A captura do tordo escrita por Maga Clari, Katsudon


Capítulo 11
Rosas e cheiro de casa


Notas iniciais do capítulo

Demoramos, hein? Mas aqui está!!
Feliz ano novo, gente!
Beijos



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– Gale.

Seu nome saiu baixinho por meus lábios. Meus olhos não acreditavam que finalmente viam alguém conhecido e confiável. Uma pequena centelha de alegria estabeleceu-se no meu ser por ver meu melhor amigo. Sai correndo para abraçá-lo e fui recebida por seus braços.

– Gale. – dessa vez minha voz saiu direito.

– Catnip. – ele enterrou o nariz no meu e me apertou mais contra seu peito. – É tão bom vê-la. Eu fiquei tão preocupado com você.

– Gale. – parece que essa é a única palavra que eu conseguia pronunciar.

Lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto e o de Gale. Soluços altos escapavam de mim enquanto o choro dele era silencioso. Inspirei fundo o cheiro de Gale. Podia sentir o cheiro da floresta, cheiro de casa. Então a realidade me atingiu.

– Ele a matou, Gale. – contei a ele. Meu corpo começou a tremer quando me lembrei dos olhos vazios da minha irmã. – Ele a matou. – Os soluços ficaram ainda mais fortes, fazendo com que meu corpo sacudisse.

Meu melhor amigo se afastou, me segurou pelos ombros e me olhou seriamente, preocupado.

– Quem matou quem? – perguntou realmente confuso. Mas eu não queria dar explicações.

– Eu fui idiota, Gale. Eu sou idiota. Foi aquele bestante. Mas ele a matou quando ainda era humano. Eu tenho que ir atrás dele. Ele tá aí, não tá? Ele matou tudo o que eu tinha!

– Opa, opa, opa!

Vejo suas mãos pesadas me imprensassem na parede, impedindo-me de ir a qualquer lugar. Sinto meu sangue ferver e arregalo os olhos, realmente irritada.

Começo a gritar e a tentar me desvencilhar dele, mas Gale tapa minha boca. Ele olha para mim, e vou me acalmando aos poucos. Escuto o assobio que vem de seus lábios, a canção dos tordos lá da nossa floresta. Meu coração volta a pulsar normalmente e ele me solta.

– Hoje você fica aqui, certo? - falou, enquanto eu balançava a cabeça. - Vou arrumar alguma coisa pra gente comer, fique aí.

Então ele me deu um beijo na testa e saiu.

Esperei que ele fosse embora pra ir atrás do Peeta. Abro a porta da minha sala e saio sorrateiramente, antes que algum médico venha trancar-me de novo. Começo a ficar um pouco desorientada e me vejo perdida no meio de tantos corredores escuros e iguais. A sensação que eu tenho é que estou num labirinto e que eles só fazem encolher cada vez mais.

Fico assustada ao perceber o quanto essas escadarias e corredores me lembram do lugar onde me puseram na Capital. De algum modo elas me fazem associá-la a uma prisão. E talvez eu esteja numa. Se eu já era desconfiada antes, depois do dia da Colheita e dos Jogos Vorazes fiquei pior. Ninguém tem total controle e domínio da realidade dos outros; posso muito bem estar num lugar tão horroroso quanto a Mansão do Snow.

Enfim acho Gale outra vez, descendo uma rampa até uma área de lazer, ou qualquer coisa parecida. Corro até ele e solto um longo suspiro ao aspirar o aroma das flores. Por alguns instantes, esqueço a existência dele e foco no cheiro de Primroses e outras rosas também. Sem que eu perceba - ou autorize -, lágrimas percorrem meu rosto ao lembrar-me dela. Onde estaria? Imagens e vozes de Peeta preenchem minha mente, e toda aquela adrenalina aparece outra vez.

Volto a procurar por Gale e o encontro mancando e meio machucado. Não entendi, de imediato, mas a compreensão chegou aos meus olhos quando eu o vi. Peeta parecia estar saindo, com a fisionomia completamente tensa. Começo a gritar e corro o mais rápido que posso até eles dois. Tem uma garota lá e percebo Finnick também, mas não ligo a mínima pra eles. Eu só tenho um alvo:

Peeta Mellark.

– KATNISS! - escuto meu nome vindo de ambos os lábios.

– ME SOLTA, GALE, ME SOLTA! - berro, quando o vejo tentar me impedir de dar um jeito naquele assassino.

– Catnip, calma...

– ASSASSINO! - continuo gritando para Peeta, chamando a atenção dos outros - OLHA PRA ELE, GALE, ME LARGA!

Como eu vi que ele não me soltaria tão cedo, tive que fazer algo que me doeu a alma, porque eu sabia que ele já estava machucado. Dei um chute no meio das pernas dele e parti pra cima de Peeta. Derrubei-o de imediato, estava mais do que óbvio que era um bestante. Minha respiração estava descompassada e tudo o que eu queria era enforcá-lo. Olhei diretamente nos olhos azuis dele para que soubesse que eu não o perdoaria nunca.

– ASSASSINO! - continuo, sem nem prestar atenção na sua cara de pânico mecânica. Mesmo sabendo que ele já estaria morto mesmo, eu precisava descarregar minha raiva. E então eu percebi... Eu havia perdido Peeta, então. Se ele era bestante...

Minhas mãos afrouxam segundos antes de me arrancarem de lá. Volto a chorar ao tentar pensar em quem começou tudo, afinal. Se Peeta fosse um bestante, alguém o matara. Existia alguém de ordem superior. Mas quem? Aquilo estava me perturbando ferozmente.

– Anda, Senhorita Everdeen, você precisa descansar - escuto a voz de um médico que tentava me tirar de lá.

Antes que eu responda qualquer coisa, ele me coloca nos ombros e me carrega até a ala hospitalar. Gale é levado numa maca, devido ao seu estado desprezível após a briga. Quanto a Peeta eu nem quis ver o que fizeram em relação a ele. Fecho os olhos e tento dormir durante o caminho, quem sabe assim eu volte a sonhar e quando eu acorde veja que na verdade ainda moro na Costura, enquanto caço com Gale e ajudo minha mãe a cuidar de Prim.

Mas como não sou uma princesa de contos de fada, minha mente não se desligou de Peeta. Parando para analisar melhor a cena de agora a pouco, novamente ele tinha machucado alguém importante para mim. Eu precisava pará-lo antes que ele matasse Gale ou mesmo minha mãe.

Só não consigo entender porque Peeta quer tanto me atingir. Eu nunca fiz nada a ele que fizesse com que ele descontasse nas pessoas que amo. E pensar que me sacrificaria enquanto ele só pensava em uma maneira de se aproximar de mim para me destruir.

Finalmente chegando a porta da enfermaria, notei que tinha dois enfermeiros e o Dr. Hauss. Meu médico tinha uma expressão de desapontamento. Pensei em dar um jeito no cara que me levava, porém minhas forças estavam esgotadas. Simplesmente permiti que me carregassem e posteriormente me prendessem a cama, o cansaço e estresse me levando a inconsciência.

No entanto, nem mesmo nos sonhos eu podia ter um momento de descanso; sonhava com todos os meus medos, misturados e bem fortes, todos em forma de ameaça. Eu via Prim morta, Peeta bestante, o Distrito 12 em chamas... Que ironia, não é? Minha casa mostrando-se a favor do meu codinome, dado pela Capital. Garota em chamas. Que piada. Eu não tenho mais casa. Esse labirinto está longe do que se possa chamar de lar; não fosse a falta de luxo, diria que o D13 e a Mansão do Snow eram tudo a mesma coisa. Mesma casa de regras, falta de liberdade e um monte de gente me guiando e me dizendo o que fazer.

Quando acordei, algum tempo depois, me disseram que eu tinha outra visita. Eu esperava realmente que não fosse Peeta outra vez, queria ele bem longe de mim. Estava torcendo para ser Gale para que eu pudesse abraça-lo, sentir o cheiro e acalento de casa. Ouço batidas na porta, e tomo uma posição de defesa; observo os movimentos da maçaneta ao girarem e trazerem, para mim, o sorriso de Finnick. Sorrio de volta, aliviada, mas logo a minha expressão muda ao ver uma rosa no bolso de sua camisa de botões. Arregalo os olhos e por pouco não o pego, ele tem ótimos reflexos. Antes que alguém me pegasse e levasse de volta à ala hospitalar, entro numa perseguição atrás de Finnick Odair.

– TRAIDOR! VOCÊ TAMBÉM, FINN?!

Se o Snow pensa que está ganhando, está muito enganado. Quem fará o xeque-mate sou eu, Snow, está me ouvindo? Fogo queima. Quero ver o que ele vai fazer quando seu jardim de rosas estiver todo em chamas.

Espere até eu virar esse jogo.


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