400 dias de inverno. escrita por Júlia Dama


Capítulo 1
Capítulo 1 - Moradores novos.




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Era uma quinta feira fria, estava naquelas tardes que não posso colocar o nariz pra fora da porta sem que ele congele. Enquanto minha mãe fazia um bolo de cenoura, o qual ela sempre procura fazer quando está realmente sem nada para ocupar-se, e meu pai limpava o nosso pequeno estábulo, me restava ouvir os noticiários trágicos da TV aberta. “Mais um menino morre assassinado na cidade de Kansas”. Já era o terceiro nessas férias. “O menino foi encontrado com as mãos decepadas, uma facada nas costas e outra no peito”. Como costume, mostraram a foto. Era meu colega de escola, o Eric. Eu nunca havia trocado uma palavra com ele, o que me fez sentir mal. É o segundo que acham morto perto da estação de trem, ela ficava relativamente perto da minha casa, e não funcionava há anos.

—Mãe, vou ir visitar Rebecca.

—Ta frio lá fora. — ela terminou a frase já me entregando o casaco. — Tchau.

O caminho da porta da minha casa até o portão é longo e passava uma corrente de vento por ali. Dei tantos espirros que meu nariz se encontrava em estado grave. A casa da Rebecca era perto, dava uns três minutos da minha. Na região que eu morava não tinha quarteirões como o padrão das outras cidades, eram ruas continuas. Avistei a casa, grande, de cor laranja forte e cheia de aberturas. Becca estava na janela e veio abrir o portão barulhento.

–Oi! – ela falou com a voz fanha e fungou. – To mal.

–Gripe? –perguntei.

–Sim.

Passamos da casa dela e fomos para o extenso gramado, era um dos únicos lugares na casa em que a grama era totalmente visível ao sol. Deitamos. Ela perguntou se eu sabia sobre o Eric, eu assenti. E o assunto se manteve. Já foram três mortes, todos os meninos de 17 anos. Seria uma mulher mal amada que ficou com raiva dos homens? Não sei, era um mistério. Ninguém soube dar um palpite, apontar um suspeito. Era tudo calculado e feito com cuidado para que ninguém descobrisse. Passaram umas três horas de conversa e fomos pra dentro de casa, era umas 17:00 da tarde e a fome apertou. Sanduíche e chocolate quente foram o bastante. Sentamos-nos a mesa redonda e comemos, os pais dela tinham saído e o único som era do vento. Ela se convidou para dormir na minha casa e eu assenti, seria mais uma noite de insônia. Por que não com ela? Pensei. Eu a conheci com cinco anos, quando o pai dela e o meu cuidavam dos cavalos que participavam do campeonato de Hipismo que acontecia na cidade. Ela sempre foi bem direita.

—Vamos subir! — ela me puxou para a escada. — Vou pegar o pijama e você pega as balas que comprei hoje. — concordei.

Entrei no quarto bagunçado e peguei as balas que estavam em cima da penteadeira marrom. Pegamos as coisas e saímos da casa, fomos caminhando devagar. O vento estava mais gelado e os casacos não eram suficientes.

— Sua mãe fez bolo de cenoura hoje? — Rebecca adorava come-lo com café preto.

— Sim, hoje à tarde. Acho que ela também fez pão de queijo.

—Hmm delicia! Você já arrumou seu aparelho de DVD? Eu peguei dois filmes. — ela mostrou a capa do filme “Bravura Indômita”. O outro era um terror, a capa tinha tanta frescura que não consegui identificar o nome.

Quando chegamos minha mãe já estava com o bolo e os pães de queijo postos na mesa, logo sentamos... Comer de novo!

—O bolo ta diferente... — Becca mastigava lentamente — Colocou coco na cobertura?

— Exato... Está gostoso? — concordamos

— Anna?

—Eu! – respondi.

—Eu fiz compras ontem, se quiserem fazer café eu coloquei tudo no armário de cima.

— Ok mãe.

— Vou me deitar, olhar um filme... Boa noite Anna. Boa noite Rebecca.

Depois de comermos, nos atiramos no sofá marrom que preenchia quase toda a sala. Vimos os filmes, conversamos até cair no sono. Acordamos com um relinchar de cavalos, não eram os nossos. Onze e meia não era tão cedo, mas poderíamos ter dormido mais. A mãe da Becca ligou para ela ir pra casa, iria ter visita de uns tios distantes. Becca foi embora. A casa ficou em silêncio e eu fui ver o que era aqueles relinches lá fora.

—Que cavalo é esse que não para de fazer barulho? Eu tava querendo dorm... — me deparei com um homem alto, muito alto.

—Oi, meu nome é Jeremy, prazer — ele estendeu a mão. — Eu estava falando com seu pai... Eu acho que era seu pai. Eu vim morar aqui perto faz mais ou menos um mês e não tinha achado lugar para deixar meu cavalo enquanto reconstruo minha casa.

Ele deveria ter uns 38 anos por ai, era um homem bonito e pelo visto educado. Barba, cabelo com uns fios brancos... — É, era meu pai. Vou chama-lo de novo. — corri para dentro de casa, acho que me ver de pijama em sexta feira de manhã não é lá muito agradável.

Então, tirando o fato de que o homem novo no bairro cujo não sei de onde veio ter me visto de pijama, o dia estava ótimo. Não estava um frio rigoroso. Os cavalos agora estavam todos calmos. As árvores balançavam em ritmo uniforme.

—Mãe! Não tem nada pra fazer, eu não quero andar de cavalo agora... Minhas telas pra pintura acabaram e eu to no tédio.

—Eu não sei... Que tal caminhar? Leva o Draco junto. — Draco era o pastor alemão que meu pai comprou a uns 3 anos.

—Onde ele est... Ah, na porta. Tchau.

Ele não precisava de coleira, andava sempre ao meu lado, fui conversando com ele. Jogava o graveto. Ele pegava e trazia de volta. Eu jogava. Ele pegava e trazia de volta. O tempo passou e eu caminhei um pouco mais. E no fim, acabei chegando à estação de trem.


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