Já fazia um mês que dona Beth estava hospedada na casa de Grissom. Um mês inteiro em que ele mal cumprimentava sua genitora.

Ele estava deitado no grande sofá da sala de estar de sua casa, preparado para dormir como sempre fazia desde que brigara com Sara – por vontade dela valia a pena ressaltar – entretanto não conseguia pregar o olho. Sua mente fervilhava.

A todo instante pensava nas palavras que Sara lhe havia dito, em todas as verdades que ela havia proferido trinta dias antes. Durante todo esse tempo não havia trocado quase nenhuma palavra com sua mãe como eles faziam tempos atrás. Falavam apenas o estritamente necessário. Por muito e muito tempo, depois da morte do pai dele – quando Grissom era apenas um menino – foram apenas os dois.

Tornaram-se cúmplices e confidentes. Não havia nada que acontecesse na vida dele a qual ele não contasse para sua mãe. Por isso, quando descobriu que sua querida e adorada genitora estava por trás das armações de Bia, que ela estava mancomunada com ela, ele se sentiu mortalmente traído. Achava que sua mãe nunca seria capaz de agir de forma indigna. Quando ele a informou de que havia se casado e ela desejou que eles fossem felizes, que ela estava feliz com o matrimônio de seu filho único, ele realmente acreditou. Porém se enganou. Ela foi capaz de atitudes sórdidas. Ela havia sido capaz de mentir para ele e de trazer para sua casa uma psicopata obsessiva, e o pior de tudo, havia tratado mal sua esposa, a mulher que ele amava.

Contudo Sara abriu-lhe os olhos. O que ela lhe havia dito fazia sentido. Como sempre – ou quase sempre – ela tinha razão. Por mais que ele quisesse ocultar, tinha de admitir que sentia falta dos afagos e do carinho daquela que sempre fora seu porto seguro. Sara estava certa. Ele não podia permanecer eternamente em discórdia com sua mãe. Não era certo.

Jogou seu lençol para o lado, levantou-se do sofá em que estivera deitado e dirigiu-se ao quarto infantil onde sua genitora atualmente dormia. Abriu a porta do dormitório. Entrou cuidadosamente. Estava tudo escuro. Ela havia fechado as cortinas do aposento. Tocou no ombro da mulher, pois não adiantava chamá-la em voz alta devido à surdez, o que por um lado foi muito bom, já que evitou que as crianças acordassem. Ela acordou sobressaltada.

— Preciso conversar com a senhora – ele sinalizou.

Sem esboçar nenhuma reação, Beth levantou-se, vestiu um roupão e seguiu o filho até a sala.

— O que você quer tanto me falar que não podia esperar que eu acordasse Gilbert? Qual é a urgência? – ela gesticulou.

Grissom olhou para o chão. Não era muito bom com as palavras, principalmente quando se tratava de pedir desculpas.

— Precisava pedir perdão para a senhora – ele movimentou as mãos.

— Perdão pelo quê? – ela quis saber.

— Pela maneira como tenho agido em relação a senhora. Ainda que a senhora, mamãe, tenha agido de maneira equivocada e que eu estivesse muito magoado, na justifica minha falta de respeito para com a senhora. A senhora é minha mãe, me criou sozinha com toda dificuldade. Uma pessoa me disse que mãe não é eterna e que a falta de perdão acaba por prejudicar a quem não oferece o perdão. Então eu queria lhe dizer que eu a perdoo e quero pedir que a senhora me perdoe também. Me perdoe, mamãe, por favor!

­— Oh, Gil! Meu filho amado! Sou eu quem deve pedir perdão. Sei que errei e que feri seus sentimentos com minha ação no passado, mas tudo o que fiz foi pensando no seu bem. Agi da forma que agi, acreditando que era o melhor para você. Hoje sei o quanto estava errada. Agora sei o quanto Sara é perfeita para você.

Eles se abraçaram emocionados.

— Como senti falta disso mamãe. Agora eu consigo entender seu lado. Oh, mamãe, eu amo tanto aquela mulher. Ela é perfeita para mim, entretanto ela não quer mais saber de mim.

— Meu querido, não se preocupe, eu o ajudarei a reconquistá-la.

— O que a senhora está planejando, dona Beth?

— Por enquanto é segredo. Na hora certa você saberá. Apenas confie em mim.

— Eu confio – ele gesticulou.

Ele deu um beijo na testa de sua mãe. Ela dirigiu-se ao seu quarto, enquanto Grissom se deitava novamente no sofá, de alma lavada. Logo adormeceu.

—o-

Elizabeth Grissom, ou dona Beth para os íntimos, elaborou com cuidado seu plano para a reconciliação entre Grissom e Sara. Como ela havia sido, ainda que indiretamente, a responsável pela separação dos dois, nada mais justo que ela fizesse o possível para que eles reatassem o casamento.

Para isso, ela preferiu manter tudo em segredo. Apenas observava seu filho e sua nora, sem nada comentar. Por diversas vezes, Grissom interpelou-a tentando descobrir qual era seu plano, ela, no entanto, não o revelou.

Estava prestes a dar o primeiro passo. Chamou Sara.

— Sara, minha querida, tenho observado que há muito tempo você não tira um tempo para você mesma.

­— Isso é verdade. Faz um tempinho que não sei o que é relaxar. Se bem que isso mudou um pouco depois que a senhora chegou aqui em casa – Sara a abraçou.

— Gostaria de mudar isso. Por que você não vai ao shopping dar um passeio? Aproveite e compre um vestido para você, faça uma escova e faça uma maquiagem. Garanto que você se sentirá outra mulher – garantiu a sogra.

— Não sei... E os meninos? Não posso deixá-los. – ela titubeou. A proposta era muito boa.

— Não se preocupe com as crianças. Eu cuido delas. Vá, minha querida. Aproveite essa alforria – Beth sorriu.

— Tudo bem.

Sara arrumou sua bolsa e saiu. A primeira parte do plano de Beth deu certo. Agora vinham as próximas etapas.

Calculou que Sara levaria pelo menos umas duas horas para voltar. Enquanto isso, deu banho e arrumou os meninos. Preparou um jantar composto por macarronada com molho pesto, o vinho branco fechava o cardápio. Olhou para o relógio, falta quinze minutos para que Sara retornasse. Faltava apenas um estágio. Mandou uma mensagem para Grissom. Pelo que conhecia do filho ele chegaria em poucos minutos.

Observou o que tinha preparado e ficou feliz. Estava tudo perfeito. Colocou Alex e Theo no carrinho de bebê e saiu feliz da vida. Torceu para que seu plano desse resultado.