Suas últimas flores escrita por Astr0naut


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Primeira fic aqui no site ^^



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Folhas marrons sendo levadas pelo vento. Cantos de pássaros misturando-se às cantigas das crianças. O cheiro das flores rosadas no alto das árvores. A luz branca do sol refletia sobre as últimas poças de água formadas pela chuva do dia anterior.

Lá estava a garota, seu vestido leve e fino acompanhando as batidas das correntes de ar. Seus olhos, agora frios, percorriam toda aquela dimensão que exalava felicidade. Pequeninos saltitando. Sabiás criando melodias. Casais de jovens amores que persistiram com os anos. Pais observando seus filhos. Os sorrisos que se destacavam no rosto de cada um denunciava a alegria que transbordava, contagiando outros ao seu redor.

Veja, todos estão bem. Apenas seguindo suas rotinas. Cada um sendo o que é. Cada um feliz com o que tem. Ah, a garota gostava de ver isso tudo. Todos bem. Olhe, um cachorrinho rolando na última poça d’água que lá havia. Que desengonçado! Tadinho, a poça logo desaparece. Para onde será que ela foi? Será que ela voltou para o céu? Ou ela simplesmente não gostou que o pobre cachorro ficasse espalhando seu conteúdo por aí e decidiu ir para outro lugar? Apenas sei que a garota se divertia, apesar do coração pesado, ao observar o pequeno procurando seu desaparecido companheiro.

Mas a garota não participava do espetáculo que havia no parque. Aquilo tudo era lindo, apenas do jeito que estava. Seu vestido branco e os longos cabelos claros eram as únicas coisas que criavam um movimento harmonioso nela. Não conseguia se mexer. Não sabia o porquê disso.

Continuava com a sua atenta observação. Uma menininha... Caída do chão? Por que está encarando atentamente uma parte da sua canela? Logo, um homem alto e forte vai ver o que houve. Ele encosta seus lábios exatamente onde a pequena estava olhando, mas sem demonstrar aversão à atitude. “Um beijo na ferida ajudará a curá-la”, é possível ouvir, ao longe, as palavras do pai da menina, que levanta e abraça-o. Já está montada novamente em sua bicicleta, sentindo o vento bater em seu rosto tomado pela alegria.

No meio do caminho, uma mulher, com um aparelho preso às calças e fones de ouvido colocados em seus lugares, caminhava cantarolando algo. Provavelmente, algo que gostava muito. Cantava alto, não ligava para as pessoas que a lançavam um olhar torto. Sentia-se bem assim. Ninguém conseguiria fazê-la triste. Vivia do seu jeito, sem ligar para as opiniões dos outros. Seria isso a felicidade?

Pois então, a garota estava feliz com o que via. Mas não conseguia sair do lugar. Não porque não queria, mas por não ser capar. Seus movimentos estavam limitados.

Portanto, a única coisa a se fazer é continuar a observar. Um garoto estava estirado em um banco um pouco à frente, com suas mãos cruzadas sobre seu tórax, escondendo parte do desenho da camiseta de sua banda preferida. Olhava para cima, para o nada. Parecia estar em um transe, praticamente imóvel. As sombras das árvores impediam o contato direto de seus olhos com o sol. Pensava em alguém, disso tinha certeza. Observou mais atentamente, mas que olhos lindos ele tinha! Espere... O que é aquilo?

Uma lágrima.

Que desceu pelo seu rosto.

E caiu.

Uma lágrima.

De saudades.

Não, não... Não podia ser. Ele, ali? Foi a vez da garota entrar em transe. Lembrava-se perfeitamente dele. Aqueles olhos brilhantes, aquela roupa esfolada, aquele tênis sujo, aquelas mãos fortes, aquele rosto delicado. Nada combinava com nada. Essa era a perfeita combinação. Ele era feliz, assim. Vivendo do seu jeito.

Lembrou-se de uma coisa que o garoto havia dito há um tempo, algo que ficou marcado no coração dela; “Meu coração é seu. Seu coração é meu. Sem você, serei incompleto. Sem você, haverá uma ferida aqui”.

O chinelo branco deu um passo à frente. A garota olhou para baixo. Estava... Andando? Lembrou-se da voz dele. Mais um passo. Mais uma lágrima.

Aquela risada frenética. Mais um passo. O sorriso branco e as bochechas levemente coradas. Dois passos. Duas lágrimas.

Aquelas conversas longas, que a faziam sentir-se melhor. Três passos. Duas lágrimas.

Aquele abraço acolhedor. Um corpo estirado à sua frente.

Que ironia. Em um ambiente tão alegre - as folhas marrons sendo levadas pelo vento, os cantos de pássaros misturando-se às cantigas das crianças, o cheiro das flores rosadas no alto das árvores – a tristeza conseguiu apoderar-se de um único corpo ali. Na luta entre o bem e o mal, o segundo lado venceu. E este deixava o rapaz acabado, sem noção do certo ou errado.

“Meu anjinho...” – a garota começou a dizer – “O que está fazendo aqui? Por que está aqui?” – um tom de desespero surgiu – “Por que suas mãos estão em seu coração? Eu te fiz sofrer? Está sofrendo por minha causa?”.

A garota afagou os cabelos crescidos de seu anjo. Sabia que não conseguiria ouvi-la, mas essa seria a sua última chance.

“Há uma ferida aí? Meu anjinho... Eu amei-te tanto... Fui eu que causei essa ferida, certo?” – falava como se esperasse uma resposta – “Veja... Aprendi uma coisa hoje.” – encostou sua mão nas do garoto – “O carinho é o melhor remédio. Um beijo na ferida ajudará a curá-la”.

Com isso, inclinou-se sobre o corpo à sua frente e encostou seus lábios nas mãos do garoto, já que embaixo delas estava o coração ferido.

“Prontinho. Logo estará bem novamente.” – sentiu, nos cantos de sua boca, as gotas das lágrimas que seus olhos não conseguiam segurar – “Desculpe-me por fazê-lo sofrer. Ah, meu anjinho, você não sabe como te amei...”.

Como um retorno, os lábios do garoto abriram-se e pronunciaram, sem emitir som algum, a última palavra para sua amada. Lágrimas formaram uma fonte nos olhos da garota, que sorria de volta.

Folhas marrons eram levadas pelo vento. Cantos de pássaros misturavam-se às cantigas das crianças. O cheiro das flores rosadas no alto das árvores animava as pessoas ao seu redor. Mas agora, ao lado de um garoto deitado em algum canto do parque, pequenas flores delicadas partiam junto com o vento para um lugar em que, com certeza, encontrariam a felicidade e a tão esperada paz.


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Notas finais do capítulo

Yoooo~
O que acharam? Tá meio difícil de entender inteiramente a história, né? >
Podem perguntar, não mordo :3

Eu tenho uma conta no Social Spirit, e é lá que eu vou postar as fics com mais frequência, então não é plágio de nenhum lugar! >< socialspirit.com.br/astr0naut

Espero que tenham gostado! c: