas esta é uma possibilidade improvável — acrescentou o Eremita do Norte. — Eu diria que há, no mínimo, dois esquadrões envolvidos. Mas...

Mira estreitou os olhos.

— Mas...?

— A frequência de chakra ainda é uniforme.

— Esperem aí — protestou o Shinigami. — Estão nos dizendo que apenas um indivíduo ergueu essas duas barreiras?

Os Eremitas do Norte e do Sul balançaram as cabeças de maneira idêntica.

— É difícil aferir estando longe, irmão, mas é uma possibilidade.

— E como não há qualquer chance de uma Besta de Cauda ter tido participação nisso, o que resta é ter sido obra de outro Uzumaki, de um mestre em Senjutsu ou...

— As duas coisas — Mira terminou a frase. Então você chegou, Naruto, pensou consigo.

A Donzela Celestial se achegou à sua senhora.

— Sei que precisa enfrentá-lo, Mira-hime, mas os Yuurei também estarão em marcha amanhã — havia receio na voz da criatura. — E o novo integrante deve ser apresentado ainda hoje...

— Não tenho tempo para burocracias! — arguiu Mira urgentemente. Sabia que sua escolha a distanciava ainda mais de Iori e da alta cúpula dos Yuurei, deixando-a praticamente isolada dentro da organização. Suki vai adorar tudo isso, pensou. — Eu preciso me preparar. Que Iori receba o novato...

Mira parou de falar e, subidamente, verificou os dois flancos e a dianteira. Droga, me esqueci deles. Fomos encontrados.

— São os rastreadores da Areia — a Donzela Celestial deduziu a partir da expressão de Mira. — Estarão aqui em breve.

— Ótimo! — o Shinigami brandiu a foice. — Então vamos acabar com eles, pirralha. Pode usá-los como aquecimento para sua luta com Naruto.

Mira deslizou os dedos no ar em um movimento vertical.

— Não. Partirei agora — o portal de trevas se abriu diante deles — e vocês vêm comigo.

Não houve espaço para discussão, apenas uma queixa sobre a teimosia dos Uzumaki e, depois, o silêncio.

 

 

                                                                            ***

 

 

O Esquadrão Dois, liderado por Maki, da Divisão de Selamento da Areia, havia sido o primeiro a localizar um sobrevivente.

— É o Kankuro-taichou! — gritara-lhes Yaoki, o ninja sensorial de sua equipe.

Caído, derrotado, inconsciente, ferido, envenenado, mas vivo. Fora assim que o encontraram. Korobi, o membro da Divisão Médica, fizera os primeiros socorros e lhes havia garantido de que o ferimento na barriga — o mais grave de Kankuro — não era fatal; e que, felizmente, um dos antídotos que trouxeram consigo servia justamente para o veneno utilizado pelo inimigo. Em poucas palavras, Kankuro estava fora de perigo.

— Vamos recolher todas as marionetes dele — Maki falou a Reki, Yaoki e Satetsu, enquanto Korobi cuidaria exclusivamente de Kankuro —, elas podem ter alguma informação importante.

— Entendido! — Reki e Yaoki começaram o trabalho imediatamente. Satetsu, o vice-capitão do time, deteve-se com Maki mais um pouco.

— É estranho que os três tenham se separado — comentou Satetsu discretamente. — Kazekage-sama gostava de ter sempre os irmãos por perto, e os dois jamais o abandonariam.

Maki deu um relance para Kankuro e virou-se para responder.

— Sim. Mas considerando tudo isto — passou os olhos pela destruição ao redor —, estou convencida de que o inimigo era um Yuurei. Um bem forte, por sinal.

— Concordo. Kazekage-sama deve ter afastado os irmãos para lutar usando o Shukaku — Satetsu afagou os pelos do cavanhaque, pensativo. — Mas por que Temari-taichou não está aqui também?

Maki olhou novamente para Kankuro. Desta vez, demorou-se em observá-lo. Maki não era nenhuma ninja médica, mas suspeitava de que Kankuro não acordaria antes que pudessem retornar à vila.

— É difícil saber em detalhes o que houve aqui, pelo menos por enquanto. — disse ela. — Tomara que os outros tenham mais sorte do que nós e encontrem a Temari-taichou e o Kazekage-sama.

Como que por coincidência, Reki se aproximou com o rádio auricular. Pela expressão em seus olhos, Maki entendeu que ele trazia uma boa notícia.

— O Esquadrão Um acabou de reportar — abriu um sorriso aliviado. — O Kazekage-sama foi encontrado! Ele está bem.

 

 

 

 

Ao terminar de prestar os primeiros socorros, Sari limpou o suor da testa e suspirou.

— Gaara-sama só tem hematomas e alguns ferimentos superficiais — relatou a jovem ninja médica aos companheiros. — A armadura de areia assimilou em muito os danos.

— É realmente impressionante que o Gaara-sama tenha saído dessa só com alguns machucados. Olhem só para tudo isso à nossa volta... — Shira, tido como o melhor usuário de Taijutsu da Areia daquela geração, esboçou um sorriso pacato. — Como esperado de nosso Kazekage.

Disse isso e imediatamente se virou para a líder do esquadrão, mas não encontrou nada do que imaginara.

— Você deveria estar mais animada — observou Shira, mudando o tom.

— Havia outras cinco pessoas aqui — Matsuri desconversou enquanto tentava captar a presença do inimigo novamente, mas viu que era impossível; os rastros terminavam bem ali. Desapareceram instantaneamente com um jutsu de espaço-tempo, concluiu.

Entrementes, Sari ainda examinava Gaara. Vasculhara o peito desnudo, os braços, o pescoço e a cabeça do Kazekage diligentemente em busca de outros ferimentos. E deteve-se quando seus dedos estavam sobre a nuca de Gaara.

— O que é isso? — o tom hesitante despertara a atenção de Matsuri e dos demais, que foram checar a descoberta quase todos de uma vez.

— Uma marca de selamento, mas esse padrão... — Mikoshi franziu a testa e ajeitou os óculos para ver melhor. — Eu não o reconheço de nenhum lugar.

— Pode ser uma armadilha — sugeriu Ittetsu, erguendo o rosto para encarar Matsuri. — Talvez devêssemos esperar a Maki-senpai chegar aqui para nos dar um parecer mais preciso.

Matsuri fez que não.

— Seremos nós a nos encontrarmos com o grupo da Maki-san — disse. — De acordo com o Esquadrão Dois, Kankuro-san está fora de perigo, porém está em um estado mais grave do que o Gaara-sama. Além disso, nossa posição é a mais afastada da vila. Não faz sentido trazê-los aqui — virou-se para Sari. — Está tudo bem em levá-lo assim?

— Está — respondeu a médica —, e ficarei de olho no Gaara-sama o tempo todo. Não se preocupe.

Matsuri assentiu com a cabeça.

— E quanto ao Esquadrão Três? — perguntou para Mikoshi. — Há alguma notícia da Temari-san?

O rapaz de óculos balançou negativamente a cabeça.

— Nada ainda.

— Diga para continuarem procurando — ordenou Matsuri. — Não podemos deixar a Temari-san sozinha neste deserto.

— Farei isso, mas... — Mikoshi desviou os olhos por um instante — você precisa considerar a possibilidade de... bom, você sabe, da Temari-san estar...

— O que, morta? — Matsuri comprimiu os lábios. — Eu me recuso a acreditar nisso! Este deserto mudou drasticamente; só precisamos procurar direito que iremos encontrá-la.

Shira, delicadamente, pôs a mão sobre o ombro de Matsuri.

— Por hora, é melhor nos reagruparmos e retornarmos todos juntos para a vila. Está anoitecendo e não é seguro estar no deserto à noite — Shira respirou fundo. — Entendo sua preocupação com a Temari-san, mas você é a líder deste esquadrão e a organizadora das equipes de busca. Precisa agir com prudência.

Matsuri sentiu as bochechas corarem de vergonha.

— Você tem razão... — endireitou-se. — Mikoshi, informe às demais equipes. Diga que nos ajuntaremos na posição do Esquadrão Dois. Voltaremos juntos para a Areia. Por hora, as buscas pela Temari-san estão suspensas.

E, após dar as ordens, Matsuri imediatamente virou os olhos na direção do Kazekage desacordado. Pensava naquela marca desconhecida no pescoço de Gaara, no desaparecimento de Temari, na Vila da Areia e, ainda, no que diria a Gaara caso sua irmã não fosse encontrada... nunca mais. Um medo repentino lhe sobreveio e Matsuri cerrou os punhos. Não, ela está por aqui em algum lugar... a Temari-san é a mulher mais durona que eu conheço, pensou.

Mas sabia que, na verdade, só estava tentando convencer a si mesma.

 

 

                                                                            ***

 

 

Tinham avistado as colunas de fumaça ainda de longe, e o caos só aumentava à medida em que se aproximavam da entrada da Vila Oculta da Areia. Matsuri trocou olhares receosos com Shira, seu vice-capitão e amigo; ambos assentiram um para o outro.

— Vamos nos apressar! — disse aos demais companheiros.

Chegaram aos paredões da entrada da Areia ao entardecer. Estava quieto, muito quieto. Mas a despeito dos inúmeros sinais de batalha ali, nenhum corpo sequer fora encontrado.

— Está claro quem fez isso — disse Maki sombriamente.

— Por que os Yuurei viriam para cá? E depois de terem deixado o Kazekage-sama vivo? — estranhou Satetsu. — Isso não faz o menor sentido.

Sari procurou os olhos de Matsuri. As duas já eram grandes amigas desde os tempos de Academia. Agora que eram duas Chuunin veteranas de guerra, com funções importantes na vila, o entrosamento entre as duas só aumentara. E por haverem desenvolvido, junto com a amiga Yukata — que fora morta durante o ataque de Madara Uchiha à Quarta Divisão da Aliança Shinobi —, um meio de se comunicarem por simples trocas de olhares, Matsuri seria capaz de interpretar perfeitamente a mensagem.

No instante em que Matsuri virou a cabeça, Sari sinalizou discretamente.

Isso tem algo a ver com a marca no Gaara-sama?

Acha que é uma armadilha, Matsuri piscou de volta, e que o Gaara-sama está sendo usado como gatilho? — esse era o medo particular de Matsuri, especialmente porque Gaara já fora tido como uma ferramenta nas mãos do pai para esmagar a Vila Oculta da Folha.

Talvez devêssemos falar sobre o selo aqui mesmo; Maki-senpai está aqui e ela é nossa maior especialista, sugeriu Sari.

Matsuri olhou para a colega Jounin, que, junto dos demais companheiros, procurava possíveis armadilhas na entrada da vila. Até então, somente os membros do Esquadrão Um sabiam do selamento imposto em Gaara, e Matsuri pedira-lhes completo sigilo sobre o assunto. Ela pretendia, sim, contar à Maki sobre a marca misteriosa, mas somente em particular, e quando estivessem todos seguros.

Mas Matsuri também se perguntava se, porventura, não estaria abusando demais da sorte. Maki-san é ótima em Fuuinjutsu e foi aluna da própria Pakura-sama, avaliou, caso haja alguma armadilha, ela com certeza saberá o que fazer.

A boca de Matsuri já se abria para formar as primeiras palavras quando Isago, um dos integrantes da equipe de vigilância, surgiu diante deles. O Jounin estava bastante ferido, com marcas de corte por todo o colete esfarrapado, além de bastante cansado.

— Ah... — arfava copiosamente — então são vocês... — demorou para perceber o Kazekage sobre os ombros de Shira, e Kankuro, que era trazido por Reki. — Oh! O Kazekage-sama! E Kankuro também... — procurou entre os membros do grupo. — Onde está a...

— Ameno-san, cuide dos ferimentos dele — interrompeu-o Matsuri providencialmente.

— Agora mesmo — e num instante, a médica do Esquadrão Três já apoiara Isago contra a parede a fim de prestar-lhe os primeiros socorros. Enquanto usava o Shousen no Jutsu (Técnica da Palma Curativa) com a mão direita, a médica usou a outra mão para abrir um dos cantis que trazia num coldre na cintura.

E quando a água medicinal lhe tocou a pele, Isago soltou um longo suspiro de alívio.

— Obrigado, Ameno-chan.

— Isago-senpai — Matsuri se aproximou. — Conte-nos o que aconteceu aqui. Tudo. Em detalhes, se possível.

O Jounin assentiu com a cabeça e começou a falar.

— Suki, a Morte do Céu, está viva e é uma Yuurei?! — Maki exclamou, incrédula.

— Infelizmente essa é a verdade — Isago encolheu os ombros; e todos se convenceram de que seria impossível para ele, um Jounin de quase quarenta anos, que conhecera Suki pessoalmente, confundir-se; ainda que aquela revelação não fizesse qualquer sentido. — Baki reuniu alguns de nossos melhores soldados para combater os Yuurei, mas... era a Suki do outro lado. E o outro cara, o samurai... ele era simplesmente um demônio.

— Mas não existia nenhum samurai nos Yuurei — disse Sari, horrorizada. — Isso quer dizer que o inimigo...

— ... andou recrutando novos membros — Shira terminou a frase.

Matsuri arregalou os olhos.

— Shira, preciso que venha comigo! Maki-san, você também. Reki-senpai, sua habilidade com o estilo Vento é a melhor dentre todos aqui; venha conosco. Sen, ninguém consegue montar e desmontar armadilhas como você, e seu Genjutsu pode nos ser útil. Yome-chan, está quase escurecendo; seu Doujutsu funciona melhor à noite — convocou Matsuri, rapidamente virando-se para o capitão do Esquadrão Três. — Nonota-senpai, por favor, leve Gaara-sama, Kankuro-san e Isago-san para o hospital. Os demais irão acompanhá-lo.

— O que pretende fazer, Matsuri? — Nonota perguntou meio desconfiado, meio preocupado.

— Apenas confirmar uma hipótese.

— Não seja precipitada. Espere reforços.

— Cada segundo que perdemos aqui dá vantagem ao inimigo — persistiu a garota. — Por favor, cuide do Gaara-sama.

 

 

 

 

— O inimigo não parece ter vindo nesta direção — observou a pequena Yome enquanto o grupo saltava sobre os prédios arruinados do centro da vila; afastavam-se cada vez mais do caos. — Está pensando em ir atrás da Temari-san?

— Não vamos sair da vila — disse Matsuri.

— Não? Então aonde estamos indo?

Matsuri tateou o estojo de armas e sacou o Dardo de Corda, sua especialidade.

— Para a prisão da vila.

Sen, uma Chuunin alta de cabelos castanho-claros e profundos olhos escuros se pôs ao lado de Matsuri.

— Acha que vieram atrás dele? — perguntou Sen.

— Espero realmente que não.

Após alguns minutos saltando entre edifícios, o grupo chegou à Prisão da Areia. O lugar, conforme dissera Yome, não dava quaisquer indícios de ter sido visitado pelos Yuurei. O prédio estava em perfeito estado.

— Já escureceu. Yome-chan, use seu Doujutsu — pediu Matsuri.

— Sim — a garota fez um selo nas mãos, ativando o Jutsu Ocular. Suas pupilas se dilataram, deixando seus grandes olhos alaranjados quase completamente tingidos de preto. O Doujutsu de Yome lhe concedia visão noturna, além de permitir-lhe enxergar a umidade, ainda que gotículas de água, através de grandes distâncias e de estruturas de pouca densidade — É estranho... não há ninguém lá dentro.

— Ninguém? — Maki franziu a testa. — Nem guardas nem prisioneiros?

Yome balançou a cabeça.

— Está totalmente vazio.

Matsuri fez um selo na mão direita, concentrando-se. De fato, a situação batia com o relato de Yome; Matsuri não conseguira sentir absolutamente nenhum chakra de dentro da prisão. É como se estivesse abandonada, pensou.

— Sen...?

— Não é uma armadilha de Genjutsu — relatou a Chuunin mais alta. — Está vazia mesmo.

Um nó se formou na garganta de Matsuri.

— Bom, parece que não temos escolha... — Shira se adiantou aos demais. — Precisamos entrar lá e ver o que aconteceu.

Em seu interior, a Prisão da Areia estava tão normal quanto em sua área externa, com exceção de que não havia ninguém lá dentro além dos recém-chegados; e foi fácil convencer-se de que o lugar estava completamente deserto, uma vez que o grupo se valia dos olhos de Yome, do sensoriamento de Matsuri e da perícia de Sen, que detectara e desarmara armadilhas aqui e acolá — porém nenhuma que liberasse Genjutsu.

— Os Yuurei vieram aqui, não há dúvida; mas o fato de encontrarmos este lugar limpo — Sen falava enquanto desarmava uma bomba camuflada debaixo de uma armadilha de gás venenoso, a qual, por sua vez, acionar-se-ia caso a primeira armadilha, uma lançadora de agulhas, não funcionasse. Prontinho! Essa foi a última, disse Sen após o trabalho —, digo, sem indícios de combate, é realmente impressionante.

Finalmente alcançaram o elevador em formato de gaiola que descia quase dez quilômetros inteiros abaixo da superfície do solo. O destino era apenas um, e não havia nada entre a Solitária e as demais celas, construídas na superfície, além de incontáveis toneladas de areia, terra, rocha e metal. Ser destinado à Solitária era o mesmo ser condenado ao esquecimento. Era estatisticamente improvável que alguém retornasse daquele poço infernal.

A descida até o fundo demoraria, em média, quarenta e cinco minutos dentro do elevador; e aquele era o único meio de alguém descer até a Solitária ou de subir à superfície. Infelizmente, aquela viagem consumiria um tempo precioso deles todos. Felizmente, por outro lado, só havia um elevador — o deles —, o que significava dizer que, na hipótese de alguém ainda estar lá embaixo, só poderia sair caso passasse por todos eles; e isso só após a gaiola chegar ao seu destino.

— Meu campo de visão não alcança o fundo — confessou Yome enquanto desciam. — Somente algo como o Byakugan seria capaz de enxergar tão longe.

— Pare de se comparar com aqueles Hyuuga da Folha — Shira pôs a mão sobre a cabeça da garota e sorriu. — Você foi incrível, como esperado.

Yome sorriu acanhada, escondendo a vermelhidão nas bochechas. Por sorte, a luminosidade dentro do túnel era pouca.

— Ei, Shira — Sen comentou como se estivesse desinteressada —, sabia que a Yome é apaixonada por você desde os tempos da Academia?

— S-Sen-san, isso não é... digo, é, é... — Sendo de baixa estatura, Yome pareceu ainda menor tentando esconder o próprio embaraço. Sen, que era companheira de time com a própria Yome e Shira, soltou uma gargalhada, fazendo outros a seguirem. Por um momento, a fofura da pequena Yome os fez esquecer de toda a tensão que haviam suportado até ali.

Até que o elevador, por fim, parou; e com ele, as risadas.

Matsuri foi a primeira a sair, tão apressada quanto possível. A porta da Solitária estava como deveria estar: intacta. Matsuri arqueou a sobrancelha.

— Está tudo limpo — Sen primeiro olhara ao redor, depois fora até a porta e colara o ouvido no metal frio enquanto mantinha os olhos fechados, concentrada. — Sem armadilhas aqui também.

— Tem uma pessoa do outro lado — disse Yome, utilizando seu Doujutsu para ver através da porta. — Um homem... — estreitou os olhos — um pouco maior do que eu...

É ele, Matsuri pressentiu o chakra do prisioneiro através da porta, mas isso significa que os Yuurei não estavam atrás dele e sim de outra pessoa?

— Esperem! — gritou Yome. — Tem alguma coisa errada! Ele... ele não está se mexendo.

— Maki-san, a porta! — falou Matsuri urgentemente.

— Liberar! — o Fuuinjutsu que protegia a porta fora desativado. — Pronto.

— Shira...

— Já sei — e bastou somente um soco para o metal ceder e tombar para trás, revelando-lhes o interior da cela.

De fato, havia alguém lá dentro, mas não o prisioneiro que fora lançado ali.

— Otokaze-san... — o corpo da sentinela deveria estar morto há algumas horas, e partes dos membros haviam sido cortados de modo a simular o tamanho do prisioneiro que escapara. No peito de Otokaze, havia uma lâmina com chakra infundido que ainda faiscava.

E no instante em que pisaram dentro da cela, o cadáver se levantou desajeitado, como um boneco torto e trêmulo. Yome gritou assustada.

— Tar... de... — a coisa sibilava — de... mais...

Depois de guinchar uma risada podre e sôfrega, a marionete humana arrancou a faca do próprio peito e simplesmente caiu no chão, devidamente morta.

— O que diabos foi essa merda? — Sen ainda tinha os olhos arregalados.

Matsuri trincou os dentes.

— Protocolo de quarentena nível vermelho — ordenou. — Avisem a todos, e reforcem a segurança do Gaara-sama! Ninguém entra ou sai desta vila até que tenhamos certeza de que o inimigo não está entre nós. E atualizem o registro do Livro Bingo e comuniquem aos nossos aliados imediatamente. Shozu Ibuke, o titeriteiro roxo, escapou.

 

 

                                                                            ***

 

 

Shima os olhava torto. A Grande Sábia do Monte Myoboku batia insistentemente uma das patas traseiras no chão enquanto se mantinha ereta, com as duas patas dianteiras cruzadas, na postura mais impaciente que possuía.

— Vamos tentar de novo — disse ela em tom ameaçador. — Qual foi a primeira coisa que eu perguntei aos dois idiotas antes de partirem?

Naruto afagou o galo que ganhara na cabeça.

— Se não estávamos nos esquecendo de nada — tinha quase certeza de que aquela não fora a primeira pergunta que Shima lhes havia feito, mas não abriu a boca para discutir; aprendera com Jiraiya e, agora, com Fukasaku, que não importava se as mulheres estivessem ou não erradas; no fim, elas sempre teriam a razão.

Shima balançou a cabeça positivamente.

— E o que os dois idiotas disseram para mim? — olhava diretamente para o marido.

Fukasaku afagou o galo que também ganhara na cabeça.

— Que estava tudo na bolsa...

— E o que os dois me disseram na última mensagem?

— Que tínhamos esquecido um pergaminho...

— Um pergaminho e um mapa! — tirou ambos da bolsa de alça que trouxera e os entregou a Naruto. — Ou planejavam se lançar no território inimigo sem conhecerem o mínimo da geografia local?

Os olhos de Naruto brilharam impressionados.

— Incrível, Vovó Sábia!

— Não, foi pura sorte — admitiu Shima. — Achei isso nas coisas do Jiraiya-chan. Felizmente, ele chegou a visitar o antigo País do Redemoinho em suas viagens pelo mundo quando jovem — apontou para o mapa. — É um documento obsoleto, mas vai servir como base para conhecermos pontos importantes da ilha, especialmente as ruínas da Vila Oculta do Redemoinho.

Naruto estudou o mapa com atenção solene. O País do Redemoinho era uma ilha relativamente pequena; de acordo com as dimensões inscritas no mapa, poderia caber dentro do País da Chuva. Mas apesar do tamanho, era um lugar riquíssimo. Possuía bosques, cachoeiras, grutas, campos floridos, montanhas e depressões, e até mesmo um vulcão fora registrado na região noroeste da ilha. Conforme o mapa, havia alguns vilarejos espalhados por toda a ilha e, no centro, a Vila Oculta do Redemoinho, cujo território era em formato espiralado, fazendo jus ao símbolo do clã Uzumaki.

Um pequeno sorriso se formou nos lábios de Naruto.

— Este lugar deve ter sido muito bonito um dia.

Fukasaku e Shima trocaram olhares apiedados. Ainda que Naruto tivesse nascido no País do Fogo, era um Uzumaki, filho de Kushina, do País do Redemoinho. Mesmo sem conhecer a pátria de onde viera sua mãe, era óbvio que ele teria laços com o lugar.

Fukasaku pigarreou.

— É altamente provável que encontremos Mira Uzumaki aqui — indicou o Palácio Real, exatamente no centro do mapa. — Ela é filha do falecido governador do Redemoinho.

— É um ótimo lugar para montar uma emboscada — concordou Shima.

Naruto se limitou a murmurar com a garganta, apenas considerando tal possibilidade. E só tirou os olhos do mapa quando Fukasaku o chamou:

— Naruto-chan, e quanto ao jutsu no pergaminho do Jiraiya-chan? Em que momento espera usá-lo?

— No meio da luta, quando já tivermos pegado o ritmo da Mira — disse Naruto.

— Mas, afinal, qual a grande vantagem por trás dessa coisa? — Shima coaxou. — Entendo que Mira Uzumaki nunca esperará algo assim vindo de você, Naruto-chan, mas tirando o fator-surpresa, usar algo assim não traz tantos benefícios para nós — e se pôs a enumerar. — Primeiro, esta coisa está selada e vamos enfrentar justamente uma usuária de Fuuinjutsu. Segundo, é uma técnica de tiro único; só teremos uma chance de usá-la e não poderemos desperdiçá-la. E terceiro, uma vez liberada, não há como controlar essa coisa; ela vai consumir tudo pelo caminho.

— Não se preocupe, Mãe. O Naruto-chan tem uma ideia.

— Que ideia?

Naruto guardou o rolo de pergaminho no estojo de ferramentas.

— Não vamos controlá-lo, apenas libertá-lo... e espalhá-lo.

Shima coaxou perplexa.

— Garoto, você perdeu o juízo?

— Eu também achei uma loucura no começo — confessou Fukasaku —, mas Naruto-chan tem mais experiência em lidar com técnicas Uchiha do que Mira Uzumaki. Podemos tirar proveito disso também.

— Vai ser mais difícil sem o Sasuke por perto — admitiu Naruto —, mas nada que eu não possa lidar.

Shima encolheu os ombros.

— Espero que tenha razão.

— Além disso — Fukasaku mostrou otimismo —, Naruto-chan disse possuir uma técnica secreta.

— Não é um maldito Ninjutsu erótico, é? — indagou Shima. — Porque de você, Naruto Uzumaki, eu espero qualquer coisa.

Naruto fez que não, e seus olhos transmitiam seriedade.

— Preparei esse jutsu especialmente visando enfrentar os Yuurei sem depender do chakra Bijuu. Não está completo, mas será nosso grande trunfo — disse Naruto, colocando-se de pé.

— Presumo que tenha a ver com o alto número de clones deixados no Monte Myoboku — observou Shima. — Seja lá o que tenha em mente, tome muito cuidado; lidar com energia natural é sempre perigoso.

— Eu sei.

Entrementes, Fukasaku olhou para o céu com receios.

— Anoiteceu — disse. — Naruto-chan, você pretende partir...

— Não — adiantou-se Naruto. — Vou assim que amanhecer.

O autocontrole de Naruto não parava de surpreendê-los, especialmente Fukasaku; era como se o Naruto Uzumaki impulsivo estivesse em outro lugar. De fato, aquela era a decisão mais sábia. Conquanto tivessem tido noção da geografia do País do Redemoinho, ainda assim continuava sendo apenas uma noção, algo muito longe de ser comparado com o conhecimento de alguém que morava naquela ilha. E pelo fato de Mira ter o Fuuinjutsu como base, enfrentá-la em território desconhecido no escuro seria o mesmo que se colocar por presa de todo tipo de armadilha de selamento. Ainda que com o Modo Sennin dos Sapos Naruto pudesse pressentir, esquivar-se e reagir a quaisquer ataques-surpresa, seria no mínimo arriscado depender de apenas um único meio para detectar as ações do inimigo.

E se, por um acaso, Mira pudesse anular o Modo Sennin de Naruto...

Escolher um combate noturno em território desconhecido seria o pior erro tático que poderíamos cometer, avaliou Fukasaku, satisfeito. Naruto-chan está se comportando de forma bastante inteligente.

— Certo — disse o sapo. — Já que vamos passar a noite aqui, melhor recapitularmos nossas estratégias com a Mãe.

— Pai, estou velha demais para ficar no relento... dói meus ossos, e posso pegar um resfriado — lamentou Shima.

— Pare de reclamar, Mãe!

— Pelo menos façam uma fogueira — protestou a sapa.

— Francamente, você está, hum? — viu Naruto se afastar. — Aonde vai, Naruto-chan?

A expressão do rapaz era de uma serenidade distante. Se pudesse encontrar a definição mais adequada, Fukasaku diria que Naruto Uzumaki possuía um fogo gelado nos olhos azul-safira. Pelo menos ali, naquele momento.

— Vou dar uma volta; quero ficar a sós. Trarei lenha para sua fogueira, Vovó — disse Naruto. — Não se preocupem, a primeira vigília é minha.


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Notas finais do capítulo

Parece que nosso protagonista ganhou a corrida contra o Deku, de BNHA, sobre quem chega primeiro ao destino... e quanto ao Itadori Yuuji, de Jujutsu Kaisen, esse só Deus sabe onde está e o que está fazendo.


O que acharam da aparição do Naruto (e a do Kishimoto, hehehe)? Estão confiantes? Indiferentes? Receosos?

Já Mira Uzumaki está resoluta em não entregá-lo ao parceiro, Iori Kuroshini. Mas quais serão as consequências disso para a vice-líder dos Yuurei e para os outros?

Obs.: 1 - este autor shippa GaaMatsu desde o começo de Naruto Shippuden (e, sim, meus caros; a Matsuri não é uma personagem filler. Isso é uma tremenda falácia! Matsuri aparece pela primeira vez no capítulo 280 do mangá; mas é no anime que ela tem algum destaque, a começar na última temporada do Naruto Clássico). Apesar de a maioria do fandom não gostar muito dela, eu, o AUTOR desta fanfic, gosto e acho que a Matsuri deveria, sim, ter terminado como a esposa do Gaara... e a mãe do Shinki.

Obs.: 2 - considerei a Yukata, aquela garota de cabelo preto que é amiga da Matsuri, morta durante o ataque de Madara Uchiha. No anime, não vimos mais a personagem depois que Madara lançou os meteoros contra a Quarta Divisão; e somente a Matsuri é vista sendo liberta do Tsukuyomi Infinito ao final da guerra. Então, para todos os efeitos, Yukata morreu.

Obs.: 3 - eu sei que ainda tem gente com esperança de a Temari estar viva. (risos)

Obs.: 4 - os demais personagens da Areia eu tirei do próprio anime. Eles aparecem no arco do Exame Chuunin realizado durante os três anos em que Naruto esteve fora da vila. Eu não os criei.

Obs.: 5 - Shozu Ibuke é aquele titeriteiro que o Naruto enfrentou lá no começo da fanfic, durante o Exame Jounin. É o mesmo cara que fez experimentos com a Beni Makagawa.

Bom, voltando...

Naruto tem um jutsu Uchiha dentro de um pergaminho que pertencia ao Jiraiya... preciso falar mais nada, né? Quem lembra do Naruto Clássico sabe do que eu tô falando.

E uma técnica secreta também! Alguma noção do que será?

Para quem esperava, lamento decepcioná-los, mas Naruto não tentará pegar a Mira num Ninjutsu erótico (não é, Kaguya? cof cof) Não sou lá muito fã de comédia em lutas, principalmente aquelas que são mais importantes para a história.

***


Próximo capítulo: 23/09/2022


Obrigado por acompanharem até aqui

Até o próximo capítulo o/