Coração Indomável escrita por Drylaine


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Eu queria agradecer o pessoal q favoritou. Esse capitulo é mais melancólico. Espero q eu tenha descrito bem as emoções dos personagens. Então, vamos lá.



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Jacob

Eu tive uma noite exaustiva de patrulha, Sam havia me castigado por ter desobedecido e ter ido ver Bella. Mas, eu não me arrependi, sabia que tinha que vê-la, pois Ela precisava de mim.

A parte mais desgastante da noite foi tentar acalmar Quil, que estava muito assustado. Naquela mesma noite, ele havia se transformado em lobo na presença do Velho Quil e sem querer acabou o atacando. Por sorte foi só o susto do momento. Quil não queria machucar o avô, ele só estava confuso quando se viu transformado em um cão enorme e, ao tentar fugir, acabou se atrapalhando todo. Eu fui o único a conseguir se aproximar dele e acalmá-lo. Através da ligação telepática, meu primo viu pela mente de Jared e Sam que seu avô estava bem.

As próximas horas eu e Embry passamos a ensiná-lo a como se concentrar e ter controle sobre sua transformação. No começo é díficil voltar a forma humana nas primeiras transformações, só depois de um tempo o homem e o animal dentro de si, vai se conectando e tudo vai se tornando mais fácil e natural.

Eu fui o único que consegui se conectar ao lobo rápido e naturalmente, como se ele sempre fizesse parte de mim. Eu não tive dificuldades como os outros em me transformar de volta. Claro que na primeira vez, fiquei assustado e enfurecido, mas ao mesmo tempo, minha ligação era tão forte com o animal que consegui me manter racional o tempo todo. Os anciões acham que eu tive mais controle sobre tudo, por ser o Alfa legítimo.

Após a noite agitada, eu voltei pra casa e me joguei na cama, logo, eu caí num sono profundo. Horas mais tarde, eu acordo com o som da voz alterada de Bella. Ela parecia muito nervosa.

"Ah merda!" Ela estava confrontando Paul, o cara mais volátil da matilha. Tudo acontece  muito rápido, num instante, Paul enraivecido explode em um enorme lobo prata escuro pronto pra atacá-la. Sem pensar em nada, eu pulo pela janela e corro na direção dela que vem desesperada de encontro a mim.

"Jake foge!" Bella grita. Eu salto no ar e explodo no lobo castanho avermelhado fazendo minhas roupas se espalharem em milhares de pedaços e paro diante de Paul, com Sam e os outros também parados ali nos assistindo.

"Você contou pra a adoradora de sanguessuga? Seu traídor!" O lobo prata escuro rosna pra mim com seus dentes afíados e, em seguida, me ataca. Nós entramos numa luta feroz. Ele é forte, mas eu sou mais, então, rolamos  pela terra molhada passando por gramas, pedras até se embrenhar pela floresta. No meio tá batalha finco meus dentes numa das suas patas e ele grita, porém não desiste, assim, continuamos nos desafiando e lutando. 

"Você é um idiota cabeça quente!" Eu rosno pra ele. "Poderia ter a machucado!"

"Você não sabe seguir regras? Ela é mais importante que a nossa tribo?" Ele diz irado. 

"Cala boca!" Eu salto em cima dele enfurecido. Nossos corpos se chocam causando vários estrondos pela floresta.

"Já chega!" Sam nos interrompe dando o comando alfa, o único jeito de nos parar, porém eu ainda estou tentando me acalmar. "Bella está com a Emily, vá falar com ela. Agora não há nada mais a esconder."

"Sam, ela não é uma ameaça. Só deve estar confusa e assustada." Eu já havia voltado a forma humana. Por sorte Quil trouxe minhas roupas.

"A questão não é ela ser ou não ameaça. O problema é você ser imprudente e egoísta. Está nos expondo e colocando ela em perigo."

Sam tinha muita preocupação com todos nós. O Alfa é o exemplo do que podemos fazer quando perdemos o controle. Ele perdera o controle quando Emily estava muito perto, agora o belo rosto dela foi marcado pelo resto da vida, por isso o lobo preto nunca irá se perdoar.

"Tudo bem. Eu vou falar com a Bella. Vocês não precisam se preocupar." Eu digo olhando diretamente para Paul.

"Ei, Jake. Como você conseguiu se transformar no ar?" Pergunta Quil ao meu lado.

"É, Black. Aquilo foi muito surreal. Você tem que me ensinar a fazer aquilo." Diz Paul, me dando um soco no ombro.

"Foi um instinto natural. Ou eu que sou o melhor lobo da alcatéia." Falei presunço só pra provocar eles. E, assim, seguimos de volta para a casa de Sam.

Depois de toda confusão com Paul, eu consegui esclarecer e resolver as coisas com a Bella. No começo ela achou que nós fôssemos os responsáveis pelas mortes na região, mais depois ela foi entendendo que somos protetores e que só caçamos vampiros.

Bella me revelou sobre a fêmea de cabelos vermelhos que se chama Victória. A vampira quer vingar a morte de seu parceiro, morto pelas mãos de Edward. Seu objetivo é matar Bella, o que me deixa mais furioso.

Como pode o cara deixá-la desprotegida, sabendo que ela estava sendo caçada por uma vampira vingativa?!

Com essa nova informação em mãos, nossas patrulhas também passaram a incluir a casa do Xerife Swan. Nós sempre estávamos em alerta, cuidando dela e de Charlie. Eu sempre a seguia até a escola e o trabalho. Outras vezes, quando todos os lobos estavam correndo ao redor da península olímpica, Bella ficava com Emily ou Billy na reserva, assim todos foram aprendendo a conviver com a sua presença constante em nossa tribo.

É claro que ainda tinha alguns da matilha que a chamavam de "A Garota dos Vampiros," mas ela levava tudo na esportiva. No entanto, Paul parecia deixar bem claro que ainda não confiava nela.

No meio de todo esse tumulto, os momentos com Bella é o que me traziam um pouco de paz. Não haviam mais segredos entre a gente, ela sabia praticamente tudo sobre os lobos e eu sabia tudo sobre os Cullen (os vampiros vegetarianos).

***/ /*** 

 

Um dia desses quando estava voltando da casa de Bella, acabei me deparo com Leah caída no meio fio. Ela estava com a bicicleta do Seth.

"Leah, você está bem?" Eu saí do carro preocupado, ela estava com a perna sangrando e a calça jeans rasgada. Leah olhou pra mim um pouco assustada e eu não gostei daquele olhar. Aliás, seus olhos negros estavam lacrimejados.

Leah não é muito de chorar, nem quando se machuca. Geralmente ela até ri enquanto eu ficava apavorado só de ver sangue. Eu me lembro que uma vez, Lee havia cortado a sobrancelha esquerda ao cair da árvore em frente a minha casa. Ela precisou de alguns pontos e em nenhum momento ela chorou, mesmo sentindo dor. Aliás, ela ainda tem uma pequena cicatriz na sobrancelha.

"Lee, eu te levo pra casa." Eu me ajoelhei em sua frente e tentei tocá-la, mas a garota se encolheu como se tivesse medo de mim e eu me senti ofendido.

"Eu não preciso da sua ajuda! É só uma ferida superficial." Por trás das suas palavras haviam uma certa tristeza. Tentei me aproximar, mas ela se levantou sozinha, me fazendo se sentir um idiota.

"Eu te levo pra casa e ponto final!" Ela tentou me ignorar e passar por mim, mas eu a puxei pelo braço obrigando a me olhar. De novo ela aparecia assustada, talvez, fosse pelo meu tamanho e o meu jeito de agir.

"Me solta ou eu juro... eu faço o maior escândalo aqui." Ao tentar me empurrar ela quase caiu, porém eu consegui puxá-la pela cintura. Nossos olhos se encontraram, havia uma certa intensidade em suas órbitas negras.

"Pára de ser teimosa!" Contra sua vontade eu a peguei no colo.

"Me solta!" Ela ficou se debatendo e gritando, mas eu ignorei. Preferia ela assim, irada do que triste. Eu posso lidar com sua fúria, porque ela sempre foi forte e decidida, mas vê-la triste e abatida é como se não fosse a mesma Leah.

Isso me fez se lembrar da festa de formatura na praia, a última vez que a vi sorrindo e alegre. Foi uma noite divertida que passamos juntos. Lembro-me que Leah estava linda naquele vestido vermelho me fazendo sentir até um pouco hipnotizado por ela, querendo o tempo todo tocá-la, pegar em sua mão ou ouvir a sua voz e, em nenhum momento, a garota me afastou ou se sentia desconfortável a meu lado. Eu também me lembrava de como havia uma grande afinidade entre nós.

"Agora relaxa. É rapidinho e logo estaremos em La Push." Falei a colocando no banco do passageiro. Depois de pôr a bicicleta atrás da caminhonete voltei pra ver a sua perna. "Me deixa eu ver?"

"Eu já disse que tô bem. Só me leve pra casa... Por favor!" Ela parecia aborrecida e cansada, em nenhum momento me olhou nos olhos. Eu sabia também que ela estava tentando segurar as suas emoções. Sendo assim, seguimos rumo a La Push, comigo sempre tentando puxar alguma conversa e em troca recebendo uma resposta direta e monossilábica, até cair num silêncio que me incomodava.

"Tá ansiosa pra faculdade?" Leah tinha a cabeça encostada na janela, parecia decidida a me ignorar. Eu não sou de desistir tão fácil. "Sue disse que você decidiu fazer medicina. Vai ser legal ter você como médica por aqui. Quando você vai?"

"Segunda-feira!"

"O quê? Como assim? Essa segunda?" Eu fiquei surpreso e chateado com isso. "Caramba, achei que fosse demorar mais."

"Como se isso importasse pra você." Ela disse secamente.

"Nós somos amigos. Você fala como se..."

"Nós FÔMOS amigos!" Enfatizou cheia de sarcasmo e rancor. "Agora eu acho que você não precisa mais de mim." Dessa vez, ela me deu um olhar frio. "Pra mim, você não passa de um estranho!"

"O quê?! Tudo isso é por causa do Sam? Vira essa página!"

"Eu vou assim que eu sair de La Push... E vou partir sem olhar pra trás." Me senti irritado com ela e meu corpo tremeu. Eu precisava me controlar.

"Você tá sendo uma covarde. Vai fazer como a Rebecca e fugir, porque é mais fácil." Ela deu de ombros que só serviu pra me irritar mais. "Droga, Leah!" Eu apertei o volante com raiva. "Você parece que quer se afastar da gente o tempo todo!"

"Você é tão hipócrita! Nos últimos meses, você não estava nem aí pra mim." Eu olhei pra ela que respirava irregular e até podia ouvir o som do seu coração batendo acelerado. "Eu precisei de um ombro amigo pra chorar e onde você estava?"

"Leah..." Ela me interrompeu. Nós já estávamos perto de sua casa.

"Ah... sim, claro! Você estava com a sua mais nova amiga, a Bella." Sua voz estava embargada. "Você estava com raiva de um único tapa, enquanto eu tive que ouvir várias palavras atravessadas que me feriam." Eu tentei tocá-la, mas ela me ignorou e saiu do carro que ainda estava em movimento. 

"Você é louca, podia ter se machucado!" Eu bati a porta do carro com raiva e a puxei tentando fazê-la olhar pra mim. Ela estava chorando e, pela primeira vez, eu não sabia o que fazer.

"Volta pra Bella, ou pro mais novo casal Sam e Emily." Eu fiquei chocado quando ela disse isso, pois todo mundo achava que Leah não sabia sobre Sam e Emily. "E me deixa em paz!" Leah me deu as costas e continuou andando.

Merda! Ela deve ter se sentido traída por mim também.

 

Sam diz que eu sou egoísta, mas ele também está sendo... Ele e Emily só estavam esperando Leah partir para Seattle para poder assumir o relacionamento deles, tentando protegê-la de sentir dor, mas no fim isso não iria fazer diferença. 

O que me faz ter mais raiva de tudo isso, é o imprinting. Num dia Sam e Leah faziam planos juntos, no outro ele se torna um lobo, o protetor de La Push e depois acabou tendo um imprinting pela prima da sua noiva.

 O Imprinting não é algo justo, tira suas escolhas e destrói sonhos. Mas, segundo os anciões, o imprinting acontece quando se está diante da sua alma gêmea.

"Leah, eu sinto muito." Ela se virou pra mim. Sinceramente, eu só espero que Leah não sofra mais. Ela  merece ser feliz, talvez, bem longe desse lugar e sua magia estúpida. "Bem, eu só queria..." Eu  queria chegar até ela, porém suas próximas palavras me fizeram parar no meio do caminho.

"Você não é mais aquele garotinha de 9 anos que por muitas vezes eu iria consolá-lo. Ou o menino que por muitas vezes eu defendia. Eu comprei suas brigas por você, porque é isso que os verdadeiros amigos fazem. Eles entram numa guerra pelo outro, mesmo que o outro esteja errado... Eu fui sua amiga e sua irmã. Eu sempre estive lá quando você mais precisou. Mas, infelizmente, você se esqueceu disso!"

"Leah, o que aconteceu?" Sue apareceu abrindo a porta da casa pra filha e a acolhendo num abraço apertado.

Eu me odiei por ter sido um idiota. Por ter falhado com ela. Eu queria consertar as coisas antes que fosse tarde demais, mas não importa, porque o destino tem uma forma de sempre estragar as coisas.

***/ /***

 

A vampira ruiva estava prestes a atacar Harry quando saltei contra ela a jogando contra um tronco. Ela continuou me desafiando, olhando pra mim com um sorriso diabólico. Furioso disparei em sua direção, porém a maldita sanguessuga saltou por cima de mim e continuou correndo pela floresta. Logo, os outros lobos se juntaram à perseguição e todos corremos determinados a encurralá-la. De repente, ouço o grito de Bella. Desesperado, mudo minha rota indo rumo aos penhascos.

Aquela foi a primeira pontada de medo quando a tirei das águas tempestuosas do mar. Bella tinha os lábios roxos e a pele fria e pálida, sua respiração era muito lenta.

"Vamos Bella, respire!" Após segundos de agonia tentando ressussitá-la ela abriu os olhos. Foi um dos momentos mais angustiantes e, ao mesmo tempo, ver seus castanhos chocolate olhando pra mim, me deu uma sensação imensa de alívio, como se eu tivesse conseguido meu próprio ar de volta.

Entretanto, pela segunda vez senti aquela pontada de medo quando um dos Cullen retornaram para Forks, Ela era uma vampira baixinha com os olhos dourados e o dom de ver o futuro. Eu queria arrancar a cabeça dela, mas não podia por causa de Bella. Eu não queria a minha garota perto de nenhum deles... nunca! Eu não podia perdê-la.

Então, pela terceira vez senti aquela pontada de medo, quando o Cullen que eu mais odiava ligou e eu atendi, justamente, no exato momento em que estava tão perto de beijá-la, mas ele estragou tudo.

Pela última vez eu senti aquela pontada de medo, quando eu pedi que ela ficasse por mim, mas Bella partiu para salvá-lo, como se ele fosse a única coisa que importava. Olhar nos olhos dela e encontrar aquela agonia que pertencia ao maldito vampiro. A garota que eu amava ainda estava presa à Edward Cullen, não importava o que eu fizesse por ela. E isso doeu tanto.

Essa dor foi me devorando por dentro e o único jeito de me libertar desse sentimento era deixando o lobo castanho avermelhado me dominar, depois corri para a floresta desenfreado. Foi aí que surpreendentemente um outro lobo (que eu nunca tinha visto por aqui) acabou cruzando o meu caminho. 

Logo, minha mente é invadida por muitas vozes eufóricas, que resolvi ignorar só para me concentrar apenas no pequeno lobo cinza. Em seguida, tomei a decisão de segui-lo, fascinado pelo quão veloz ele era. Era tão veloz como um raio que parecia quase inalcançável. Nesse instante, vi pela mente dos outros lobos, flashes dos irmãos Clearwater.

Não! Isso era impossível! O lobo cinza era Leah?! Leah correndo desesperada tentando fugir. Desejando ser livre.

Corro mais rápido que posso decidido a chegar até ela. Tudo o que importava, nesse instante, era que Leah precisava de mim. Os outros também tentam se comunicar comigo e com a pequena loba cinza, só que sua mente está tão focada em fugir. Eu ignoro os chamados de Sam e os outros e, aos poucos vou conseguindo ver a sua mente.

Leah está confusa, cheia de sentimentos conflituosos. Eu posso sentir a sua fúria, dor e medo. Ela pensa em tantas coisas: seu pai, mãe, Seth, a faculdade e, por fim, na traição de Emily e Sam, forçando o Alfa que corria desenfreado pela floresta a repentinamente desacelerar.

As próximas imagens na mente de Leah, é um verdadeiro choque para todos, pois na cabeça da pequena loba, passam um flashback de Sam e Emily se beijando. Sua dor parece pertencer a nós, mas não há lágrimas, apenas ódio e ressentimento.

"Sam volte e cuide de Seth, deixe Leah comigo." Eu continuo correndo na direção ao norte.

"Não. Eu vou tentar falar com ela. Eu sei que ela..."

"Sam, não seja egoísta!" Ele rosno em minha mente. "Agora não é o momento de você tentar se explicar. É tarde de mais."

"Ela precisa de mim." Uma parte de Sam ainda a ama. Não importa o imprinting. Pensando nisso, ele decide retomar a sua corrida.

"Parem! Saiam da minha cabeça! Eu não quero mais ouví-los!" Leah grita angustiada. Posso sentir sua exaustão, ela parece estar ferida.

De repente, posso ver em sua mente minha mãe olhando pra Leah. Ela parece tão real. Eu corro mais desesperado até que a imagem some e eu não consigo mais ver Sarah e nem ouvir os pensamentos de Leah. Ela deve ter se transformado de volta a sua forma humana.

Fiquei tentando entender o porquê a imagem de Sarah havia aparecido entre a gente. Talvez,  isso fosse um sinal da minha forte ligação com Leah e isso significava que era eu quem tinha que estar ao lado dela nesse momento tão estranho e difícil.

"Sam, eu preciso de roupas. Eu sei que estou perto dela. Só confie em mim." Sam é hesitante, mas havia uma certa compreensão silenciosa entre a gente, sendo assim, ele me deixou seguir para encontrar Leah. Eu me concentrei em seguir os rastros, o cheiro dela e o pulsar do seu coração, até conseguir encontra-la deitada nua no chão as margens de um riacho.

"Jacob, eu tenho as roupas. Já estou quase lá." Eu continuo nas sombras observando o silêncio dela. Cinco minutos depois, o lobo negro aparece. Sam ainda hesitante, dá uma espiada em sua ex-namorada.

"Jacob, eu confio que você vai respeita-la." Trocamos um olhar.

"E eu prometo que vou... Só preciso de um tempo." Murmuro convencendo Sam a retorna pra reserva. Enquanto isso, eu volto a minha forma humana, me sentindo ansioso e com medo por ela.

Ao perceber a minha presença, Leah se senta e se encolhe tentando proteger o seu corpo, nossos olhos se cruzam. Eu queria mantê-la segura em meus braços. Cuidar dela, como tantas outras vezes, ela cuidou de mim.

Se para nós, ser um metamorfo já foi difícil, imagina para uma garota como Leah?!

 

LEAH

Só faltavam três dias para eu partir rumo a Seattle. Eu estava ansiosa e com uma certa esperança que as coisas fossem melhorar. Daqui pra frente iria me focar somente nos estudos e no meu futuro. Apesar disso, ainda havia uma certa melancolia, pois no fundo queria estar saindo de La Push estando numa situação bem diferente. No fundo eu só queria estar feliz e entusiasmada com tudo.

Mas, é mais fácil falar do que fazer acontecer, ou no meu caso, fingir do que sentir.

As malas já estavam prontas, minha mãe havia me ajudado com as coisas. O mais engraçado de tudo, era que nas últimas semanas em que eu havia decidido me isolar mais e esconder meus sentimentos, Sue é quem dava um jeito de estar por perto, sem ter que tornar as coisas forçadas pra mim. Ela tentava sempre me incentivar mais a pensar na faculdade e fazia planos comigo, o que amenizava um pouco a solidão. Se eu estava triste e distante, ela sempre me acolhia em seus braços sem discutir ou me questionar.

Com Sue eu não me sentia pressionada a ter que desabafar ao contrário de Harry que, às vezes, me sufocava com sua preocupação. Silenciosamente, ela parecia sentir a minha dor. Eu sei que se eu contasse pra ela sobre Emily e Sam, ela iria tomar as minhas dores. Acho que é uma coisa de mãe.

Em muitos momentos eu tive vontade de falar pra ela tudo o que estava acontecendo. Mas, havia a questão do meu pai no meio de tudo isso. Se Sue soubesse sobre tudo, tenho certeza que iria afetar o casamento dos meus pais.

Hoje eu estava com meus sentimentos explodindo dentro de mim. Me sentia estranha o dia inteiro, estava irritada com tudo e sem paciência. Primeiro foi Seth me provocando, tudo por causa do computador que compartilhávamos. Eu queria que ele saísse do meu quarto mais o pirralho de propósito fingia não me ouvir. Tentei tirá-lo a força, mas só piorei as coisas.

Nós começamos a gritar um com o outro e, de repente, estávamos lutando no chão. Tentei tira-lo  de cima de mim, porém apesar de Seth ser magro, o garoto ainda conseguia ser mais forte,  suas mãos seguravam meu pulso com muita força que eu achava que iria quebrar. Consequentemente, comecei a gritar de medo e de dor. Sua atitude me fez lembrar de Jacob há duas semanas, quando ele me tratou tão, rudemente.

Seth continuou apertando os meus braços e me mantendo presa ao chão. Por sorte Embry apareceu e puxou ele de cima de mim. Meu pai também estava ali assustado, havia acabado de chegar. Ele tentou se aproximar de mim, mas naquela situação a minha ira se monstrou mais forte do que a dor.

"Me deixa em paz! Não me toque!" Eu empurrei meu pai, depois fui até a garagem e peguei a bicicleta de Seth.

"Lee, espera!" Harry estava ofegante.

"Vá se ferrar!" Eu gritei enfurecida, então, montei na bicicleta e sai rumo a Forks.

Eu decidi parar numa praça no centro de Forks, onde tinham várias pessoas circulando e aproveitando o dia ensolarado. Eu fiquei ali observando cada indivíduo e suas manias até que meus olhos pararam em duas meninas de mãos dadas. A mais pequena chupava um pirulito e andava saltitante, enquanto a outra apenas sorria, uma cena muito familiar, então, decidi desviar o olhar e acabei me deparando com outra cena que conseguiu perturbar ainda mais meus pensamentos. Era uma cena comum e bem clichê de um casal se beijando e trocando olhares e gestos carinhosos. Decidi fechar os olhos tentando acalmar meu coração, mas abrutamente, a imagem de meu pai invade a minha mente, me causando uma pontada muito dolorosa no meu peito. Me dá uma vontade louca de retornar a La Push.

Eu saiu desesperada, pedalando sem parar, já estou na estrada rumo a reserva quando sinto uma nova pontada no peito, como se uma faca tivesse sido cravada em mim. A dor é tão grande que me faz perder o controle da bicicleta e eu acabo caindo.

Eu me sinto tão triste e não consigo mais me controlar, então, eu choro. Estou com o joelho esfolado, com a minha calça nova rasgada,  sentada na beira da estrada, chorando como um bebê  e me odiando por me sentir, assim, tão vulnerável. Eu decido enxugar as minhas lágrimas, depois respiro fundo tentando me livrar do nó que se formou na minha garganta.

Ouço a voz de Jacob Black me chamando. Ele pára em minha frente com uma expressão preocupada, em seguida tenta tocar em mim, mas eu me afasto sentindo um medo que é quase incontrolável, pois querendo ou não, o garoto estava cada vez mais se tornando um estranho com a sua postura ameaçadora e sombria. Por instinto, tentei lutar e fugir dele, porém acabei me sentido mortificada e sendo forçada a me render. E, mesmo assustada e com medo, havia uma parte minha que ainda se sentia segura na sua presença, que ainda o via como o mesmo menino alegre e gentil, talvez, por isso resolvi deixa-lo me levar de volta pra casa.

Todavia, o trajeto de volta pra casa foi terrível, cheio de palavras duras e ásperas. Eu me sentia prestes a explodir, minhas emoções estavam chegando ao extremo. Pela segunda vez, me senti vulnerável, ainda mais por Jake me ver chorando e eu me odiei por mostrar o quanto fraca sou. No último desabafo, eu disse o que estava ainda preso na minha garganta e vislumbrei o seu olhar magoado, eu senti a dor dele, mas era tarde pra voltar atrás.

Jacob precisava entender que ele havia se tornado mais uma grande decepção em minha vida.

Quando cheguei em casa, corri para os braços da minha mãe, onde  chorei por tudo que eu havia guardado dentro de mim nos últimos meses.

Horas depois, o telefone toca sem parar. Minha mãe atende, eu vejo sua expressão ficar vazia por instante e, subitamente, se transformar em dor. É quando pela primeira vez, vejo Sue Clearwater desabar em meus braços.

 

 

***/ /***

 

Havia um jovem indio na beirada de uma montanha olhando para o horizonte. Eu queria chegar até ele, me senti desesperada, pois quanto mais perto eu chegava dele, mais meu coração acelerava. Quando o indio se vira para mim e nossos olhos se cruzam, percebo como seu rosto é lindo, de traços fortes e marcantes e que em seus lábios carnudos há um sorriso apaixonante que irradia calor e felicidade. O belo desconhecido estende a mão para mim, eu estou quase o tocando, até que sinto uma força obscura me atravessar por dentro e, quando consigo toca-lo, imediatamente, sinto uma dor terrível se apossar de todo o meu ser.

De repente, meus olhos assustados recaem sobre o seu peito nu, exatamente, onde havia uma flecha cravada bem no meio do seu coração. Em seguida, o lindo índio me olha com lágrimas nos olhos, seus dedos deslizam pelos meus e, então, o vejo cair para o abismo. Naquele instante, a dor só aumenta.

Eu não pude salvá-lo! Me ajoelho no chão e choro olhando para a escuridão daquele precipício.

Entretanto, não demora muito para eu descobrir que o tempo todo havia mais alguém ali nos observando...

"Eu te amei com toda minha alma. Eu daria a minha vida por você." É quando me viro e me deparo com um outro índio que, dessa vez, irradiava dor, ódio e morte. Aquele homem de olhos furiosos começa a caminhar em minha direção, fazendo-me sentir com medo, porém sem saída eu espero ele chegar até mim.  "Mas, o seu amor me destruiu." Ele diz parando em minha frente. "Agora eu te amaldiçoo em todas as suas reencarnações. Por 100 vidas você irá renascer e a dor ainda será a mesma." Suas palavras eram cheias de fúria e veneno.

Nesse momento, estou a um passo de cair...

"Você vai amar alguém destinado a pertencer a outro e, em cada vida, terá seu coração quebrado em vários pedaços. A dor só irá parar a cada vez que der o seu último suspiro. E você nunca será feliz." Por fim, ele toca em meu coração me causando uma dor forte e insuportável que me arrasta para o abismo...

Então, eu desperto em meu quarto desorientada e ofegante. A pontada no coração dói tanto que até me tira o ar. Eu me levanto atordoada e confusa, enquanto a dor repentinamente se transforma em ardor. Sinto um fogo dominando o meu ser.

"Leah, você está pronta?" Pergunta minha mãe se aproximando de mim. "A febre ainda não parou." Ela diz colocando a mão em minha testa.

"Eu estou bem, mãe." Nós nos abraçamos, minha mãe está com um semblante aborrecido e angunstiado. Era hora de encarar a realidade.

Nós vamos até a pequena capela onde estão todos reunidos. Num canto vejo Seth chorando ao lado de Billy que também tem uma expressão de tristeza. Ali estão toda a família Clearwater, os Ateara, Uley e o resto da tribo. O tempo todo a minha mãe segura a minha mão apertado. Nós estamos perto do Altar onde está o caixão com corpo de Harry, sinto minha pulsação acelerar, fico ofegante e o ardor no peito continua a queimar incessante. Meus olhos encontram Samuel Uley e, só por um momento, seus olhos castanhos me fazem lembrar do MEU Sam. Só por um momento, eu queria correr para seus braços. Mas, então, eu me lembro que tudo é diferente agora.

"Leah!" Inesperadamente, Emily me puxa pra um abraço que eu não retorno. Ela me olha nos olhos e eu vejo que não há mais nada de verdade entre a gente. Eu observo sua cicatriz no rosto, acho aquilo superficial. Eu desafio ela a manter o olhar, mas minha prima é uma covarde.

Eu não consigo mais continuar ali, minhas pernas travam. Todos estão me olhando, eu os ignoro, já  não tenho mais lágrimas pra chorar, elas secaram e a agora só há um imenso vazio dentro de mim. Todavia, o fogo ainda está lá, querendo me dominar.

Eu quero sair daqui. Eu não pertenço a esse lugar. Quero a minha a liberdade... Sendo assim, deixo minhas pernas me guiarem para fora dali e saio correndo desesperadamente, ignorando as vozes que tentavam me chamar de volta e o grito feroz e doloroso de meu irmão Seth. 

 

Foi intempestivo, eu corri desenfreadamente sem rumo pela floresta e, no minuto seguinte, saltei de repente explodindo num lobo selvagem. Agora eu era imparável correndo num ritmo alucinante fazendo as árvores passarem por mim como um borrão. Entretanto, as vozes voltaram a irromper o silêncio da floresta, no intuito de me fazer parar.

"Leah, volte!" Parecia a voz de Sam gritando. Por um segundo minhas patas travaram. Eu comecei a ouvir outras vozes me fazendo ficar desnorteada. As vozes foram criando imagens de lobos. Havia um que me lembrou um filhote com os olhos de Seth e havia um uivo que parecia de dor ou de lamentação.

Isso era muito surreal! Todavia, novamente o fogo me dominou. Eu ignorei todas aquelas imagens e vozes e voltei a correr freneticamente, enquanto minha mente foi captando novas coisas. Eu posso prestar atenção aos pequenos detalhes, coisas sutis, como os vários aromas presente no ar, eu sinto o cheiro da terra, das diferentes árvores, das flores silvestres, posso captar vários tipos de sons a quilômetros e minha visão absorve tudo em um flash. Eu sentia uma sensação incrível de liberdade. Eu era invencível.

Tudo parecia um sonho perfeito, sem dor, tristeza, ódio ou desilusão. Eu queria viver sendo um espírito livre, sem olhar pra trás. Sem arrependimentos. Entretanto, os arrependimentos ainda persistiam em me atormentar.  Imagens de uma família imperfeita, mas ao mesmo tempo, completa começaram a dominar a minha mente me fazendo se lembrar que agora somos incompletos sem papai aqui... E a dor da realidade se agarra em mim com uma intensidade. Eu penso na última vez que eu o vi, na última palavra que lhe disse. Eu lembro dos olhos tristes e magoados dele.

Se me perguntassem qual foi meu maior arrependimento, eu lhe responderia: — Foi não ter dito para meu pai um simples... "EU TE AMO" pela última vez. — Meu pai morrera vítima de um ataque cardíaco, foi fuminante, sem chance de despedidas.

Outra vez, meus devaneios são interrompidos por vozes invadindo a minha mente. A voz de Sam retumba no ar me torturando. Imagens dele e Emily ficam piscando em minha mente. Eu grito para a escuridão da floresta. Eu não quero mais ouvi-los. Eu não quero mais voltar.

"Coração indomável!" Ouço a voz de Sarah Black me chamando. Ela aparece em minha frente. "Você não tem nada para temer!" Ela diz com sua voz suave.

"Me leve com você." Eu faço minha súplica.

"Eu não posso minha criança. Você não pertence aqui. Seu lugar é com sua família. Eles precisam de você." Ela me dá seu sorriso alegre e gentil. "Ele está vindo. Eu tenho que ir."

"Não. Espere!" Era tarde demais. A imagem some. Sinto minhas forças se esvaindo, minhas patas doem e eu não consigo mais continuar. Todo meu corpo parece desacelerar.

Eu caio no chão exausta. Num piscar de olhos o animal dentro de mim adormece dando lugar a um corpo humano. Eu estou nua, deitada na grama olhando para o céu sem estrelas, num silêncio reconfortante da floresta. Talvez, eu pudesse ficar aqui pra sempre.

Contudo, ainda sinto que há algo aqui comigo. Eu não estou sozinha. É, então, que eu o vejo entre as árvores olhando pra mim. Nossos olhos se encontram. Eu sinto uma força intensa irradiar dele.

"Eu estou aqui Leah. Eu juro que eu sempre vou estar aqui. Eu vou cuidar de você, assim como você cuidou de mim."

Estou muito cansada de lutar contra esse sonho. Sei que quando eu acordar tudo será diferente.

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

Bem por enquanto é isso. Até a próxima!!!



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