Waisenkind escrita por HarpiahAvalon


Capítulo 5
Capítulo 5 - Diário


Notas iniciais do capítulo

MUSICA DE FUNDO: BELINDA - AT THE END OF THE DAY



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/50344/chapter/5

 

- Você se sente bem, Shari? – pergunta Bill para a mocinha que tinha acabado de acordar. Ele estava preocupado com a pequena judia que além de estar molhada de suor, estava envolta num grosso e pesado cobertor de lã.       

- Sim... Não... Talvez... – ela não conseguia se decidir. Sua palidez, tonturas e cabelos desgrenhados estavam martirizando Tom, que por sua vez, estava olhando para a amiga com más intenções, o que foi inédito. Até então, Tom nunca tinha mostrado nenhum interesse na conhecida. Sharon tentou levantar-se para tomar um copo com água, mas foi impedida pelo mais velho.       

- Não se levante Sharon! – exclamou ele, querendo se aproveitar da situação – eu vou pegar um copo de suco pra você.      

- Obrigada – agradeceu ela timidamente, enquanto tirava o cobertor acinzentado de cima do seu frágil corpo e cedia espaço para Tom sentar-se ao seu lado.

Sharon vestia uma camisola fina, feita de um tecido barato que ficara encardido com o tempo. Porém, era limpa e fresca, e deixava seu corpo à mostra, pela transparência da peça destacando as pernas brancas que geneticamente herdara da mãe. Mesmo não sendo charmosa, arrancou um suspiro do garoto que estava ao seu lado. A peça era tão fina que era possível ver o bico dos seus mamilos tão singelamente desenhados e numa tonalidade mais acastanhada que o restante do corpo. Shari nem tinha se dado conta de que estava sendo observada com segundas intenções. Depois de se livrar do peso do cobertor que a tinha aquecido durante a noite, ela ficou sentada na sua cama improvisada sendo observada pelos olhares desejosos do Kaulitz mais velho.

Bill estava observando toda a cena. Sharon era muito ingênua e frágil, não percebendo o ‘Lobo mau’ que estava prestes a comê-la (literalmente). O que ele sentia pela menina era apenas amizade. Aliás, garota nenhuma tinha algum lugar no coração dele, desde que ele conhecera a pequena Allaine – aldeã que morava numa vila próxima e que ele nutria um amor platônico – mas que nunca poderia acontecer porque ele não tinha coragem para cortejá-la.

O amor que ele sentia pela a pequena aldeã aumentava dia a dia, e quando ele se sentiu corajoso o suficiente para declarar seu amor, descobrira que ela estava prometida para outro, e seu coração se partiu em milhares de pedaços:

- Tom, e o suco dela? Você não disse que buscaria? – Bill só lembrou o irmão pra chateá-lo. Tom saiu do transe em que se encontrava e olhou com cara feia para sua cópia. Ele tinha que ter estragado tudo!

- Já vou – respondeu ele de mau humor enquanto se levantava de má-vontade. Quando Tom saiu, Bill observou Sharon atentamente, até que essa quebrou o silêncio reinante no quarto:

- Onde está seu pai, Bill? Ele se surpreendeu com a pergunta, mas respondeu sem pestanejar:

- Ele foi trabalhar. Por quê?

Ela ficou um tempo sem responder, apenas refletindo. O mais novo admirou-se da pergunta e quando iria repetir a sua, obteve uma resposta fria, mas que infelizmente era a verdade:

- Ele não voltará no fim do dia. Não voltará nunca mais.

Bill ficou em choque. Como ela podia afirmar com tanta certeza?

- Prontinho, Sharon! Aqui está seu suquinho bem docinho! – disse Tom enquanto cortava a conversa e chegava ao quarto quase cantarolando de felicidade.

- Obrigada – respondeu ela sorrindo – você é um amor!

Tom sorriu. Ele ia consegui-la de qualquer maneira. Num súbito momento Simone aparece na porta e interrompe a conversa, chamando-os para tomarem café da manhã. Nenhum deles reclama ao ter que ir tomar café, mas se chateiam ao ver que a comida era escassa. Então Simone se justificou com um ‘Se todos estão passando fome no país por causa dessa maldita guerra, iremos passar também’. Ela era comunista. Seus filhos cresceram sobre essa doutrina e concordavam com a mãe, mesmo porque que era a única verdade aceita naquela casa. Depois da refeição, Bill e Tom foram tentar distrair a nova hóspede com cantigas e piadas insípidas, mas ela não se animou com nenhuma delas. Não podiam brincar lá fora porque ela não podia ser vista de maneira nenhuma com alemães, e agora que Nove Mesto estava ‘Judenfrei’, a simples aparição em público significaria pena de morte.

A tarde se passou entediante, até que Simone lhe entregou a bolsa que Sharon trazia consigo na noite passada, fazendo-a sorrir: era a única lembrança que ela tinha de casa. Shari não sabia ao certo onde estavam seus pais, mas não queria perguntar. No fundo, sabia a resposta. Ainda sim as lembranças lhe doíam mais que o estalar do chicote em sua carne, e iam piorando a medida que mais coisas da bolsa eram retiradas.

Um bibelô em forma de bailarina estava meio quebrado, mas foi presente de quando ganhou um concurso de pequenos contos em sua escola. Laços de fitas de todas as cores, roupas, pedaços de pão preto, e anéis de plástico que não valiam nada, estavam junto com os cacarecos que ela julgava importante. Por último, um diário de segunda mão ganhado de presente de pessoas boas que jamais a deixaria na mão.

Não sei ao certo o que houve com a Sharon nos próximos 15 segundos, nem o que a levou a fazer o que fez, mas sei que a pobre mergulhou num choro soluçante e deprimente que comoveria a qualquer um. Tom lhe ofereceu um forte abraço que não lhe foi recusado, e durante os próximos instantes, lhe serviu de apoio, deixando lágrimas molhar sua camisa. Bill fora dar uma volta e deixou os dois ficarem sozinhos curtindo o momento. Simone foi sentar-se na cadeira em que sempre ficava na porta de casa, esperando Gordon chegar enquanto observava o pôr-do-sol.

Uma hora se passou, e o sol já tinha se posto dando lugar ao brilho da lua cheia. Simone começara a inquietar-se. Já havia passado da hora de Gordon chegar! Uma angústia começou a assolar seu humilde coração. Uma agonia intensa e frustrante tomava conta de si, e lágrimas de dor inundavam seu rosto:

- Mãe, o que aconteceu? – pergunta Tom que tinha ido até a varanda, acompanhado do seu irmão e de Shari a fim de ver se o pai já tinha chegado, quando deu de cara com a sua mãe em prantos – Cadê o papai?

- Não sei! – respondeu ela depois de alguns segundos e de engolir algumas lágrimas – É por isso que eu choro! Não consigo parar de pensar o pior! E se ele tiver outra? E se...

- Para com isso! Não pense nesse tipo de coisa. Talvez seja um contratempo... Ele já deve estar vindo.

Bill começou a cambalear. Ele se lembrara do que Sharon tinha lhe perguntado na parte da manhã:

‘- Onde está seu pai, Bill?’

As palavras ecoavam em sua mente como se alguém as sussurrasse em seu ouvido.

‘- Ele foi trabalhar. Por quê?’

O que será que ela tinha feito? Como ela sabia? Será que ela estava certa? Apesar de Gordon ser apenas padrasto, era tratado como pai e era muito querido pelos irmãos.

'Ele não voltará no fim do dia. Não voltará nunca mais. ’

Bill virou seu rosto lentamente a fim de ver a expressão nos olhos da menina. Ela se mostrava impassível, mas suas mãos tremiam por causa do grande choque que levara. Ele queria tirar satisfações com Sharon, querendo descobrir o porque da afirmação, mas esta já tinha ido se recolher a fim de dormir um pouco mais. O garoto decidiu esperar o dia amanhecer, ou até ter uma nova oportunidade.

O que ele não sabia, era que a garota iria escrever no seu diário. E escrevia algo que ele jamais sonhara.

 

                                       SHARON POV

"Não sei se ele aprovaria, ou se me aceitaria, mas não sei se devo contar. A esta altura eu já 'previ' duas mortes e tenho medo de sonhar com alguém mais. Eu provavelmente morreria de tristeza se eu causasse mal um deles, especialmente ao Bill.

Não sei porque eu me apeguei a ele.

Não sei porque está me dando uma vontade louca de registrar tudo neste diário, acho que é a sensação que eu estou por um fio.

Eu adivinho as mortes. Um dia tenho certeza que ela virá ao meu encontro."


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Desculpe a demora, mas essas duas semanas estão terríveis! Meu pc estragou e quando consertou eu fiquei sem net. Quando ia ligar a net, o pc estraga de novo [serviço mal feito de técnico é PHODA]!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Waisenkind" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.