Os Últimos Passos de Um Homem escrita por Bruno Silfer
O sol nascia mais uma vez na prisão. Gaara acorda e senta na cama. Olha ao redor e vê tudo arrumado, tal como deixara no dia anterior. Por um breve momento pensou em como seria se aquelas coisas arrumadas significassem que sua liberdade havia chegado. Finalmente poderia sair e viver com a Ino, visitar a Temari, estudar e trabalhar como sempre quis. Mas a realidade era muito diferente: na verdade não seria ele que levaria embora aqueles objetos. O contraste entre o sonho e a vida real era muito dolorida. Ele levantou, tomou banho ( o que era raríssimo ele fazer pela manhã ), e esperou abrirem a cela para poder tomar café, o que não demorou muito a acontecer. Como sempre Naruto sentou-se à sua frente e ficou observando-o.
– Que foi? – perguntou Gaara com cara de dúvida.
– Nada não. É que você está bem tranquilo.
– E isso é ruim?
– Ruim não é. Mas também não é comum.
– Ah é?
– Eu já vi muitos condenados. Na véspera todos eles estavam bem tensos.
– E não é pra menos.
– Como consegue manter a calma?
– Nem eu sei cara. Nem eu sei.
– Se fosse eu estava tremendo desde já.
– Isso é verdade.
– Mas ainda assim... – interrompe a fala.
O motivo foi o cheiro de sabonete que Gaara exalava. Como o policial sabia que ele detestava tomar banho de manhã cedo não deixou de estranhar.
– Esse cheiro é de sabonete. Já tomou banho?
– Já. Por quê?
– Você sempre foi inimigo de banho de manhã. Já sei. É por causa da Ino né?
– Bom... hoje é o último dia que vou poder ficar com ela de verdade. Achei por bem ficar apresentável.
– Está certo. Daqui a pouco ela deve chegar.
– Mas eu estou preocupado.
– Acho que sei o motivo...
– Imagina o que ela vai sofrer amanhã cara. Eu não queria vê-la assim de jeito nenhum.
– Eu sei. Mas foi ela que decidiu ficar e lutar junto com você mesmo sabendo que podia dar errado. Não dá pra mandar no coração.
E Naruto tinha razão. Gaara também se esforçou para não alimentar amor pela Ino, mas foi inútil. O tempo do café terminou e ele voltou à cela. Esperou cerca de uma hora até Ino chegar e lhe causar uma bela surpresa.
– Oi. – disse Ino sorrindo.
– Essa roupa é...
– Lembra dela?
– Claro que lembro.
Ino usava o mesmo vestido azul que usou quando Gaara a chamou de linda alguns meses atrás. Aquele elogio foi o ponto de partida para a construção do amor dos dois e aquele vestido trouxe de volta essa bela lembrança.
– Você está tão linda quanto naquele dia.
Ino ficou muito feliz. Não pelo elogio, mas por ele ter lembrado o significado daquela roupa. Pouco conversaram. O que queriam mesmo eram se abraçar, se beijar, enfim, se amar. Exagero? Seria, se não fosse o penúltimo dia de vida dele. Em uma das conversas que tiveram, pela primeira vez a emoção superou a razão.
– Estou aqui pensando... – disse Gaara.
– Em que?
– Nessa vida que eu tive. Em toda a minha vida eu tive uma só amiga de verdade e um só amor.
– Por que pensa nisso agora?
– Porque é muito frustrante saber que não pude ficar com nenhum dos dois.
– Isso não. – o abraçou. – Você ainda está vivo e terá a mim até o fim.
– Como minha conselheira espiritual você tem que ficar comigo o dia inteiro amanhã. São as normas.
– Eu sei. Não vai ser sacrifício nenhum.
– Não leve a mal se eu não conseguir fazer muita coisa amanhã.
– Não precisa se preocupar.
E eles não conseguiram segurar o choro. Ela por perder o seu amor, e ele por não poder ficar com a Ino e ainda estar fazendo ela sofrer. Passadas algumas horas ela foi embora e quando voltou no dia seguinte viu que ele não dormiu nada. Gaara estava muito diferente: pouco falava, quase nem sequer se mexia. Ino ficou abraçada a ele e ficou o dia todo sentada na cama com ele respeitando seu sofrimento e seu silêncio. Como ele nada comeu, ela também não quis comer. Os policiais de plantão e os outros detentos se comoveram com a dedicação que Ino tinha para com Gaara. Estava sempre com ele sofrendo o seu sofrimento, chorando as suas lágrimas e sendo um apoio importante. A execução estava marcada para as três da tarde. Quando faltava dez minutos ele levantou e trouxe três cadernos. Ino perguntou:
– O que é isso?
– Eu escrevi isso enquanto esperava esse dia chegar.
– O que quer que eu faça?
– Depois da minha morte leia e publique o que escrevi aqui. Quero que mais gente saiba como é ficar contando os dias que restam da própria vida.
Nem mesmo Ino sabia que ele escrevia aquilo. Ela prometeu publicar e ela mesma ser a primeira leitora, o que indiretamente já o era. As coisas dele estavam arrumadas há dois dias e enquanto esperavam, eles lembravam dos episódios engraçados, alegres, românticos e emocionantes que viveram naquela cela. Lembraram da primeira vez que Ino entrou na cela, o encontro com Temari, a resistência em revelar a verdadeira história, o dia que ela o chamou de herói, a música que ele cantou, o dia que passaram em casa, o momento que admitiram que se amavam, enfim, tudo o que aconteceu naquele lugar foi lembrado. Enquanto estavam abraçados Gaara cantava a música que fizera e sentia o corpo da amada pela última vez. Até que às três horas em ponto os policiais chegaram à cela e um deles disse:
– Chegou a hora.
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