Eu tentava seriamente pensar no que estava acontecendo mas era difícil, até porque um garoto me segurava e me levava até Peter Pan, e isso só podia ser mais difícil do que eu pensava ao longo do que vinha me acontecendo.

O caminho era silencioso e parecia muito longo ainda, estava bastante cansada mas não me permitiria dormir em um momento como aquele. O garoto que me segurava parecia estar bastante cansado, e tudo isso por minha causa.

– Eu posso andar, não tem problema – Eu lhe disse. Ele deu uma risada ironizada.

– Não estou cansado – Ele admitiu. Mentido, claro.

– Qual é, não vou deixar você passar por isso – Falei. Mesmo assim, ele não me soltou oque me deixou com certa raiva. Por que? Eu posso conseguir andar. – Não vai me soltar?

– Por que eu faria isso? – Ele ironizou novamente. Cerrei os olhos.

– Porque eu quero! – Insisti. Os dois garotos de trás riram e meu corpo começou a tremular involuntariamente.

– Ele não pode, Sr. Bravinha – Um dos garotos riu. Ele era o único que não usava um capuz para cobrir o rosto.

– Porque não? – Perguntei diretamente para o que me segurava. Percebi que ele havia engolido seco.

– Por causa do Peter! – O outro garoto admitiu. – Agora contenha-se e não sofrerá.

Meu rosto pareceu queimar de raiva. E se eles pensavam que estaria tudo bem, estavam completamente enganados. Quem esse Peter Pan pensa que é deixando um pobre garoto me carregar? Ele é um doido, só pode.

– Me solta, e eu me entenderei com Peter – Ordenei e depois acrescentei – Prometo que nada vai acontecer a vocês.

Eles riram em sons altos como se aquilo que acabará de falar fora sido para um teste de piadas.

– Você realmente não sabe como ele é, Sr. Bravinha – O garoto sem-capuz comentou.

Não consegui falar mais nada. De repente, Peter Pan não é o mesmo Peter Pan que sempre soube que o conhecia. Ele era diferente, tão diferente quanto Neverland.

Demorou alguns minutos até chegarmos à uma espécie de acampamento. Era incrível o número de garotos, todos jovens ou pequenos, e cada um permanecia em um lugar. Eu havia reconhecido Peter Pan quando bati meus olhos nos dele. E também por ser o único no centro dos garotos.

– Pode solta-lá, Felix – Ele ordenou. Era tão estranha e diferente o modo como agiam que me fez engolir seco de pura frustração. Fique de pé a poucos quilômetros de Peter...Como eu podia começar a contar? Ou fazer o acordo?

– Eu acho que você tem oque eu quero – Peter esclareceu em um tom ameaçador se dirigindo a mim.

Se ele achava que eu podia me sentir intimidada com o jeito que ele falava, ele estava completamente enganado. Afinal, parecia que ele era o "intimidador" daquele lugar.

– E você deve saber que para ganhar isso – Retirei da bolsa o canivete e o mostrei. E depois acrescentei calmamente – Eu vou querer algo em troca.

Ele riu e eu pude enxergar o tom de admiração em seus olhos, até eles se piscarem.

– O que você quer? – Perguntou. Pensei muito bem antes de jogar as palavras.

– Quero sair daqui – Respondi jogando as palavras a tona.

Se era para eu morrer no outro mundo, não poderia existir regras para que eu pudesse continuar viva, não mesmo. Se está no meu destino isso, precisa ser assim. De qualquer forma, eu já me sentia morta mesmo.

– Você não vai sair daqui, sei que esse não é o acordo – Peter provavelmente não pensou muito bem nas palavras.

– Você não vai me forçar a ficar contra minha vontade, nem tente – Alertei com o coração querendo sair pela boca. Ele arqueou uma de suas sobrancelhas em sinal de indignação.

– Não vou fazer o acordo então – Ele informou, antes que pudesse dizer algo, ele completou – Agora, o canivete.

– Não vou te dar o canivete – Esclareci pouco surpresa com minha coragem de ameaçar um personagem principal nos Contos de Fadas.

Ele ficou irritado, dava para perceber quando seus olhos se cerraram e suas duas mãos se fecharam em punho.

– Tudo bem, eu tenho todo o tempo do mundo – Ele acrescentou depois – Afinal, você não vai demorar muito para morrer, não é?

Eu finalmente consegui senti a dor que estava guardando, mas não iria chorar em sua frente. Meus joelhos tremularam e eu cai.

Não chore, não chore, Minha cabeça parecia um redemoinho e tudo oque queria era poder dormir e acabar logo com isso. Senti os braços de alguém me levantando e vejo que era o garoto que havia me carregado, Felix.

– Deixe ela! – Peter vociferou as duas palavras.

– Você não precisa ficar fazendo tudo oque ele manda – Comentei tentando fazer alguma diferença. Eu enxerguei por fim seus olhos, verdes claros. E então, eu olhei para Peter Pan como se pudesse penetra-lo, para faze-lo sofrer das piores maneiras possíveis.

Eu não sabia oque meus pais viam nesse garoto estúpido. Ele só podia ser uma coisa: egoísta. Assim como eu...

Minha visão ficou embaçada e meus olhos fecharam, e então eu desejei que aquilo fosse apenas um longo sonho. Eu acordaria e estaria na cama hospitalar. Eu precisava acreditar.