Acasos escrita por Lils-way


Capítulo 11
Festa - II


Notas iniciais do capítulo

Cada capítulo vai ser dedicado à resolver os problemas de cada casal. Começa agora com Mille e Sammy, okay?

~

Este capítulo é dedicado à uma das pessoas que mais me incentiva, me agüenta e me dá apoio para continuar: raíza. Minha flor, obrigada por tudo! Sem você eu certamente não teria escrito não só esse, mas vários capítulos dessa história. Amo você e obrigado! (L)



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Minha primeira reação foi ficar meio ‘dã’, olhando para Kimberly embasbacada. Sammy, que parecia não ter notado minha presença – eu sabia que era ele pelo cabelo ligeiramente maior, e liso. O de Matt era mais rebelde, menos sedoso – conversava com as pessoas que formavam uma rodinha, da qual somente Kimberly estava se excluindo um pouco ao lançar seu olhar de arrogância para mim. Os orbes dela, de um cinza estranho e opaco, me analisavam com raiva.

 

Então eu deveria estar mesmo linda. Porque Kim me olhava com tanta fúria que eu de repente me vi sorrindo por estar deixando ela naquele estado. Mas com a mesma velocidade que o sorriso surgiu, ele se foi. Porque identifiquei a mão da pediatra loira e azeda que dava medo nas crianças – várias vezes eu tinha que ir acalmar os pequenos que ficavam com um medo inexplicável dela. Devia ser o sorriso maníaco que Kim achava ser simpático - deslizando pelas costas de Sammy lentamente.

 

Aquilo me deu uma raiva terrível. Trinquei os dentes. De repente algo queimou dentro de mim como ácido. Eu estava cega de raiva. Queria estrangular o pescoço de Kimberly até ela ficar roxa. Mas me contive.

 

- Wood. – Eu disse, friamente.

 

- Evans. – ela respondeu, abrindo um sorriso enviesado.

 

Aquilo me pareceu uma cena de faroeste. Nos encaramos furiosamente.

 

- Está sozinha? – Ela disse, sorrindo de forma cínica.

 

Nessa hora, Sammy pareceu perceber a minha presença. Virou-se lentamente, e meu coração deu um mortal dentro do meu peito. Meu rosto ficou quente, minha respiração cem mil vezes mais rápida, minhas mãos tremeram perceptivelmente, meu milagre pessoal, meu ruivo abriu um sorriso aparentemente feliz de tirar o fôlego. Seus olharam brilharam estranhamente.

 

Por um instante, meu coração inchou de felicidade. Eu quis me atirar nos braços dele, sentir outra vez aquele perfume deliciosamente másculo e doce, seu toque sutil e sensual que me causava reações inexplicáveis, mas…

 

A mão de Sammy estava na cintura de Kim, e… eles pareciam… um casal. Imediatamente minha alegria foi substituída por uma raiva que eu não sabia de onde tinha surgido. Eu me senti ultrajada, e, irritada, fechei a cara.

 

- Mille… - Sammy abriu um lindo sorriso.

 

E eu? Eu desviei o olhar, trincando os dentes. É, eu estava com ciúmes.

 

- Hey Sammuel – eu disse, não tão simpática.

 

Ele pareceu perceber meu tom de voz. Suas sobrancelhas sumiram debaixo da franja que cobria ligeiramente seus olhos verdes esmeralda.

 

- Está tudo bem? – Sammy arriscou perguntar, confuso.

 

- Sim, é claro. – Eu respondi, e cruzei os braços. Olhei para o teto, onde luzes piscavam vivamente, e dei ombros. – Bye. – eu disse, ríspida, e comecei a ir em direção oposta ao casalzinho.

 

- Mille…! – Ouvi a voz de Sammy chamar, mas continuei andando, irritada demais para olhar para trás.

 

Kimberly e Sammy! KIMBERLY E SAMMY! O que diabos era aquilo? Eu sentia a raiva queimando junto com outra coisa que não consegui identificar dentro de mim. Ruivo idiota, lindo, boboca, cafajeste, imbecil, lindo… lindo… - O que está acontecendo comigo? – Choraminguei, me encostando de repente na parede. Cobri meu rosto com as mãos, tentando me acalmar. Eu estava tão nervosa. Tão irritada. Minha vontade era voltar e acertar um tapa na cara daquela loira de olhos acinzentados abusada. Passando a mão em Sammy…

 

- Não acredito que com tantos lugares pra ter uma dessas suas crises, você vai me ter uma bem aqui! – Alguém disse, numa voz gentil e risonha muito familiar.

 

Arregalei os olhos.

 

- Seth? O que diabos você está fazendo aqui? – E então eu me esqueci de todos meus problemas da minha pseudo-vida-amorosa.

 

- Qual é, mana? – Seth passou a mão pelos cabelos ligeiramente grandes e lisos. Seus olhos, de um castanho mel similar ao meu, brilharam nas luzes. – Você acha que a louca da Cathy não ia me convidar?

 

Certo. O que raios Seth Evans, meu irmão caçula, estava fazendo ali?

 

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(Sammuel) 

 

- Mille…! – Eu chamei, mas ela continuou andando, me ignorando. – Mille! – Experimentei chamá-la de novo, mas algo me segurou. Não consegui prestar atenção nisso. Meus olhos continuaram fixos na garoto de longos cabelos negros.

 

   A acompanhei com o olhar, a vendo ultrapassar as pessoas da festa, seus quadris se movendo graciosamente, suas costas, claras, marcadas por uma fina fita de cetim… não pude deixar de pensar que, se eu desamarrasse aquela singela fita, o vestido certamente cairia em torno de seus pés. Aquele vestido tão justo em seu corpo delicado e sinuoso… ela estava deslumbrantemente linda. Eu estava extasiado, eu queria ir atrás dela, e…

 

- Sammy! – uma voz enjoativamente doce me fez olhar para trás. Descobri que o braço de Kimberly estava enroscado no meu. Suspirei. Kim havia praticamente colado em mim a festa toda. Eu havia tentado várias formas de dizer à ela que queria ficar sozinho, mas ela fora irredutível. Estava ficando irritante… - O que há?

 

- Kim… - eu disse, devagar, e desenrosquei meu braço do dela – Eu… preciso fazer uma coisa. – Tentei ser delicado.

 

- Uma coisa? – A sobrancelhas delas sumiram debaixo da franja ressecada e loira. Eu sinceramente não achava Kimberly bonita.

 

- Sim, e… agora. – Eu disse, e dei de ombros. Eu sei que estava sendo ríspido, mas eu precisava ir atrás de Mille. Tinha urgência em fazer isso.

 

- Sammy…!!! – a voz de Kimberly ficou distante enquanto eu seguia o mesmo caminho que Mille havia feito. Meus olhos esquadrinhavam cada mínimo canto da festa, eu estava concentrado em achá-la. Precisava fazer isso. Precisava dar um jeito naquela situação e naquela noite.

 

Eu não ia mais esperar.

 

--------

 

(Mille) 

 

- Ah, Seth, pelo amor de Deus – Eu suspirei – Você acha que eu fui exagerada?

 

- Bom, não precisava ter saído correndo – Seth coçou a nuca. – Você sempre foi impulsiva.

 

Fechei a cara, e cruzei meus braços. No corredor em que estávamos, eu e meu irmão caçula que estava me aconselhando, conversávamos sobre isso. Era um corredor do lado oposto onde eu havia encontrado Sammy com a loira azeda e nojenta a quem eu estava desejando ardentemente uma dor de barriga que a fizesse cagar pelo resto da noite. Era um corredor comprido, e volta e meia garçons passavam por nós, carregando bandejas vazias e indo de novo para a muvuca com elas, as bandejas, cheias. Voltei-me para Seth.

 

- Mas eles estavam abraçados…! – Choraminguei, fitando os olhos castanho-mel do meu irmão, iguaizinhos aos meus. Na claridade era possível ver Seth com clareza: Sua pele clara, seu sorriso carismático, seu olhar amigável. Quando sorria, duas covinhas apareciam em suas bochechas. Ele era mais alto que eu, tinha um físico de dar inveja e as garotas se jogavam aos seus pés. Seu cabelo, preto e liso, meio comprido, estava jogado de qualquer jeito sob o crânio. Eu gostava de dizer que ele não tinha pente.

 

- Não significa nada. – Seth passou o braço pelos meus ombros e me abraçou. Me olhou sugestivamente. Girei os olhos. – E somos irmãos.

 

- Bah, Seth! – Ralhei, com um suspiro de irritação – É diferente!

 

- Não é, teimosa.

 

- Chato.

 

- Besta.

 

- Eu não sou besta! – Cruzei os braços – É tudo culpa daquela loira azeda e nojenta, e aquele ruivo cafajeste e imbecil…

 

Seth soltou uma risada rouca que fez seu peito sacudir. Me deu um abraço de quebrar os ossos.

 

Vê o quanto está sendo infantil? – Me perguntou, o rosto contra o topo de minha cabeça.

 

- Eu… preciso… de… ar! Seth… imbecil! – Eu estava suspensa no ar.

 

- Ah é – Ele me soltou. Coloquei a mão sob o peito, arfante. – Desculpa aí, mana. – E deu um sorriso travesso e faceiro.

 

Me controlei para não acertar um chute naquela canelinha linda dele.

 

- Eu não vou atrás dele. – Declarei, convicta.

 

- Vai sim – Ele me empurrou – Vai sim.

 

- Não!

 

- Sim.

 

- Ah, Seth, seu…!

 

- O quê?

 

- Sua besta! Porque você me obriga a fazer essas coisas?

 

- Porque não quero ir visitar você e seus sete gatos quando tiver quarenta anos – ele disse, sorrindo.

 

O metralhei com o olhar. Seth manteve-se impassível. Ele sabia que esse era meu ‘medo’, nossa relação sempre foi muito aberta. Eu sabia tudo, tudo dele, e aquele ser sabia absolutamente tudo que um ser humano podia saber sobre mim. Éramos mais do que irmãos: Confidentes, amigos, parceiros, companheiros. Eu já havia me metido em tantas merdas por Seth, e ele já havia tomado muitas brigas por mim… apesar de ser só mais um ano velha que ele, éramos e passávamos por quase as mesmas coisas.

 

- Seth? – Uma voz perguntou, com um sotaque brasileiro, no início do corredor. Nossas cabeças se moveram para lá. Uma garota de cabelos castanhos, baixinha, de olhos também castanhos vinha andando. Ela tinha um piercing no nariz, uma argola delicada e pequenininha. Sua pele era clara, e ela usava um vestido azul marinho, tomara que caia, colado ao seu corpo esbelto.

 

Olhei para Seth sugestivamente. Ele corou levemente e sorriu, me dando uma piscadela,

indo de encontro a garota. Antes, porém, segurou minha mão.

 

- É sério, mana. Não fuja do tal Sammu.

 

- Sammy – Corrigi, meu rosto quente.

 

- É, esse aí.- E então ele me deu um beijo estalado na testa – Se cuida, criatura. Amo você.

 

- Também te amo, chato – Resmunguei de volta, o vendo sorrir e dar ombros. A garota do fim do corredor segurou a mão dele e me olhou curiosamente. Seth deu um sorriso grande e caloroso para ela, e cochichou algo em seu ouvido. Quando a garota me olhou de novo, sorria.

 

Não sei o que me deu, mas fiquei os olhando até que sumiram pelo corredor. Quando me dei conta, estava sozinha, olhando para o nada, entorpecida pela conversa com meu irmão caçula. Minha mente girava. Eu estava dividida em ir atrás de Sammy, ou ficar velha e solteira criando sete gatos sozinha e abandonada.

 

Suspirei, e olhei para frente confusa. Se eu ficasse ali certamente Sammy ia desistir de mim. Ele estava ficando impaciente, eu sabia, eu sentia isso. Ou eu cedia de uma vez e via no que ia dar, ou ficava sozinha, morrendo de inveja de Kim porque ela estava deslizando as mãos pelas costas dele quando eu, se quisesse, podia fazer muito mais.

 

  Oh merda. Eu precisava agir. E logo.

 

Avancei pelo corredor escuro de repente, me sentindo uma idiota, mas com a determinação queimando nas veias. A urgência de agarrar um tal ruivo e não deixá-lo mais sair de perto de mim se tornou minha prioridade. Como pude fugir e sair andando dessa forma, deixando ele embalado para presente para Kimberly? Que idiotice! Respirei fundo enquanto quase corria. Eu sentia que precisava ver Sammy, dizer a ele que eu estava disposta a dar mais uma chance, que eu queria tentar algo. Que seu jeito doce havia me conquistado, e que eu… eu… Argh! Eu estava mesmo apaixonada. Meu Deus. Que coisa estúpida. Apaixonada!

 

- Ruivo infeliz – Sibilei baixinho, quando cheguei ao fim do corredor. Agora a luz tinha sido sugada pela escuridão da festa e suas luzes vivas e ofuscantes que me fizeram olhar para os lados várias vezes. Saí para fora, meu olhar percorrendo várias cabeças para ver as cores do cabelo. Mas não havia nenhum ruivo.

 

   Mais um passo e de novo fui englobada por vozes, risos, cochichos... e feito uma demente olhava em volta tentando inutilmente achar Sammuel.

 

 Nada.

 

Dei mais um passo à frente, olhando para os lados, e por um momento fiquei confusa. As pessoas passavam por mim, e como eu permanecia parada, elas me levavam juntas, através de braços, ombros... o espaço era grande, mas eu estava entorpecida. Minha mente estava oca, eu só pensava em encontrar Sammy e, quando fico muito obcecada por algo, fico ridiculamente dã. Passei a mão pelos cabelos. Que vontade de gritar e sair correndo! De repente minhas pernas começaram a se mover muito rapidamente, eu não estava mais procurando ninguém, estava buscando ar puro, e espaço para que esse mesmo ar me tocasse o corpo, bagunçasse meu cabelo, eu estava ficando sufocada, e...

 

- Te achei. - Alguém disse, e segurou meu pulso com certa aspereza mesclada com urgência.

 

Não entendi nada, mas me deixei conduzir. Os dedos da pessoa que eu não consegui identificar pela voz se fecharam em volta do meu pulso e foi esse contato que me fez voltar à realidade. Quando me dei conta, eu estava saindo do galpão. De novo as árvores altas demais e o céu me deixaram inebriada. Demorei para notar que não estava sozinha. O vento fresco e refrescante me fez relaxar. Me senti melhor. Fechei os olhos, e quando os reabri, descobri que havia um par de olhos furiosos me encarando. Suspirei.

 

- Al, o que diabos você quer?

 

  O loiro estava de cara fechada. Não me respondeu nada, apenas ficou me olhando severamente.

 

- Alphonse! - Eu andei até o loiro e cutuquei ele. - Me responde!

 

 Al passou a mão pelos cabelos, jogando-os para trás. Me olhou feio, parecendo pensar no que responder, mas depois seus olhos cor avelã fixaram-se na porta atrás de mim. Ele sorriu, e eu me virei para descobrir do que se tratava aquilo tudo. Antes disso, porém, no meio tempo em que girava o corpo, acho que já sabia quem era ao ouvir duas vozes familiares misturadas.

 

- Matt, não seja ridículo! - Alguém ralhou, aborrecido.

 

- Não seja dramático, aposto que Al... pronto. Veja você mesmo. Depois irá me agradecer!

 

  Quando eu finalmente virei, passei por todas as fases idiotas que os apaixonados passam ao ver a pessoa de quem gostam. Algo deu uma mortal no meu estômago, fazendo manobras complicadas e desconhecidas, girando no ar, parando parar dar um looping que terminou com um baque giratório igual a um carrinho de bate-bate descoordenado. Eu arfei, meu rosto ficou escarlate, e meus lábios entreabertos. E por fim, juro, quase vi florzinhas e coraçõezinhos em volta de Sammy.

 

   Sacos de vômito, por favor.

 

- Mille…? – Sammuel balbuciou, me olhando incrédulo. Ali, na claridade, pude ver ele muito mais nitidamente do que lá dentro, com tantas luzes e agitação. Eu tinha me esquecido do quanto eu sempre ficava chocada ao vê-lo fora do hospital. Ele estava com uma droga de uma camisa preta social sem mangas que deixavam seus braços e seus ombros largos e definidos expostos. Os lábios estavam fechados, os olhos, de uma verde esmeralda vivo que me fizeram tremer, estavam fixos nos meus. O cabelo ruivo caia displicentemente sob sua testa. Ele estava sério.

 

- Oi? – Eu respondi, sem graça.

 

   Nos encaramos longamente. Nesse meio tempo foi que percebi que estávamos sozinhos.

 

- Por que você fugiu? – Ele perguntou, com um suspiro.

 

Senti o ciúme me atingir como um raio.

 

- Você estava com uma acompanhante. – Eu declarei, deixando a irritação fluir livremente.

 

- E daí? – O ruivo perguntou, girando os olhos.

 

- E daí? Eu não ia ser a vela da vez! – Soltei, irritada.

 

- Vela? Qual o seu problema, Mille Evans? – Sammy ralhou, estupefato. – Porque diabos você ia ser uma vela?

 

- Por que você e Kimberly estavam feito um casal!

 

- Um casal? Kim colou em mim e agora eu e ela somos um casal?

 

- Bom – Meus lábios se flexionaram num sorriso enviesado – Ela estava com as mãos deslizando por suas costas. E você estava com a mão na cintura dela. Um perfeito casal! – ralhei, aborrecida demais para me dar conta do que estava dizendo. – Não é mesmo?

 

- Não, não é mesmo! – Ele se aproximou. Instintivamente eu dei um passo para trás. Sammy segurou meu queixo e me manteve perto. Congelei. – Qual a droga do seu problema?

 

- A droga do meu problema é você abraçado com outra garota! É esse meu problema!!! – Eu disse, tão irritada que senti meus olhos soltando faíscas. Me afastei de Sammy e desci as escadas ruidosamente, meu salto alto fazendo um toc toc ritmado. Ouvi passos me seguindo, mas continuei avançando.

 

- Eu não estou entendendo, sabe – Sammuel me alcançou facilmente, e sem que eu percebesse, de repente paramos num lugar mais escuro, onde não haviam automóveis. Nos encaramos na semi-escuridão. – Por que de repente está se importando.

 

  Apertei os olhos na escuridão, irritada a ponto de morder o lábio inferior até quase o sentir se romper. Fiquei uns bons minutos daquele jeito.

 

- Eu não vou mais falar sobre isso com você, Sammy – Eu disse, após me recuperar. Suspirei pesadamente, e lancei as mãos para o ar. Me virei, pronta para sair dali – E tchau.

 

- Ah – Ele passou a mão pelo cabelo, e de repente ficou estranhamente calmo – Então é isso. Ciúmes.

 

   Parei onde estava. Me virei lentamente.

 

- Eu. Não. Estou. Com. Ciúmes.

 

- E por que está se importando com o fato de que estou com Kim?

 

  Senti o sangue subir para minhas bochechas.

 

- Eu não estou com ciúmes!! – Eu quase bati o pé no chão. – Que droga! E se você está com essa loira nojenta e azeda, isso…

 

  Mas ele tinha que rir, o idiota. Fechei as mãos em punhos.

 

- Mille, eu não tenho nada com Kimberly! – Ele disse, agora aliviado, dividido aparentemente entre rir e ficar sério.

 

- Ah sim, é claro! Nada! – Eu fechei a cara – Sei. – Me virei, irritada demais, cansada demais daquilo. – Tchau.

 

- Você não vai a lugar nenhum – Sammuel Heargraves ralhou, e segundos depois tudo o que senti primeiramente foi sua mão, me puxando com veracidade para perto dele novamente. Minhas costas encontraram uma madeira gelada e lisa, e quando me dei conta, estava encurralada e presa entre os braços de Sam.

 

  E depois, como se tudo estivesse correndo numa linha de tempo estupidamente lenta, senti os lábios dele sob os meus, suas mãos pressionando minhas costas contra seu peito, os lábios dele, mornos, de repente capturando os meus, de forma lenta e doce.

 

  Demorei um segundo para assimilar que estávamos nos beijando. Quero dizer, eu havia imaginado diversas vezes aquilo em minha cabeça. Tinha vivido aquela fantasia centenas de vezes, e demorei para me dar conta de que éramos eu e ele realizando o que eu queria fazer a tempos. Senti uma de suas mãos deslizando por minha cintura, e a outra subindo em direção à minha nuca. Senti seus lábios se entreabrirem, a mão dele deslizando pela fita de cetim lentamente, e aquilo…

 

  … Me deixou em pânico. Eu sei, é ridículo, mas foi isso que senti. De repente eu precisava me afastar, tentar colocar a cabeça no lugar porque minhas mãos estavam tremendo demais, minhas pernas pareciam gelatina, e eu estava num estado de nervos terrível. Eu precisava sair dali, eu não ia conseguir beijar Sammy! Tentei me desestimular, descolando meus lábios dos dele, e consegui. Me ocupei de normalizar a respiração, enquanto sentia seus olhos verdes vivo me fitando completamente confusos.

 

 - Qual é o problema? – Ele perguntou, visivelmente abalado.

 

   Eu não sei, mas, quando ouvi a voz de Sammy, rouca, próxima de meu rosto, vi a besteira que tinha feito. Aquilo… me acendeu uma chama. Me deixou quente. Se num instante eu estava fugindo do ruivo que me encarava confuso, agora que não queria mais deixá-lo sair de perto de mim.

 

- Sou eu. – Eu disse, num rompante, no instante seguinte o segurei pelo tecido da camisa preta, colando nossos lábios outra vez.

 

     Dessa vez foi muito diferente. Eu não esperei Sammy agir, fui eu quem tomei o controle. Afundei uma das mãos em seus cabelos cor de cobre sedosos, enquanto um dos meus braços circulava seu pescoço. Fiquei na ponta dos pés, moldando meu corpo ao dele enquanto entreabria os lábios e aprofundava o beijo. Sammy parecia tão surpreso que demorou alguns segundos para retribuir. Mas quando o fez, porém, senti perceptivelmente o quanto eu gostava dele e o como aquele ruivo abalava minhas estruturas. Foi avassalador: A língua dele tocou a minha de uma forma tão sedutora que eu senti meus joelhos fraquejarem. As mãos dele deslizaram por meu corpo com uma suavidade absurda; tudo o que sabia era que ele estava sinceramente tentado a desamarrar a fita de cetim; sua mão ficou brincando com o delicado lacinho que Cathy tinha feito de uma forma muito hesitante.

 

  Minha atenção, porém, foi desviada para o fato de que as mãos de Sam faziam um labirinto sensual por meu corpo. Primeiro passaram por meus ombros; os dedos fazendo carícias leves na minha pele, deixando um rastro de fogo onde tocavam. Depois seguiram por minha nuca, brincando com meu cabelo, bagunçando os cachos que o cabeleleiro de Cathy havia demorado décadas para fazer, desceram por meus braços, fazendo círculos suaves com os dedos que me causaram arrepios, passaram por minhas costas, me fazendo ficar mais próxima a ele, e por fim outra vez as mãos do ruivo ficaram hesitantes no lacinho. Ele fez um movimento com a língua que me deixou suficientemente inebriada e distraída para descer uma das mãos ao meu quadril; novamente nossos corpos ficaram colados.

 

   Eu sinceramente não sei quanto tempo ficamos ali, na semi-escuridão, daquele jeito. Só sei que volta e meia nos afastávamos para tomar ar e sorríamos ao nos encarar. Por diversas vezes me peguei deslizando as mãos pelo peito de Sammy, e imitando Kimberly fazia carícias suaves em suas costas enquanto o beijava. Minhas mãos também eram urgentes em seu cabelo, em seu rosto, eu precisava o ter perto. Não era só paixão, era desejo, era carinho, era muito mais do que contato físico.

 

   Num certo ponto, porém, tivemos que parar. Sammy foi quem beijou meu queixo delicadamente, enquanto as mãos dele estavam em volta da minha cintura.

 

- Por que demorou tanto? – Me perguntou, os olhos fixos nos meus.

 

   Nem preciso dizer que corei levemente.

 

- Para…?

 

- Para isso. Para nós. – Ele sorriu levemente, e beijou meu pescoço. Não consegui evitar um suspiro, e ele riu – Veja só o que perdemos – Acrescentou, risonho.

 

   Com essa eu tive que rir.

 

- É complicado – consegui dizer, sem graça.

 

- Experimente me dizer qual foi a complicação – Ele disse, baixinho.

 

  Acariciei seu rosto suavemente, meus dedos brincando com seu cabelo.

 

- Sammy, você sabe que eu sou meio… complicada. Deve saber que tenho uma índole diferente – Eu disse, me concentrando em escolher as melhores palavras possíveis – E… bom, antes disso, naquela noite em que dançamos, e tudo mais… alguns dias depois eu… fiz algo que não devia. – Minha mão parou em seu ombro. Engoli em seco. Sammy manteve-se aparentemente tranqüilo. – Eu fui beijada por alguém, e… retribuí.

 

   Prendi a respiração, esperando a explosão. Mas Sammy não fez nada. Resolvi continuar, e tomei nota de não o encarar.

 

- Só que enquanto beijava essa pessoa – Eu mordi o lábio, e finalmente o encarei. Foi então que percebi que minhas mãos estavam sob seu ombro, apertando o tecido da camisa entre os dedos. Corei. – Eu estava pensando em você.

 

 Ele ficou em silêncio. Achei que estivesse pensando no que ia responder, mas para minha exasperação, passaram-se bons minutos e ele permaneceu do mesmo jeito. O pânico me engolfou por completo. Estava pronta para perguntar o que diabos estava acontecendo quando ele me beijou de novo.

 

   E foi um beijo tão intenso quanto o outro. A boca dele buscava a minha de forma febril, as mãos dele tateavam meu corpo com uma delicadeza que me causava sensações incríveis, e era difícil não querer mais. O beijo foi transformando de tal forma que só percebi a boca de Sammy em meu pescoço quando um gemido escapou de meus lábios ao sentir que ele havia feito mais do que beijar naquela região sensível.

 

- E agora? – Ele disse, baixinho – Em quem você pensa? – perguntou, risonho.

 

A realidade me pegou desprevenida. De repente me dei conta de que não importava quem eu havia beijado ou qualquer coisa do gênero; o importante era aquele momento. Ele não se importava que eu tivesse beijado outra pessoa porque sabia que eu só queria beijar uma pessoa: ele.

 

- Em você – Eu disse, derretida demais para não rir junto com ele.

 

  Depois disso até mesmo minha timidez tornou-se insignificante. Quero dizer, eu estava com Sammy, e era isso que importava. E mesmo quando voltamos de novo para luz e descobri que eu havia aberto a camisa dele quase até a metade, mesmo quando ele me encarou de uma forma totalmente encantadora e beijou meu ombro, eu resisti bravamente e ri baixinho, entrelaçando meus dedos aos dele.

 

Após isso, voltamos para a festa. Claro que eu fiz Sammy abotoar a camisa antes e tentei dar um jeito no meu cabelo, que devia estar terrível, mas voltamos. E quando entramos de novo, de mãos entrelaçadas, eu sabia que era só uma questão de tempo até alguém nos abordar com gritos e surtos.

 

Mas isso felizmente não aconteceu. A festa ainda continuava cheia demais, era impossível identificar alguém. Eu tentei me manter tranqüila, e até que consegui. Sammy me arrastou festa afora, e só parou quando estávamos no centro da algazarra toda. O olhei, confusa, e entendi o que ele queria quando vi sua mão estendida.

 

- Não! – Eu disse, furiosamente corada. – Sammy!

 

  Ele suspirou e, sem minha permissão, enlaçou minha cintura e me puxou para perto. Sua boca ficou próxima a minha orelha.

 

- Você sabe dançar – ele disse, baixinho.

 

Me arrepiei, e tive que concordar.

 

- Talvez – Confessei, sem graça.

 

  Sammy riu ao mesmo tempo que uma nova música iniciou. Era Beautiful, da banda Marillion. Eu amava essa música e, sem perceber, a passos lentos e ritmados passei a dançar ela com Sammy. Claro que foi fácil pelo fato de que ele me manteve perto demais para errar algum passo, e eu me aproveitava disso: minha cabeça ficou encostada em seu peito a maioria do tempo.

 

 Depois dessa, as outras músicas foram fáceis de dançar. As animadas, as ritmadas, as lentas. Todas. Não me dei conta do quanto me divertia, meus olhos ficaram fixos nos de Sammy durante todo tempo. Por que ali, naquela noite, eu finalmente estava feliz, eu finalmente estava bem.

  Eu estava com Sammy. E isso bastava.

 

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Notas finais do capítulo

Pelo amor de Deus, gente, REVIEWS! Às vezes dá desânimo postar aqui. Sério, eu posto essa história em outros sites e recebo bem mais reviews. Tem hora que dá vontade de deixar todo mundo esperando, sabe? Mas eu ainda sim prefiro postar, numa boa. Enfim, deixem comentários, por favor. Não custa nada.



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