Alyssa Montgomery

Meu Zeus, ele é tão giro. Aquele cabelo, os ombros, e os braços (é a única coisa que consigo ver daqui). Suspiro longo.

Como é que é possível que nunca o tenha visto antes? Ele está cá pelo menos desde o início do ano.

Também tive bastante com que me entreter. O regresso às aulas, depois o baile de debutantes, o ballet, as notas, o Edward sempre no meu pé, e agora as audições para o musical. Vida ocupada.

Mesmo assim não sei como é que o deixei escapar.

– Lena – chamo a minha irmã que está entretida a ouvir musica – Lena! – tenho de falar mais alto para que preste atenção em mim.

– O que foi? – pergunta mal humorada.

– Sabes quem é o loirinho do piano? – pergunto esperançosa.

Ela olha para ele, encarando-o uns segundos até que o reconhece:

– Não te lembras? Foi ele o pianista do baile de debutantes – diz – Mas suponho que estivesses demasiado entretida com um certo Snow para reparares nele na altura – diz, levantando a sobrancelha repetidas vezes. Odeio essa mania dela.

– Eu não estava entretida com o Will coisa nenhuma! – digo irritada. Ok, ela está certa, mas arrependo-me totalmente dos segundos em que dei bola par aquele mulherengo. Prefiro esquecer o assunto. – E olha só quem fala! Até parece que até há uns dias não andavas aí a suspirar pelo Thomas.

Arrependo-me de ter dito isto assim que vejo o olhar que Lena me lança. Ela imediatamente me vira a cara e volta a por os fones nos ouvidos.

–Oh vá lá, tu sabes que não era isso que eu queria dizer – tento desculpar-me. Ela ignora-me e presta atenção no palco – Por favor Lena, perdoas-me? – digo, com um ar de cachorrinho abandonado.

Ela olha para mim de relance, dando-me a certeza de que conseguia ouvir perfeitamente o que eu estava a dizer.

– Por favor? – atrevo-me a repetir.

E aí acontece o inesperado: a minha irmãzinha, a pessoa mais querida que conheço, faz-me um gesto obsceno com a mão e aumenta o volume da música do Ipod ao ponto de eu a conseguir ouvir do sítio onde estou.

Bonito Aly, magoaste a tua irmã. Bem que podias aprender a estar calada.

Mas também ninguém a manda ser tão sensível.

– Então como correu? – pergunta Seth sentando-se no lugar vago do meu lado esquerdo.

– Bem eu acho – depois de audição terminar perdi todo o meu nervosismo, mas agora que Lena está zangada comigo uma sensação de culpa ocupou o lugar dos nervos – Edward é já a seguir. Esta loirinha é a última rapariga.

– Ótimo, só quero despachar isto – diz nervoso.

– Não é assim tão mau – digo, tentando tranquiliza-lo – É tudo tão rápido que quando deres por isso já passou.

No entanto ele não parece muito convencido pois continua com aquela careta de como se estivesse com dor de dentes.

O melhor é arranjar uma distração.

– Vais à festa do Caleb amanhã? – pergunto-lhe.

– Vou sim – responde – mas não faço ideia do que oferecer ao rapaz.

– Ele e teu amigo, como não sabes?

– Pelo mesmo motivo que tu não sabias o que dar à Lena na semana passada – replica enfatizando o tu. Ao que parece, hoje tiraram o dia para me julgar.

– E tu? – pergunta.

– Eu o quê? – digo distraída com o loirinho do piano.

Pude senti-lo a revirar os olhos.

–Também vais à festa do Caleb?

– Sim, em princípio sim.

– A sério? Os teus pais deixaram-te ir à casa da Rainha Má passar a noite?

– Obviamente, não vou só eu – digo desanimada – Edward vai também – explico – o meu pai nem me deixava pensar em ir ao nosso próprio jardim depois das oito da noite se o meu irmão não estivesse disponível para me acompanhar.

– Como esperado do Senhor Montgomery – eu suspiro em resposta.

Já nem me importo tanto que Edward esteja quase que constantemente atrás de mim como se fosse meu guarda-costas. Pensando melhor no assunto, ele é que acaba por sair mais prejudicado desta situação. Quase que não pode ter vida própria. Se não está a vigiar-me a mim, está a ‘‘tomar conta’’ de Lena. Ou vice versa.

Claro, o meu pai e o seu sentido super protetor são os maiores culpados. Por mais rico que seja não é capaz de contratar um guarda costas, com medo que este nos ande a espreitar, a mim e à minha irmã.

Daí que faz de Edward um escravo baby-sitter. Ele tenta não reclamar, mas à medida que o tempo passa, vou-me apercebendo cada vez mais dos sacrifícios que tem de fazer em prol de cuidar de mim e da minha irmã. O que é bastante frustrante porque nem eu nem Lena somos criancinhas indefesas.

Acho que Edward só não se queixa por causa da minha mãe.

Desde que ficou doente, a minha mãe já quase nem se mexe. Teve de abandonar o emprego, e fica na cama quase todo o dia. Ninguém sabe o que ela tem. Maléfica visita-a quase todos os dias, mas por mais que tente, nenhuma da magia que conhece é capaz de curar a doença desconhecida de Aurora.

Meu pai também mal para em casa. Trabalha muito, já que precisa de sustentar sozinho uma família de cinco, e por ter tantas horas de trabalho fica cansado e irritável, acabando por descarregar toda a sua frustração em Edward.

Por mais que tente ajudar, fazendo as tarefas em casa, e tentando ter bons resultados na escola, parece que já nada é suficiente para deixar o meu pai feliz. Nem a pequena Lena, que costumava ser a luz dos seus olhos consegue arrancar-lhe um sorriso. Desde que discutiram sobre as aulas de ballet que o meu pai a tem olhado de lado.

Para a maioria das pessoas, a nossa família parece ter tudo pra ser perfeita. No entanto, muitos segredos podem estar escondidos por detrás de um sorriso amável.

Erika Safiris

Adoro observar a desgraça alheia.

Principalmente a daqueles que me dão banho de sumo.

A loira não se deve ter apercebido das figurinhas tristes que fez. Aquele sorrisinho de vitória quando saiu do palco não engana ninguém.

Deve achar que fez algo de fantástico enquanto cantava um ‘’Let It Go’’ super desafinado. Pobre coitada, não bastava ser desastrada, tinha de ser surda também.

Isto para não falar nas suas tendências de lunática.

Antes de a chamarem ao palco ouvi-a a falar sozinha, algo sobre tigres, limpezas e cabelos.

Pior do que isto só a triste situação da minha maninha mais nova.

A pobre alma nem falou ao jantar, depois daquela “conversa” com a minha mãe. Na altura quis muito ser uma mosquinha para poder ver a cena sem ser notada, mas tenha assuntos para tratar, que não podiam esperar.

Assuntos como a minha meditação diária, essencial à minha vida de filha da Rainha Má. Se não tivesse aprendido desde cedo a controlar as minhas energias, acho que neste momento já teria mandado tudo o que me rodeia pelos ares. Tal como fez o Caleb. Nunca vou esquecer o ataque de fúria da minha mãe.

Bons tempos.

Agora a minha mãe limita os seus ataques a castigos pesados e reprimendas gélidas.

A conversa dela já não nos intimida tanto quanto antes. O pior é mais os castigos que ela nos obriga a cumprir. Aqueles clichês de ficar sem televisão ou telemóvel durante um mês não se aplicam a nós.

Mas chega de falar de mim.

Ate porque se disser tudo aquilo que penso o sinto, correm o risco de ficar enjoados.