400 dias de inverno. escrita por Júlia Dama


Capítulo 6
Capítulo 6. — É Thon, só Thon.


Notas iniciais do capítulo

AEEEEEEEEEEEEEEEW



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/502752/chapter/6


E lá estava eu, dentro do lago, molhada e congelando. Anthony foi logo me ajudar a sair, tentando não rir, mesmo sendo evidente que ele tinha achado graça, porque foi engraçado. Consegui sair e ele me puxou para dentro de casa correndo, me enrolou em uma toalha e disse que ia me emprestar uma roupa, “Que roupas?”, pensei.

—Não sai daí! — falou

E não sai fiquei parada observando a organização máxima da sala. Os livros e jogos todos colocados em ordem alfabética na estante marrom escura, os sofás azul marinho eram pequenos, mas pareciam tão aconchegantes e convidativos que se eu não estivesse molhada, me jogaria neles. Dei uns passos para frente, tremendo de frio, para ver alguns retratos que estavam colocados próximos a TV. Fotos de Anthony, Jeremy e sua ex esposa. Uma delas me chamou atenção, tinha uma menina que deveria ter uns 5 anos, na cama de um hospital sorrindo. Gritei para Anthony perguntando sobre a foto. “Minha prima, ela é tretaplégica”. Era realmente doloroso ver uma criança nessa situação, com duas pernas e não podendo correr.

—Voltei. — disse ele ao lado do sofá. — Trouxe uma calça de moletom que fica pequena em mim, duas blusas e um casaco. Acredito que vão ficar um pouco grandes.

—Sério que você acredita? — falei — Onde eu posso me trocar?

—Aqui, eu juro que não olho. — riu. — Brincadeira, pode ir no banheiro, primeira porta do corredor.

Aquele banheiro era extremamente pequeno, foi difícil colocar todas as roupas secas e molhadas lá dentro. Tentei me trocar depressa e senti o cheiro forte do perfume das roupas dele, era maravilhoso. Saí do banheiro, eu estava parecendo uma criança quando coloca as roupas da mãe para brincar, mas eram muito confortáveis.

—Você ta um arraso! — falo Anthony, com uma xícara de café em cada mão, me convidando para sentar no sofá. — Fiz café.

—Obrigada! To dando autógrafos hoje. — ele riu, e eu me sentei naquele sofá que parecia ter me abraçado. — Você tem que fazer o bolo, lembra?

— Você já caiu no lago, melhor eu não colocar fogo na casa.

— Eu falo os ingredientes e você faz do jeito que acha que é! — me levantei e fui até a cozinha que era praticamente junto à sala, me sentei em uma cadeira e fiz sinal com a mão. — Mãos a obra!

Falei um a um e ele foi fazendo, a massa ficou um pouco mole demais, e a cozinha suja demais. Enquanto ele ia terminando, eu tentava organizar aquela bagunça de farinha e achocolatado. Eu realmente me perguntava se Jeremy não se importava em eu vir aqui, ele foi bem educado, nunca se sabe, mas agora eu já estava aqui, tomei do seu café e fiz o filho dele bagunçar a cozinha.

—O forno está ligado? — perguntei assim que ele fechou a pequena porta do forno.

—Ah, verdade, esqueci. Qual potência?

Ri. — Coloca na ultima, pra assar rápido e podermos comer.

Enquanto o bolo assava, ele me contou sobre a prima tretaplégica. Margaret tinha quatro anos quando se acidentou. Ela e os pais estavam voltando de um passeio e um caminhão simplesmente atravessou o carro e bom, os resultados foram esses. O pai ficou um tempo em coma, a mãe estava consciente logo depois, mas a menina ficou em coma por dois meses e meio. Anthony falou que era como uma irmã.

—Onde ela está agora? — perguntei

— Connecticut, o tratamento e o médico recomendados são de lá.

—Hmmmn. Você não quis ir com ela?

—Minha mãe é irmã da mãe dela. Está lá junto, eu vim pra cá com meu pai porque, digamos, minha tia não gosta muito de mim, nem do meu pai, e já que ele conseguiu um emprego aqui que ele gosta. Aqui estou.

— Margaret parece ser muito querida.

—Ela vai ficar bem. — piscou pra mim e sorriu — Sentiu o cheiro do bolo? – concordei.

O bolo ficou bom, por mais estranho que pareça tinha dado certo. “Pelo menos não caí no lago”. Piadas a parte. Comi os dois pedaços grandes que tirei da forma e lavei as mãos.

— Quando eu te conheci eu achei que era mais tímido Anthony.
— É Thon, prefiro Thon.

Ri, ele falou enfatizando o “n” o que gerou uma sequencia de “hmmmm”. Ele riu também. Em meio as risadas, se escuta um barulho de tiro, muito, mas muito perto. Como se fosse do nosso lado.

—Tiro? — perguntei.

—Não sei. — ele chaveou as portas e sentou ao meu lado na sala, em silencio, na esperança de não ouvir mais nada.

— ABRE ESSA PORTA! — uma voz muito rouca falou do lado de fora da janela.

Olhei para Thon ao meu lado, ele atento, e eu assustada. De novo, “ABRE ESSA MERDA!”. Puxei seu braço pra perto de mim, eu não queria em hipótese alguma que ele fosse abrir ou responder. Mas ele foi, foi abrir a maldita porta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "400 dias de inverno." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.