Enquanto se dirigiam de volta para o complexo, embora todos estivessem física e mentalmente exaustos e, com Hana e Zeke conversando baixo sobre seu pesar por Uriáh, ainda assim era inegável a tranquilidade que sentiam. Tobias sabia que a hora marcada para a reinicialização havia passado e considerando a ausência de pessoas no local e o abandono dos postos de segurança, supunha que Caleb teria obtido êxito em sua tarefa.

Assim que adentraram no complexo, Amah questionou em voz alta sobre onde estariam todos, mas não obteve resposta. Conforme andavam, Tobias começou a sentir um estranhamento dentro de seu peito, como se alguma coisa não estivesse certa, mas ele logo catalogou como sendo preocupação com como estaria Tris em relação ao irmão. Das últimas palavras que trocaram ela havia dito que mesmo antes dele ir já o imaginava morto, agindo e falando como se estampasse fora o luto que já mantinha dentro de si.

Apesar das coisas ruins que Caleb fez, Tobias não tinha mentido quando disse que se ela fosse capaz de deixar tudo para trás ele também deixaria. Agora que tudo estava acabado ele não queria mais alimentar mágoa e ódio. Apenas queria seguir em frente e ser feliz.

Eles pararam diante de uma Cara machucada e com a expressão perturbada. Aquilo definitivamente não estava de acordo com o que havia sido planejado e, antes mesmo que ela dissesse alguma coisa, Tobias sentiu uma pontada de pânico se manifestar pelo formigamento nas pontas dos dedos.

_ O que foi? – Ele perguntou.

_ Tobias, eu lamento, mas Matthew esteve aqui e pediu para que eu lhe dissesse que Tris foi no lugar de Caleb até o Laboratório de Armas. – Cara abaixou a cabeça e a tristeza dela deixou Tobias alarmado.

_ E o que? Diga! Onde está Tris agora? – Tobias segurou o braço de Cara que puxou-o de volta para si.

_ David usou o soro da morte nela, mas Tris é divergente, portanto, ele não teve o efeito que se esperava. – Cara suspirou antes de prosseguir. – Acontece que David não iria desistir assim tão facilmente, então, ele atirou em Tris e, depois, não sei bem como aconteceu, houve um incêndio isolado que acabou causando uma explosão e ela foi atingida.

Tobias ouvia tudo entorpecido. Ele estava ciente dos sons de surpresa e lamento de Christinha, Amah, Zeke e Hana, mas algo dentro de si não recusava aquela possibilidade. Era o tipo de coisa que Tris faria.

_ Caleb a encontrou e a levou até o setor médico da Erudição. – Cara continuou. - Pelo que Matthew disse, Tris estava gravemente machucada e havia perdido muito sangue. Ele saiu de lá antes que fosse liberada alguma informação mais específica porque Caleb pediu-lhe que informasse isso a você. E, Tobias... Acho que você deveria ir agora. Eu sei que você já esteve lá, mas se quiser, posso acompanha-lo e guia-lo para até onde ela está.

_ Por que Tris iria no lugar do Caleb? Não era esse o plano... – Christina começou a questionar e falar mais algumas coisas com Amah e Cara, mas Tobias parou de escutar e nada disse. A única coisa em que pensava é que quando se despediram ela havia dito que o amava e ele respondera da mesma forma. Mas ela não amava somente ele para manter-se em segurança. Tris protegeria quem fosse mesmo que à custa de sua segurança e, em se tratando de Caleb, daria a vida por ele.

_ Tobias? Você tem que se decidir...

Cara estava enganada, não havia uma decisão a se tomar quanto a ir ou não. Se houvesse ele preferiria não ir tal como ele gostaria de ter se mantido o mais afastado possível dela quando estavam na iminência de romper definitivamente. E, isso nada tinha haver com covardia. As vezes, ficar longe de algo ruim que estava prestes a acontecer era melhor do que de fato vê-la acontecendo. Ele não estava preparado se o inevitável significava perde-la. E, dessa vez, para sempre.

Só que Tris e Tobias não eram movidos racionalmente em relação um ao outro. Ao contrário, agiam de forma instintiva. Ele não poderia ficar longe, não importava se quisesse ou se fosse demais para suportar, da mesma forma que ela não pôde preservar seu disfarce quando Eric apontou uma arma na cabeça dele ou quando lhe entregou a arma porque preferiria morrer a ter que mata-lo.

_ Sim, vamos agora. Ela ficará bem. Sempre fica. – Tobias disse mais para si do que para os demais. Entretanto, a firmeza em sua voz não chegou ao seu coração. Ele supunha que se o pouco que Cara sabia sobre a condição de saúde dela era desesperador, a realidade deveria ser bem pior.

_ Eu vou junto. – Christina disse e Tobias olhou para o rosto da garota pela primeira vez desde que chegaram. Ela tinha o semblante triste e os olhos brilhantes de lágrimas que reprimia. Tobias não sabia se ela só queria tentar ser forte diante de todos ou porque chorar significaria que ela esperava pelo pior. Se fosse a segunda opção, ele também preferiria não chorar.

O silêncio no trajeto para a sede da Erudição não era mais confortável como antes. Tobias sentia a apreensão brotar de cada poro de seu corpo. Minutos atrás ele se perguntava se estaria ela assistindo a neve se acumular no chão e como estaria ela ao redor de todas aquelas pessoas sem memória.

Mal sabia que enquanto ele procurava Evelyn e, depois, a assistia debater junto com Johanna e Marcus sobre o tratado de paz, Tris estava sozinha enfrentando David e sendo friamente alvejada no lugar daquele maldito traidor. Se houvesse antes alguma possibilidade de Tobias ter deixado as desavenças com Caleb para trás, ela já não existia. Agora, ele o odiava tanto ou mais até do que a Marcus. Este pelo menos feriu somente a ele. Caleb, por sua vez, era o responsável pelas coisas ruins que aconteceram com Tris. Isso não tinha perdão e ele lhe pagaria.

Tobias nem havia tomado ciência de que já haviam chegado. Seu corpo estava entorpecido e se não fosse Cara chamando seu nome, teria ficado ali. Eles seguiram em direção a ala hospitalar e pediram informações sobre Beatrice Prior. A jovem mulher que os atendeu pediu para que aguardassem que ela já retornaria com notícias sobre seu estado. Assim que ela se virou, Caleb surgiu. Seu andar era receoso e o olhar titubeante, mas sua aparência era péssima. Estava sujo de terra e sangue. Muito sangue. Aquela imagem trouxe gosto de bile na boca de Tobias. Se ele encontrou Tris e estava coberto de sangue, tal sangue só poderia ser dela.

O torpor que Tobias sentia passou instantaneamente como álcool deixado ao vento. A raiva acendeu vida em seu corpo e ele atravessou todo o espaço que o separava daquele que julgava ser um pedaço inútil de carne.

_ Você é quem deveria ter morrido. Eu posso dar um jeito nisso agora. – Tobias começou a desferir socos no rosto de Caleb enquanto Cara e Christina tentavam o afastar. – Seu maldito covarde! Seu traidor! Você pediu a ela não foi? Tenho certeza de que você desistiu e ela teve que fazer o que fez. – Disse por fim, após os separarem.

_ Está louco? – Caleb disse em voz alta. – Eu nunca pediria para ela fazer isso. Você pode não gostar, mas ela é minha irmã. Pode não acreditar, mas eu a amo.

_ Você a ama? Diga quanto você a amou quando assistia e colaborava com os estudos e torturas de Jeanine? – As palavras de Caleb somente o conseguiam deixa-lo mais inflamado pelo ódio.

_ Tobias. – A voz de Cara fê-lo olhar para ela. – Eu acredito em Caleb e, você, melhor do que ninguém deveria saber que ele fala a verdade. Ele não obrigou Tris...

_ Você está querendo me dizer o que agora? Que Tris está quase morrendo porque ela quis? Que a culpa disso tudo é dela? – Os olhos do rapaz estavam vermelhos a esta altura.

_ Sim. Quer dizer. Não. - Cara disse. – Ela não é culpada pelo que lhe aconteceu, mas ela quis ir sim. Quantas vezes ela não fez isso a você? Disse que faria ou não faria algo por condescendência e logo após se punha em perigo?

_ Isso não está em questão. Você apenas está querendo defender ele. – Tobias acusa, mas Cara não se abala.

_ Não é porque o sistema de facção não existe mais que deixarei de ser o que sou e se você não se lembra, eu pertencia a Erudição e estou analisando as coisas sem a paixão com a qual você enxerga. De toda forma, acho que é melhor gastarmos nosso tempo e energia com o que viemos fazer aqui.

_ Sim, falando nisso... – Christina se adianta querendo mudar o foco da discussão. – Caleb, como está a Tris e o que aconteceu? – Sua voz denotava a ansiedade que ela sentia.

_ Bem, seguíamos com o plano, mas Beatrice mandou que eu voltasse porque ela iria em meu lugar. Eu tentei protestar. – Ele olhou para Tobias e seu semblante revelava uma mágoa no olhar. - Eu juro que tentei, mas ela apontou uma arma para mim e disse que atiraria em minha perna para me incapacitar e que seguiria em frente de qualquer jeito. O que deveria fazer? – Ele abaixou a cabeça e começou a chorar, mas suas lamúrias atrasadas e despropositadas não sensibilizaram Tobias.

_ Deveria ter tomado o tiro e ido mesmo assim. – Tobias disse.

_ Tobias, você está se ouvindo? Isso não faz o menor sentido. – Christina disse exasperada.

_ Ela disse que tinha mais chances que eu contra o soro da morte. Eu confiei. Ela é divergente. Poderia sobreviver. Eu não sabia o que fazer. – Caleb dizia entre soluços.

_ Se ela não sair daqui exatamente como era que Deus te perdoe porque eu não vou. Não me importo com seus arrependimentos. Diga de uma vez, como ela está? - Tobias perguntou, resolvendo deixar as discussões para outro momento. A saúde dela era mais importante.

_ Ela foi levada para fazer novos exames, ninguém tem certeza se... - Caleb tentou falar, mas seu choro o atrapalhou. - O Dr. James pediu para esperar aqui o resultado. Ele não deve demorar.

Minutos se passaram até que o Dr. James aparecesse. Tobias mantinha seus olhos, escurecidos pela raiva, presos em Caleb. A fúria que ele emanava mudara o aspecto do lugar por completo. Cara ainda encarava Tobias com olhar de reprovação. Ela continuava ao lado de Caleb, enquanto Christina se apoiava em uma coluna, perdida em seus pensamentos. Assim que o médico surgiu os encaminhou para a ala onde Tris se recuperava.

Eles a observaram através do vidro. Tris estava dormindo devido à alta quantidade de analgésicos, antibióticos e sedantes que tomara. Não fosse o barulho dos bips agudos emitidos pelos aparelhos ligados a ela, não haveria prova de que ainda estava viva.

Tobias se sentiu impotente ao vê-la tão vulnerável e pálida.

_ Fizemos alguns exames nela, mas tivemos que repetir alguns. Nesta segunda vez, os resultados foram conclusos. – Dr. James começou a dizer. - A paciente Beatrice, sofreu diversos traumas. Havia uma laceração mal cicatrizada em seu ombro e, devido aos dois ferimentos a bala recentes, ela perdeu muito sangue, chegando a sofrer uma parada cardíaca. – Ele olha para Tobias. – Conseguimos reanima-la, mas ela ficou alguns minutos sem oxigenação no cérebro, o que somado às pancadas que ela sofreu na cabeça, nos faz acreditar que ela poderá ter sequelas como perda de memória. Antes, não sabíamos se era parcial, total, temporária ou permanente...

_Espera. - Cara pediu. - Você quer dizer amnésia? Estudamos sobre isso, e tentamos desenvolver soros para a possível cura, mas a pergunta é: isso foi uma sequela deixada pelo soro?

_ Sim, estou falando de amnésia, e não, não foi causada pelo soro. - Ele retoma a explicação com cautela. – A amnésia pode ser causada por diversos fatores, e um deles, como no caso de Beatrice, em decorrência de traumas físicos. Caleb me falou que ela foi encontrada baleada em um galpão em chamas que havia explodido. Eu não acredito que o soro a deixou sequelas, pois ela é... - O doutor pensa por um momento e olha para a paciente adormecida. - Divergente, julgo que ele apenas a deixou com baixa resistência para suportar os traumas futuros.

_ Mas ela... Tris se lembra de algo? Digo, você falou que poderia ser temporário. - Tobias disse, sentindo um nó entalar em sua garganta.

_ Nós esperamos a paciente acordar para fazer algumas perguntas e, assim, ter um diagnóstico mais preciso. Preferimos deixa-la voltar ao seu próprio tempo, mas pelos exames, e pelos poucos minutos no qual a tínhamos desperta já sabemos a sua classificação. - Ele respondeu e abaixa a cabeça em solidariedade.

_ E qual é? - Caleb perguntou

_ Amnésia retrógrada... Eu sinto muito.

_ Não. Não pode ser! - Caleb grita e abraça Cara, que é pega desprevenida.

Tobias permaneceu aturdido, sem entender a tal reação, mas sua garganta apertava-se com mais força. Ele sabia que somente algo terrível poderia despertar aquela reação em Caleb. Seu corpo tremeu e por alguns segundos sua respiração ficou rápida.

_ O que você quer dizer com isso? - Christina perguntou porque ela claramente não entendeu o termo médico utilizado.

_ Este tipo de amnésia faz com que as pessoas se lembrem de todo pós-trauma, mas anteriormente a ele tudo pode ter sido apagado de sua mente, dependendo da proporção do dano cerebral... Em outras palavras, Beatrice pode ter se esquecido de tudo que houve antes do que lhe provocou o trauma. - O doutor finalizou e percebendo que todos precisavam absorver a informação decidiu por se retirar. - Estarei lá fora para que vocês possam ficar a sós com ela. - Ele disse e fechou a porta atrás de si.

Silêncio se espalhou.

♡♡♡♡

O coração de Tobias, a cada batida estilhaçava-se e os cacos lutavam para sair em lágrimas. Caleb chorava copiosamente e abraçava Cara mais forte, fechando os olhos para evitar olhar o corpo da irmã. Cara e Christina lembraram-se de Will e da dor angustiante que sentiram.

Não era a morte, mas machucava a todos, pois a Tris que estava ali, não seria a mesma. Seria a Tris que restou depois de tudo.

_ Eu quero ficar sozinho com ela. - Tobias pediu, evitando o contato visual com todos.

_ Tobias, ela é minha irmã... Eu sei que sou culpado por tudo, mas... - Caleb disse.

_ Isso não vai te ajudar em nada. - Cara o interrompeu, sensibilizada com a situação de Tobias. - Vamos sair e dar o tempo que ele precisa. Venha Caleb.

Caleb olhou para a irmã por mais alguns segundos antes de seus olhos embaçarem novamente. Ele queria pedir-lhe perdão, mas estava ciente de que ela não poderia responder. Christina tinha seu rosto banhando em lágrimas. Ela apenas acenou com a cabeça para Cara e caminhou em direção à Tris, beijando-a na testa.

_ Seja corajosa, Tris. Só restaram nós duas. - Chris sussurrou em seu ouvido, referindo-se ao pequeno grupo de amigos que formavam na Audácia.

Assim que eles saíram, Tobias caminhou até ela, percorrendo seus olhos pelo corpo da garota adormecida. Ele contou cada ferimento novo, além das várias cicatrizes que foram surgindo nela desde que havia começado a iniciação. Olhou para seu rosto, para seus traços suaves. Suas pálpebras estavam fechadas, mas ele podia vislumbrar seus olhos penetrantes e determinados sob elas.

Tobias se recordava de como ela o olhou pela primeira vez, desafiante e evasiva. Diferente do olhar que lhe lançou quando ele revelou seus medos e fragilidades. Era como se visse coisas boas nele, qualidades que ele só sentia ter quando estava com ela.

Os sorrisos dedicados a ele, os lábios macios, o cheiro, o aperto de seu abraço. A intensidade de suas palavras. Tudo estava ali, cravado nele. Devagar ele passou os dedos nas bochechas de Tris. Uma única lágrima escorreu de seu olho. Ele inclinou-se e a beijou gentilmente, como fazia todas as manhãs quando dormiam juntos. Mas dessa vez ela não acordou, fazendo um soluço escapar de sua garganta.

Tobias apoiou sua cabeça levemente em um dos ombros de Tris e apertou os olhos. Turbilhões de pensamentos e sentimentos conflituosos o rodeavam. Ele sentia do amor à raiva. Claro que a amava mais do que a qualquer pessoa. Entretanto, odiava o fato de que seria sempre assim. Ela sempre se poria em perigo para proteger às outras pessoas nunca pensando realmente em como ele se sentiria sem ela.

Ela era sua família agora.

A única família que ele teve.

A única que ele jamais abriria mão.

♡♡♡♡

Já era tarde da noite, mas Tobias não conseguia dormir. Ele passou horas seguidas ao lado do leito de Tris, mas como costumava ser antes dele conhecê-la, a noite veio para intensificar sua dor. Ele saiu do quarto e começou a caminhar pelos corredores do ala hospitalar. Parecia que havia se passado anos desde a última vez que estivera ali. A ironia da situação é que meses antes, Tris estava presa e foi conduzida para a morte por Peter neste mesmo local. Hoje, antigos membros da Erudição se esforçam para salva-la. Tobias chegou até uma porta e ficou alguns instantes fitando a escuridão no horizonte.

Ele sentiu uma mão em seu ombro e se virou, encontrando Matthew ao seu lado.

_ Como ela está? – Ele perguntou.

_ Agora, dormindo. Dos ferimentos externos ela está se curando, mas pode haver algum dano cerebral. – Tobias não podia e nem queria continuar com a explicação. Seria como reviver o momento em que o médico havia dito que não se sabia o quanto ela se lembrará. Ele sentiu uma enorme gratidão que Matthew pareceu entender e não insistiu. Apenas indicou duas cadeiras para que pudessem se sentar.

_ Você se lembra o que eu te disse sobre minha péssima experiência sobre relacionamento amoroso e genes puros? – Matthew diz depois de pouco tempo.

_ Sim. Por que?

_ Eu sei como é a sensação quando ajudar alguém que amamos está além de nossas forças. Como é ficar noite após noite ao lado de quem se ama e a observar sentir dor sem nada poder fazer, sabendo que o causador daquilo estaria livre e saudável, seguindo com sua vida normalmente. - Ele respirou profundamente antes de prosseguir. – Eu sei como é ver a garota que se ama morrer. Não que eu pense isso acontecerá em seu caso. Tris foi capaz de suportar muito mais do que eu poderia imaginar, ainda mais levando em conta sua idade.

_ Onde você quer chegar? – Tobias o questionou.

_ Eu te disse também que não iria no lugar de Caleb porque queria ver os GP’s desnorteados, assim como fiquei quando a garota que eu amava morreu. Ajudei Nita e depois a vocês porque eu queria vingança e, agora, que tudo deu certo - graças à Tris, a propósito -, sabe como estou me sentindo?

Tobias balançou a cabeça negativamente.

_ Eu me sinto vazio. Ela ainda me faz falta e nada irá recuperar este dano que os geneticamente puros causaram em mim.

Segundos se passaram e, como Tobias nada disse, ele prosseguiu.

_ Entendo sua raiva por Caleb, mas você não o viu carregando a irmã nos braços pelas ruas, em meio à neve e nem o quanto ele chorou e ficou atormentando pelo medo de perde-la. Ele errou, mas não cabe a você julga-lo. Nenhuma vingança fará o tempo voltar e Tris ficar em segurança. Eu digo isso porque desde que comecei a ajudar Nita fiquei obcecado pelo desejo de retribuição aos GP’s pelo mal que me causaram. Dediquei muito tempo nisso e agora, não tenho mais um propósito de vida e como te disse, me sinto ainda vazio.

_ Eu só quero que ela acorde. – Tobias se limitou a dizer.

_ Bem, era isso que eu tinha a lhe dizer. Vou embora, mas volto amanhã para saber mais informações sobre ela. – Matthew se despediu e Tobias retornou para sua posição anterior junto de Tris em seu leito.

Ele se aproximou e pegou a mão dela que repousava ao lado de seu corpo, admirando-a até entregar-se ao sono.

♡♡♡♡

Quando a manhã chegou e Tobias despertou, ele não sentiu que a frase que dizia que nada como um dia após o outro fosse verdadeira. Ele se sentia tão mal ou pior do que antes e não seriam horas de inconsciência que mudariam isso.

Ele sabia que teria de sair para resolver coisas com Evelyn e verificar se o tratado estava sendo cumprido por todas as partes. Voltaria rápido, mas ainda assim, estenderia estes últimos momentos ao máximo. Assim, ele aproximou-se dela e plantou um beijo terno em seus lábios.

Tobias colocou as mãos dos dois lados de seu rosto e fez algo que ele já havia feito quando pensou que ela estava se tornando uma viciada em adrenalina da Audácia.

_ Acredito que você ainda está aí dentro. Volte pra mim. – Ele fechou os olhos e abaixou a cabeça. - Eu te amo. Por favor, lembre-se disso.

E, quando ele se preparava para sair sentiu uma leve pressão em seus dedos. Seu coração disparou e ele levantou, inclinando-se sobre Tris, a tempo de ver os dois olhos azuis mais lindos que vira, despertar para a vida.