O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 118
A reunião dos aliados


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, meus caros! Como vão? Eu espero que todos estejam muito bem!

Antes de começarem a leitura, preciso fazer uma observação importante sobre este capítulo:

A primeira divisão do capítulo (ou seja, da primeira cena até o primeiro "***") ocorre dias antes do capítulo passado, que terminou com Mira chamando Suki para uma conversa particular. A partir da segunda divisão deste capítulo, a história volta à sua cronologia original, pois a história será retomada exatamente do final do capítulo 117.

Feito o esclarecimento, boa leitura para todos! o/



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Após dois dias viajando sob céu nublado, vento frio incessante e ondas que faziam o cruzeiro com mais de cinquenta e quatro mil toneladas chacoalhar como um brinquedo solitário no meio do oceano, finalmente estavam próximos à região costeira do Mar Dourado. De acordo com o capitão, o Empress Hancock estava a pouco menos de cinco milhas náuticas do porto, o que lhes dava, aproximadamente, quinze minutos até o desembarque no País da Terra.

Tsukamaki não poderia negar o quão estava satisfeita por avistar os paredões do Golfo da Pedra emergirem no final daquele horizonte azulado; e quando a voz do capitão no alto-falante lhes informou que estavam próximos de atracarem, soltou um suspiro aliviado. “Até que enfim!”, ela pensou consigo. “Esse pesadelo está terminando.”

Chegava a ser irônico que, mesmo após seus quase quarenta anos de idade, Tsukamaki ainda fosse incapaz de se adaptar a viagens marítimas. Detestava navegação com todas as forças. Para Tsukamaki, colocar-se dentro de uma caixa de metal e se lançar no mar, balançando de um lado para o outro, não fazia o menor sentido — ainda mais quando se era uma ninja e poderia, por meio do chakra, fazer a travessia a pé. Muito mais seguro, cômodo e prático. Além de ser gratuito.

Mas Tsukamaki não estava naquele cruzeiro por si própria. Era por sua jovem senhora, e somente por ela, que Tsukamaki se submetia àquele pesadelo náutico. Pois conquanto fosse uma Jounin integrante da Guarda Lunar e uma das Kunoichi mais ativas não só da Vila Oculta da Lua, mas do país inteiro — e conhecesse boa porta do mundo ninja —, sua senhora, Tsukino, era uma moça que nunca havia deixado o País da Lua. Em dezenove anos completos, tudo o que Tsukino conhecia era a pequena ilha no meio do Mar Dourado.

Em razão disso, quando a mensagem da Hokage chegou, convidando a líder do País da Lua para o Encontro das Nações Ninja, Tsukamaki enxergou mais do que uma possível aproximação diplomática com as Cinco Grandes Nações; viu uma oportunidade para que Tsukino desfrutasse de sua juventude como uma pessoa normal, e deixasse a vida de princesa enclausurada mesmo que por algumas semanas. Por isso, valia a pena suportar todos os enjoos em alto mar. Amava Tsukino como se a garota fosse sua própria filha; e como guardiã, Tsukamaki daria a vida para protegê-la de qualquer perigo.

Tsukamaki sabia muito bem que tal decisão afrontava diretamente a vontade do falecido líder do País da Lua, o qual nunca permitiu que Tsukino viajasse para o continente ou para qualquer outro lugar fora da ilha. Tsukashimo-sama havia sido um governante piedoso e um pai amoroso; mas por ocasião da trágica perda da esposa, desenvolvera um zelo traumatizado pela segurança da própria filha, e sempre temeu expô-la às crueldades dos homens de além-mar.

O que Tsukashimo não enxergava era que manter a filha e sucessora do trono alheia ao mundo exterior era igualmente prejudicial; e, no fim, provou-se ser um esforço inútil. Pois ainda que Tsukino jamais fosse ao continente, este viria até a princesa cedo ou tarde. No caso, o continente fora até Tsukino cinco anos atrás, na forma de um Genin loiro da Vila Oculta da Folha. Alguém que, mais tarde, passou a ser conhecido como o Herói do Mundo Ninja.

— Olha só para você, Tsukamaki-senpai! — Tsukishima, um rapaz moreno de cabelo espetado e pele parda, que era seu parceiro de equipe naquela missão de escolta, riu zombeteiro ao lado de Tsukamaki. — Ainda preocupada por causa do filme de ontem? Caso tenha esquecido, a ruiva sobrevive ao naufrágio do navio boiando numa porta.

Em seguida, Tsukishima fechou os olhos e, com os braços abertos, inspirou uma boa quantidade de ar oceânico.

— Já o coitado do Jack ficou na água e morreu de hipotermia — completou Tsukishima, dando de ombros. — Então, se a vida imita mesmo a arte, você deveria ser a pessoa mais tranquila a bordo, Tsukamaki-senpai; e eu, o mais azarado.

— Obrigada — Tsukamaki respondeu indiferente —, me sinto muito melhor.

— Não por isso.

Àquela altura, o convés do cruzeiro já se enchia de tripulantes — a ampla maioria, turistas que, assim como eles, desembarcariam no País da Terra. Tsukamaki olhou casualmente para um e outro rosto antes de sussurrar para o companheiro de viagem:

— Fique de olhos abertos assim que aportarmos — recomendou ela. — Ouvi boatos a respeito deste lugar.

— Que boatos? — perguntou Tsukishima, desconfiado. — Os Yuurei?

Tsukamaki fez que não.

— Bandidos — ela respondeu. — A criminalidade aumentou bastante com a morte do Terceiro Tsuchikage, e nosso trajeto passa próximo da Vila Oculta da Pedra.

— Está preocupada com ladrõezinhos, Tsukamaki-senpai? — minimizou Tsukishima. — Logo você?

— Duvido que sejam apenas ladrõezinhos — Tsukamaki deu-lhe um olhar severo. — De qualquer forma, a segurança de Tsukino-sama é nossa prioridade. É por isso que estamos viajando disfarçados como simples turistas. Quanto mais discrição, melhor.

Tsukishima assentiu. Como integrantes da comitiva oficial do País da Lua, seria problemático caso fossem descobertos antes de chegarem à Vila Oculta da Folha, embora bandidos de estrada não fossem, nem de longe, sua maior preocupação. Afinal de contas, eram ele e Tsukamaki dois Jounin de elite que integravam a Guarda Lunar — a equipe de quatro membros responsável pela segurança da líder do País da Lua.

Mesmo assim, Tsukamaki estava certa. Quanto mais discrição, melhor.

— Nesse caso, não teria sido mais seguro desembarcar no País da Cachoeira? — questionou Tsukishima. — Seria mais rápido, inclusive.

— E mais perigoso, em compensação — observou Tsukamaki. — O País da Cachoeira, tal como o nosso, não integra o Sistema Feudal, o que torna a segurança de fronteira não padronizada e seus protocolos ficam a critério exclusivo do líder local. Em casos assim, nunca sabemos o que esperar.

Tsukishima balançou a cabeça em um gesto compreensivo.

— A propósito — indagou ele —, você disse que a viagem até a Vila da Folha ainda vai durar quanto tempo?

— Três dias, se estivéssemos viajando como Shinobi. Mas como turistas, pelo menos cinco dias até chegarmos ao País do Fogo — respondeu Tsukamaki. — De qualquer forma, chegaremos à Folha a tempo de participar do Encontro.

O rapaz encolheu os ombros.

— Entendi — disse Tsukishima. — Bom, acho que devemos chamar a Tsukino-san. Ela estava bastante ansiosa pela hora do desembarque.

Mal o guarda-costas se virou na direção dos aposentos, deparou-se com a moça de pele parda e longos cabelos brancos presos em um rabo de cavalo. Tsukino já estava pronta: vestia seu habitual quimono azul ciano, o obi laranja atado à cintura e calçava botas pretas de cano alto. Os olhos verdes da líder do País da Lua brilhavam em expectativa.

— E então? — Tsukino perguntou curiosa. — Já chegamos?

 

 

 

 

Era quase sete horas da noite quando Tsukino e seu grupo chegaram à estrada que levava à Cidade Rochosa, na região sudeste do País da Terra, onde passariam a noite. No dia seguinte, se continuassem naquele ritmo, poderiam chegar ao País da Grama antes do meio-dia e, com sorte, até poderiam cruzar a fronteira entre a Grama e o País do Fogo amanhã naquele mesmo horário. Considerando que viajavam como turistas, estavam bastante adiantados em seu cronograma.

— Imagine se estivéssemos viajando com nossa passada habitual — Tsukishima comentou. — Acho que teríamos chegado à Folha no mesmo dia! Tsukamaki-senpai, você errou feio, hein?

Tsukamaki não respondeu àquela possibilidade estapafúrdica. A menos que dispusessem de uma técnica espaço-temporal — o que não era o caso de nenhum deles — era simplesmente impossível viajar da Vila Oculta da Lua, capital do País da Lua, para a Vila Oculta da Folha em apenas um dia. Mesmo assim, Tsukamaki também estava surpresa por terem conseguido percorrer um trajeto tão longo em pouco tempo sem usar o chakra em sua movimentação; e sem cruzar com qualquer percalço pelo caminho, o que era ainda mais impressionante.

“Talvez eu tenha sido cautelosa demais”, concluiu a guardiã, “mas é sempre melhor pecar por excesso do que por negligência.”

— Já sei o que está pensando: que por estarmos em um número pequeno e carregando pouca bagagem, nossa movimentação foi, logicamente, bem mais rápida — Tsukishima cutucou a colega com o braço. — Diz aí, acertei?

— Não — respondeu Tsukamaki. — Mas sua avaliação está correta.

Os três caminharam em silêncio por mais alguns minutos. Tsukino andava cerca de três metros à frente dos dois guarda-costas, e não atendeu a qualquer pedido deles para ir mais devagar. “Não tem jeito”, pensou Tsukamaki, sorrindo. “Ela é como um passarinho que acabou de sair da gaiola; e é incrível como Tsukino-sama ainda consiga caminhar tão rápido depois de quase um dia inteiro de viagem.”

— Ei, Tsukamaki-senpai — chamou-lhe a atenção o fato de Tsukishima ter mudado o tom de voz para algo mais baixo e sério. O rapaz tinha o olhar fixo nas costas da líder do País da Lua. — É verdade que eles se conhecem? Tsukino-san e Naruto Uzumaki.

Tsukamaki franziu a testa. Um membro da Guarda Lunar, como Tsukishima, já deveria saber disso.

— Sim, é verdade — respondeu Tsukamaki. — Foi há um tempo, quando Naruto esteve fora da Vila da Folha sob treinamento particular com... o Jiraiya-sama.

Tsukamaki não era uma mulher que costumava guardar rancores, mas o primeiro encontro que tivera com o Sábio dos Sapos não havia sido dos melhores. E a simples lembrança lhe causava repulsa, especialmente pelas circunstâncias em que tudo ocorreu: ela estava na praia, banhando-se no mar, quando percebeu um velho pervertido nojento a bisbilhotando com um binóculo. Era Jiraiya, que sequer se importou com o fato de Tsukamaki estar acompanhada do marido.

— Um dos Três Sannins Lendários?! — exclamou o rapaz. — É espantoso como quase todos os melhores Shinobi vêm daquela vila.

— Sim... — Tsukamaki pigarreou. — Jiraiya-sama veio a nós com o Naruto em busca de um selo para suprimir o chakra do Nove Caudas que, na época, escapava com frequência sempre que o Jinchuuriki se irritava. Os dois acabaram ficando conosco por mais de um ano.

— Tsukashimo-sama permitiu forasteiros na vila por mais de um ano? — estranhou Tsukishima. — Ele se fechou para o continente depois que... bom, o que fizeram com a mãe da Tsukino-san.

— Eles não moraram na capital, mas sim em um vilarejo ao redor da Vila Oculta da Lua — esclareceu Tsukamaki. — E Tsukashimo-sama já era falecido naquela época. Na verdade, ele morreu um pouco antes de Naruto e Jiraiya-sama chegarem.

Tsukishima baixou a cabeça.

— Entendo — disse o jovem guarda-costas, que logo voltou a seguir Tsukino com os olhos —, então foi naquela época.

Tsukamaki arqueou a sobrancelha.

— Por que a pergunta?

— Só achei estranho — ele deu de ombros. — Tsukino-san ficou toda empolgada quando leu o nome de Naruto Uzumaki na carta da Hokage. A reação dela, bom, era como se eles fossem, hã, próximos.

“Ah, então é por isso”, Tsukamaki disfarçou um sorriso.

— Não se preocupe — disse ela, compreensiva. — Naruto Uzumaki não é alguém que está mais no seu caminho.

Tsukishima piscou estarrecido.

— Não está... mais?

— Tsukino-sama! — a companheira simplesmente ignorou a pergunta. — Eu já disse: vá devagar, por favor! Lembre-se que ainda pode ser perigoso.

A líder do País da Lua parou e virou-se para encarar os dois guarda-costas retardatários. Estava escuro, mas Tsukamaki poderia jurar que vira a moça lhe dirigir um sorriso debochado.

— Vocês dois não deveriam demorar tanto — disse Tsukino, assim que seus guarda-costas a alcançaram —, principalmente você, Tsukamaki-san. Você é uma especialista no combate corpo a corpo, então seu condicionamento físico é o melhor dentre nós três.

— Eu entendo sua sensação de liberdade, Tsukino-sama — disse a mulher à jovem —, mas não se afaste tanto. Ainda não chegamos à cidade, já anoiteceu e somos estrangeiros aqui. Se formos atacados, o inimigo provavelmente conhecerá essa rota melhor do que nós.

— Provavelmente? — estranhou Tsukino.

— Isso — respondeu Tsukamaki. — Na melhor das hipóteses, serão só criminosos locais. Mas não se esqueça da outra possibilidade, Tsukino-sama. Afinal, não estamos em um passeio de férias e a senhora não é uma turista de verdade.

Tsukino abaixou a cabeça e assentiu envergonhada.

— Estou sendo irresponsável. Desculpem-me.

Dali em diante, os três caminhavam juntos, e embora Tsukino ainda quisesse seguir como uma turista maravilhada, sabia que sua guarda-costas tinha razão; ela não poderia deixar-se expor ao perigo. Como Chefe de Estado, Tsukino não poderia fracassar com o povo do País da Lua logo em sua primeira missão diplomática. Precisaria chegar sã e salva à Vila Oculta da Folha para discutir com a Hokage e com os demais líderes uma forma de impedir a ameaça dos tais Yuurei; e deveria estar lá para quando Naruto retornasse da caçada ao inimigo.

“Naruto...”, Tsukino olhou para o céu estrelado, “como será que ele está agora?”

Andaram mais alguns metros até se depararem com uma bifurcação no meio da estrada. Mas, conquanto fossem estrangeiros de uma país distante, sabiam muito bem que a estrada até Cidade Rochosa nunca se dividia; era uma linha reta com centenas de quilômetros.

Imediatamente, Tsukamaki girou o cabo do guarda-chuva vermelho que levava consigo e, devagar, puxou a empunhadura para fora, separando-a do restante da haste. Seu guarda-chuva nada mais era que uma bainha disfarçada, onde Tsukamaki mantinha sua catana escondida.

— Tsukino-sama...

— Eu sei, Tsukamaki-san — Tsukino fez um selo com as mãos, liberando o Genjutsu. — Agora a diversão vai começar.

Assim que Tsukino desfez a ilusão, o ambiente ao redor tremeluziu e, como uma miragem, as duas estradas paralelas desapareceram, dando lugar à estrada original. Ao mesmo tempo, os três ninjas da Lua saltaram para longe da chuva de kunai que, do nada, irrompeu contra eles. Uma vez fora do alcance das lâminas, os dois guarda-costas posicionaram-se à frente e à retaguarda de Tsukino.

— Vejo que não são meros viajantes, afinal... — disse uma voz arrastada entre as árvores —, e também não parecem ser ninjas da Pedra.

A mão livre de Tsukamaki escorregou, rápida e discreta, pelo decote lateral na perna direita, onde o estojo de senbon estava oculto debaixo do vestido. Por meio do som, já havia identificado onde o atacante se posicionava e poderia abatê-lo dali sem maiores problemas. Um único ataque e seria o fim. Tsukamaki não necessitaria de um segundo arremesso.

— Ei, você aí! — falou uma segunda voz, completamente diferente da anterior; esta era aguda e desagradável. — A ruiva com a espada. Eu estou de olho nessa sua mão.

“Outro inimigo”, hesitou Tsukamaki, “e justo no meu ponto cego.”

Tsukishima olhou atentamente ao redor enquanto mantinha uma kunai segurada à altura do rosto.

— São quatro ao todo — sussurrou para as duas. — Estamos cercados.

— Cinco — corrigiu Tsukino, olhando fixamente para um ponto específico entre as árvores. — Você se esqueceu daquele a quarenta e cinco graus a noroeste, Tsukishima-san.

A risada do último inimigo ecoou através das árvores.

— Entendi, você é uma Kunoichi sensorial — disse o homem, cuja voz vinha da exata posição indicada por Tsukino — e parece ser alguém importante, já que esses dois estão te protegendo. Quem é você, mulher?

Tsukino deu de ombros.

— Apareçam e eu digo quem sou.

— Idiota. Como se fôssemos deixar nossa cobertura apenas por curiosidade. Parece que você não entendeu a posição em que se encontra.

— Eu entendo muito bem — a líder do País da Lua formou o Selo do Tigre com as mãos. — Na verdade, foram vocês que não entenderam. Eu não estava pedindo.

Outra vez, o ambiente inteiro tremeluziu e uma chuva de penas brancas começou a despencar do céu estrelado. As plumas caíam e se acumulavam por toda área ao redor; e com elas, veio uma vontade irresistível de dormir.

“Não nos subestime”, o chefe do bando executou um selo para dissipar o Genjutsu, “isso não vai funcio...”

 Mas para a surpresa dos salteadores, quando o Nehan Shouja no Jutsu (Técnica do Templo de Nirvana) de Tsukino foi dissipado, todos os cinco se perceberam bem longe da segurança das árvores; estavam caídos no chão, com os dois guarda-costas da Lua parados, olhando-os com indiferença, e Tsukino com seu típico ar alegre.

— O-o quê? — o primeiro, de voz arrastada, coçou os olhos para ter certeza do que via. — Quando você...?

Tsukamaki deu-lhes um olhar de puro desprezo.

— Quando percebemos aquela bifurcação — explicou a guarda-costas —, Tsukino-sama não se limitou a desfazer o Genjutsu de vocês, mas também contra-atacou na mesma hora, fazendo-os acreditar que tinham nos encurralado.

— Uma ilusão sobre outra ilusão... — Tsukishima abafou uma risada debochada. — Depois disso, foi fácil descobrir quantos de vocês haviam e onde estavam escondidos; e só ordenamos que viessem até nós.

— Ordenaram? — o chefe dos Nukenin estranhou; mas imediatamente se lembrou das palavras que Tsukino lhes dissera dentro do Genjutsu: “apareçam e eu digo quem sou” e “eu não estava pedindo”.

E toda surpresa foi embora.

— Não, não pode ser verdade! — o homem de voz aguda insistiu. — Eu disparei minhas kunai! Vê? Elas sumiram! Nós não poderíamos estar presos em um Genjutsu desde aquela hora! É impossível!

Tsukamaki balançou a cabeça com ar de reprovação.

— Tolo! Está tão surpreso com o que houve que nem percebeu que há uma pessoa a menos em seu grupo. Originalmente, vocês vieram em seis, não é verdade?

E com um gesto simples de mão, Tsukamaki indicou um ponto adiante de onde estavam os cinco, que, instintivamente, olharam para trás. Foi quando viram o sexto integrante estirado no chão, coberto com sangue e facas kunai. O desgraçado deveria estar morto há pelo menos cinco minutos.

— Eu dei a minha palavra de que me apresentaria. — Tsukino averiguou o espaço ao redor e acenou para os companheiros com a cabeça, certificando-lhes de que o ambiente era seguro e não havia mais ninguém, daquele grupo ou de qualquer outro, por perto. — Vocês dois primeiro. Façam as honras.

— Eu sou Tsukishima — disse o rapaz de pele parda e de cabelo espetado à esquerda de Tsukino, apresentando-se com um aceno de cabeça —, o guardião da Lua Nova.

— Tsukamaki, a guardiã da Lua Crescente — um tanto contrariada, a mulher ruiva de vestido azul-petróleo à direita de Tsukino se apresentou. Dos três ali, Tsukamaki era aquela que mais parecia estar olhando para um grupo de inimigos.

Por fim, a moça de cabelos brancos e pele morena se reclinou para frente numa breve mesura.

— Eu sou a líder do País da Lua — disse com leveza. — Meu nome é Tsukino. Muito prazer!

Os cinco Nukenin se entreolharam, confusos. Embora eles pouco soubessem a respeito dos costumes do povo do País da Lua, aquele, definitivamente, não parecia ser o comportamento típico de uma Chefe de Estado. Ou aquela mulher não fazia questão de colocar-se em um pedestal diante dos outros, ou era apenas idiota.

Em todo caso, apesar daquele ar amigável de Tsukino, sabiam que não poderiam subestimá-la. A garota se mostrara bastante talentosa para Genjutsu. Ademais, haviam perdido toda a vantagem tática — quando foram forçados a abandonar a cobertura que as árvores ao redor lhes proporcionavam, e também por estarem todos os cinco de frente e no campo de visão dos ninjas da Lua.

“Cinco contra três; a vantagem numérica ainda está a nosso favor”, o chefe do bando refletia. “Já sabemos que a líder deles usa Genjutsu, e aquela ruiva é uma especialista em Kenjutsu; só o cara não mostrou habilidade nenhuma...”

“Por outro lado”, concluiu, “eles não sabem como lutamos nem qual de nós lançou o Genjutsu.”

O Nukenin sorriu. Ainda tinham uma boa chance de sucesso.

— Rapazes, o que acham? — disse o líder aos demais. — Parece que tiramos a sorte grande — pôs os olhos famintos em Tsukino. — Quanto deve valer o resgate dela?

Imediatamente, os cinco se puseram de pé já em formação de combate.

— Idiotas... — Tsukishima lamentou com a cabeça.

— Para trás, Tsukino-sama — Tsukamaki brandia a catana com a mão esquerda enquanto os dedos da mão direita traziam três agulhas senbon. — Tsukishima e eu cuidaremos disso.

Tsukino, porém, permaneceu no mesmo lugar.

— Não — disse aos guarda-costas —, eu posso dar conta deles sozinha.

— Tsukino-sama, a senhora não deveria...

—... está tudo bem, Tsukamaki-san — deu um passo à frente. — Se vocês dois ficarem tomando conta de mim o tempo todo, eu vou acabar enferrujando. Agora se afastem. Não quero que sejam pegos nisso.

“Não é possível!”, Tsukamaki arregalou os olhos, atônita. “Ela fez... naquela hora?”

— Parece que estamos sendo dispensados, Tsukamaki-senpai — disse Tsukishima, que também havia notado as posições das kunai de cabo vermelho cravadas no chão. — Vamos indo?

Para a guardiã da Lua Crescente, era difícil deixar Tsukino a própria sorte, uma vez que havia jurado protegê-la até o fim, e sendo aquela a primeira vez que a garota pisava fora do país natal. Por outro lado, Tsukino era uma Kunoichi bem treinada e que, apesar de dispor da Guarda Lunar, nunca reclamou por sua proteção. E havia deixado de ser uma garotinha.

Em silêncio, Tsukamaki recolheu a espada de volta à haste do guarda-chuva e deu alguns passos para trás.

“Obrigada por confiar em mim, Tsukamaki-san”, a líder do País da Lua falou em pensamentos.

À frente dela, o chefe dos Nukenin limitou-se a rir.

— Você é mais idiota do que eu pensei — disse, enquanto unia as mãos no selo do Cavalo. — Cinco contra um, e já sabemos que Genjutsu é sua especialidade. Não vai funcionar dessa vez.

— Como não? — Tsukino executou uma sequência de selos manuais. — Eu já peguei todos vocês.

Quando o último selo se formou nas mãos de Tsukino, quatro pontos delimitados no chão emitiram uma luz branca. As quatro Lâminas de Chakra — forjadas na forma de kunai customizadas — tratavam de expelir o chakra que Tsukino, previamente, havia infundido nas armas e serviam, ao mesmo tempo, como base para a técnica da líder do País da Lua.

Uma vez com as kunai perfeitamente posicionadas a norte, sul, leste e oeste do grupo de Nukenin, feixes de luz branca conectaram as quatro Lâminas de Chakra, desenhando o que parecia ser a figura de um quadrado luminoso.

E dentro daquela figura geométrica, outra estrutura: um círculo de luz feito com inscrições de uma fórmula, a qual se espalhava, em um movimento centrífugo, em direção aos quatro lados da primeira figura. Tudo aconteceu quase instantaneamente. Os Nukenin sequer tiveram tempo de reação e, quando deram por si, a fórmula estava completamente desenhada debaixo de seus pés.

— Mas isso é... — O líder do grupo estremeceu.

— Isso mesmo — adiantou-se Tsukishima. — Tsukino-san pode ser muito boa com Genjutsu. Mas vocês erraram feio quando disseram que essa era a especialidade dela. Na verdade...

Tsukino fechou as duas mãos no selo da Cobra.

— Selamento — completou Tsukamaki. — Esta é a verdadeira especialidade da Tsukino-sama.

— Fuuinjutsu: Seidou Fuujin (Técnica de Selamento: Formação do Selo de Vitalidade) — disse Tsukino, fazendo uma explosão de luz branca eclodir de uma vez dentro da área demarcada com as kunai. O clarão ofuscante durou não mais do que alguns segundos até desaparecer junto com todas as marcações do selamento.

Os Nukenin estavam perplexos e não entenderam o que, de fato, havia acontecido ali. Mas a surpresa durou pouco, e logo compreenderam os efeitos daquele Fuuinjutsu quando tentaram moldar chakra, sem nenhum sucesso.

— É inútil — disse Tsukino. — O chakra de todos vocês está selado. Neste momento, não passam de idiotas armados.

“Nós somos criminosos listados no Livro Bingo”, o líder do grupo trincou os dentes; tinha o rosto corado de vergonha, “e procurados em cinco países diferentes; e mesmo assim, essa maldita antecipou todos os nossos movimentos. Ela não é só habilidosa, é bem treinada. Ainda que estejamos em maior número, lutar sem chakra seria suicídio; e ainda têm aqueles dois guarda-costas, que podem agir a qualquer momento.”

Aquilo não poderia ser mais humilhante. Haviam sido derrotados em seu próprio terreno por uma única Kunoichi forasteira, uma mulher com idade para ser filha de qualquer um deles. Só lhes restava reconhecer aquela derrota e fugir.

Foi exatamente o que tentaram fazer. Mas no instante em que moveram os pés, um selo escarlate apareceu no chão bem abaixo dos cinco, plantando-os de tal modo que sequer podiam mais mexer os dedos dentro das sandálias.

— Mas que porcaria é essa? — balbuciou um deles.

— Existe uma diferença clara entre um mero conhecedor e um verdadeiro mestre em Fuuinjutsu — disse Tsukino, saltando para longe; os guarda-costas fizeram o mesmo. — Um simples conhecedor usa selamento de forma isolada, como se fosse apenas mais uma técnica dentre tantas em seu repertório...

— Desgraçados! O que pensam que estão fazendo? — vociferou o líder.

— Já um mestre não... — Tsukino media a distância com os olhos, certificando-se que estava fora do raio de alcance. — Um mestre em Fuuinjutsu sempre luta usando mais de um selamento, e cada jutsu está em harmonia com o próximo. É tipo montar um quebra-cabeça.

A líder do País da Lua fez um único selo na mão direita. Uma fumaça esbranquiçada começou a escapar daquela marcação no solo, fazendo um barulho desagradavelmente familiar. Era um assobio baixo e constante.

— N-nosso chakra... — um dos salteadores estremeceu. — Ele está...

“Então, ela o usou para fazer isso”, não restava outra coisa senão o fim. O líder do grupo fechou os olhos e aguardou, aguardou...

Como a distância havia sido bem calculada, a explosão não os atingiu dali. Mesmo assim, Tsukishima surpreendeu-se que aqueles cinco tivessem chakra o suficiente para formar uma bomba com aquele raio de alcance.

— Caramba, Tsukino-san! — o rapaz assobiou, impressionado. — Ainda bem que você é do tipo sensorial. Senão, acho que seríamos pegos naquilo também.

Tsukino abafou uma risada.

— Eles estavam em cinco e não eram meros Genin — explicou ela. — Você sabe; quanto mais forte é o chakra, maior é a explosão.

— Pare de se menosprezar. Você estava incrível, Tsukino-san! — disse Tsukishima, sorrindo e acenando positivamente.

Tsukino sentiu as maçãs do rosto ficarem mais quentes e, embaraçada, procurou a segurança da guardiã da Lua Crescente, que também era sua maior conselheira:

— Eu não disse, Tsukamaki-san? — falou um tanto orgulhosa de si mesma. — Eu sei me virar sozinha.

Tsukamaki não poderia negar o quão estava impressionada com as habilidades de luta de sua jovem senhora. Porém, sua admiração ia além disso. Tsukamaki sabia da predisposição que Tsukino tinha para com Fuuinjutsu, e o quão empenhada ela havia se tornado nos estudos, principalmente depois da morte brutal da mãe; e mais ainda com o aparecimento dos Yuurei. Tsukino era uma das pouquíssimas pessoas que Tsukamaki conhecia que, naquela faixa etária, já haviam atingido a proficiência em Fuuinjutsu e que não possuíam qualquer ligação com o antigo clã Uzumaki, do País do Redemoinho.

Mesmo assim, aquela combinação de técnicas de selamentos, para que funcionasse em batalha, exigia a restrição total do chakra do alvo dentro de uma área, a conversão do mesmo chakra em energia explosiva e, por fim, a liberação da bomba. E sendo certo que Tsukino jamais poderia utilizar algo assim em suas sessões de treinamento — uma vez que a letalidade daquela combinação era garantida —, logo, esta havia sido a primeira vez que Tsukino executara aqueles jutsus em sequência; e feito tudo em uma sincronia impecável.

“Como Tsukino-sama pôde progredir tão rápido em Fuuinjutsu ao ponto de lutar daquele jeito?”, perguntou-se Tsukamaki, observando a garota conversar animadamente com Tsukishima. E vendo-os ali, os dois jovens sorrindo e interagindo um com o outro, Tsukamaki trouxe à memória uma saudosa imagem. Há cinco anos, ela mesma tinha visto algo muito parecido.

A resposta era bastante óbvia. Tratava-se do mesmo motivo que os levara a aceitar o convite de Tsunade Senju e viajar até a Vila Oculta da Folha, a milhares quilômetros de distância do pequenino País da Lua.

— Hã? — Tsukino percebeu o olhar de sua guardiã sobre si e franziu a testa, confusa. — Algum problema, Tsukamaki-san?

“É por causa dele que a senhora tem se dedicado tanto, não é, Tsukino-sama? E também é a principal razão de estarmos indo até a Folha”, Tsukamaki perguntou retoricamente. “A senhora quer salvá-lo.”

 

 

                                                                            ***

 

 

Assim que atravessou o portal e percebeu onde Mira Uzumaki a havia levado, a primeira coisa que Suki fez foi torcer o nariz de desgosto.

— Então, você fez todo aquele drama só para me trazer até o seu quarto — meneou a cabeça. — Já te falei que não curto esse tipo de coisa, Mira. Eu prefiro homens.

Mas Mira não respondeu. Sentada frente à escrivaninha, estava totalmente concentrada no Ninpou: Toumegane no Jutsu (Arte Ninja: Técnica no Telescópio); e Suki tinha uma vaga noção de quem Mira estava observando.

Enquanto esperava qual fosse a razão de Mira tê-la chamado para uma conversa particular, Suki se distraía com o que via ao redor. Era a primeira vez que entrava nos aposentos de Mira Uzumaki. No geral, Suki encontrou o que já imaginava haver ali: livros e mais livros organizados e catalogados nas estantes de uma minibiblioteca, outra estante onde Mira guardava pergaminhos, uma lousa branca com fórmulas e símbolos desconhecidos, e uma vitrine na qual horripilantes máscaras oni ficavam enfileiradas. No mais, era o quarto normal de uma mulher solteira.

Chamou a atenção de Suki o buquê de flores de papel que Mira conservava dentro de uma espécie de barreira pequena sobre a mesa de cabeceira. Se a memória de Suki não estivesse enganada, era o mesmo buquê que Mira tinha consigo quando foi reencontrada por Iori, junto dos primeiros Yuurei, após deixar a Vila Oculta da Chuva.

“Olhem só, ela tem um lado sensível”, pensou Suki.

Outro detalhe que Suki notou foi o retrato pendurado na parede. Na foto, havia duas meninas ruivas que poderiam muito bem ser irmãs gêmeas, não fosse a discrepância em suas roupas, que notadamente separava suas classes sociais. Uma das garotas usava um elegante quimono vermelho e branco, provavelmente feito de seda, e tinha o cabelo bem penteado preso em duas trancinhas que pendiam sobre os ombros.

A segunda garota, no entanto, usava não mais que um vestido amarelo sem mangas; e, ao contrário da primeira, o cabelo ruivo estava solto e emaranhado. Havia dois curativos adesivos no rosto daquela menina — um na bochecha e outro no nariz —, além de um olho roxo. As duas pareciam felizes juntas na fotografia, embora fosse visível que a garota pobre tinha o sorriso mais exuberante, ao passo que a menina rica se mostrava mais introvertida.

“Oh, entendo”, pensou Suki. “Essas aqui são você e a sua sósia quando crianças no País do Redemoinho. Quem diria que você teria uma recordação guardada, Mira.”

E sorriu maliciosa.

 “Taka me contou sobre você”, tinha os olhos fixos na menina de vestido amarelo e rosto machucado. “Kushina Uzumaki, esposa do Quarto Hokage, mãe do Naruto e uma Jinchuuriki imunda. E a pessoa que a cadela da Mira mais preza.”

— Vejo que gostou do meu quarto — disse Mira, repentinamente em pé ao lado de Suki.

Suki virou-se para o lado. Mira a observava com ar indiferente.

— O que você quer comigo? — questionou Suki, indo direto ao ponto.

— Sabe o que vai acontecer hoje, não é?

— Claro que sei. Eu não sou idiota — Suki revirou os olhos. — Hoje é o tal Encontro das Nações Ninja, na Folha. E daí?

— Tenho um alvo que participará do Encontro, e creio que você é a pessoa mais indicada para interceptá-lo — disse Mira, cautelosa. — Mas não o mate até eu chegar.

A Assassina de Kages sorriu sarcástica.

— Por quê? A Princesa do Redemoinho não quer sujar as mãos? — ironizou Suki. — Desculpe-me, Mira-sama, mas estou ocupada trabalhando no recrutamento. Além disso, eu não sou a Hana; se me enviar atrás de alguém, eu vou matá-lo.

Mira deu um suspiro. Queria evitar atritos com Suki, por menores que fossem; mas, ultimamente, isso vinha sendo um desafio a sua paciência maior do que ela esperava.

— Contanto que o encontre no lugar certo, isso não a atrapalhará na sua missão — disse Mira, entregando um envelope pardo para Suki. — Este é o alvo. Acha que dá conta?

Suki pegou o envelope e conferiu seu conteúdo. Quando viu o rosto do alvo, a Assassina de Kages arregalou os olhos e, depois, sorriu deliciada

— Ah, Mira... — guardou a fotografia no envelope. — Se eu não te conhecesse, diria que está tentando me subornar. Me diga: por que ficou interessada no Gaara-kun? Afinal de contas, o seu príncipe encantado já está indo te encontrar — Suki franziu o cenho. — A menos que isso esteja, de algum modo, ligado à sua luta contra Naruto Uzumaki.

Mira assentiu.

— Infelizmente, o Kazekage é um amigo do Naruto — Mira assumiu um tom urgente —, e é exatamente por isso que você não deve matá-lo, Suki. Não quero que Naruto se sinta mal por perder uma pessoa próxima às vésperas de sua luta comigo. Isso vai prejudicá-lo.

— Que fofo — disse Suki secamente —, mas e se o Gaara-kun acabar morrendo sem querer? Talvez eu seja demais para ele — sorriu, olhando Mira nos olhos.

— Isso não vai acontecer — respondeu a vice-líder. — Você é uma Yuurei competente, Suki. Eu confio que fará seu trabalho direito.

E como se Suki não estivesse mais ali, Mira lhe deu as costas e se dirigiu à estante de pergaminhos. O olhar irritado da Assassina de Kages a seguia, enquanto o punho cerrado amassava a borda do envelope.

— Aqui está — disse Mira para si mesma, tirando um rolo verde da estante e se sentando junto à escrivaninha para estudá-lo.

 — Por que isso agora, Mira? — perguntou Suki, desconfiada. — E não venha me dizer que é por causa de Naruto Uzumaki. Eu não engulo essa.

— Eu disse a verdade, Suki.

— Mas não disse toda a verdade! — ralhou. — O que mais você tem em mente?

Sentada de costas, Mira Uzumaki parecia uma boneca imóvel.

— Eu quero me encontrar com o Naruto, Suki — disse Mira, por fim —, mas também quero envergonhar as Cinco Grandes Nações. Eu as odeio com tudo o que há em mim. A melhor forma de humilhá-las é profanando os pilares que as mantêm seguras; de modo que não haja esperança, nenhuma esperança, a qual elas possam se apegar.

A vice-líder dos Yuurei se virou para encarar a Quarta Oficial.

— Por isso, designei você para esta missão — disse ela —, Suki, Assassina de Kages.

— Entendo — respondeu Suki com um sorriso. — E pensar que até você tem um lado cruel, Mira. Se eu não te odiasse tanto, acho que até poderíamos ser amigas.

Depois disso, a Quarta Oficial conjurou um portal de trevas e deixou a vice-líder e seus aposentos para trás. E ao emergir da escuridão, viu o sol vespertino resplandecendo sobre o céu azul. Estava um dia bonito no País do Fogo.

Suki se pôs na estrada. O caminho à direita levava diretamente à Vila Oculta da Folha.

“Você é uma péssima mentirosa, Mira Uzumaki”, pensou Suki, tomando o caminho à esquerda, em direção à fronteira com o País do Vento. “Mas tudo bem. Eu aceito jogar o seu joguinho.”

— Além do mais, eu estava ansiosa para rever os garotos — disse Suki, audível —, especialmente a Temari-chan.

 

 

                                                                            ***

 

 

A viagem deles havia sido demorada e cansativa, mas conseguiram escoltar a Mizukage com sucesso até ali; e logo estariam debaixo da segurança da Vila Oculta da Folha. Cerca de cem metros separavam a comitiva da Névoa de seu destino final. Ao avistar os gigantescos portões de madeira ao longe, Misuno suspirou aliviada. Sua primeira missão como guarda-costas da Quinta Mizukage havia sido um sucesso. Ainda assim, se mantinha em alerta constante. Iria garantir, a qualquer custo, que sua senhora cruzasse os portões em plena segurança.

— Relaxe, Misuno. Eu posso sentir a sua ansiedade daqui — disse Mei, caminhando à frente dos dois guarda-costas. — Falta pouco agora.

Misuno assentiu respeitosamente, porém com ressalvas.

— Sim, minha senhora, mas ainda não...

Senhorita, Misuno — a Mizukage logo tratou de corrigir. — Por favor, não me trate como se eu fosse uma velha.

A jovem guarda-costas arqueou a sobrancelha. Já tinha conhecimento de que a Mizukage era uma pessoa sensível em relação à própria idade, embora, do ponto de vista de Misuno, ela não deveria ter problemas com algo do tipo. Afinal, Mei Terumi era uma mulher muito bonita em seus trinta e três anos.

Mesmo assim, não seria uma boa ideia irritá-la.

— Desculpe-me, senhorita Mizukage-sama. O que eu iria dizer é que, apesar de estarmos bem perto, ainda não chegamos à Folha. Podem haver inimigos à espreita.

— Não estou exatamente preocupada comigo — falou a Mizukage, soturna —, mas temo pela vila. Hoje faz uma semana desde que saímos.

Em geral, Mei Terumi era uma mulher alegre e sorridente. Mas a Quinta Mizukage tinha todos os motivos para estar sob tensão; o ataque dos Yuurei à Névoa e à própria vida de Mei foram recentes e, no episódio, a Mizukage viu, com horror e revolta, sua vila inteira ser manipulada pelo Genjutsu de uma única adversária. Conquanto acreditasse piamente que a diplomacia era o melhor caminho para unir o mundo ninja, e que Tsunade Senju fora sábia ao estender o convite às lideranças dos Países Menores, Mei se perguntava se não teria sido melhor permanecer em sua vila. Como Mizukage, seu primeiro compromisso era com seus próprios cidadãos.

Felizmente, tinha Choujurou por perto para tranquilizá-la com seus bons conselhos.

— Não se preocupe, Mizukage-sama — falou o guarda-costas, confiante. — Nosso povo ficará bem. A senhora, digo, a senhorita tomou as devidas precauções antes de partir. E ao escolher vir ao Encontro, estará lutando pelos interesses da Névoa junto a outras lideranças políticas.

— Choujurou-taichou tem razão, Mizukage-sama — disse Misuno. — Nossa vila está segura. E não se esqueça: os outros cinco estão lá e também são muito fortes.

Mei sorriu discretamente. Misuno mencionava o grupo de Jounin da elite da Vila Oculta da Névoa, escolhidos a dedo pela própria Mizukage para a realização de missões especiais. Dos sete que haviam sido selecionados para integrarem o esquadrão, dois — Choujurou e Misuno — foram encarregados de escoltá-la até a Vila Oculta da Folha, ao passo que os cinco restantes seriam a principal linha de defesa da Névoa enquanto Mei estivesse fora.

Embora estivesse relutante em reinaugurar aquela divisão, por ocasião do histórico temível que o nome tinha entre as Cinco Grandes Nações, Mei queria encerrar seus dias de Quinta Mizukage tendo conseguido ressignificar toda a herança da Névoa Sangrenta deixada por seu predecessor, o Quarto Mizukage Yagura. De certa forma, o ataque da Yuurei Hana Sakegari acabou contribuindo para esse fim, pois deu a Mei uma oportunidade para não apenas tirar a ideia do papel, como também testar, por si própria, os subordinados.

“Quem diria que quase ter sido morta por eles facilitaria a minha escolha”, pensou a Mizukage. Tanto em relação aos cinco que haviam ficado na Névoa quanto aos outros dois que a seguiam, Mei não poderia duvidar da força de seus companheiros. Convencendo-se de que a vila estaria segura em sua ausência, a Quinta Mizukage suspirou um pouco mais tranquila.

— Vocês estão certos — disse Mei —, e já que estou aqui, espero encontrar uma ótima casa de banhos termais. Meu corpo precisa de uma boa massagem e relaxar em água quente — e encolheu os ombros, desejosa.

Misuno se inclinou para o lado e cochichou ao ouvido do capitão:

— Choujurou-taichou, por que a Mizukage-sama age como se fosse uma velha?

— Você sabe... — Choujurou ergueu o rosto e sussurrou de volta. — Mizukage-sama já está chegando àquela idade. Ela se preocupa com a aparência agora mais do que nunca porque sabe que o tempo está passando e as chances diminuindo.

— Mas ela só tem trinta e três anos!

— Do ponto de vista da Mizukage-sama, ela tem trinta e três anos — observou Choujurou, que conhecia Mei de perto há muito mais tempo.

— Afinal, o que vocês dois estão cochichando aí atrás? — Mei franziu a testa, suspeitosa.

Choujurou adiantou-se, desconcertado:

— Na-nada demais, Mizukage-sama! — desconversou. — Eu estava comentando com a Misuno que também me sinto muito ansioso por reencontrar nossos amigos das outras vilas.

— É verdade, Mizukage-sama — acrescentou Misuno, com sua típica voz branda. — Choujurou-taichou está feliz porque é a oportunidade perfeita para rever a Kurotsuchi-san desde a missão que fizeram juntos na ilha Misuto.

O rosto do espadachim enrubesceu como uma pimenta.

 — E-eu não disse nada disso, Misuno! — gaguejou.

Mei riu da cena. Às vezes, esquecia-se de que seu fiel protetor ainda era bem tímido, apesar de todo o progresso que fizera. E embora tivesse desenvolvido a autoconfiança, Choujurou tinha uma notável dificuldade para lidar com as mulheres, principalmente as bonitas.

— Kurotsuchi-san agora é a Tsuchikage, Choujurou — observou Mei, descontraída. Entrar naquela conversa entre jovens a fazia se sentir de volta aos vinte anos, o que era ótimo por si só. — Como lidará com isso? Eu pretendo nomeá-lo Sexto Mizukage algum dia.

— Mizukage-sama tem razão. Um casamento entre dois Kages é impossível — comentou Misuno, casual.

E só depois que aquelas palavras lhe saíram pela boca, Misuno percebeu que havia baixado a guarda. “Oh, não! O outro assunto proibido para a Mizukage-sama”, estremeceu.

Quando Misuno deu por si, Mei já estava parada bem a sua frente, encarando-a com os olhos gélidos e medonhos. Ainda que fosse uma mulher mais alta do que a Quinta Mizukage, Misuno se sentiu pequena e todos os sentidos de seu corpo gritavam em alerta máximo para o risco de morte iminente. A expressão assassina no rosto de Mei só confirmava seus temores.

— Misuno... — a Mizukage sussurrou fria. — Não diga essa palavra novamente. Senão eu te mato.

— S-sim, senhora...

— É senhorita, Misuno.

— Sim, senhorita! — Misuno balançou a cabeça, tensa. — Juro que terei mais cuidado.

Enérgica, Mei estreitou os olhos e ergueu o dedo indicador, balançando-o fervorosamente ante o rosto de Misuno, que engoliu em seco.

— Escuta aqui, eu não vou ser uma solteirona pelo resto da minha vida! Ainda sou uma mulher jovem, bonita e tenho bastante tempo pela frente; e eu irei me casar — murmurou Mei enfática. — Não é verdade, Choujurou? Fala pra ela!

— Certamente que sim, senhorita Mizukage-sama! — respondeu o outro guarda-costas, sacudindo a cabeça enquanto forçava um sorriso apaziguador para Mei Terumi. — A senhorita consegue. Dê seu melhor!

— Viu só? — Mei virou-se novamente para Misuno, encarando-a com severidade. — É assim que se fala.

A guarda-costas assentiu nervosamente com a cabeça, enquanto mantinha-se dura feito uma estátua do pescoço para baixo. Misuno também já tomara conhecimento da preocupação que Mei tinha com a própria vida amorosa, e do quão agressiva a Mizukage poderia reagir ao simples sussurro da palavra “casamento” — ou qualquer coisa aleatória que, na cabeça obsessiva de Mei Terumi, fizesse menção ao matrimônio. Ainda assim, entre apenas ouvir falar e presenciar um surto da Quinta Mizukage Mei Terumi, a “Talentosa da Névoa Oculta”, havia uma diferença enorme.

“Essa vontade obstinada da Mizukage-sama por encontrar o homem certo para casar... é algo que beira o desespero! Ela realmente poderia ter me matado!”, analisou Misuno, procurando recobrar a calma. A máscara que ela costumava usar ia e voltava sobre seu nariz e boca, acompanhando o ritmo da respiração que, aos poucos, desacelerava.

Mas tudo passou a não fazer o menor sentido quando Mei pôs a mão sobre um dos ombros de Misuno e lhe deu um belo sorriso.

— Desculpe-me se te assustei — disse a Mizukage. — Eu me esqueci que você ainda é novata nesse trabalho, Misuno.

Depois disso, Mei virou as costas e prosseguiu a caminhada, como se nada tivesse acontecido.

 

 

 

 

Quando Mei e seu grupo chegaram aos portões da Folha, foram recepcionados pela assistente pessoal da Quinta Hokage. Shizune apareceu em uma pequena explosão de fumaça e se curvou em uma educada mesura.

— Seja muito bem-vinda, Mizukage-sama! — Shizune falou com um sorriso cortês. — Espero que sua viagem até aqui tenha sido bastante agradável.

— Obrigada, Shizune — respondeu Mei gentilmente. — Será nossa acompanhante, eu suponho.

— Sim, senhora — mas ao contrário do que Choujurou e Misuno esperavam, Mei não pareceu se importar nem um pouco por ser chamada de “senhora” ali, o que soou bastante injusto para os dois ninjas da Névoa. — Tsunade-sama lamentou não poder recepcioná-la pessoalmente e me incumbiu desta tarefa. Irei auxiliá-la no que for preciso durante sua estada conosco.

Mei assentiu compreensiva.

— Tsunade-sama deve estar muito atarefada durante estes dias. Eu entendo a posição dela. Agora, já que você está aqui...

Aproveitando a disponibilidade de sua nova acompanhante, Mei perguntou pelas melhores casas de banho termal que oferecessem serviços de spa e massagem na Vila da Folha. Enquanto Shizune as enumerava, um segundo grupo chegou aos portões da vila.

— Oh! Bem-vinda, Tsuchikage-sama! — saudou Shizune tão logo percebeu a comitiva da Pedra.

Kurotsuchi, percebeu Choujurou, parecia uma mulher totalmente diferente como Tsuchikage. Ela usava o cabelo mais curto nas laterais, o que acentuava os traços mais finos de seu rosto; e trocou o uniforme padrão de Jounin da Pedra por um vestido vermelho com apenas uma manga comprida para o braço esquerdo, ao passo que o direito ficava totalmente à mostra. O vestido também era aberto na frente da cintura para baixo e deixava a perna de Kurotsuchi descoberta até a curva da coxa. No lugar das típicas sandálias ninjas, ela calçava sandálias rasteiras de couro amarronzado. O único acessório que não havia abandonado era o par de luvas pretas.

Embora fosse uma questão de aproximadamente dois meses desde que a tinha visto pela última vez, Choujurou sentiu como se Kurotsuchi não fosse mais a moça que ele havia conhecido. E talvez não fosse mesmo. Ao se tornar a Quarta Tsuchikage após a trágica morte de seu avô, o lendário Terceiro Tsuchikage Oonoki, Kurotsuchi suportava o fardo de guiar a Vila Oculta da Pedra em um momento crítico, onde uma guerra contra os Yuurei poderia estourar a qualquer minuto.

Se não bastasse, era comum que, tão logo um Kage viesse a falecer, os inimigos da respectiva vila ninja se alvoroçassem, aproveitando-se da instabilidade local para causar problemas. Ademais, embora fosse a neta de Oonoki e a filha do também falecido Kitsuchi, ex-capitão da Segunda Divisão durante a Quarta Guerra Ninja, e uma Kunoichi das mais habilidosas, Kurotsuchi também tinha que trabalhar duro para convencer o Senhor Feudal do País da Terra e outras lideranças políticas que o fato de ter se tornado a Tsuchikage mais jovem da história não era empecilho para que desenvolvesse um governo de excelência.

“Kurotsuchi-san parece uma mulher muito mais madura e responsável agora”, pensou Choujurou com um sorriso solitário, “e está mais... feminina também.”

Mas quanto Kurotsuchi se virou para cumprimentá-lo, Choujurou enrijeceu como uma pedra e corou de vergonha.

— Você continua tão estranho como sempre, Boca-de-tubarão. — Kurotsuchi sorriu debochada. — Luta com bravura, mas não sabe conversar com as pessoas sem tremer? Cuidado para não passar uma má impressão de ser um líder fraco.

Mei se adiantou:

— Ele é mais forte do que você pensa, Kurotsuchi-san — a Mizukage pôs a mão sobre o ombro de Choujurou, que, sentindo o toque, voltou-se para Mei e a viu lhe dar uma piscadela e um sorriso encorajador. — Choujurou é chefe do principal esquadrão de elite da Névoa e o homem que será o Sexto Mizukage.

Kurotsuchi não parecia impressionada, mas assentiu por educação.

— Espero que não assuma tão cedo quanto eu. Ser jovem e já se tornar um Kage significa encarar uma série de problemas e correr o risco de não ter a experiência e a sabedoria necessárias para lidar com todos eles — Kurotsuchi deu com os ombros —, a menos que você seja alguém tão legal quanto o Kazekage — e virou-se para Shizune. — A propósito, a Areia e a Nuvem já estão aqui?

Shizune assentiu.

— Gaara-kun já está aqui faz algumas horas. Foi o primeiro Kage a chegar — respondeu Shizune. — Quanto ao Raikage-sama, ele chegou um pouco depois.

— Viu só? — Kurotsuchi fez uma careta. — Não era à toa que meu avô gostava dele. Aquele Gaara é todo exemplar, ao contrário do resto de nós — brincou a Tsuchikage.

Mei virou-se para a assistente de Tsunade.

— Além de nós, os Cinco Kages, quem resta chegar?

— Os líderes dos países da Chuva, Geada e Primavera — respondeu Shizune.

— Um babaca multimilionário, um Senhor Feudal e uma atriz famosa — Kurotsuchi suspirou — contra os malditos Yuurei. Espero não me arrepender de ter vindo aqui. Talvez tivesse sido melhor reunir apenas os Cinco Kages.

— Não seja tão pessimista, Kurotsuchi-san — disse Choujurou. — Podemos encontrar aliados importantes contra esses inimigos, o que seria benéfico e militarmente menos custoso para todos nós. Além disso, temos a chance de fortalecer os laços diplomáticos entre as Cinco Grandes Nações e os Países Menores.

Kurotsuchi franziu a testa, impressionada.

— Sabe, até que você daria um bom Mizukage.

 

 

                                                                            ***

 

 

Temari fechou os olhos e se deixou levar por aquela sensação agradável. A brisa refrescante soprava suavemente contra sua pele e trazia consigo um cheiro de verde no ar; e isso era algo que ela jamais poderia esperar do clima árido do deserto. Temari não o admitia com frequência, mas gostava de visitar a Vila Oculta da Folha, rever suas belas paisagens e sentir o vento tropical.

E claro, experimentar a boa culinária.

Os doces de castanha, seus preferidos, não corriam qualquer risco de vir com grãos de areia por acidente. Dentre todos os lugares que Temari conhecia, a loja de doces Amaguriama, na Vila Oculta da Folha, sem dúvida fazia os melhores.

— O Chouji estava errado, Shikamaru... — Temari saboreou o doce com calma. — Este lugar não mudou quase nada desde a última vez em que estive aqui. Está quase como eu costumava me lembrar.

Diferentemente de Temari, Shikamaru não poderia dizer que doces — especialmente de castanha — eram seu prato predileto, mas a lojinha Amaguriama lhe trazia boas recordações com os companheiros do Time Dez. Além da churrascaria, Asuma também costumava levá-los ali para comer após os treinos, e foi naquela mesma bancada que seu antigo professor lhes noticiou que o Time Dez participaria do Exame Chuunin.

Em silêncio, Shikamaru observava a namorada se deliciar com as bolinhas de castanha granulada. Vê-la ali, sentada com as pernas cruzadas e o olhar distraído, o fazia suspirar enquanto se sentia incapaz de desgrudar os olhos dela. Temari poderia ser um tremendo pesadelo às vezes; mas ali ela era um sonho agradável, do qual não se quer acordar. Deslumbrado, Shikamaru riu consigo mesmo; era um homem de muita sorte.

Ademais, Shikamaru se sentia duplamente grato. Em primeiro lugar, por Tsunade tê-lo selecionado para acompanhar a comitiva do Kazekage. Em segundo, por Gaara não ter escolhido fazer seu tour pela vila naquele horário. E estar desocupado de seus serviços de acompanhante significava que Shikamaru teria algumas horas para descansar e esfriar a cabeça, e passar o tempo livre com Temari antes de o Encontro começar. Shikamaru precisava recobrar as energias. Em breve, enfrentaria outros rounds contra o estresse e o cansaço.

— Essa aí é a sua cara de saudade? — perguntou Temari, achando graça do rosto combalido do namorado. — Olha, eu esperava mais.

— Não me leve a mal, mas essa aqui é a minha cara de sono — Shikamaru retrucou.

— Ah, é claro. Só que você está sempre com ela, Shikamaru.

— Este é o meu segredo — coçou os olhos —, estou sempre com sono.

Temari meneou a cabeça, fingindo reprovação. Ainda não sabia explicar como, mas aquele jeito preguiçoso e entediado dele havia conseguido conquistar seu coração, até então, indomável. Shikamaru não era, nem de longe, o tipo de homem com o qual ela sonhara quando menina, e a beleza dele não era lá das mais atraentes — na verdade, Temari conhecia outros homens muito mais bonitos, fortes e chamativos. Shikamaru Nara era só mais um cara comum, de aparência mediana, que poderia facilmente ter passado desapercebido por sua vida, caso nunca tivessem se enfrentado naquele Exame Chunnin de cinco anos atrás.

Mesmo assim, era por Shikamaru Nara que o coração dela batia descompassado. Temari corou, enquanto disfarçava o sorriso apaixonado. Sentia-se feliz por não ter sido algo tão superficial quanto a beleza física que havia lhe despertado os sentimentos por ele. Seria algo infantil demais e Temari não era nenhuma menininha estúpida, mas sim uma mulher madura que não se deixava levar por um mero rostinho bonito — como o de Sasuke Uchiha, por exemplo.

Embora, além das qualidades intelectuais, Shikamaru também tinha seu charme; e sabia abraçá-la como ninguém.

Aérea com os próprios pensamentos, mal o ouviu perguntar:

— Você pensou naquilo que conversamos?

— Hã? Você...

Temari não havia escutado, realmente. Mas quando olhou bem nos olhos de Shikamaru, logo soube a que ele estava se referindo. Envergonhada, hesitou por alguns instantes até responder:

— Um pouco — disse Temari. — Essa loucura com os Yuurei acabou bagunçando todos os meus planos para o futuro. Você sabe, não é? É complicado. Não é uma decisão que se faz de uma hora para a outra. Mas prometo pensar melhor depois que tudo isso terminar e nossas vidas voltarem ao normal.

— Entendo.

Shikamaru se limitou a encolher os ombros e desviar o rosto para as nuvens. Ainda que estivesse com a mesma expressão cansada de antes, Temari havia reconhecido o desânimo nos olhos do namorado. Culpou-se por isso.

— Seria mais fácil se fosse você a se mudar para a Areia — confessou ela, com uma brandura que surpreendeu Shikamaru. — Mas eu sei que você será o braço direito do Naruto quando ele se tornar Hokage. Ele precisa dos seus conselhos. Se você não estiver por perto, Naruto vai arruinar esta vila.

Shikamaru deu um sorriso fugaz.

— Ele não é o mesmo idiota de tempos atrás. O Naruto é...

— Eu sei, Shikamaru — interrompeu-o Temari. — Naruto Uzumaki é um homem agora, e um herói de guerra que, literalmente, salvou o mundo. Ele é o Shinobi mais importante desta vila e, talvez, do mundo inteiro.

O cansaço lhe era evidente, mas Shikamaru fazia o possível para não transparecer a apreensão. Pois pensar no amigo Naruto o fazia, automaticamente, lembrar-se de Kushina Uzumaki, de Mira Uzumaki e todas as possibilidades que interligavam os três. Mesmo que fosse sua namorada e, com sorte, a mulher com a qual dividiria a vida no futuro, Shikamaru via-se relutante em compartilhar aqueles problemas com Temari — não porque não confiasse nela, mas porque não queria pô-la em risco, tornando-a participante daquilo tudo.

Por isso, dissimulou, assentindo em silêncio.

— Sabe, eu ainda me espanto com tudo isso — disse Shikamaru. — Ver como ele conseguiu ir tão longe e se tornar tão necessário para todos nós.

— E, ainda assim, o Naruto precisa de você. — Temari, carinhosamente, tocou-o na bochecha. — E já que você será o Conselheiro do Sétimo Hokage, então não temos muitas opções. Um de nós vai ter que ceder, se quisermos que isso funcione.

Após Temari dizer aquelas palavras, Shikamaru viu, pela primeira vez em muito tempo, a namorada demonstrar preocupação. Não era de hoje que planejavam o futuro juntos e um relacionamento a distância exigia ainda mais cuidado. Apesar de Shikamaru se sentir um pouco mais ansioso a respeito, sabia que Temari estava certa: não era uma decisão que poderia ser feita de uma hora para outra. Mais do que dois ninjas de vilas diferentes, eram cidadãos de países diferentes.

Mesmo que a Folha e a Areia fossem relativamente próximas uma da outra, o simples fato de um deles deixar a vila natal e decidir se mudar para a do outro implicava em um deles — Shikamaru ou Temari — deixar todos os laços para trás e migrar rumo a uma vida nova em um lugar desconhecido. Conquanto já tivessem se visitado mutuamente e conhecido melhor as vilas um do outro naqueles dois anos de relacionamento, não era a mesma coisa que construir um lar em um país estrangeiro. “Um de nós vai ter que ceder, se quisermos que isso funcione”, disse-lhe Temari. Shikamaru não precisou de mais do que aquilo para compreender. Ela estava disposta a fazer aquele sacrifício por ele, para que pudessem, finalmente, viver juntos. Shikamaru a amou ainda mais por isso.

— Obrigado, Temari.

A Kunoichi da Areia olhou para a expressão do namorado e riu debochada. Shikamaru tinha uma feição meio embasbacada, meio solene, que Temari achou um tanto fofa.

— Não me olhe como se eu estivesse te fazendo um favor, seu idiota — disse ela com um sorriso. — Eu faço isso por nós dois e porque Temari Nara soa bem aos meus ouvidos. A propósito, quando vai tomar vergonha na cara e pedir a minha mão?

Shikamaru coçou a cabeça, desconcertado.

— B-bom, eu estava pensando em como fazer isso direito — admitiu ele. — Sabe, querendo ou não, você é a irmã do Kazekage e...

— Ah, não! Você pensou em falar com o Gaara primeiro? Achei que quisesse casar comigo. — Temari riu. — Mas seria engraçado te ver pedindo permissão ao meu irmão. Lembro que o Gaara te fazia borrar as calças de tanto medo.

— Eu não era o único que tinha medo dele — e olhou-a de um jeito cínico.

— Engraçadinho.

Ela o puxou pela nuca e o beijou. A boca de Shikamaru tinha gosto de café, o que para Temari pareceu um tanto cômico. Na certa, fruto de várias noites mal dormidas. Temari não se importou; o sabor a agradava.

Quando os lábios se separaram, Shikamaru inspirou profundamente, estremecido.

— Depois dessa, acho que eu perdi o sono.

Temari deu um sorrisinho e recostou a cabeça sobre o ombro do namorado. Os dois olhavam para o horizonte e, sossegados, aproveitavam cada segundo que dispunham da companhia um do outro.

— Não vou mentir para você, Shikamaru, estou um tanto receosa em me mudar e deixar aqueles dois — confessou Temari, observando uma nuvem. — O Gaara melhorou bastante e, acredite se quiser, acho que tem uma garota envolvida nisso.

Shikamaru piscou duas vezes para ter certeza de que não estava delirando.

— Você quer dizer... — hesitou, surpreso. — O Gaara está... saindo com alguém?

Olhou para Temari, que tinha uma expressão incerta.

— Não é nada oficial ainda, e eu seria a primeira para quem o Gaara iria contar, mas sim — respondeu Temari. — Meu irmão está interessado em alguém. O nome dela é Matsuri; foi a única aluna do Gaara no primeiro ano em que passamos a implementar os métodos de treinamento da Folha para o Exame Chuunin, e hoje ela é a secretária dele. Há um tempo eu percebi que o Gaara gosta de tê-la por perto, e a trata diferente das outras garotas.

— Entendo. Eles são bem próximos, pelo visto. — Shikamaru divertiu-se ao imaginar o Kazekage sozinho no escritório com uma secretária igualmente jovem, principalmente porque se tratava de Gaara, um homem bastante reservado. — E essa Matsuri, ela sente algo por ele?

— Matsuri sempre foi uma admiradora do Gaara — disse Temari. — Eu a conheço bem de perto para saber que ela não é só mais uma garotinha do fã-clube do meu irmão. A Matsuri nutre algo sério pelo Gaara, o que me deixa feliz. Como irmã mais velha, saber que o Gaara tem alguém por perto que se importe de verdade com ele me tranquiliza um pouco.

— Um pouco? — estranhou Shikamaru.

Temari fez que sim.

— Infelizmente, Gaara ainda encontra dificuldade para se relacionar com as pessoas — explicou. — Consequência de uma vida solitária na infância. Não é nada fácil para ele abrir o coração e se confessar para uma mulher.

Shikamaru assentiu, compreensivo. Para alguém que crescera como um Jinchuuriki, entender as relações humanas era sempre mais difícil. E Temari, ainda que confiasse nos sentimentos de Matsuri por Gaara, queria poupar o irmão caçula de uma possível decepção amorosa; principalmente porque, em breve, já não estaria mais por perto. Como irmã mais velha, Temari era a única referência feminina que Gaara tinha na família.

— Se quer saber, acho que deveria deixá-lo descobrir por si só — disse Shikamaru, dando de ombros. — Faz parte do que significa ser um homem. É o que o meu velho provavelmente me diria.

Temari riu, concordando.

— Quanto ao Kankuro, eu estou mais desesperançosa — confidenciou. — Ele é mais extrovertido, e vive provocando o Gaara a respeito da Matsuri, mas... bom, ele teria mais sorte se não usasse a pintura de guerra o tempo todo. Kankuro é um homem bonito, mas aquela tinta roxa diminui as chances dele com as mulheres. Se não bastasse, quando está reparando as marionetes, meu irmão tem o péssimo hábito de conversar com aqueles bonecos como se fossem pessoas de verdade. É bizarro.

— Tem razão — admitiu Shikamaru, casualmente. — Eu sempre achei o seu irmão um tanto medonho e esquisito com aquela maquiagem na...

Então Shikamaru se dobrou para a frente, assim que o soco de Temari o atingiu em cheio no lugar sensível que todo homem tem entre as pernas.

— Por quê...? — ele gemeu de dor.

— Não deboche do meu irmão, Shikamaru — Temari estreitou os olhos, terrível. — Ninguém, além de mim, tem esse direito.

 

 

                                                                            ***

 

 

Do alto da galeria do Salão Nobre, Sasuke viu Tsunade consultar o relógio impaciente, e com razão. Faltavam menos de dez minutos para as 15h, horário agendado para o início do Encontro das Nações Ninja, e nem todos os convidados estavam presentes.

Tudo havia sido planejado para tornar aquela reunião o mais participativa possível para os governantes dos Países Menores. Tsunade agiu sábia e meticulosamente para que aquele evento não fosse, na prática, mais uma Reunião dos Cinco Kages, só que acrescida de convidados novos. Diligentemente, havia posto uma mesa redonda e espaçosa, organizando os assentos de maneira intercalada entre os Kages e os líderes das outras nações, precavendo-se, inclusive, de não deixar velhas inimizades muito próximas umas das outras. Embora se tratasse de um encontro diplomático, reuniões como aquela tinham o potencial de aflorar os ânimos e Tsunade queria evitar maiores problemas, desde discussões paralelas a eventuais tentativas de homicídio.

— Ei, Tsunade! — esbravejou Kira Ay, o Quarto Raikage, sentado à mesa de reunião. — Aquele cretino do Toraiyama acha que, só porque tem dinheiro, devemos esperá-lo? Vamos começar isso e ele que se dane!

A voz rabugenta do Quarto Raikage se fazia ouvir muito bem nas galerias do salão, e o teto abobadado reverberava o som de tal maneira que praticamente nenhuma palavra dita no primeiro andar se perdia no vácuo. Sai se debruçou sobre o corrimão e deu um sorriso leve, divertindo-se com a impaciência de Ay.

— O Raikage-sama não mudou nada — Sai comentou com os dois companheiros que haviam sido designados para fazer a segurança da Hokage: sua capitã da ANBU, Yuugao Uzuki, e o companheiro do Time Sete, Sasuke Uchiha. — Mas ele tem razão. A comitiva da Chuva já deveria ter chegado.

Yuugao assentiu com a cabeça.

— A Vila da Chuva foi o último local de onde tivemos notícias do Naruto — acrescentou Yuugao. — Embora tente disfarçar, a ansiedade no rosto da Tsunade-sama é visível. E no seu também, Sai.

O tenente da ANBU fez que sim.

— Se não estivesse de máscara, Yuugao-taichou, eu poderia dizer a mesma coisa a seu respeito — disse Sai, que desviou o rosto para a expressão analítica de Sasuke. — Algum problema, Sasuke-kun?

Sasuke Uchiha tinha os olhos fixos no assento vazio à direita de Tsunade.

— Não é só a Vila da Chuva — observou Sasuke —, o País do Ferro também deveria estar presente.

Sai e Yuugao se entreolharam cautelosos. Diferentemente de Kira Toraiyama, Mifune, o líder dos samurais, não lhes enviara qualquer resposta. O General do Ferro era um homem educado e metódico; ignorar o convite oficial para o Encontro das Nações Ninja não seria a forma que ele escolheria para responder à Hokage, com quem lutara lado a lado na última guerra.

— Segundo Shikamaru-kun, nós já poderíamos esperar que pelo menos um de nossos falcões mensageiros fosse interceptado antes de entregar o convite para o Encontro — disse Sai, sério. — Ao que tudo indica, foi aquele enviado ao País do Ferro.

— E mesmo ciente do risco, Shikamaru adotou esse método tão rudimentar — comentou Yuugao, crítica. — É como se ele quisesse contar ao inimigo o que estávamos planejando.

Lá do alto, Sasuke olhou para o rosto indiferente de Shikamaru Nara, parado em pé ao lado de Tsunade.

— É o que parece.

— Mas se foram mesmo os Yuurei que interceptaram nossa mensagem, então... — Sai parou para refletir. Como membro do Conselho da Folha, já tinha ciência que Shikamaru buscava uma forma de contra-atacar os Yuurei. Mas, até agora, nem Sai nem qualquer outro conselheiro sabiam o que Shikamaru Nara tinha em mente; e alertar os Yuurei não fazia o menor sentido.

Yuugao Uzuki balançou a cabeça pesadamente.

— Exato. Os Yuurei já devem ter descoberto quais líderes compareceriam no Encontro hoje — deduziu insatisfeita —, e puderam escolher se iriam atacá-los no meio do caminho, se atacariam as vilas desprotegidas; ou o que é pior: se viriam atacá-los aqui.

Lembrando-se que por muito pouco conseguira escapar de um encontro com Mira Uzumaki — e não antes de vê-la aniquilar quatro divisões ANBU inteiras de uma vez só —, Sai estremeceu. Ao contrário de alguns amigos, o tenente da Primeira Divisão da ANBU não estava ansioso para reencontrar os Yuurei tão cedo. Sai temia pela segurança da recém-recuperada Vila Oculta da Folha e a de todos os visitantes ali reunidos; nem todos os governantes que atenderam ao convite de Tsunade eram combatentes. Garantir a segurança dos convidados e consolidar uma aliança entre as Cinco Grandes Nações e os sete Países Menores ali representados era muito mais importante — além de ser o estrategicamente correto — do que provocar um confronto direto com os Yuurei.

Ademais, mesmo com a presença de Sasuke Uchiha e dos Cinco Kages, a vitória não seria garantida caso o inimigo viesse com força máxima. Além disso, na hipótese de os Yuurei invadirem a Folha durante o Encontro, e Mira Uzumaki viesse com eles, jornada de Naruto teria sido em vão. E mesmo que esse não fosse o caso, apenas pelos Yuurei saberem sobre o Encontro das Nações Ninja já qualificava todos os integrantes daquela reunião, e seus respectivos países, como possíveis alvos do inimigo. “A capitã tem motivos para desconfiar”, pensou Sai, “enviar aqueles falcões foi arriscado demais. O que Shikamaru-kun tem em mente?”

— Pois que venham — Sasuke estreitou os olhos. — Minha espada ainda não provou sangue de Yuurei.

Sai atentou para a catana negra embainhada à cintura de Sasuke. Já conhecia a procedência daquela nova espada de Kusanagi, de que material era feita, quem a havia fabricado e por qual razão.

— Você fala como se pudesse exterminá-los sozinho — reprovou Yuugao.

Sasuke não respondeu imediatamente. Um a um, ele observou os demais times de escolta agrupados nas galerias. Tinha dúvidas com relação àqueles que vinham dos Países Menores, principalmente de onde sabia não existir uma vila ninja; mas estava certo de que os guarda-costas de todos os Cinco Kages eram Jounin. Alguns rostos lhe já eram muito bem conhecidos: Kankuro, Temari, Darui e Choujurou; todos eles dispensavam quaisquer apresentações. Também estavam presentes Karui, da Vila Oculta da Nuvem, Akatsuchi e Sui Raiji, ambos da Vila Oculta da Pedra. Os demais rostos, entretanto, Sasuke nunca tinha visto antes.

— Quem sabe — Sasuke respondeu à Yuugao. — Mas uma coisa ficou clara para mim desde a ilha Misuto: enquanto Naruto não estiver aqui, o único que pode proteger este lugar dos Yuurei sou eu.

 

 

                                                                                       ***

 

 

Os olhos castanhos de Tsunade Senju transbordavam inquietação. Embora não quisesse dar início ao Encontro sem que, primeiro, todos os convidados tivessem chegado, o grito de Ay havia atiçado a impaciência sobre os demais que, assim como o Raikage, comprometeram-se com o horário marcado para aquela reunião. Por mais receosa que estivesse, Tsunade não poderia esperar mais pela chegada de um único convidado; seria uma desconsideração enorme com os outros ali presentes.

Sendo assim, Tsunade só poderia torcer para que o não comparecimento do País da Chuva fosse mera coincidência, e não algo ligado a Naruto e aos Yuurei. “Maldito seja, Kira Toraiyama”, ralhou a Hokage em pensamentos enquanto olhava para o assento vazio à sua direita, “é melhor que você apareça logo!”

Como anfitriã e organizadora daquele evento, Tsunade se assentava no lugar mais ao fundo que a mesa redonda lhe proporcionava no salão, e de frente para as portas. Imediatamente à sua direita, estava o assento reservado para o líder do País da Chuva, Kira Toraiyama, até então o único ausente. O Quinto Kazekage, Gaara do Deserto, vinha na sequência.

Ao lado da Areia, o País da Primavera — outrora País da Neve —, cuja rainha se chamava Koyuki Kazahana, conhecida mundialmente por seu trabalho como atriz de cinema, sob o pseudônimo Yukie Fujikaze. A jovem rainha Koyuki fora salva por Naruto e os demais integrantes do Time Sete durante uma missão no até então denominado País da Neve, que era controlado por Dotou Kazahana, o tio de Koyuki e responsável pelo assassinato do próprio irmão, o rei. Após Naruto derrotar Dotou Kazahana e desfazer, com o auxílio da princesa, a técnica responsável por tornar o pequeno país uma terra que só conhecia o inverno, Koyuki assumiu seu lugar de direito ao trono e rebatizou o lar como País da Primavera. Desde então, Koyuki Kazahana concilia o ofício de governante com a carreira de atriz famosa. Inclusive, protagonizou o primeiro filme da série Icha Icha, escrita por Jiraiya, quando o romance ganhou uma adaptação para o cinema.

Sentada à direita de Koyuki, estava Mei Terumi, a Quinta Mizukage; em seguida, Shimo Kunizaro: um velho barrigudo e mal-encarado que era o Senhor Feudal do País da Geada. Embora não pertencente às Cinco Grandes Nações, o País da Geada era um dos Países Menores cujo governante integrava o Sistema Feudal e, por isso, durante os eventos da Quarta Grande Guerra Ninja, Shimo Kunizaro esteve sob a proteção de Mei, assim como os Senhores Feudais das Cinco Grandes Nações.

O próximo era Hiroshi Shirokuzo, o Senhor Feudal do País dos Vales. Um homem deveras orgulhoso, o qual Tsunade jamais esperaria que estivesse ali presente. Em contrapartida, Hiroshi era bastante preocupado com a segurança de seu país, o que, na certa, levou-o a atender o convite para o Encontro das Nações Ninja.

A Quarta Tsuchikage, Kurotsuchi, sentava-se à direita de Hiroshi e à esquerda de Tsukino, a líder do remoto País da Lua. Tsukino era a mais jovem Chefe de Estado ali presente e, assim como a rainha Koyuki do País da Primavera, também tinha uma relação amistosa com Naruto Uzumaki. Por um breve período e por circunstâncias que Tsunade desconhecia, Naruto esteve sob os cuidados de Tsukino no País da Lua, onde cresceram próximos um do outro. Era um tanto curioso para Tsunade que Naruto fosse tão popular entre princesas e jovens rainhas ao redor do mundo. Mas a julgar pela companhia que Naruto tivera durante o treinamento fora da Vila Oculta da Folha, até que fazia sentido.

“Jiraiya, seu canalha oportunista”, murmurou a Hokage consigo mesma.

Shibuki, o líder da Vila Oculta da Cachoeira, era mais um dos nomes ali presentes simpáticos ao Herói do Mundo Ninja; e saber que Naruto Uzumaki era alguém bem-visto entre lideranças jovens dos Países Menores se mostrou extremamente vantajoso para Tsunade. A probabilidade de a Folha conseguir formar uma coalizão com as demais Vilas Ocultas e países ali representados contra os Yuurei era bastante alta, considerando que Naruto lhes servia como ligação.

O Quarto Raikage, Kira Ay, como de praxe, seria um dos mais difíceis de lidar, embora Tsunade estivesse confiante que a recente parceria entre a Folha e a Nuvem, bem como o fato de as Cinco Grandes Nações haverem lutado como aliadas pudesse facilitar as coisas. Ademais, o temperamento explosivo de Ay, combinado com o trágico episódio de captura e assassinato de seu irmão, Killer Bee, faziam dele o Kage que, dentre todos os Cinco, provavelmente, mais desejava destruir os Yuurei. Até mais do que a própria Tsunade, Mei e Kurotsuchi, cujas vilas também foram atacadas.

 Por último, sentado entre o Raikage e a Hokage, estava o líder do País da Grama, Mujou do clã da Prisão Celestial, e Senhor do Castelo Houzuki — mais conhecido como a Prisão de Sangue —, o maior complexo de contenção criminal existente em todo o mundo ninja. Apesar de a pele pálida, dos cabelos e da barba grisalhos, e das calhas lacrimais lhe darem uma aparência tenebrosa e um tanto vampiresca, Mujou era um homem bastante simpático e altruísta, que acreditava piamente na possibilidade de recuperação do pior criminoso. De todos os Países Menores ali reunidos, o País da Gama, com sua respectiva Vila Oculta, era o único que declarava oficialmente uma aliança com a Vila Oculta da Folha.

“Todos estão aqui, menos um”, observou Tsunade, que, olhando de esguelha, consultou Shikamaru. O jovem Conselheiro da Folha estava parado em pé ao seu lado e deu de ombros, na mais típica expressão condescendente. Assim como ela, Shikamaru também cogitava a possibilidade de os Yuurei terem descoberto a estada de Naruto na Vila da Chuva. E conquanto Mira Uzumaki houvesse prometido imunidade aos Países Menores, Tsunade bem sabia, Naruto Uzumaki era o prêmio que a vice-líder dos Yuurei tanto almejava.

Quando o relógio marcou três horas da tarde, a Quinta Hokage suspirou pesarosa. O tempo havia acabado.

— Muito bem, senhores — começou Tsunade —, é com imensa satisfação que a Folha dá as boas-vindas a todos. Àqueles que, prontamente, atenderam ao nosso chamado, eu, Tsunade Senju, Quinta Hokage da Folha, agradeço pela confiança e pela compreensão da situação urgente na qual todos nós nos encontramos neste momen...

Tsunade parou no instante em que as portas do salão se abriram e um Jounin da Folha, tão afobado quanto receoso, mostrou-se aos demais ali reunidos.

— Aoba, o que foi?

Aoba Yamashiro prontamente ajeitou os óculos e endireitou a postura, uma vez que interrompera o início da cerimônia e atraía os olhares de todos para si.

— Hokage-sama, peço perdão pelo inconveniente, mas trago boas notícias! A comitiva da Chuva acaba de chegar — informou.

Tsunade disfarçou a expressão de alívio como pôde. “Ufa! Foi só um atraso”, suspirou.

— Mande-os entrar imediatamente, Aoba-san — disse Shikamaru, assistindo a Hokage. — Nós iremos recomeçar assim que eles tomarem seus lugares.

Passados alguns minutos, Aoba Yamashiro retornou ao Salão Nobre e anunciou a entrada da comitiva do País da Chuva. Mas quando os últimos convidados atravessaram as portas do salão e se puseram à vista, houve murmúrios de desconfiança, dúvida e, notadamente, um grito de revolta que faz calar a todos.

— Aquele desgraçado do Toraiyama! — urrou o Raikage furioso, socando a mesa. — Sequer se deu ao trabalho de vir pessoalmente! Quem diabos ele pensa que é, afinal?

Tsunade pôs os olhos sobre a dupla representante da Vila Oculta da Chuva. Eram dois ninjas que, pela semelhança, Tsunade logo deduziu serem parentes, provavelmente irmãos. O mais velho, um homem alto de cabelo castanho-escuro espetado, que usava o protetor ninja da Chuva na testa e carregava três pares de guarda-chuvas nas costas, se adiantou com estrita reverência.

— Saudações, Hokage-sama — tratou de dirigir a palavra diretamente à Tsunade — e demais participantes desta nobre reunião. Eu me chamo Hadame Tsukiaru, Jounin da Vila Oculta da Chuva e capitão da guarda do Anjo. Esta é minha irmã, Momo Tsukiaru, Chuunin e diretora do Departamento Médico da Chuva.

Seguindo as orientações do irmão, Momo fez uma breve mesura e gesticulou uma saudação a todos.

— Mas isso só pode ser piada, não é? — Ay trincou os dentes. — Além de não aparecer pessoalmente, Toraiyama me envia uma dupla de palhaços aqui! Será que não passou pela cabeça daquele bastardo que uma pirralha muda não serve como representante diplomática!

— Raikage-sama — Mei olhou-o severa —, não haja com essa grosseria! Seu comportamento está envergonhando a todos nós, os Cinco Kages, perante os demais aqui presentes. Por favor, contenha sua língua.

Ay resmungou algumas palavras, mas atendeu à Mizukage.

— Por que Kira Toraiyama não se fez presente? — perguntou Tsunade desconfiada.

— Kira Toraiyama não é mais o líder do País da Chuva, Hokage-sama — Hadame respondeu solenemente. — A Chuva agora está sob a proteção de nossa legítima governante: o Anjo.

— O Anjo?

Descobrir tão repentinamente que Kira Toraiyama já não governava a Vila Oculta da Chuva pegou a todos de surpresa; porém antes que Tsunade pudesse perguntar mais detalhes sobre a sucessão governamental e a respeito do tal “Anjo”, Momo Tsukiaru sacou um pergaminho oculto nas vestes e, com um selo rápido na mão direita, ativou uma técnica de invocação.

Tudo aconteceu praticamente ao mesmo tempo. Mal a fumaça havia eclodido do pergaminho aberto e todos os vinte e três guarda-costas já haviam saltado das galerias e assumido postura de combate — cada escolta posicionada bem à frente de seu respectivo líder.

Quando a fumaça baixou, todos puderam ver as folhas de papel se aglutinando umas sobre as outras, dando forma e cor à silhueta de uma figura humana. E no minuto seguinte, uma mulher alta, de cabelos azul-índigo presos num coque, se materializou diante de toda a assembleia. Tinha olhos âmbares tranquilos e um rosto pacato; e não parecia temer os muitos olhares hostis, todas aquelas armas empunhadas e, ainda, de estar sob a mira do Rinnegan e do Sharingan ao mesmo tempo.

— Desculpem-nos por isso — disse Konan serena. — Foi difícil encontrar uma maneira de entrar nesta vila sem causar pânico.

Definitivamente, aquela mulher não era uma Yuurei. Todavia, para todos ali, era como estarem olhando para um fantasma. Após mais de dois anos, ninguém jamais esperaria rever aquele manto sendo usado novamente. Mas lá estavam as nuvens vermelhas tremulando sobre o tecido negro, tão vívidas como em seus tempos de glória.

— Isso não deveria ser possível — Mei engoliu em seco —, esse símbolo...

Ay cerrou os punhos.

— Akatsuki.

— Peço perdão pelo meu atraso — disse a mulher. — Eu sou Konan, líder do País da Chuva e aquela a quem chamam de Anjo — analisou rapidamente os lugares à mesa e, em seguida, dirigiu-se diretamente à Hokage. — Vejo que sou a única que faltava. Podemos começar?


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Notas finais do capítulo

Sim, a Konan se prova cada vez mais aluna do Jiraiya (e discípula-irmã do Naruto). Além de uma entrada dramática, ela precisava vir vestida ADEQUADAMENTE para o Encontro, hehe.

Sobre a Tsukino, para quem não sabe, ela é uma personagem do jogo para PSP Naruto Shippuden Ultimate Ninja Heroes 3. Eu fiz umas alterações quanto à história dela e, definitivamente, não estou seguindo a cronologia daquele game. Mas, basicamente, todo o resto foi adaptado aqui.

Pra quem quiser saber mais a respeito da Tsukino: https://naruto.fandom.com/pt-br/wiki/Tsukino

E quanto à Tsukamaki, ela foi inspirada na OC Akame Tsubaki. Todos os créditos quanto à estética da personagem são devidos ao artista Tsurugami.

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***

Suki tem uma nova missão além do recrutamento, mas percebeu que há algo além. O que está acontecendo? E o que Mira está planejando? E por falar em planejar, Shikamaru fez um movimento arriscado? Com qual propósito? E a Konan, sai viva da Folha?


Próximo capítulo: O Encontro das Nações Ninja

01/07/2022



Obrigado por acompanharem até aqui, pessoal!

Até o próximo capítulo o/