Apaixonados por maçãs escrita por Caramelkitty


Capítulo 13
Tiro no escuro


Notas iniciais do capítulo

Superei-me nesse capítulo (em questão do nº de palavras). Tá bem grandinho rsrsrs
Enfim, finais de fic são tão emocionantes :3
Eu só queria dizer que o título do cap foi baseado numa música que se chama «Shot in the dark» da Within Temptation.



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O toque da campainha, tão desejado pelos alunos, soou finalmente. Como pombas a saírem a voar de uma gaiola para a liberdade os alunos correram para o pátio. Era o final das aulas, e agora todos se dirigiam alegremente para casa. Kaori caminhava devagar saboreando o sol pouco quente dos meados de Primavera e ia também trincando uma maçã. Atrás dela planava o shinigami Ryuuku mas só a menina podia vê-lo.

– Não devias comer antes do almoço... depois ficas sem apetite. – Repreendia Ryuk olhando cobiçosamente a maçã.

Kaori deu um sorriso de canto.

– Hã-hã... pensas que eu não sei que só queres comer a maçã?

– Sou tão previsível assim?

– Sim... não... às vezes... – Kaori deu de ombros. – Tenta que ninguém veja a maçã sumir em pleno voo, tudo bem? – Acrescentou e logo depois de dizer estas palavras começou a atirar a maçã trincada ao ar e voltava a apanhá-la. Quando viravam a esquina, logo após passarem os portões da universidade, Ryuk pegou a maçã e comeu-a de uma vez só.

– Esganado... não deixas nem o pézinho da maçã! – Ela gargalhou ao notar que o Shinigami ficara constrangido com o comentário. – Mas diz aí, porque estás a acompanhar-me hoje? Raito não irá reparar que desapareceste?

– Ele não me quer mais perto dele. Acho que desconfia que eu ando a ajudar-te de alguma forma, daí prefere planear os seus passos fora do meu alcance. – Respondeu Ryuuku lembrando-se de como Raito sugerira que ele «fosse dar uma volta para apanhar ar».

– E ele não te disse nada? Não te pressionou para que confessasses que me tinhas ajudado naquele dia? – Perguntou Kaori pensativa. Ao receber resposta negativa, os seus olhos verdes ganharam um quanto de preocupação. A falta de ação de Kira estava a deixá-la receosa, era como a calma antes de uma tempestade. – É suspeito ele estar a fingir-se de desentendido... e bastante preocupante, eu creio. Mas não é só ele que tem tido um comportamento estranho. Ryuuku, andas muito calado, ultimamente. Muito pensativo, isso não faz o teu estilo. O que está a incomodar-te?

– Nada. – Respondeu rápido demais. Percebeu como a sua resposta fora insinuativa e preparou-se para tentar emendar isso com outra frase mas Kaori foi mais rápida:

– Tá, já vi que não confias em mim! – Ela fez beicinho e fingiu que ia começar a chorar.

– Poxa, Kaori, eu confio. Para com isso! Eu só estou preocupado contigo, está bem? – Ryuuku entaramelava e atropelava as palavras umas nas outras, atrapalhado. – É por isso que eu estou pensativo, com Kira a ameaçar matar-te, achas que a situação é tranquila para mim? Agora, por favor, para com essa cara de «sou um cachorro abandonado, por favor me adotem». – Kaori riu. Na real, ela adorava provocar o Shinigami. Vendo que tudo não passara das habituais e rotineiras provocações de Kaori, Ryuk amuou. Teria corado se Shinigamis tivessem essa capacidade. Quão facilmente Kaori conseguia acabar com a honra dele. – És um diabinho disfarçado de anjo. – Resmungou entre dentes.

– Ah, Ryuk, não fica assim, não! Eu só estou a brincar, devias ver como é engraçado...

– Fazer-me de bobo?

– Exatamente.

«Diabinha!» Pensou mais uma vez Ryuk. Nesse momento, o som de pneus a chiarem na estrada fez-se ouvir. Um carro cinzento de janelas esfumadas parou mesmo em frente de Kaori que teve que dar um salto para trás para não ser atropelada. Isso mesmo, o carro tinha entrado pelo passeio a dentro. Dois homens saíram de dentro do carro e pegaram em Kaori bruscamente, por cada um dos braços. Enfiaram-na na parte de trás do carro e antes que a rapariga pudesse sequer endireitar-se, eles já tinham dado o arranque.

– O que vão fazer comigo? – Perguntou Kaori, tentando manter a vez firme. Porém tudo o que saiu da boca dela foi um guincho falho de ratinha assustada.

– Tu fica mas é quietinha senão quiseres levar uma bordoada na cabeça! – Respondeu rudemente um dos homens, este, reparava agora Kaori, possuidor de uma barba mal raspada e sobrancelhas tão grossas que o tornavam assustador. Era esse homem que conduzia o veículo.

– Estás assustada, pequena? Espera só até chegarmos ao esconderijo e eu te pôr as mãos em cima. – Replicou maliciosamente o outro homem, esse bastante mais novo que o primeiro. Tinha uma cicatriz que atravessava todo o seu olho direito.

– Sério, Noite Vermelha? Essa daí é tão pequenina e insignificante... – Reclamou de novo o condutor. Ele lançou um olhar de desprezo a Kaori. Ela não ligou, estava habituada a esses olhares desde sempre, especialmente por parte das populares. Naquele momento tudo o que filtrava a sua atenção era a mão do homem da cicatriz que avançava perigosamente para ela.

– Hum... pode ser, mas tem a pele bem macia! – Replicou o mesmo, fazendo uma breve carícia no rosto de Kaori. A vontade da menina era de morder a mão do homem mas sabia que se o fizesse provavelmente receberia uma bofetada de troco, por isso conteve-se e apenas tentou desviar os pensamentos mal intencionados do bandido.

– N-noite Vermelha?

– Nomes de código, bebê! Eu sou o Noite Vermelha e ele é o Corvo Assassino!

O carro parou em frente a um casarão abandonado. Kaori sentiu um misto de alívio e medo quando foi chutada para fora do meio de transporte. Alívio porque temia ficar naquele carro durante eternidades, sem saber a sua sina, tendo que aguentar os olhares de Noite Vermelha sobre o seu corpo pouco definido. Medo porque obviamente agora ia saber o que a aguardava, e mais do que certo, não era algo bom.

Os dois homens arrastaram-na para dentro da casa desabitada. Os vidros das janelas estavam partidos e a vegetação daninha invadia a casa. As paredes cheiravam a mofo e haviam telhas em falta na cobertura. Enquanto Corvo Assassino a mantinha de joelhos no chão, Noite Vermelha atava as mãos dela atrás das costas com uma corda áspera. Ambos estavam bastante satisfeitos por verem que Kaori era completamente submissa e que não iria dar-lhes trabalho.

– Eu ainda não sei porque estou aqui! – Queixou-se Kaori. Surpreendeu-se quando os bandidos lhe responderam.

– Ainda não percebeste que és refém, sua néscia? Kira mandou que te prendêssemos. Ele quer assegurar a tua morte. Se tudo correr bem, ele envia-nos uma mensagem para cortarmos a tua garganta. Se algo correr mal... bem, ele próprio irá mandar-te para o mundo dos anjinhos. – O sorriso tenebroso de Corvo Assassino fez Kaori arrepiar-se.

«Refém... mas o que eles querem dizer com isso? Espera... o meu pai! É isso, Kira apanhou o meu pai!» Os pensamentos da loira agora eram todos dedicados ao homem que a criara. Ela sentia que tinha de ajudá-lo de alguma forma. Era bastante curioso, já que era ela própria que se mantinha numa situação de muito risco. Podia ser morta a qualquer momento e ainda assim preocupava-se mais com que estava a acontecer ao seu pai do que a ela própria. Mas Kaori sempre foi assim e seria uma árdua tarefa moldar-lhe a personalidade de outra forma. «A culpa foi minha, eu devia ter contado ao meu pai quem era Kira. Agora ele pode estar a ser torturado... tenho de sair daqui!»

Enquanto isso Ryuuku voava em volta da velha construção. Tinha seguido o rastro do carro e soltou um suspiro de alívio ao reconhecer a viatura cinzenta estacionada perto da porta. Então era ali que eles tinham prendido Kaori. Ele entrou pela janela observando bem a cena ao redor. Um dos bandidos estava sentado numa cadeira já quase a cair de bêbado, enquanto que o outro contava um espólio recente. Kaori estava amarrada no meio da suja divisão, atada e de cabeça baixa. Ryuuku decidiu que ia matar os dois bandidos naquele momento. Bastaria escrever os nomes deles no Death note sobressalente que ele arranjara. E a vontade dele era de fazer eles se auto torturarem antes de os matar. Afinal, eles tinham raptado a sua Kaori, tinham-na magoado e ainda falavam dela como se fosse um objeto para a diversão deles. Acabara de pegar na caneta quando a voz de Kaori se fez ouvir no local novamente.

– Vocês sabem que Kira irá matar-vos depois de tudo acabado, não é? Ele não vos deixará ficar como testemunhas.

– Morreremos se não cumprirmos as ordens dele! – Replicou Corvo Assassino que era o único que se mantinha ainda são o bastante para responder. Noite Vermelha estava quase a cair no sono de tanta cerveja que bebera.

– Entendo... – Murmurou a menina, voltando a cair no silêncio.

Eles iam morrer de qualquer maneira. Kaori não pode deixar de sentir alguma pena... mas foi sentimento passageiro.

Ryuuku preparava-se para escrever o nome do primeiro bandido quando percebeu movimentação pela parte de Kaori. Corvo Assassino estava novamente a contar moedas e não olhava para Kaori que conseguira se desenvencilhar dos nós. Solta, avançou silenciosamente até ele, como uma onça movimentando-se no meio do mato. Mais rápido do que Ryuuku pode apreender, o bandido já estava no chão, desmaiado, devido ao golpe que a menina lhe dera. Pregara-lhe uma boa rasteira e depois chutara-o, fazendo-o bater com a cabeça na coluna. Noite Vermelha, mesmo vendo a dobrar, percebeu o que tinha acontecido e correu (cambaleou) até Kaori. Ela também deu conta do homem, mas este era mais forte que o companheiro. Mesmo com a embriaguez foi capaz de acertar um golpe com a faca na lateral da barriga da rapariga. Kaori não conseguiu conter um gemido de dor ao sentir a faca a cortar-lhe a pele mas recuperou-se rapidamente. Logo afastou o bandido desmaiado de perto dela. Atou os dois um contra o outro.

– O que foi isso? – Perguntou o Shinigami ainda abismado, fazendo Kaori saltar de susto já que não notara a sua presença.

– Ai, não me mates do coração, Ryuk! Ah, isto? – Ela apontou para os dois homens inconscientes. – Eu sou cinto negro em Karaté!

– Porque nunca me falaste disso?

As palavras Karaté e Kaori circulavam na cabeça de Ryuuku, mas ele não conseguia associá-las. Como assim a doce e meiga Kaori era mestra em Karaté? Ela parecia tão frágil... se calhar era por isso mesmo que os bandidos tinham se ferrado. Substimaram-na. Mas também... quem poderia adivinhar?

– Nunca calhou num tema de conversa! Mas deixa isso para depois, Raito está a ameaçar o meu pai, preciso chegar até lá depressa! Vai lá para fora e vê se consegues arranjar um caminho para voltarmos para perto da casa de Raito.

– Mas... mas porquê? – Perguntou confuso.

– Não é óbvio? Raito esteve nas aulas hoje e saiu pouco antes de mim. Ele não pode ter ido muito longe em tão pouco tempo. Além disso o meu pai é detetive e se Raito se sentiu ameaçado por ele então é porque ele era o detetive encarregado de o vigiar. Raito deve ter atraído o meu pai para uma armadilha, fazendo-o seguí-lo. Algo está acontecer e deve ser perto da casa dele.

– Agora percebo porque ele é teu pai! – Comentou o Shinigami impressionado com o sangue frio e raciocínio rápido que Kaori demonstrava. Ela não era fraca como muitos pensavam. Não que ele alguma vez tenha pensado isso, mas não imaginara que a bondosa menina dos olhos verdes tivesse tantas capacidades ocultas. De alguma forma ele ficava orgulhoso com isso, como se ele fosse o responsável.

– Depressa! – Exigiu Kaori começando a demonstrar sinais de nervosismo.

Ryuuku elevou-se até conseguir ver todos os telhados da cidade. Por sorte, a casa de Raito ficava apenas a quatro quarteirões dali. Voltou a pousar no chão, pronto para dar a notícia a Kaori. Ela guardava uma pistola, que roubara de um dos bandidos. Guiada pelo Shinigami, Kaori corria pelas ruas desertas e molhadas. Porque estava tão pouca gente na rua? O motivo até era bastante claro. No tempo em que Kaori ficara fechada no casebre, o tempo tinha fechado. As nuvens escuras como o manto da noite cobriam o céu e descarregavam fortes aguaceiros de tempos em tempos. Era por isso que o alcatrão estava brilhante e escorregadio. Ignorando a dor da ferida na sua lateral, Kaori corria mais depressa do que imaginara ser capaz, quase saltando sobre muros para poder chegar ao seu pai.

– O que vais fazer quando o encontrarmos, Kaori? – Perguntou Ryuuku, curioso. Kaori pretendia salvar o pai, mas não especificara bem como.

A menina mordeu o lábio inferior e os olhos ganharam um tom de profunda tensão. Ela não respondeu.

Ryuuku percebera bem a mensagem no entanto. Kaori não fazia a mínima ideia. Seria de improviso então!

******************************************************************************

O pai de Kaori dirigiu-se ao beco na hora marcada. Estava nervoso e mal conseguia esconder o seu estado de espírito. Respirou fundo antes de encarar a face maligna do universitário que odiara por tantos anos. A segurança da sua filha dependia da sua capacidade de atuação. Logo que entrou no beco, o viu. Kira, com seus olhos alaranjados e sorriso zombateiro e superior.

– Bom dia, caro senhor cujo nome desconheço!

– O que tem de bom neste dia? Seu assassino...

Foi um erro enfrentá-lo e o pai de Kaori percebeu isso tarde demais.

– EU SOU A JUSTIÇA! Não um assassino! Assassinos são aqueles que quero matar!

O homem engoliu em seco.

– A minha filha não é uma assassina. Porém tu irás matá-la! – Murmurou, contendo as lágrimas.

– Oh, o papá protetor ficou triste? – Gozou Raito, pondo-se de cócoras para observar o rosto abatido do mesmo. – Ela ficará bem. – Mentiu. – Caso tenhas me trazido as informações que pedi.

Fosse como fosse, Kaori estava condenada, mas só Raito sabia disso. Se aquele homem estivesse a enganá-lo, ele iria matar Kaori com o Death note. Se conseguisse o que precisava, Kaori sofreria um lamentável acidente com bandidos estupradores. Lamentável, realmente. Que triste coincidência seria...

– O nome verdadeiro de L é... Laurent! – Anunciou seguro.

– Documento de validação? – Volveu logo Raito ainda pouco convencido.

– Já foi difícil descobrir o nome... como queria que eu pegasse o documento sem ser descoberto? – Desculpou-se o pai de Kaori fingindo-se indignado.

Raito fez um meneio de cabeça para os dois homens de preto que vigiavam a saída do beco. Eles aproximaram-se e socaram o homem que caiu para trás desamparado.

– O que foi isso? – Conseguiu tartamudear.

– Isso... – Respondeu Raito, mostrando uma escuta que retirara da dobra do casaco do detetive. – ... é a prova de que foste tolo o suficiente para tentares enganar Kira. Revistem-no, pode ter mais escutas e rastreadores. Atirem todos os objetos para um local indefinido mas longe daqui. L e os outros irão ter suas buscas fracassadas. – Pisou duramente a escuta que ele próprio encontrara, fazendo o aparelho se esmigalhar em pedaços. – Que isto te sirva de lição, quem desafia Kira desta maneira... ou é burro ou é louco! Queres ver-me matar a tua filha? Vê então!

Já que não haviam mais escutas ou câmaras, Raito puxou o caderno preto e exibiu-o.

– Death note? – Conseguiu ler o homem, ainda caído de costas. As letras brancas no fundo preto fizeram-no ter um arrepio.

– A forma mais eficaz de despoluir o planeta de todos os que fazem o mundo podre! – Recitou a primeira frase das instruções do caderno: «O humano cujo nome for escrito neste caderno morrerá» - Soltou uma gargalhada sinistra. – Bem, acho que está bastante claro o que irei fazer com a sua Kaorizinha.

– NÃO, NÃO, POR FAVOR, ELA NÃO TEM NADA A VER COM ISTO. NÃO A MATE! – Implorava o homem desesperado. Porém, a aflição dele só deixava Raito mais deliciado. Exibiu a caneta.

– A culpa foi inteiramente sua, e o senhor sabe disso! Escolheu sacrificar a sua filha para salvar a vida de centenas de criminosos. Como ela ficaria revoltada se soubesse disto. Se soubesse que a sua vida, no ponto de vista do próprio pai, vale tão pouco!

– CALA A BOCA! CALA A BOCA, SEU ASSASSINO! EU NÃO VOU DEIXAR QUE MATE A MINHA MENINA!

O homem debatia-se, mas era fortemente preso pelos dois matulões que Raito contratara. A raiva tornava o seu rosto vermelho e o peito subia e descia em oscilações bem visíveis. O pai de Kaori sentia tanta coisa ao mesmo tempo (raiva, desprezo, desespero, culpa) que nem conseguia respirar direito. O coração ameaçava saltar-lhe do peito. Se o nome da sua adorada filha fosse escrito naquele caderno, tinha a certeza de que enlouqueceria na hora.

– Mas talvez queira se juntar a ela na morte! – Convidou Raito sorrindo maléficamente. – Conceder-lhe-ia esse indulto. Basta me dizer o seu nome! Assim não precisará viver com a culpa de ter morto sua única filha.

O homem não tinha mais alento para lutar. Prestes a desistir de tudo, abriu a boca para revelar a sua identidade, mas uma voz muito familiar o cortou.

– NÃO FAÇA ISSO, PAPAI!

Yagami Light virou-se na direção da voz como se tivesse sido eletrocutado. E viu Kaori na sua frente, olhos verdes repletos de determinação e com uma arma apontada bem ao seu coração. Por um momento uma sombra de medo passou pelos olhos alaranjados do rapaz, mas logo retomou a sua expressão fria e calculista.

– Kaori... – Murmurou o homem, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Achara que não veria mais o rosto da sua filha.

– Interessante... – Murmurou Raito sorrindo. Os dois bandidos entreolharam-se. As suas hipóteses divergiam em duas teorias. Ou Kira era imortal e portanto não temia nada, ou então Kira era louco, porque ninguém sorri quando está com uma arma apontada a ele. – Tinhas acabado de dizer que a tua filha não era uma assassina. Ora, parece que irei provar-te o contrário. Então Kaori, o que esperas para disparar? Eu não tenho o dia todo!

A pistola tremia nas mãos da rapariga, mas ela continuava a apontá-la firmemente na direção do seu alvo. «Vamos lá, é só puxar o gatilho! Salvarás o mundo, salvarás o teu pai, salvarás a tua própria vida!». Mas parecia que não conseguia reunir coragem em lado algum para mover o dedo.

Raito começou a escrever e ia ditando vogal a vogal para tornar mais penosa a experiência.

– Ka-o-ri/ Ma... – Fez uma pausa. – Então Kaori, vais querer morrer assim? Eu sabia que eras fraca! Sabia que não terias coragem de me matar. Dispara, Kaori! Só falta uma letra... vais mesmo querer sacrificar a tua vida por mim? Sempre me adoraste, não foi?

Gotas de suor escorriam pelo rosto de Kaori e ela tremia cada vez mais. Ela não ia conseguir! «Eu não vou conseguir! Eu vou morrer!» A garganta estava tão seca que ela já nem conseguia senti-la.

– NÃO! MATA A MIM, MAS NÃO A ELA! O MEU NOME É KARL! – Revelou o pai de Kaori, tentando rastejar para junto do universitário. Um pé foi prontamente esmagar as costelas do homem impedindo-o de avançar.

– Sentes-te honrada de morrer pelas minhas mãos, Kaori? – Continuou Raito, ignorando os gritos do homem. Ele acabou de escrever o nome. A última letra foi desenhada com um floreado. Kaori continuava com a arma na mão, parecia ter ficado colada a ela. Kaori olhou para os pés, lágrimas saíam dos seus olhos e batiam nas botas de couro sujas de lama pela corrida desenfreada que empreendera até ali. Cedo voltou a ouvir o ronronar de Raito. – Olha para mim, Kaori! Quero que morras a olhar nos meus olhos!

Verde enfrentou o laranja numa disputa acirrada. Se ela ia morrer, então não mostraria o seu medo a Kira. Podia ter os olhos inchados das lágrimas mas o brilho do desafio iria manter Raito irritado mesmo além da sua morte. Porque ninguém desafiava Kira!

Os segundos passavam e o sorriso no rosto de Raito desmoronava. Ele consultou o relógio discretamente. 1 minuto já tinha passado e nada de o ataque cardíaco fazer a desgraçada morrer. O que se estava a passar? Então, subitamente, Raito percebeu. Mas assim que fez a descoberta, um tiro cortou o silêncio do beco escuro. Kira era mortal, afinal! Ele sangrava. Ele estava a sangrar naquele exato momento. Raito caiu para a frente, de olhos esbugalhados, do tamanho de luas cheias. Lua cheia que ele nunca mais ia voltar a ver.

Kira estava derrotado!


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Notas finais do capítulo

Sem palavras? Eu tô... O.o
Todas a dúvidas irão ser esclarecidas no próximo cap (e último). Depois só mais o epílogo!
Mas enfim, eu acho que parei num ponto bem interessante da história kkk
Kaori luta Karaté? Por essa ninguém esperava :P
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