Os Últimos Passos de Um Homem escrita por Bruno Silfer
Destino. Palavra que ainda seria muito falada e ouvida durante as conversas entre Ino e Gaara. Também poderia se dizer inevitável. Não fazia diferença, afinal, ambas levavam ao mesmo ponto. A estudante se apressou em chegar logo à cela e usava um vestido branco, cerca de dois dedos acima do joelho, aliás, era algo que ela gostava muito de vestir. Gaara ainda estava deitado, mas agora com o travesseiro no rosto até ouvir um barulho na grade e ver a Ino entrando.
– O que faz aqui Ino? – perguntou Gaara a olhando de alto a baixo.
– Eu pedi que nossas conversas fossem aqui, se não se importar.
– Claro que não me importo. É até melhor assim.
Ele se afastou e trouxe uma cadeira. Ela sentou e esperou ele sentar também, o que não aconteceu,. Então Ino começou.
– Olha isso aqui. – mostrando algumas manchetes de jornal.
Ele pegou e leu. Nelas estavam estampadas as notícias das mortes no parque, sua prisão e condenação, além de algumas opiniões da população. A maioria, é claro, concordava com a justiça e algumas até disseram que queriam ver a execução.
– Brincadeira hein? – disse o ruivo dando um tapa no jornal e sentando na cama, de frente para a loira.
– Brincadeira como?
– Com isso aqui todo mundo está pensando que sou um assassino em série.
– Também foi notícia na televisão.
– Acho que se eu saísse na rua iriam me pegar.
– É verdade.
Gaara parecia desconfortável, principalmente quando Ino cruzava as pernas. Ela percebeu e deu um sorrisinho de leve. Não deixou que ele notasse e continuou a conversa.
– Por que você se incomoda tanto com o que falam?
– Simplesmente porque não falam a verdade.
– Que verdade é essa?
– Já disse que não vou contar.
Ele era irredutível quanto a esse assunto. Como não conseguiria nada agora sobre isso, resolveu mudar de assunto.
– Então... me conte sobre a sua família.
– O que quer saber?
– Tudo que puder me contar.
– Sobre isso não escondo nada. Pode perguntar o que quiser.
– Onde moram, quantos são, o que viveram, enfim, vamos só conversar sobre isso. Assim tudo sai mais fácil.
– Éramos cinco no total. Não lembro muito deles. Só lembro pouco antes do acidente de carro que eles morreram.
– Nossa... só você sobreviveu?
– Não. A Temari, que é minha irmã mais velha, também se salvou.
– Não sabia que tinha uma irmã.
– Pois tenho. É a única família que me resta.
Ele falou a última frase com um certo pesar. Ino se calou por uns instantes e continuou:
– Ela vem te visitar?
– Eu não deixo.
– Por que não?
– Ela fica mal quando vem aqui. Acho que é quando ela me vê aqui e lembra que tenho menos de um ano.
– Eu entendo como é.
– Entende?
– Não sei como, mas entendo.
– Posso perguntar uma coisa?
– Pode sim.
– O que você sentiria se estivesse no meu lugar?
Essa pergunta desestabilizou completamente a jovem. Afinal, foi pega de surpresa com uma pergunta muito difícil de ser respondida. Ela pensou em vão e respondeu:
– Na verdade não faço idéia.
– Então você nunca vai entender.
– Mas estou tentando.
– Eu sei. Aliás eu gosto muito quando você vem me visitar, mesmo sabendo que é só a trabalho.
– Confesso que não gosto nada de vir aqui, mas também gosto de conversar com você. Até já esqueci que é a trabalho.
Ele deu um leve sorriso e levantou. Andou um pouco até encostar na grade. Enquanto olhava para a pequena janela gradeada da cela, dizia:
– O problema não é morrer.
– Qual é então?
– É essa espera. A gente vê os dias passando e lembra que a cada dia que passa o fim se aproxima lentamente... dia após dia...
Ela ficou tensa ao ouvir essas palavras. Lembrou-se da sala branca e da maca e suas amarras. Gaara continuou:
– O terror psicológico daqui é o que deixa muita gente maluca antes da hora. Se é que existe uma hora. Por isso mandam conselheiros espirituais pra gente.
– Imagino.
– Mas não adianta. Você sabe.
Esse assunto estava se tornando muito duro para a garota. O ruivo, porém, mantinha a tranqüilidade enquanto olhava o sol se esconder no horizonte.
– Então... – disse Ino tentando quebrar o clima ruim – Como é a sua irmã?
– Ela é mais velha e mais alta do que eu. É tranqüila mas quando fica de mau humor, sai de perto!
– Vocês se dão bem né?
– Pode apostar que sim. Quebramos o pau às vezes, mas nada de mais.
– Eu não tenho irmãos.
– Por um lado é bom ser filho único. Deve ter um lado bom.
– Ter tem. Mas queria ter uma irmã também.
– Se quiser ver a Temari é só ir lá em casa. Ela vai te receber muito bem.
– Aliás, onde você mora mesmo?
Ele anotou o endereço no bloco de notas da Ino e, ao devolver, disse:
– Esse é o endereço. Fica perto daqui.
– Obrigada. Eu vou sim. – levantando – Agora tenho que ir.
– O tempo passou rápido.
– É verdade. Mas eu prometo que volto.
Gaara então em um gesto de impulso saiu de onde estava e abraçou fortemente a estudante que não entendeu aquilo mas retribuiu o abraço. Em silêncio eles se separaram e voltaram aos seus lugares. Então Ino notou que ele precisava falar o que escondia, mas não queria de modo algum. Ela foi embora e tinha certeza que poderia saber mais sobre ele se visitasse a casa dele e falasse com a Temari.
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