O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 107
Palavra


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, senhoras e senhores! Saudações rubro-negras!

Em primeiro lugar, eu gostaria de agradecê-los pelo feedback que me deram! Soa repetitivo da minha parte, mas eu sou muito grato a vocês pelos comentários, sugestões, teorias e observações que fazem. Sério, gente, em 2014, quando idealizei essa história, não esperava ir tão longe. Muito obrigado a todos vocês que me acompanham até aqui!

Bom, sem mais delongas, vamos ao capítulo do dia. O desfecho da invasão à Vila da Névoa. Boa leitura a todos!



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Mei Terumi esperava um golpe que não viera.

Sem entender exatamente o que havia acontecido, ergueu os olhos para frente. Hiramekarei estava ali, a centímetros de seu rosto, com o chakra faiscando pelo corpo da espada. Seu portador, trêmulo, segurava-a firme com as duas mãos. Ali estava o Choujurou que Mei conhecia.

— Mizu... kage... — ele balbuciou, confuso. — Sama?

Não restavam dúvidas: o rapaz havia, finalmente, quebrado o Genjutsu de Hana Sakegari. Um sorriso materno enfeitou os lábios de Mei.

— Bem-vindo de volta, meu amigo.

— Então, é isso? — A voz aguda da Yuurei os colocou, novamente, em estado de alerta. Choujurou se virou rapidamente, colocando-se em posição de guarda à frente da Mizukage. — Vai me trocar por ela, Choujurou-kun? Depois de tudo?

O chakra de Choujurou emanava com mais violência pela lâmina da espada. Estava irado; os olhos fixos em Hana Sakegari.

— Não vou deixar que toque um dedo na Mizukage-sama.

Hana riu com desdém.

— Você mesmo vai fazer isso por mim. — Uniu as mãos no selo do Tigre. — Depois que nós acabarmos aqui.

Com um grito de fúria, Choujurou saltou contra Hana, brandindo Hiramekarei violentamente. O chakra da espada expandiu, assumindo a forma de um martelo de guerra gigantesco. O golpe, no entanto, foi completamente absorvido por um paredão de chakra azulado, o qual, surgindo do nada, separou o espadachim da jovem Yuurei.

“Um jutsu de barreira?!”, Choujurou estranhou. “Quando ela...?”

Foi quando percebeu a outra mulher, que os observava da cobertura de um dos prédios.

— Hana... — falava de forma fria e imperiosa. — Já chega.

A menina se pôs sobre um dos joelhos, encurvando a cabeça em estrito sinal de temor e respeito. Um comportamento que Mei Terumi jamais esperaria ver na irreverente Hana Sakegari.

— Perdoe-me, Mira-sama.

“Então essa é...”, Mei engoliu em seco. “Mira Uzumaki, a vice-líder dos Yuurei?”

Não tardou para que percebessem a diferença de poder entre as duas invasoras. Mira Uzumaki estava muito acima do nível de Hana Sakegari. Em um piscar de olhos, a Yuurei mais velha desaparecera do alto do prédio. No instante seguinte, estava bem à frente de Choujurou, com as pontas dos dedos indicador e médio pressionados à altura do coração do rapaz. Mira sequer o olhava.

— Quê...? — Não houve tempo de reação.

— Fuuinjutsu (Técnica de Selamento) — disse ela, ao passar por Choujurou — Kinkoju no Fuda (Selo Proibido da Maldição Individual).

O chakra da lâmina Hiramekarei desapareceu instantaneamente. Choujurou, sentindo os efeitos da técnica em seu corpo, primeiro deixou a espada cair antes de, logo em seguida, tombar desacordado.

— Choujurou! — Mei gritou aterrorizada. — Maldita! O que você fez?

O rosto da Yuurei era uma escultura de gelo. Seus olhos pairavam sobre a Mizukage desprovidos de qualquer emoção. Para Mei Terumi, Mira aparentava não estar nem diante de uma inimiga nem de uma aliada. Não via ódio ou misericórdia no semblante da Yuurei, apenas pura indiferença.

— Eu não o matei — respondeu Mira.

Sem que Mei pudesse impedir, ou sequer perceber, Mira tocou-lhe a testa com a palma da mão direita, ao passo que a outra formava um selo manual. Após recolher o braço, um selo pendia na testa da Mizukage, que caiu de joelhos diante da Yuurei.

“Minha mente...”, Mei se viu forçada a olhar para cima.

Correntes de chakra surgiram do chão. Mira as usou para erguer e imobilizar o corpo da Mizukage, estendendo seus braços e pernas ao limite, enquanto mantinha o pescoço de Mei totalmente rígido.

— O selo em sua testa te obriga a me falar somente a verdade — explicou. — Agora, Mizukage, diga-me: onde está Naruto Uzumaki?

 

 

 

                                                                            ***

 

 

 

Embora o microfone e a câmera estivessem desligados, Tsunade permanecia logada na sala de reunião dos Cinco Kages, assim como os demais. Enquanto ainda não recebia notícias da Névoa, precisava arrazoar com seus Conselheiros.

— Talvez devêssemos enviar o Sasuke-kun, Tsunade-sama — considerou Shizune, receosa. — Mira Uzumaki está mesmo na Vila da Névoa.

— Eu discordo — falou Yuugao Uzuki. — As chances de eles repetirem a tática de nos atacarem assim que Sasuke deixar a vila é bem alta. Não vale o risco.

Ino Yamanaka, que havia trabalhado durante todo o dia no Hospital da Folha, após o término do expediente, fora convocada às pressas para compor a reunião extraordinária do Conselho.

— A Yuugao-san tem razão — disse Ino, penosa. — E receio que o Sasuke-kun ainda não esteja pronto para entrar em combate. Aquelas Pílulas de Soldado tiveram um efeito devastador no organismo dele.

O olhar compadecido de Sai foi ao encontro dos olhos cansados da namorada. Ino lhe deu um sorriso discreto, sinalizando que estava tudo bem. No entanto, ele a conhecia bem o bastante para saber que, além da saúde de Sasuke e da segurança da Vila da Folha, Ino também estava preocupada com a Vila da Névoa.

Assentada junto à cabeceira da mesa, Tsunade estava absorta em seus próprios pensamentos. Como Chefe de Estado, independentemente da escolha que fizesse, todas as consequências cairiam sobre ela. Não que ela se importasse com críticas, mas temia tomar uma decisão da qual viesse a se arrepender — e seu povo pagasse o preço. Em contrapartida, pesava sobre ela o fardo de virar as costas para Mei Terumi, uma de suas aliadas mais preciosas. Quando a Folha precisou, Mei não negou socorro.

— Só para a senhora saber... — Shikamaru olhava para o teto. — Eu também não enviaria o Sasuke para lá.

“É, mas deixamos o Naruto ir atrás dela...”, pensou Tsunade.

Ainda sem tirar os olhos do teto, Shikamaru falou à Hokage:

— Não encontrei nada relacionado ao sobrenome Kuroshini. Preciso ter uma conversa com o Naruto. Talvez consiga alguma coisa. — Virou-se para Sai. — Anotou tudo o que ela disse?

Com ar orgulhoso, Sai estendeu um pergaminho sobre a mesa.

— Palavra por palavra.

Tsunade tomou o rolo de pergaminho e o abriu. Lê-lo era como ouvir, novamente, a voz da Yuurei falando-lhe à cabeça. E agora que a tinha visto face a face, Tsunade fazia uma estranha associação entre Mira e o saudoso rosto da mãe de Naruto, Kushina Uzumaki.

— O que ela quis dizer com “poder real de Kaguya Ootsutsuki”? — perguntou Tsunade, ainda relendo todos os registros que Sai havia feito da conversa com a vice-líder Yuurei. — Não parece que ela está se referindo ao Poder Bijuu. Ao menos, não é uma referência direta.

 Shikamaru assentiu.

— De qualquer modo, agora sabemos por que Naruto é tão importante para eles.

— E a razão de os Yuurei o atacarem indiretamente — concordou Shizune. — O Demônio Roxo se alimenta das emoções negativas do Naruto-kun. Quanto mais ele sofrer, mais próximo estará de ser controlado por Iori Kuroshini, que precisa do poder do Naruto-kun para reescrever o mundo.

— Um mundo “sem a presença do chakra” — recitou Tsunade, com os olhos no papel.

Shikamaru Nara reclinou-se sobre a mesa, pensativo.

— Algo aconteceu entre eles, Mira e Iori — deduzia ele. — Ela disse que, quando foram treinados pela Akatsuki, tinham “propósitos diferentes à época”. Significa dizer, ao menos, em tese, que eles não concordavam à princípio sobre algo em que, agora, estão concordando. Se tivesse que arriscar, diria foi Mira quem se ajustou ao propósito de Iori e, presumo, isso aconteceu na Vila da Chuva.

Todos olhavam para o líder dos Nara. Sendo o ninja mais inteligente do mundo, Shikamaru enxergava detalhes que outros sequer considerariam. Embora, às vezes, suas teorias fossem obscuras demais.

— Por que acha isso importante, Shikamaru? — Ino perguntou, confusa.

Shikamaru suspirou, entediado.

— É complicado explicar... — confessou. — Mas acho que o passado dos dois, o tempo com a Akatsuki, a origem do Meiton, o motivo de não termos qualquer registro do estilo Escuridão e até mesmo a relação com Kaguya Ootsutsuki... tudo isso está, de alguma forma, interligado.

Enquanto falava, as mãos ao encontro do rosto. Um gesto típico de quem refletia nas próprias palavras.

— Ainda não é claro — admitiu Shikamaru. — Mas penso que, independentemente do que tenha havido entre Iori e Mira na Vila da Chuva, foi determinante para três coisas: o surgimento dos Yuurei, o Meiton ser, definitivamente, introduzido na história e, por último, Mira Uzumaki ser quem é hoje, uma partidária do ideal de Iori Kuroshini.

Ino fez uma careta exasperada.

— Sério, Shikamaru. Às vezes, você me assusta.

— É por isso... — continuou ele, ignorando a colega de time. — que capturar e desvendar Mira Uzumaki se torna tão importante. Mas não sem sabermos o que houve na Vila da Chuva. Parece que Naruto acertou em cheio ao escolher ir até lá.

Tsunade disfarçou um ligeiro sorriso de satisfação.

— Mas se já sabemos onde está Mira Uzumaki e o quão importante ela é para desvendarmos tudo... — Sai perguntou a todos, olhando especialmente para Tsunade e Shikamaru. — Por que não atacá-la agora? Sasuke-kun não precisa ir sozinho. Irei com ele, e a Sakura-san também.

Shikamaru se adiantou em responder, poupando Tsunade.

— Porque não temos garantia de que poderíamos vencer — respondeu. — Seria um tiro no escuro, e não estou a fim de apostar; quero ter certeza de que minha posição é ganha antes de fazer meu movimento. Além disso, devemos sempre presumir que os Yuurei querem o Sasuke fora da vila.

Yuugao Uzuki dirigiu um olhar soturno para Shikamaru.

— O Naruto não seria uma aposta sua?

Shikamaru Nara não respondeu.

Foi naquele clima pesado que viram, na tela do computador, Mira Uzumaki reaparecer no escritório da Mizukage. Estava acompanhada por uma adolescente Yuurei — a subordinada que Mira havia citado —, além de Mei Terumi. Ela estava gravemente ferida, porém imóvel; um verdadeiro fantoche humano.

Os demais Kages surgiam um após o outro na tela. Tsunade, atônita, religou sua câmera e microfone.

“Aquela garota... derrotou a Mei?”

Mira Uzumaki tomou a palavra.

— Segundo a Mizukage, Naruto Uzumaki deixou a Vila da Folha e está atrás de mim. — Olhava diretamente para Tsunade, estudando-a. — Isso é um blefe seu, Hokage? Uma mentira contada aos outros Kages a fim de me despistar?

A feição dura de Tsunade era de claro descontentamento. Se Mira já havia arrancado a verdade sobre a missão de Naruto, então, provavelmente, sabia do grupo de busca que a Hokage queria implementar com apoio das outras vilas. Por sorte, nenhum dos demais Kages sabia do paradeiro de Naruto, portanto, Mira também não tinha acesso àquela informação.

Por outro lado, o desaparecimento de Naruto Uzumaki colocava todo o mundo ninja sob a mira dos Yuurei. Começando pela Vila das Fontes Termais e, agora, a Névoa, o inimigo não iria parar até que Naruto fosse localizado. Não obstante, era sabido que Mira Uzumaki tinha um interesse particular no Herói do Mundo Ninja, que não se confundia com o plano dos Yuurei.

Consciente disso, Tsunade jogou com as cartas que tinha à mão.

— É verdade. — A Hokage devolveu o olhar analítico. — Naruto está indo atrás de você.

Os olhos de Mira se estreitaram, desconfiados. Tsunade sabia que a Yuurei estava procurando algo nas entrelinhas. Deixar que Naruto saísse da vila para caçá-la, ainda mais sem depender de sua fonte principal de poder, era loucura. Para Mira Uzumaki, aquilo era bom demais para ser verdade.

— Ele está sozinho? — perguntou Mira, ainda cética.

— Completamente sozinho — respondeu, ocultando Fukasaku. — Ele saiu sem avisar ninguém.

Por um segundo, Mira desviou o olhar para Hana Sakegari, a qual, por sua vez, notou uma leve inquietação em sua superior. A Hokage não parecia estar blefando. Se por um lado, Mira desconfiava tratar-se de uma armadilha da Vila da Folha. Por outro, se fosse mesmo verdade, então seu confronto com Naruto estava mais próximo do que ela previra.

— Onde ele está? — perguntou a Yuurei.

Tsunade não cedeu.

— Me diz você — retrucou. — Você é uma ninja sensorial de alto nível. Deixou o Naruto escapar?

— Não brinque comigo, Hokage...

— Nem você brinque conosco! — gritou, irritada. — Naruto irá até você, então deixe as outras vilas, principalmente as dos países menores, em paz!

Por um momento, Mira hesitou com o olhar e seu semblante mudou. Tsunade quase podia jurar que vira lamento no rosto da Yuurei. Quase. Não demorou muito para Mira Uzumaki se recompor, voltando à expressão insensível de sempre.

— Se o que diz é verdade, então esperarei pelo Naruto no País do Redemoinho. — O olhar severo era dirigido a todos os Kages, principalmente Tsunade. A voz de Mira era enfática e desafiadora. — Esta é minha luta. Ninguém tem o direito de interferir.

Tsunade estreitou os olhos. Estudava cada linha no rosto da vice-líder dos Yuurei.

— E quanto ao Iori? — perguntou. — Ele aceita os seus termos?

— Tem a minha palavra, Hokage — respondeu Mira. — Ninguém, nem mesmo os Yuurei, deve se intrometer entre Naruto e eu.

“Ótimo”, refletiu Tsunade. “Ao menos ela não pretende fazer uma emboscada para o Naruto. Ela quer mesmo uma luta individual.”

Ay resmungou.

— A palavra de uma criminosa não vale de nada.

E, outra vez, era nítida a feição de desprezo estampada no rosto de Mira Uzumaki.

— Levarei o notebook da Mizukage comigo. — Mira se voltou para Tsunade. — Entrarei em contato outras vezes, Hokage. Por favor, atenda.

— Ora, sua... — Ay trincou os dentes.

Oonoki pigarreou.

— E quanto à Mizukage? — perguntou ele. — O que acontecerá com ela e a Vila da Névoa?

A ansiedade queimava no peito de Tsunade. Aquele era o momento mais importante daquela reunião. Ao decidir por manter Sasuke Uchiha na Folha, inequivocamente, havia entregado Mei e a Névoa aos Yuurei. Temia o que estava por vir.

Para a surpresa de todos, inclusive de Hana Sakegari, Mira Uzumaki não pôs fim à Mei Terumi de pronto. Silenciosa, a Yuurei retirou uma moeda escura de um dos bolsos. De forma solene, fez questão de erguê-la para os Kages, de modo que vissem as faces distintas do pequeno objeto.

— Eu vim aqui avaliar minha subordinada, não assassinar um dos Cinco Kages — falou Mira. — Por outro lado, os Yuurei têm sua forma de agir. A sorte decidirá.

Desta vez, foi Oonoki a perder a paciência.

— Acha que pode decidir o destino de alguém pela sorte? Como se atreve?

A atenção da Yuurei se voltou para o velho Tsuchikage.

— Penso que a sorte tenha seu caráter pedagógico. Ao não executar a minha justiça de plano, estou dando às Cinco Grandes Nações um favor que não deram aos Uzumaki, uma mínima chance de sobrevivência — disse. — Considerem isso como misericórdia.

— Você é louca, mulher! — exclamou Ay.

Mira ergueu a moeda para a câmera.

— Cara, ela vive — explicou. — Coroa, ela morre.

Sem titubear, Mira lançou a moeda para cima, capturando-a na sequência. Ao conferir o resultado, soltou um ligeiro e indecifrável sorriso. Erguendo os olhos azuis, encontrou o rosto aflito de Tsunade.

— Hana... — chamou a subordinada. — Vamos embora.

A garota tinha o ar incerto, porém não ousou questionar.

— Como quiser, Mira-sama.

Antes de deixar a reunião, porém, Mira Uzumaki encarou a Quinta Hokage uma última vez.

— No que diz respeito a mim, deixarei os países menores em paz. Mas não posso dizer o mesmo das Cinco Nações. Afinal, a Mizukage foi poupada — disse. — Quanto a Naruto, cumprirei a minha palavra, Hokage. Espero que cumpra a sua. Sem intervenções!

E a transmissão da Névoa foi encerrada.

 

 

 

                                                                            ***

 

 

 

O restante da reunião dos Kages foi desgastante. Todos estavam estressados demais para continuar discutindo. Depois do incidente na Vila Oculta da Névoa, havia muita coisa a ser tratada — a começar com a Mizukage Mei Terumi.

Embora Mei tivesse sido poupada, seu computador, com o qual costumava acessar à plataforma de videoconferência com os demais Kages, estava em posse dos Yuurei. Por isso, Mei usava o celular como substituto. Mesmo em uma cama de hospital, fazia, por estar consciente, a Quinta Mizukage fazia questão de participar da reunião.

Mei revelara que Mira lhe havia posto um selo, forçando-a a responder verdadeiramente todas as perguntas feitas pela Yuurei. Apesar de a Mizukage garantir que, em breve, o selo seria removido, Kira Ay, o Quarto Raikage, via tudo com desconfiança.

— Você ainda pode estar sendo manipulada pelo inimigo — comentara.

Mei Terumi ainda relatou que, apesar do ataque, havia sofrido poucas perdas. Os maiores danos foram mesmo arquitetônicos. Mesmo em extrema desvantagem, havia conseguido proteger a vila, principalmente os civis. Contudo, ela mesma precisara de atendimento médico urgente. Tsunade, aproveitando, desculpou-se por não enviar socorro a tempo.

— Não há o que desculpar, Tsunade-sama — Mei respondeu. Apesar de ter um dos lados do rosto envolto em ataduras, a expressão da Mizukage era amigável. — Se estivesse no seu lugar, eu provavelmente faria o mesmo.

Os Kages também arrazoaram sobre o rapto do computador da Mizukage por Mira. Ay sugeriu bloquear o acesso do antigo nome de usuário da Mizukage à sala virtual dos Cinco Kages. A própria Mei e Oonoki apoiaram a ideia do Raikage. Foi Tsunade quem abriu a divergência. Segundo a Hokage, aquela seria uma oportunidade ímpar de estarem mais próximos dos Yuurei, principalmente Mira — que, apesar de ser uma criminosa, mostrava-se propensa ao diálogo. Ademais, poderiam obter maiores informações por meio dela. Gaara concordou.

— Talvez a Tsunade-hime tenha razão — refletiu Oonoki. — Mudarei meu voto.

Ainda refletiram bastante a respeito do que dissera-lhes Mira Uzumaki, participando à Mizukage o plano dos Yuurei de usarem o chakra de Naruto, combinado com o Meiton de Iori Kuroshini, para realizar o Banbutsu Souzou no Jutsu (Técnica da Criação de Todas as Coisas), reescrevendo toda a humanidade. Infelizmente, muito ainda precisava ser discutido e não dispunham de tanto tempo. O dia havia sido estressante, principalmente para Mei.

No entanto, antes de encerrarem, Tsunade precisava alertá-los para algo que Shikamaru lhe dissera em particular.

— Existe a possibilidade de sermos atacados de novo — disse a Hokage, apreensiva. — Se eles estiverem usando os Kages para avaliar os Membros Juniores, então, podemos esperar, no mínimo, mais dois ataques em breve. Pelo que se sabe, dos Yuurei restantes, três eram considerados Juniores, contando com a garota Hana Sakegari.

— Ela deixou claro que odeia as Cinco Nações, aquela mulher — resmungou o Raikage. — Pois que venham! Nós, da Nuvem, estaremos prontos para dar uma recepção bem calorosa àqueles malditos.

— Quem pode ser o próximo alvo? — perguntou Oonoki.

Pensativo, o semblante de Gaara se fechou.

— Não sei — respondeu Tsunade, enquanto olhava exatamente para o jovem Kazekage. — Mas, se interpretei corretamente as palavras de Mira Uzumaki, não haverá sorteio desta vez.

 

 

 

                                                                            ***

 

 

 

Vila Oculta da Areia.

Ela largou o celular sobre a cama, com a videochamada ainda em aberto, enquanto dava os toques finais no penteado. Embora, realmente, precisasse terminar de prender o cabelo, a verdade é que Temari não queria ser vista sorrindo por causa dele. Tinha uma fama de namorada durona a zelar.

— Sua cara de preocupado até que é um pouco fofa — usou o sarcasmo para disfarçar o contentamento.

Do outro lado da tela, Shikamaru fez uma careta de desaprovação.

— Que saco... leve isso a sério.

Ela atou o último nó com força e, com uma expressão mais dura, voltou os olhos para a tela do celular.

— Faz muito tempo que estou levando isso a sério, Shikamaru — disse Temari. — Só não tenho medo deles.

Não era necessário dizer, Shikamaru a considerava a mulher mais corajosa que ele conhecera. Temari era firme e segura, além de ser uma ninja excepcional — uma das mais fortes da Vila Oculta da Areia e a segunda melhor usuária do estilo Vento em todas as Cinco Grandes Nações, ficando atrás apenas de Naruto Uzumaki. No entanto, para Shikamaru Nara, Temari às vezes pecava pelo excesso de confiança. Receava que, talvez, o espírito destemido da namorada a fizesse subestimar uma ameaça real.

— Eu sei — confessou Shikamaru. — Só que, além de forte, o inimigo é ardiloso. É difícil prever o que eles vão fazer.

Temari deu um sorriso debochado.

— Os Yuurei estão te dando bastante dor de cabeça, não é? — Apesar do tom, a voz dela era calma e compreensiva. — A propósito, sua cara está horrível. Tá dormido direito?

Para Shikamaru, o modo de Temari demonstrar preocupação era realmente único.

— Menos do que eu gostaria — confessou ele.

— Então tem um lado bom nisso tudo.

Depois de rirem juntos, o silêncio tornou-se constrangedor para os dois. Sentiam saudades de estar um com o outro, embora fosse problemático para ambos confessarem isso.

— Você acha mesmo... — Temari puxou assunto. — que pode ser o Gaara?

— As chances são altas, já que ele é amigo do Naruto — respondeu. — Mas, ultimamente, os Yuurei têm mudado o padrão. Atacaram a Mizukage primeiro. Talvez seja uma forma de manter a imprevisibilidade.

Temari resmungou.

— Cretinos...

 

 

 

Depois do longo dia de trabalho, Gaara estava sozinho sobre a cobertura do Edifício Kazekage. Podia observar toda a Vila da Areia dali de cima. Os pontinhos luminosos se apagando nas casas, um após o outro, indicavam que boa parte de seus cidadãos já se preparava para dormir.

Um descanso seguro, sob a proteção da Quinta Sombra do Vento.

Em seu momento de solitude, Gaara ergueu os olhos para o céu estrelado. A brisa gelada vinda do deserto sacudia-lhe os cabelos vermelhos. Já passava da meia noite e lá estava ele, tão desperto quanto estivera nas primeiras horas do dia. Habituara-se a permanecer sempre acordado desde criança — uma época sombria, em que o sono servia como válvula de escape para a Besta de Uma Cauda.

Hoje, Gaara o chamava de Shukaku.

— Está pronto? — perguntou o Kazekage.

Do interior de sua mente, uma voz profunda ecoou em resposta.

“Quando eu deixei de estar?”, respondeu a metade Yin de Shukaku, que decidira ficar com Gaara ao final da guerra.

Fortalecido pelo chakra da Bijuu, Gaara inspirou fundo e juntou as mãos no selo da Serpente.

— Jiton: Kanchi Kekkai (Estilo Magnetismo: Barreira Sensorial).

Combinando a Kekkei Genkai do clã dos Kazekage com o chakra de Shukaku, Gaara pôde manipular com precisão o dióxido de silício, o principal componente química da areia desértica. Uma vez no controle de cada grão de areia presente no solo, Gaara usou-os para erguer uma barreira esférica ao redor de toda a vila ninja.

A olho nu, era impossível notar qualquer diferença. No entanto, o chakra de Gaara circulava nos fragmentos microscópicos de areia, cobrindo toda a extensão territorial da vila. Qualquer invasor seria, imediatamente, detectado pelo próprio Kazekage e por Shukaku.

“Nem mesmo um ninja sensorial pode evitar ser descoberto”, avaliou Gaara. “A areia está misturava no ar.”

Shukaku gargalhou, satisfeito.

“Nada mau”, reconheceu o Bijuu. “Você é mesmo um Jinchuuriki bem mais esperto que o Naruto.”

 

 

 

                                                                            ***

 

 

 

Vila Oculta da Nuvem.

— Raikage-sama, já está tarde — recomendou Samui. — Por favor, descanse um pouco.

Ay ignorou completamente o conselho da secretária e continuou a ler os relatórios pendentes na mesa. Seu escritório estava cheio deles e isso o estressava ainda mais. Talvez devesse seguir o conselho sábio de Samui e dormir um pouco, mas Kira Ay se questionava o que faria além disso. Ao menos, estar acordado o mantinha produtivo.

— Samui tem razão, Raikage-sama — Darui, seu guarda-costas, pigarreou. — É melhor o senhor ir...

Ay o calou dando um soco estrondoso sobre a mesa.

— Eu já disse — resmungou o Raikage, sem se virar para os dois. — Vou esperar acordado.

Darui e Samui se entreolharam.

— Aquela mulher nos culpa pelo que aconteceu no País do Redemoinho — prosseguiu Ay, em posse de um documento. — E com razão, pelo visto.

Samui interveio.

— O massacre do clã Uzumaki foi uma ordem do Terceiro Raikage, seu pai, não do senhor — disse ela. — E os tempos eram outros. Mal havíamos terminado a Segunda Guerra Ninja.

Ay terminou com um dos relatórios e o jogou na pilha do lado direito.

— É... mas isso não importa agora.

O Raikage levantou o corpanzil da cadeira, alongando pescoço e costas. O barulho de ossos estalando ecoou pela sala.

— Podem ir — ordenou Ay.

Samui olhou-o estupefata.

— Perdão, Raikage-sama, mas o senhor não pode...

— Eu estou aqui, Samui — cortou-a em tom firme. — Não existe melhor segurança do que esta.

 

 

 

                                                                            ***

 

 

 

Vila Oculta da Pedra.

 O relógio anunciou duas horas da manhã; seu turno de vigia, finalmente, havia terminado. Akatsuchi estava tão faminto quanto sonolento. Felizmente, para situações como essa, sempre tinha um pacote de batatinhas consigo.

— Comer primeiro... — Abriu a embalagem. — Dormir depois.

Enquanto atravessava os corredores do Castelo do Tsuchikage, encontrou a companheira de time assentada sobre a mureta da ala leste. Com as pernas balançando por fora da amurada e olhando para o precipício abaixo de seus pés, Kurotsuchi parecia distraída.

“Pobre Kurotsuchi-chan...”, lamentou Akatsuchi. “Perder o pai já foi duro para ela, e agora isso.”

Esboçou ir até a parceira a fim de oferecer um ombro amigo. Antes, porém, que pudesse chegar perto, ela, que já o havia pressentido, perguntou-lhe:

— E o velhote? — Ainda tinha os olhos no abismo.

— Dormindo como um bebê — respondeu Akatsuchi, reclinando o corpo sobre a borda da amurada. Ofereceu à neta do Tsuchikage um pouco de batatinhas, mas Kurotsuchi apenas recusou.

 — Sabe, balofo... — a moça falava com a voz distante. — Às vezes, ele acha que ainda é jovem. Teima em não tomar os remédios e em dormir tarde... aquele velho idiota.

Anos trabalhando juntos fizeram dos dois melhores amigos. Akatsuchi sabia exatamente o que sua companheira pensava. Kurotsuchi estava preocupada com o avô. Sendo um dos Cinco Kages, Oonoki estava com um alvo nas costas. E, apesar de ainda ser considerado o mais forte dentre os cinco, o auge do Terceiro Tsuchikage há muito havia passado.

E, do ponto de vista de Kurotsuchi, o que seu avô fazia era simplesmente estupidez.

“Toma cuidado, vovô.”

 

 

 

O corredor que levava aos aposentos do Tsuchikage estava tão quieto quanto de costume. O único som a ser ouvido era o dos roncos de Oonoki, vindos de dentro do quarto. No mais, era a mesma monotonia — a luz fluorescente, o cheiro de mofo na parede e o Tsuchikage roncando.

Dois Chunnin, que substituíram Akatsuchi na escala, guardavam a porta do quarto. A segurança era forte ao redor de todo o castelo, principalmente nas rotas de acesso àquele corredor. Mesmo que os Yuurei usassem algum Ninjutsu de espaço-tempo a fim de evitarem os guardas, seriam imediatamente detectados pelo jutsu de barreira ao redor da torre em que ficavam os aposentos de Oonoki.

— Você deveria falar para ela o que sente — disse um dos guardas ao outro. — Vai dizer que está com medo da Kurotsuchi-sama?

O outro Chunnin, um rapaz franzino e rosto pálido, enrubesceu ao pensar em como seria se declarar para a neta do Tsuchikage. Acostumara-se a observá-la de longe desde os tempos de Academia. Era difícil confessar um amor secreto de longa data.

— Tem razão, Iro-senpai, eu...

Quando o jovem Chunnin ergueu os olhos, um homem de manto preto e máscara de ferro em forma de bico de falcão estava bem diante dele. Foi tudo rápido demais: o Yuurei se pôs bem no meio dos dois guardas e, estendendo um par de asas — até então escondido dentro das vestes, envolveu-os com elas. As penas vermelhas irradiaram chamas e, quando Taka Kazekiri parou o jutsu, as cinzas dos corpos caíram sobre o chão. Sem gritos; a incineração foi instantânea.

Depois de passar pela segurança, o Yuurei abriu a porta do quarto. Oonoki dormia um pesado sono.

— Sem deixar corpos... — As penas assumiam um tom amarelado; Taka preparava a técnica de Raiton. — Assim agem os Yu...

Surpreendido, Taka viu o corpo de Oonoki rachar e estilhaçar-se em um monte de pedras sobre a cama. “Kawarimi no Jutsu (Técnica de Substituição), deduziu. Rapidamente, olhou ao redor do quarto. Quando, porém, tentou dar um passo, Taka percebeu que seus pés não respondiam; estavam grudados no chão pedregoso.

— Mas que mer...

Com as pernas totalmente imóveis, não pôde evitar o movimento seguinte: as paredes laterais e frontal do quarto se dobraram umas nas outras, formando o que parecia ser a mão cerrada de um gigante. Estava apontada para Taka.

E, de algum lugar atrás das paredes, o Yuurei escutou a voz estridente do Tsuchikage:

— Doton: Chou Kengan no Jutsu! (Estilo Terra: Técnica do Super Punho de Rocha).

Foi como se uma bomba tivesse explodido à queima-roupa. O soco atravessou toda a estrutura da torre, arrastando tudo à sua frente com uma força devastadora. Com Taka Kazekiri foi arremessando com violência para fora do castelo.

O Yuurei não teve tempo para se recuperar. Rapidamente, Oonoki surgiu bem atrás de Taka, pondo as mãos sobre as duas asas do invasor.

— Doton: Kajuugan no Jutsu (Estilo Terra: Técnica do Aumento de Peso na Rocha).

O peso das asas, agora, puxava-o para baixo. E quando Taka começou a despencar do céu, Oonoki voou até ele e, pressionando as asas do Yuurei, usou o próprio impulso para acelerar ainda mais a queda enquanto guiava a trajetória do voo.

— Vamos lá! — gritou o Tsuchikage, orgulhoso.

Incapaz de controlar o próprio corpo no ar, Taka foi lançado de cabeça contra o paredão de rochas da montanha abaixo do castelo. Sem dar ao Yuurei um segundo sequer, Oonoki juntou as palmas das mãos.

— Doton Kekkai: Dorou Doumu (Barreira do estilo Terra: Domo da Prisão de Terra).

Pedras e mais pedras aglutinavam-se ao corpo de Taka Kazekiri, mastigando-o e o engolindo montanha adentro. Quando o jutsu finalmente parou, Oonoki fez um movimento de puxar com as mãos, arrancando da rocha uma prisão esférica de 10 metros de diâmetro.

Doton: Keijuugan no Jutsu (Estilo Terra: Técnica da Redução de Peso na Rocha).

A esfera levitou, e quando atingiu determinada altura no céu, bem acima da Vila Oculta da Pedra, Oonoki sequenciou os selos: Carneiro, Cão, Coelho e Rato. A estrutura estremeceu à medida que desembrulhava-se no ar.

— Doton: Tekkenrou no Jutsu (Estilo Terra: Técnica da Prisão do Punho de Ferro).

Quando, finalmente, as rochas se desprenderam de seu corpo, Taka Kazekiri caiu de joelhos. A respiração era longa e pesada. Descobriu hematomas e alguns cortes nos braços, pernas e no peito. A máscara que escondia seu rosto deformado fora destruída. O olho direito, inchado. Também sangrava pelo supercílio. Aparentemente, não sofrera fraturas. No mais, seu manto era só farrapos.

Quando ergueu os olhos, viu-se em uma espécie de arena circular flutuante. O espaço tinha muros de rocha ao redor; e Taka, que embora não fosse um ninja sensorial, pressentia um chakra poderoso emanando dos muros, formando uma espécie de cúpula invisível — uma barreira.

— Vejo que ainda está vivo, garoto. — O senso de urgência do Yuurei o fez se virar na direção do som. — Isso é bom. Seria muito ruim se você morresse tão fácil.

Oonoki planava no ar diante dele. Nas mãos do Tsuchikage, um pequeno cubo feito de chakra luminoso faiscava ameaçador. “Jinton” (Estilo Partícula), Taka engoliu em seco. “A Kekkei Touta dele... não posso deixá-lo me acertar com aquilo.”

— Eu soube como derrotaram a Mizukage — continuou Oonoki. — Aqui, somos só você e eu, garoto. Não poderão usar minha vila como arma.

Taka limpou o filete de sangue na testa e abriu as asas ao máximo.

— Eu não sou covarde, velho!

Oonoki sorriu arrogante para o Yuurei.

— Mas é um tolo — disse. — Logo vai perceber que ter escolhido justamente a mim, dentre todos os Cinco Kages, foi um grave erro.


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Notas finais do capítulo

Quanto ao ocorrido na Névoa, independentemente do desfecho, acham que a decisão da Tsunade foi acertada? Teriam feito diferente e enviado o Sasuke agora?

E o que Shikamaru está pensando? Conseguiram pescar alguma coisa? Sim? Não? O que acham? Comentem! Quero saber a opinião de vocês! :D

Por último, o Yuurei mais amado (só que não) de todos está de volta! Taka Kazekiri contra o Terceiro Tsuchikage Oonoki em um combate individual nas alturas. Juventude vs. experiência. Façam suas apostas.

Obs.: eu sei que teve gente comemorando a sequência do Oonoki (eu sei porque eu também fiz isso; pode parecer que não, mas eu gosto quando um vilão miserável apanha).


Próximo capítulo: Honorável Tsuchikage; 18/02/2022

Obrigado por acompanharem até aqui, pessoal!

Até o próximo capítulo o/



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