POV Edward

Dezenove anos. Mas me lembro daquele dia tão claro e vivo em minha mente como cristal. Seus cabelos castanhos avermelhados, seus olhos cor de chocolate – que agora eram de carmim –, sua pele fria, dura, e pálida tão branca quanto era quando humana. Tudo isso, agora eram míseras cinzas decompostas. Em decomposição, há 19 anos. As cinzas de Bella. Eu simplesmente não consigo parar de me culpar por sua morte. O enterro foi brutal. Nossa casa estava intacta desde daquele dia devastador, o guarda – roupas dela estava fechado e lacrado, ninguém ousava tocá-lo; nem mesmo Renesmee, nossa amada filha.

Lembro-me de Caius queimando-a como se fosse ontem. Lembro-me o quanto pedi para me matasse. Lembro-me que Aro riu em minha face e como se estivesse fazendo algum favor me deixou viver. A sua intenção esta clara, não somente queria que eu sofresse a absência de minha alma gêmea como também tinha em sua mente a desprezível idéia de que eventualmente eu viria a me juntar a guarda Volturi.  Seria extremamente cruel e incrivelmente injusto morrer deixando uma parte de mim vivendo, sem uma figura familiar a qual seguir, somente com um lobo e alguns vampiros sem nenhum laço sangüíneo com ela; por isso sobrevivi, porque dizer que vivi é simplesmente uma retórica. E também, porque Renesmee, a cada dia me lembrava ainda mais a Bella.

Nossa garotinha cresceu tão rápido. Agora, ela estava uma mocinha. 12 anos com a velha aparência madura, de uma jovem de 18 anos, mais velha que eu. E agora, eu a entregava a Jacob. Ele permaneceu ao nosso lado, por causa de sua “impressão” com Renesmee. Ás vezes penso que Bella teria adorado saber que o seu melhor amigo agora fazia parte da família. Renesmee se importava encarecidamente com ele e o mesmo ele sentia, onde ele estava ela estava e vice-versa, se completam em todos os sentidos. Após tudo que passamos juntos, Jacob se tornou como um filho para mim. De vez em quando Jacob me traz de volta a vida, coloca meus pés no chão, o pior de tudo isso é que toda vez que ele resolve fazer algo assim ele me lembra de Bella. Eu suponho que toda a teimosia e o temperamento forte de Bella tenham ficado com Renesmee e Jacob, pois eles são os únicos capazes de me trazer de volta a "Terra". Superamos juntos a perda de Bella. E, agora, 19 anos depois, longe dos limites de Forks, eu – nós – retornamos à fatídica cidade, já que Jacob tinha que assumir a alcatéia, por causa da morte de Sam do qual não havia recebido muitas informações, e Renesmee – eu fazia questão de chamá-la como Bella a chamara – queria conhecer mais sobre a vida de sua mãe. Eu e minha família não conseguíamos mais olhar a nossa volta, tudo em Forks gritada "BELLA", cada canto naquela cidade existia uma lembrança, a mais remota que fosse. Um olhar, um sorriso, uma brincadeira. Era insuportável viver.

Então como o grande idiota que sou, segui minha família de volta ao local que mais nos causou dor e sofrimento. Forks novamente após 19 anos.  Logo, logo Jacob e Renesmee irão começar os estudos e devo ressaltar no mesmo colégio ridículo e imutável em que conheci a sua mãe, meu amor, minha vida. Alguém pode simplesmente me matar pelo amor de Deus? Mas não ninguém me faria essa caridade.

É Edward isso é loucura e você sabe disso.

Ali estava ela, sua voz sempre clara e maravilhosa soando em minha mente, toda vez que eu pensava na possibilidade de fazer algo completamente imprudente e imperdoável como tentar me matar; ela estava ali presente em minha mente, em meus devaneios, em minhas lembranças. Somente Deus sabe como sinto saudades de Bella. Eu sinto falta dela terrivelmente, e eu bem sei que não sou o único.

Alice havia me dito para alugar ou vender a casa em que trabalharam tanto para construir para nós e nossa pequena família, seria somente nós três: Bella, eu e nossa filhinha.

Eu concordei, podia sumir com aquela casa, já não me importava mais. Se havia algo que eu ultimamente não era mais capaz de fazer era negar algo a eles, não tinha forças ou vontade para tanto.

– Querido! Acorda. Estamos quase chegando.  – Ah, é. Eu tinha me esquecido desse “pequeno” detalhe. Depois da morte de Bella, estabelecemos (nós, os Cullen) um afeto muito grande com os Denali. Tanya, principalmente, estabeleceu mais afeto comigo. Assim, achei que ela seria uma boa mãe para Renesmee. E ela, de fato foi. Foi como uma “boadrasta”; mesmo assim, Renesmee ainda implicava um pouco com ela, e considerava Tanya uma “tia”. Mas, ainda sim, ela me satisfazia como mulher, mesmo que o vazio dentro de mim jamais desaparecesse ou sequer diminuísse.

– Tudo bem, Tanya. Eu não estava dormindo.  – Como se isso fosse possível.

– Mas estava imerso em seus pensamentos, eu sei.  –  Ela se sentiu intrusa naquele ambiente. Ela sabia que aquele não era o lugar dela, mas ela agüentou todos esses anos. Ela queria me ajudar. Tanya era uma pessoa muito pura. 

– Sei que há 19 anos ocupo um lugar que não é meu... Mas quero fazer o possível, mesmo tendo que te repetir esta frase a cada dez minutos de sua...  – ela hesitou em dizer vida. Existência.  – Disse ela, por fim.

Apertei forte, a mão dela. Ela não era como uma esposa, mas como uma companheira, uma amiga, uma irmã. Assim como Renesmee era pra Jacob; Alice para Jasper; Esme para Carlisle; Rosalie para Emmet; Kate para Garrett; e Bella, de algum modo especial, foi para mim.

Jacob estacionou nosso velho Volvo prateado, que agora deveria estar ultrapassado, na esquina da casa onde iríamos ficar. Em seguida, o Porsche amarelo da Alice parou atrás de nosso carro. Por fim, a Mercedes de Carlisle, ao fundo. Tanya estava cabisbaixa. Ela estava triste com toda aquela minha melancolia. Magoava-me vê-la triste por minha causa. Assim como Alice, Carlisle, Esme, minha filha e seu namorado... O resto não importava muito. Eles tinham mais laços comigo e eu não queria ninguém depressivo por minha causa.

Afaguei os cachos avermelhados de Tanya. Ela olhou para mim, com cara de cão abandonado. Eu cheguei mais perto de seu rosto e senti seu perfume de frutas vermelhas. Ri um pouco, ela até estranhou, e encostei meus lábios no dela.

– Querida, me desculpe.  – Disse eu. - Eu não queria que isso acontecesse...  – ela tentou me interromper. Coloquei meu dedo indicador em seus lábios e prossegui. - Eu te amo. Você pode saber que não ocupa o lugar dela, mas ocupa bastante lugar em meu coração. - Ela sorriu um pouco, seu olhar era de quem lacrimejava.

Renesmee deu um pigarro. Olhei pelo vidro levemente escurecido de meu carro. Carlisle e Esme me fitavam; Emmet, Jasper e Rosalie conversavam entre si. Alice olhava para mim, caridosa. Jacob, à nossa frente – minha e de Tanya – dava uma bronca em Renesmee por interromper nosso “momento romântico”.

Saí do carro, deixando Tanya para trás. Fitei Alice.

– É aqui? - Perguntei.

– Sim. – Afirmou Alice.  – Aluguei uma casa, sabe, ninguém quer lembranças desagradáveis. -Fiz um sinal para que ela parasse; eu já havia lido isso.

Fiz um breve panorama das mentes naquele momento.

Não devíamos ter vindo aqui, muito menos obrigado Edward a se torturar deste jeito. – Carlisle se sentia culpado por meu sentimento de culpa. Estava me fitando. Esme compartilhava o mesmo sentimento.

Que horrível. Não consigo poupar esse sentimento de tristeza, pena e culpa que trago em meu coração. – pensou Alice. Virei-me para ela, fitando-a novamente.

– Alice, de que autor você copiou esta frase? - Perguntei. Alice tinha copiado aquela engenhosa frase, sabendo que eu vasculharia sua mente.

– Era desconhecido, está legal?  – Respondeu ela, ofendida.

Fui o único que adentrei a casa. Alice, Esme e Carlisle continuaram me fitando, enquanto Rosalie, Emmet e Jasper, estavam conversando. Tanya me fitava de longe, melancólica. Eu não a queria naquele estado. Renesmee e Jacob não estavam à vista.

Olhei para dentro. Um cheiro conhecido estava penetrado naquela casa. Um cheiro muito conhecido, mas, mesclado com outros cheiros, não estava reconhecível no momento. Ouvi os passos de Esme e Carlisle logo atrás de mim.

– Quem foi o último proprietário desta casa?  – Perguntei.

– Não sei. Pelo que Alice disse, foi uma familiazinha chamada Campbell, mas quando o casal se separou, deixaram esta casa para trás.  – Disparou- se a falar Carlisle.  – Por que essa preocupação?  Indagou Carlisle, hesitante.

– Não faço idéia. Um cheiro reconhecido. Não sou bom rastreador.  – Disse finalizando a conversa. Carlisle e Esme, os únicos a entrarem, continuaram paralisados na porta, como estátuas de deuses. Como sempre, me fitando. Alice ainda me fitava por trás da grande janela no salão principal da casa.

Finalmente, vi Tanya se aproximar. Jacob carregava algumas malas e Renesmee, algumas bolsas. Carlisle finalmente quebrou o silêncio.

– Você tem que ir registrar Renesmee e Jacob na Forks High School, Edward. Os documentos, Jasper acabou de me entregar.  – Carlisle me entregou uma pilha de documentos falsos. Agora, leve-os. Lembre-se: Renesmee é sua irmã gêmea. Jacob é um primo. Aí também estão os documentos de seus irmãos e sua parceira. Para manter o disfarce, todos precisam ir para a escola.  – E Carlisle encerrou seu breve monólogo, já que de resposta, eu assenti. Meus “irmãos”, só iriam de bobos alegres, assim como Tanya e eu. Jacob e Renesmee iriam por causa das lembranças que Renesmee quer ter de sua mãe. Fiquei responsável de registrar a cambada na escola.

Saí da casa, notando que todos os outros entravam. Flocos leves e finos cobriam meus cabelos e meus ombros. Aquela névoa marcava o fim do rigoroso e chuvoso inverno de Forks.        

Lembrei – me de Bella, naquele dia de escola, em que uma tempestade de neve caiu. Olhei para trás e vi os corpos paralisados atrás do claro vidro da janela do salão principal. A neve parecia mais um efeito do que pura realidade.

Os olhares caridosos, os rostos fixos e os pensamentos dirigidos a mim só me fizeram lembrar de uma coisa: eu estava destruindo o estado emocional de minha família  me torturando desse jeito, afinal, muitos deles dependiam de mim.

CONTINUA...