Regis um menino no espaço escrita por Celso Innocente


Capítulo 12
Existe mesmo um Deus?




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Aproximadamente três horas depois, ainda continuava em meus aposentos, quando os alto-falantes, chamou:

— Atenção garoto Regis: favor se apresentar à sala de computação e falar com o senhor Frene.

Fiz de conta que aquele aviso que era repetido algumas vezes nem era comigo, permanecendo sozinho.

Em dois minutos a porta se abriu e entrou Luecy, dizendo:

— Regis, está surdo?!

— Não to surdo coisa nenhuma!

Pegou em minha mão direita e saiu me arrastando pelo corredor, até chegarmos à sala do senhor Frene.

— “O que será que ele quer agora?” — Pensei comigo mesmo.

A porta se abriu e entrei. Ele, que estava sentado, me olhou sério, me ordenando:

— Sente-se!

Obedeci-o calado. Ele se levantou e se aproximou. Baixou diante de mim, olhou em meus olhos, me perguntando:

— Você ainda está com raiva de mim?

Só fiz pequeno gesto com o lado esquerdo dos lábios, sem nada responder. Então ele insistiu:

— Pode falar: Você continua com raiva de mim?

Acenei afirmativamente com a cabeça.

— Sei que fui muito cruel com você. — Alegou. — Mas foi pro seu bem!

— Apanhar e até ficar amarrado, não me importava muito! O pior foi... querer que eu ficasse pelado!

— Me desculpe! Eu amo você!

— Será que o que o senhor fez é mesmo amor?

— Acho que não! Eu fui um cretino e só Tony, me mostrou: àquela hora, em seu quarto, depois de você ter saído, ele me chamou a atenção, por muito tempo.

— Não há tortura pior, do que a explor...

— Exploração! — Ajudou-me ele com a palavra.

— Explo...ração da vítima! Mesmo que seja apenas um menino de nove anos.

— Você é um garoto inteligente! Certamente saberá dar valor ao perdão!

— Eu tenho vergonha! E me sentia como uma mosca indefesa no ferrão da aranha...

Ele, apenas acenou com a cabeça, dando um leve sorriso de meu jeito infantil de falar.

— Tenho saudade de meus pais, meus irmãos e todos da Terra. — Continuei. — Eles me amam também!

— Claro que sim! Quem não amaria um menino como você?

— Estou com muita raiva do senhor! Quando conseguir, vou fugir novamente!

— Nunca mais tente isso! Você viu o que aconteceu!

— Errei! Da próxima vez não errarei mais!

— Ouça menino! Ninguém consegue ir daqui até a Terra sem ajuda! Nem você, nem o senhor Rud, ou o senhor Tony! Ninguém! Pra se fazer esta viagem, a gente traça toda a rota em um computador muito avançado, criando assim um mapa estelar, como se fosse um mapa do tesouro, porem bem mais complexo, depois coloca isso em um chip que os terráqueos chamam de epron. Só depois, isso vai pro cérebro da nave.

— Do jeito que o senhor está me tratando, nunca conseguirá meu amor! Vai acabar conseguindo meu ódio!

Ele sorriu me abraçou contente e então, disse:

— Pra provar meu amor a você, amanhã te levarei a um parque de diversões, alegre como os da Terra, porém, moderno, como os de Suster.

— Não quero nada! Só quero voltar pra casa!

— Menino! Quanto tenho que insistir, que a gente precisa de você!

— Mesmo que eu seja infeliz pro resto da vida?

— Eu lhe recompensarei com tudo o que você quiser! Vou mandar inventar e lhe construir brinquedos incríveis! Lhe darei um quarto especial, cheio de coisas muito interessantes!

— Mesmo que o senhor me der um palácio de ouro, não vai curar minha dor!

— Quando uma pessoa morre na Terra, vai para o tal Paraíso de Deus; mas ela continua consciente. Quando uma criança, digamos de sua idade, ou menor, morre, ela sente saudades, mas sabe que não poderá voltar.

— Eu não morri!

— Meu povo te ama tanto!

— Será que é o povo, ou é apenas o senhor, que pensa que é dono de mim!

— Não sou seu dono, Regis! Quero apenas ter e lhe dar nosso carinho! Como a um filho!

— Me batendo e me fazendo sofrer?!

— Você fez uma arte grave! Precisava de punição!

— O senhor fez uma arte mais grave! Na Terra, o senhor seria preso!

— Que arte eu fiz? — Se espantou ele.

— O senhor tem cinco mil anos e não parece tão inteligente. Eu tenho só nove e estou aprendendo depressa com vocês!

— Que arte eu fiz?

— Quem rouba um rádio na Terra, vai pra cadeia! Será que roubar uma criança, não é mais grave?

— Vamos comigo a um passeio, no belo parque que construímos pra você? Quem sabe ele Ajuda a acalmar seu coraçãozinho!

— Será?

— Faremos um teste! Iremos amanhã! Tudo bem?

— E não pode ser hoje? Agora? — Perguntei sério.

— Hoje e agora!? — Exclamou ele.

— Não pode?

— Dá pra esperar até amanhã?

— Acho que sim!

— Mudando de assunto: Você gostaria de saber mais alguma coisa?

— Aqui em seu planeta, todos amam a Deus e só existe uma religião. Por que é que na Terra, precisa existir várias religiões?

— Nem sempre todas têm o mesmo objetivo! — Negou ele. — Na Terra, existem certas religiões, que só sabem fazer aquilo que pedem os terráqueos; onde, muitas vezes fazem o mal ao próprio irmão.

— E por que existe isso? O senhor sabe me dizer?

— Mais ou menos: — Insinuou ele. — Há dois mil anos na Terra, um profeta que seu povo diz ser o filho de Deus, fundou apenas uma religião! Essa religião durou mais de mil e quinhentos anos; depois começou haver certas rixas entre seus seguidores e alguns foram se afastando e criando outras. Algumas foram chamadas de seitas religiosas. Mas o fato, é que todas se tornaram protestantes, devido, não concordar com a religião dita oficial.

— E qual é a verdadeira? Qual delas nos leva a Deus?

— Todas aquelas que estudam “A Palavra de Deus”, nos levam a Deus. Todas são verdadeiras! Porém o tal profeta Jesus Cristo, que foi chamado Filho de Deus, criou apenas uma! E nem deu um nome!

— Qual eu devo seguir?

— Regis: Religião não se discute! A história já diz: protestantes! Você segue a que seus pais lhe indicaram, com fé e amor e deixe que cada um siga a sua! Elas também são caminhos que levam a Deus!

— Acha que a Católica é a melhor?

— Não acho nada! Todas têm suas coisas boas e ruins! Padres ou pastores... Todos são humanos e cometem coisas boas e erradas também! Na época da inquisição, religiosos condenavam pessoas a morrerem queimadas em nome de Deus! Será que esses religiosos tinham mesmo autoridade de Deus para tais crimes horríveis?

— Ninguém tem o direito de matar outra pessoa! Eu acho!

— Chega de falarmos sobre isso!

— Existe mesmo um Deus?

— Que isso menino! Você não crê em Deus?

— Por que ninguém o vê?

Senhor Frene apertou o dedo indicador sobre meu peito e disse:

— Deus está aqui, menino, dentro de seu coração!

— Por que ele permite tantas doenças... Tanta crueldade! Por que ele deixou o senhor me buscar na Terra?

— Deus não permite nada! Você se esquece que também existe o diabo!

— É o diabo que provoca as mortes... As doenças... Os bandidos?...

— Não! — Negou o senhor Frene, convicto. — Isto quem faz é o próprio homem! E eu não sou bandido!

— Mas e as doenças? — Perguntei sério.

— Até elas! Durante períodos de guerras, em países da Ásia, seres humanos de sua Terra, criaram insetos infectados para atacar e matar seus opressores, com doenças cruéis.

— Verdade?

— Não só verdade, como cruel! O resultado disso foi que a guerra se acabou, mas os insetos infectados ficaram e se alastraram pelo mundo!

— Deus não faz nada?

— Sua Terra e Suster também, estão posicionados de tal forma no espaço sideral, fazendo com que ambos sejam propícios a vida animal, mineral e vegetal. Se seu planeta estivesse mais próximo do Sol, seria com certeza torrado por ele, ou no mínimo, fazendo com que a água se evaporasse, transformando-o em um grande deserto...

— Esse fato, Tony me disse que quem protege é um efeito de eletr... Imã!

— Efeito eletromagnético provocado pelo núcleo do planeta! Muito bem! Isso é verdadeiro. Mas estando mais próximo do Sol, esse efeito seria neutralizado!

— Esse negócio de espaço me confunde! — Insinuei confuso.

— Vou parar de falar sobre isso! Só queria lhe mostrar que se sua Terra estivesse mais próxima do Sol, ela torraria e se estivesse mais longe, ela congelaria. As estações do ano... O clima... A atmosfera... Tudo perfeito! Você acha que isso é apenas obra de um acaso, provocada pelo tal grande big-bem... Poeira cósmica... Ou sei lá mais o que!

— Não sei! Não sei estas coisas!

— Eu sei, Regis! Deus é um Ser tão poderoso, que colocou cada planeta em seu devido lugar, com seus movimentos perfeitos em rotação e translação... Mas isso é tão complexo, que realmente é bom pararmos de falar sobre isso, para respeitarmos sua inteligência de apenas quinze anos de idade!

— Nove! — Consertei.

— Quinze em meu mundo! Paramos com isso?

— Acho melhor mesmo! Pois este assunto está me deixando cada vez mais confuso!

— Lembre-se apenas que, todas as religiões, que seguem os mandamentos e a Palavra de Deus, são dignas de confiança. Tenha cuidado apenas, com as quais, usam o nome religião pra prejudicar seus semelhantes. E como já disse antes: tenha cuidado também com falsos padres ou pastores.

— Em minha aula de religião, aprendi uma história que não consigo me esquecer! Que está gravada em minha mente.

— O que é?

— Diz que na época de Moisés, o faraó do Egito não queria libertar o povo de Deus... Não entendo! O povo do Egito também não é de Deus?

— Naquela época, eles adoravam deuses pagão! — Tentou explicar-me o senhor Frene. — Por isso, não eram considerados povo de Deus!

— Mas tinham alma! Vida!

— Tudo bem Regis! Moisés só queria tirar seu povo de lá! Livrá-los da escravidão!

— Mas era o faraó quem não permitia! Não era o povo!

— Tudo bem! Moisés brigava com o faraó; não com seu povo!

—Deus, por Moisés, pediu que seu povo, sujasse as portas de suas casas com o sangue de cordeiros e durante à noite, mandou que seus anjos da morte, visitasse todas as casas do Egito, aquelas que não tinham sangue na porta, os anjos matavam o sino...gênico...

— O quê? — Riu o homem.

— O que é nino...gênico? — Balancei os ombros.

— Primogênito! É o filho mais velho!

— Pois então! Acha justo, que anjos matem o filho mais velho de cada casa, de pessoas que não são faraós?

— Era um jeito de forçar o faraó!

— Matando outros inocentes?

— Os caminhos de Deus, tem significados compli-cados.

— Cruel! — Insinuei triste. — Mesmo o filho do faraó, era só uma criança e não tinha culpa do que o pai fazia!

— Era um jeito de pressioná-lo!

— E se o menino fosse eu? Ou o senhor!

— O que que tinha?

— Eu não estaria aqui! Teria perdido minha vida, sem ter culpa de nada!

Levantei-me, seguindo para a porta de saída. Antes de me retirar virei-me ao senhor Frene e lhe cobrei com leve sorriso nos lábios:

— Amanhã, nós iremos ao parque!

Retirei-me, indo para o quintal, passear um pouco.

********

Vinte e cinco horas depois, me vesti em roupas terrestres: uma bermuda cinza, uma camiseta sem cavas verde clara e um par de tênis azul e branco e novamente no carro, acompanhados por Luecy, seguimos ao parque de diversões.

— Não compreendo! — Neguei.

— Não compreende o quê? — Perguntou-me o senhor Frene.

— Se aqui não existem crianças, por que existem parques de diversões? Dizem que os parques foram feito pras crianças!

— Você é criança! — Afirmou Luecy.

— Está certo! Mas e quando eu não estava aqui?

— Não existiam parques! — Negou o robô.

— Não?!

— Isso mesmo Regis! — Interferiu o senhor Frene. — Em todo nosso planeta, só existe um parque de diversões e ele está localizado aqui em Malderran. Este parque foi planejado a cerca de um ano. Foi neste período, que começamos a preparar sua vinda.

— Já entendi! — Afirmei orgulhoso. — É um parque feito só pra mim!

— É um presente ao nosso menino! — Insinuou o robô.

— Nosso menino, vírgula! — Neguei. — Não sou seu menino! Aliás: não sou menino de ninguém!

— Calma! — Pediu o senhor Frene. — Tem menino pra todo mundo!

— Se o parque é aqui mesmo em Malderran, por que só agora o senhor está me levando?

— Acabamos de construir! Hoje é sua inauguração!

— Que privilégio!

Dois minutos depois, o senhor Frene anunciou:

— Estamos chegando!

O parque, realmente, já estava ao alcance de nossos olhos. Era grande, muito colorido e muito bonito. Porém, não muito diferente dos parques vistos na Terra, com exceção de que era totalmente coberto por um grande galpão sem paredes: Havia uma roda-gigante, que sim, ultrapassava a fronteira do telhado daquele enorme galpão, toda colorida e com assentos almofadados, sem nenhuma lâmpada, o que era comum naquele planeta, já que não existiam noites; uma montanha russa (que nada tinha da Rússia) super elegante, que se iniciava dentro do tal galpão e seguia a céu aberto, com um trenzinho de três vagões, feito de aço ou níquel; uma quadra de patinação no gelo; uma quadra de carrinhos tipo bate-bate, porém espaciais, onde a gente realmente o dirigia e ele flutuava mesmo; uma banca de tiro ao alvo, onde a gente teria que acertar pequenos alvos coloridos, onde os prêmios eram belas surpresas: patins, botinhas, roupas, relógios, aparelhos eletrônicos...

Além dos aparelhos para diversão, havia muita gente, visitando o parque e se divertindo junto comigo, pois, é lógico que ninguém construiria um parque só para mim. O que, além do mais, não teria graça nenhuma. O problema, era que as pessoas preferiam conversar comigo a brincar nas atrações do parque, atrapalhando de certa maneira, minha pretendida diversão. Era o preço a se pagar por me tornar um menino famoso. Só não sei famoso porque, se não fazia nada de especial! Salvo o fato de ser apenas criança!

— Senhor Frene: — Chamei sua atenção. — Acho que o senhor resolveu copiar o parque da Terra. Mas por que o senhor resolveu cobri-lo? Na Terra os parques ficam expostos.

— Na Terra você vai aos parques, geralmente à noite. Como aqui não há noites, imagine quem conseguiria sentar nestas peças metálicas, expostas a uma temperatura de quarenta graus!

Apesar então, do carinho de meus admiradores, que de certa forma atrapalhava mesmo, me diverti muito, em todos os brinquedos. Alguns deles, por mais de uma vez e ganhei uma botinha e um relógio, que gostei muito, pois então, poderia entender mais, como funcionavam as horas naquele planeta diferente, onde, o dia era formado por trinta e duas horas, cada hora, oitenta minutos e cada minuto, oitenta segundos.

Diverti-me também, na quadra de patinação. Embora, não soubesse andar de patins e com isto, apesar de estar sempre segurando em divisórias do campo, ou sendo guiado por pessoas experientes, que me ajudavam com satisfação, acabei caindo por diversas vezes; felizmente, apesar das dores na bunda, sem sofrer nenhum arranhão.

Após mais de três horas susterianas, de muita diversão e sem gastar nenhum centavo, o qual eu realmente não tinha e nem mesmo conhecia, retornamos à nossa casa.

— Como é? — Perguntou-me o senhor Frene, no caminho de volta. — Gostou do passeio?

— E como gostei!

— Então a gente vai retornar sempre aqui! Sempre que você queira!

— Já faz tempo que cheguei à Suster, por que só agora o senhor me falou desse parque?

— Porque só agora você me deu a chance pra falar! Depois: Como ainda estava em construção, preferi que fosse uma surpresa!

Naquele instante, lembrei-me de casa e me calei. Toda a alegria passou e uma sombra de tristeza, passou pelo meu rosto.

— Amanhã, iremos passear em outro local! — Alegou o senhor Frene. Iremos a Orington.

Nada respondi, permanecendo calado, durante todo o caminho de volta.


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