–Len… Eu gosto de ti. Eu estou apaixonado por ti… Não vás embora…

Ao início pensei que era uma brincadeira de mau gosto. Ainda tentei dizer algo mas só consegui soltar uns risinhos irritantes sem saber o que falar. Percebi de imediato que o Kurogami-san estava a falar mesmo a sério quando olhei para os seus olhos. Eram uns olhos que não enganavam ninguém, uns olhos tristes e perdidos (mais que o normal…). Mas, eu tenho medo de o magoar. Eu considero-o… meu amigo? Meu chefe? Algo assim… Nada mais. E aliás, eu sou um homem e ele também. E também… a minha irmã. N-Não isto não faz sentido.

–K-Kurogami-san, você deve estar mesmo doente. Eu vou ligar à Alice e tentar apanhar o meu voo…

–Não vás, Len. Eu não estou doente. Sei que pode parecer estranho, ou melhor, é estranho, mas eu sinceramente não sei bem o que é o amor. Só sei que quando li a carta, o meu peito doeu.

–(Mas que porra é esta, ele parece um cachorrinho desorientado) V-Vamos resolver isto, ok? Provavelmente você não queria ter de contratar um novo editor, só isso. Mas eu já decidi que vou estudar para fora (e se o que ele disse for mesmo verdade, ficar aqui só ia piorar as coisas…).

–Não! Não é nada disso. É mais forte!

–Já percebi! (Eu levanto a mão devagar, e dou uma grande aperto de mão ao Kurogami-san) Deve ser por estar quase a casar com a minha irmã. É isso mesmo! Eu realmente não percebo muito disso, mas você deve ter amigos que o vão ajudar! Agora o voo..

De repente, a expressão do Kurogami-san mudou radicalmente. Os seus olhos deixaram de mostrar tristeza e começaram a transmitir seriedade de uma forma incrível. Nisto ele puxa a sua mão bruscamente e encosta-me á parede.

–Len!! Deixa-te de brincadeiras, eu estou realmente sério. Não é a porra nenhuma do casamento, deixa de fugir.

–Fugir?! Eu vou refazer a minha vida. Até a Alice já ficou ciente disto então por favor não me impeça por essas razões fúteis.

–Que razões fúteis?-perguntou uma voz distante.

Não conseguia reconhecer a voz de quem perguntara aquilo... Só quando vi uma silhueta bem familiar a vir na nossa direção pude perceber que era a minha irmã. Por um lado fiquei bastante feliz porque a situação estava a ficar estranha e eu já não sabia como responder. Mas por outro… SERÁ QUE ELA VIU?! E-Eu não quero ficar no meio de um mal-entendido, ainda mais eu fui assediado. Da maneira como ela é, espero mesmo que não tenha visto nem ouvido nada.

–I-Irmã… Olá…

– Len, eu procurei-te pelo aeroporto inteiro, pensava que já tinha partido mas disseram-me que tinhas saído da área de espera. Fiquei preocupada!!! E Aki! Também estás aqui?! Que bom. Preciso de falar com os três. Mas porque estás aqui? – perguntou a minha irmã com uma voz irritante, esfregando-se em mim.

–S-S-Sobre isso…

–É que… (Eu não sei mesmo o que lhe dizer, haaa, espero que o Kurogami-san não diga nada que me enterre…).

–Eu vim pedir ao Len para ele ficar! (Nãooooooooooooooooooooooooooo!! Ele vai falar! Estou perdido…..!)

–Irmã é que-

–Alice, nós não podemos contratar outra pessoa! O Len é perfeito para o trabalho, ele pode muito bem passar-se por mulher e ser ‘’a’’ Kurogami Akihiko!!

–É por isso?! Até fiquei preocupada. Mas já devia saber, insistente como és, só podia ser algo assim– disse ela com uma voz aliviada – agora sobre o assunto… Hoje chega alguém muito especial! É por essa razão que eu não queria que fosses embora Len. Essa pessoa veio da Europa só para te ver.

–E o que isso tem que ver comigo? – perguntou o Kurogami-san.

–Essa é a melhor parte! Ele quer conhecer a romancista em ascensão Kurogami Akihiko em pessoa! Ele formou uma grande empresa na Europa e pode promover os teus livros por todo o mundo! Não é bom?!?! E é aí que entras Len. Vou precisar de ti hoje!

–HOJE?! Não te esqueças, eu tenho um VOO! A vossa sorte é que ele atrasou-se na partida, senão já não estaria aqui… Mas quem é essa pessoa?

–Len! É nada mais, nada menos que o Haru!

–Haru?

–O Sakamoto Miharu-kun! Não te lembras, vocês eram como irmãos. O filho da Mizuki-san.

–Haaaaa! O Haru-kun! É sério?! Que nostálgico. Mas o meu voo…

Enquanto eu e a minha irmã discutíamos o assunto sobre o Haru, o meu voo e o encontro, o Kurogami-san olhava para nós com uma cara assustadora. Algo me diz que ele não gostou de algo que foi dito no meio desta confusão…

–Eu oponho-me!

–Aki? Porquê?

–Se esse tal Haru e o Len são amigos de infância, ele não iria reconhecê-lo logo? Está fora de questão. O Len não vai ver Haru nenhum.

–Não te preocupes, não te preocupes – disse a minha irmã empurrando-nos aos dois para dentro de um táxi – vamos mas é para a empresa discutir isto lá. As pessoas já estão a olhar!

–Mas o meu voo…

Acabamos por ser arrastados para a empresa. Não acredito na forma de como isto terminou. Eu preciso mesmo esclarecer isto com a universidade… Haaa, não acredito mesmo.

–Len, Aki! Quero vos apresentar a minha melhor amiga, Enri-chan. Ela vai tratar de tudo para o Len se parecer uma autentica romancista.

–Prazer em conhecer-vos, sou a Mijima Enri. Podem contar comigo!

–E-E-Eh, muito prazer!

–Muito prazer, sou o Kurogami Akihiko.

–K-K-K-Kurogami Akihiko em pessoa, n-não acredito.

–Ela é uma grande fã tua! Podemos deixar tudo com ela. Agora quero-vos aqui aos dois antes das 17:00 horas, o Miharu chega ás 18:00 e a reunião é ás 20:00 horas. Se não me engano ele quer jantar com ‘’a’’ Akihiko. Perceberam?!

–S-Sim! – dissemos os dois em coro.

Se eu pensar bem, isto até é perfeito. O Haru vai perceber logo quem eu sou e a minha irmã vai desistir de mim como a ‘’forma’’ da romancista. O Kurogami-san também vai se dar conta que isto pode dar cabo da sua carreira e os dois vão me deixar ir estudar para fora sem nenhum problema. Isto é o melhor! Nem vai ser preciso eu fazer nada…

–Bem, sendo assim, eu vou almoçar. Até logo!

Eu ia a entrar para o elevador quando o Kurogami-san entra de repente. Não acredito, o que ele quer agora.

–Len…

–Kurogami-san, eu já disse tudo o que tinha a dizer.

–Eu queria te pedir desculpa. Não sabia que te ia causar tantos problemas… Se o trabalho de hoje não der certo podes fazer o que quiseres.

–(Primeiro, eu já tenho o direito de fazer o quero logo de inicio, mas bem, já que ele disse isto, só quer dizer uma coisa. O meu plano vai ser um SUCESSO) T-Tudo bem. Eu vou experimentar então hoje… Não precisa de pedir desculpa.

–E mais uma coisa Len. Podes me tratar de uma maneira mais casual. Afinal de contas tu és a romancista e eu o editor – disse ele com um tom irónico.

–(Então é assim que vai ser…) Mas, é estranho…

–Não é estranho se duas pessoas forem amigas, certo?

–….Tudo bem. Trato-o… Quer dizer, trato-te por Kurogami, ok?

–Akihiko!

–Kurogami! E quando o Haru estiver aqui....?

–Eu serei o Len – disse, voltando a rir-se. Eu acho que ele está a gostar disto…

–Ok, ok… Então sendo assim, (o elevador abriu), eu vou indo comer algo.

–Len, só mais uma coisa…-disse puxando o meu braço para trás e aproximando o seu rosto do meu.

–O-O-O que estás a fazer?! (Eu soltei-me e saí do elevador) Eu apenas comecei-te a tratar mais casualmente, não quero ser assediado. SEU TARADO.

Nisto as pessoas começaram a bisbilhotar e rir. Haaaaaaaa, estou tão envergonhado que não sei o que fazer. O pior de tudo é que ele se riu também.

–E-E-Eu vou me embora – disse-lhe correndo em direção á porta. Não acredito que ele me faz passar por estas humilhações… Eu preciso mesmo de descontrair! Mas enfim. Tudo vai terminar esta noite.

Á ida para casa encontrei-me com o Yuki. Ao que parece ele também ia almoçar então fomos os dois juntos. Ele ficou super contente por eu não ter ido embora. Deu até pena! Mas estava energético como sempre. Tive lhe a contar sobre tudo o que se estava a passar, só não falei sobre o que o Kurogami-san me disse. Eu preciso tirar essa história a limpo e só depois pensar no que fazer.

O tempo passou no instante e quando me apercebi já eram 16:50…

–Desculpa Yuki, mas eu tenho um encontro ás 17:00 horas e tenho de chegar em ponto!

–Um encontro? Com quem? – perguntou todo curioso e com uma vozinha estranha.

–Não é nada disso. É trabalho, trabalho!

–Sendo assim… -disse desiludido- é melhor apressares-te. Boa sorte!

–Obrigado, vejo-te logo! – disse levantando-me. Acho que se apanhar o metro chego lá a horas.

Cheguei á empresa mesmo em cima da hora. A Alice já estava toda estressada á minha espera. Parecia que me ia devorar… Que medo… Só não vi o Kurogami-san em lado nenhum. Mas bem, vamos lá despachar isto!

A Enri-san tem bastante jeito e faz o trabalho de forma carinhosa. Só não gostei nada das porcarias que tive de pôr no corpo. Eu nunca vou me parecer com uma mulher e estou mortinho para ver a cara deles quando se aperceberem disso.

–Len-kun, não te importas de usar um vestido? Acho que seria o ideal para um jantar.

–Tanto faz… Só quero despachar isto. Mas Enri-san, a minha voz não é propiamente de mulher.

–A mim parece-me bastante afeminada.

–(Que rude…) S-S-Sério?...

Passou mais algum tempo até que a Enri-san suspirou de alívio.

– Terminei!!!!! Pronto para o verdadeiro desafio?

–Vamos lá…-respondi de uma forma incrivelmente não interessada.

–Alice-chan! Terminei! Len-kun podes vir!

Eu aproximei-me lentamente. Só queria um buraco para pular e enterrar-me lá.... Não quero que o Kurogami-san me veja assim....

–I-I-INCRÍVEL! Pareces uma senhora de verdade! Bom trabalho Enri-san!!

–Obrigado! – respondeu com um tom orgulhoso – custou, mas consegui! Agora vamos ver como te desenrascas, Kurogami Akihiko!

Ela vestiu-me com um vestido longo branco com uma fitas vermelhas muito clássico. Pôs-me também uma camada de maquilhagem na cara e usou uma peruca loira preta para o meu cabelo. Eu ainda não me tinha visto ao espelho nem quero. Não quero ficar traumatizado…

–Bem, estamos aqui todos! Só falta o Aki! Já se passaram duas horas e só temos mais uma hora até o Haru chegar. Espero que esteja tudo bem… Eu vou procura-lo! Len, não saias daqui, a Enri-chan vem comigo por isso ficas por tua conta. NÃO estragues a maquilhagem nem sujes o vestido. A tua onee-san mata-te se vir alguma coisinha mal, ok maninho?

–O-Ok… - respondi num tom submisso.

Não acredito que o Kurogami-san desapareu numa hora destas. Ainda para mais ele que tanto insistiu para eu ficar… No que raios está ele a pensar?! Enfim…

Passou-se meia hora e não havia sinal de ninguém. A minha cabeça só pensava em como o Haru estaria passado tanto tempo, porém, estava também um pouco preocupado em relação ao Kurogami-san. Já me doía as pernas então fui-me sentar. Sim… Eu estive meia hora em pé com medo de ao me sentar fazer algo ao vestido. Tenho muito medo do que a Alice é capaz de fazer…. Mas a culpa é deles por demorarem tanto.

Enquanto eu andava com a cabecinha ás voltas com isto, a porta de entrada abre-se de repente. Levantei-me para tentar ver quem era e só vi 2 pessoas. Eram dois homens, um vestido todo de preto, muito formal, e o outro vestido muito casualmente e de uma forma digamos ‘’jovem’’.

Eu comecei a ter um mal pressentimento então tentei fugir para o andar de cima mas ouvi alguém chamar.

Quando olhei para trás reconheci uns olhos azuis muito intensos e um cabelo loiro bastante brilhante, ambos muito familiares. Era sem sombra de dúvida o Miharu-kun... Mas é demasiado cedo! E ninguém está aqui…

Ele aproximou-se de mim e pôs a sua mão no meu ombro gentilmente.

–Menina, perdão… Sabe onde posso encontrar a romancista.... -ele hesitou por uns instantes – Len… Len és tu?!