400 dias de inverno. escrita por Júlia Dama


Capítulo 15
Capítulo 15 — Eu prometo.


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora, de novo x.x



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Da minha casa, fui almoçar junto com Rebecca, ela havia me ligado umas quatro vezes ontem enquanto eu estava dormindo. Fui de carro até lá porque o sol alto me desanimava a ir andando, mesmo que a distância não fosse longa. Rebecca convidou Anthony, eu e o namorado que até então eu não conhecia também. Eles estavam conversando a algumas semanas, ele foi o primeiro flerte dela que eu não soube desde o começo. Anthony já estava lá, cheguei aliviada com o vento que entrava pelas janelas da casa dela. Gwen, mãe da Rebecca, estava no andar de cima, não queria comer. Havia começado aquelas dietas malucas que passam em programas de televisão. Cumprimentei todos, inclusive o namorado da Becca, Samuel, com um beijo no rosto. Ele era da altura dela, um pouco maior que eu, além das pernas serem compridas, eram torneadas e ficavam bem amostra com a bermuda preta que ele estava usando. Aliás, eu percebi que ele gostava de Beatles, deve ser uma das coisas que atraiu Rebecca, além dos olhos verdes e cabelo quase branco de tão loiro. A camiseta dele estampava a sombra dos Beatles e “Hey Jude” estava escrito na parte das costas.

—Rebecca fala bastante de você — ele disse, escorado no balcão ao lado dela.

— Eu tenho medo de perguntar se são coisas boas ou... — falei.

— Melhor não — ele riu. — Ela me disse que você é apaixonada por basquete e que ficou com o Greg quando estava bêbada. Verdade? — ela olhou pra mim com os olhos pedindo desculpa e ao mesmo tempo rindo.

Anthony revirou os olhos, mas respondi. — É, sim, mas não tem motivos pra lembrar-me disso. E sobre basquete, é verdade.

Anthony não falou tanto como fala quando esta só comigo, mas era normal. Samuel achou estranho, afinal, não o conhecia. Pra ajudar, no almoço, caiu molho de macarrão na regata branca de Anthony e ele ficou todo envergonhado por chamar atenção da Gwen, que havia descido para beber água.
Nós tomamos sorvete e assistimos a um show de talento que passou em um canal fechado. A tarde quente fez com que o tempo parecesse passar devagar, o que não era lá muito ruim. E quando fomos para casa, quando o sol ainda reluzia forte mesmo dentro do carro, Anthony perguntou:

— O que você achou do Samuel?

— Humn, para Rebecca é o tipo certo. Ele é todo confiante, malandrão sabe?

— Sei, sei. Faz o estilo dela sim. E qual o seu estilo de menino? — questionou, com um sorriso escondido.

— Ah, acho que bad boy. Malvado, sabe? Famoso entre as meninas e etc — eu estava de gozação com ele e estava claro, mas ele ficou um pouco assustado.

— Palhaçada!

Meus pais não estavam em casa, nem Jeremy. Deixaram um bilhete dizendo onde estavam, foram num show, bem famoso por aqui – diga-se de passagem - que acontecia em uma fazenda conhecida. A casa estava vazia, e enquanto Anthony me esperava na sala, eu tomava um banho. Depois foi ao contrário. O vento que entrava pela janela refrescava a casa. Deitei minha cabeça nas pernas do Anthony enquanto ele penteava meus cabelos molhados, por pouco não dormi. Eu só gostaria de saber se estávamos realmente namorando. Até meus pais já perguntaram isso para mim e eu só respondi com um “Não sei”. Ele não me pediu em namoro, eu não o pedi porque esperava que isso viesse dele. Bom, lá vou eu novamente tomar iniciativa. Sentei-me virada para ele e perguntei:

— Escute, o que nós estamos? Faz tempo que nós estamos, mas não sei o que exatamente.

— Espera, volta a falar minha língua. Respira...

— Anthony, isso é um namoro ou o quê? Você vem na minha casa, olha filme de mãos dadas comigo. Tem ciúme de outros meninos e argh!.

Ele riu:

— Anna, claro que é. O que mais seria? —eu queria dar um pulinho de alegria, mas me segurei. — Eu nunca cuidei de ninguém como cuido de você.

O envolvi em um abraço e dei lhe um beijo longo. Os braços dele eram maiores e me acolhia inteira, eu me sentia totalmente protegida. Como se fosse um casaco que servia perfeitamente em mim.
Mais tarde, quando chegaram, eu e Anthony terminávamos de comer dois sanduíches. Minha mãe contou detalhes do show, e me perguntou sobre meu dia. A noite chegava lentamente e com um beijo no rosto Anthony se despediu de mim. Meu pai, que tomou tanta água que não sei se ainda havia lugar na bexiga dele, não comentou nada sobre o passeio. Pelo que Jeremy disse, a comida estava salgada de um jeito que meu pai não suporta, mas comeu.

Trinta e dois dias depois

O hospital estava tão vazio, tão quieto. Talvez seja o que eu mais odeio em hospitais, o silêncio. Por que não colocam uma música, nem que seja alguma clássica com o volume bem baixo?! Enfim, enfermeiros caminhavam com rapidez e nenhum demonstrava desanimo. Eu estava sozinha com Gwen na sala de espera, aguardando os enfermeiros liberarem a visita. Parecia uma eternidade. Faz algumas horas que o acidente aconteceu, quem não estava aqui, estava no velório do Samuel. Rebecca já sabia, mas não ficou nervosa nem desesperada, como imaginei que ficaria. O raciocínio dela ainda está lento por causa da pancada, mas infelizmente ela perdeu o movimento das duas pernas. Claro, todos os médicos tem esperança de que ela consiga recuperar os movimentos e volte a andar, e acho que ela está feliz por ter essas chances. E eu também, foi um choque.
A enfermeira chegou, pediu para que eu fosse primeiro. Rebecca havia pedido por mim minutos antes. Ela estava com o rosto inchado e arranhado. Não era algo espantoso, mas era notável. Quando me viu, sorriu.

— Esses caninhos...

— Não precisa falar muito se for dolorido... Mas, dói muito?

— A cabeça, muito. Esses caninhos por onde passa sangue, soro, não sei, me irritam. — Mal dava para ouvi-lá por causa do volume baixo que falava. — Você foi ver como Samuel ficou?

— Não... Anthony foi agora a pouco. Não está triste?

—Triste, sim, estou. Não que eu deseje a morte de alguém, jamais, mas ultimamente ele tem sido um grosso comigo, bebia demais... Mas, de novo, isso não é motivo para eu querer ele desse jeito, jamais.

— E por que não me contou?

— Não achei que fosse necessário... Mas, enfim, eu estou bem.

—Nossa.... Não precisa falar muito, ta difícil pra se esforçar, eu vejo.

— Tranquilo — deu dois tapinhas na minha mão. — Ficou sabendo que perdi o movimento das pernas?

— Eu fiquei sim, mas vai dar tudo certo e você vai voltar a andar de salto alto e tudo mais. — os olhos dela encheram de lágrimas, percebi que engoliu o choro — Shhhh.... Tudo vai passar.

— Promete que vai me ajudar a dançar quando eu me recuperar? — disse, choramingando.

— Prometo, prometo. Meu amor, não se preocupa com isso. Vai passar, vou te ajudar.

Depois de umas lágrimas, ela voltou a sorrir mostrando os lindos dentes alinhados que sempre teve. Falei bastante com ela, e ela, poupou a voz. A enfermeira pediu para que e deixasse Gwen ir vê-la, e disse que em breve Rebecca já volta pra casa.
Fui pra casa do Anthony, era início de feriado e meus pais foram viajar, Jeremy ficou. Quando cheguei, exausta, tomei um banho e fiquei no sofá, tomando café com Jeremy. Meu sogro. Olha, que lindo falar isso, gostei. Mas ele foi dormir, e eu fiquei. Depois de uma hora e meia, Anthony chegou cansado também. Não falou muito sobre o velório, apenas disse o tanto de pessoas, a tristeza dos pais, os poucos amigos que foram. E fomos deitar. Vou ter que dormir junto com ele, ah, que pena... Dormi primeiro, sei disso porque ele ficou brincando com meu cabelo, bom, pelo menos isso que eu lembro até cair no sono.


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