Há bastante tempo que o "Diário Das Fadas" não tinha uma manchete tão chamativa e intrigante. O título: ‘‘Mansão Malvada rebenta em chamas no dia de festa de aniversário’’ jaz na primeira página do jornal nacional, deixando todos intrigados e mais que isso, curiosos. Não demorou até que todos os exemplares fossem vendidos, e a cidade rebentasse num borborinho violento.

Talvez esteja interessado em saber o que dizia o jornal, caro leitor. E não o vou privar desse interesse:

Mansão Malvada rebenta em chamas no dia de festa de aniversário

Na passada sexta-feira (ontem) a conhecida Mansão Safiris deu ligar a um casarão destroçado e praticamente reduzido a cinzas.

Testemunhas dizem que o fogo apareceu por volta da meia-noite, mas alegam desconhecer a sua origem.

A polícia já está a investigar o caso, mas afirma que será difícil descobrir a causa das chamas.

Enfim, analisando o mais importante, aquilo que todos querem saber é quem é o culpado. Sim, porque precisamos de saber quem é o vilão. Há sempre um vilão certo? Certo?

Bem, sim. Neste caso até mais que um, digamos assim.

Mas obviamente só os culpados é que sabem que o são (para além de mim como é óbvio). E vendo o modo como isto acabou, não me parece que estejam a planear denunciar-se. Pelo menos eu não estaria.

O hospital era outro ponto de interesse, para além das barraquinhas de jornais. Abarrotava com as numerosas famílias, que se aglomeravam para tratar das feridas pouco graves que os filhinhos de contos de fadas sofreram durante o ‘‘ataque’’.

E eu pergunto: O que aconteceu aos valentões que derrotavam dragões e não tinham medo de nada? Ao que parece os pais podem até ser heróis mas alguns herdeiros dão a para ara algo mais parecido com medricas.

Mas talvez os esteja a subestimar. Provavelmente a culpa nem é dos herdeiros, mas dos próprios pais, que mimam os filhos na esperança de que possam ser felizes sem qualquer tipo de obstáculo.

Parecem ter-se esquecido de uma das mais importantes regras do mundo: O sofrimento é prematuro à felicidade.

A não ser que sejam vilões. Aí a vossa cabeça de tão tomada pelo desejo de vingança ou inveja, que não faz sentido o suficiente para que eu consiga compreendê-la.

Mas, o que eu queria na realidade contar, era o que realmente se passou naquela noite. Achei por bem que se estes autónomos aprendizes de vilões não se irão denunciar aos outros personagens, talvez eu devesse contar parte da sua história para que vocês como leitores não se sintam perdidos.

Comecemos então:

Ato I

Corredor da mansão em questão. Patrícia Pan e Charles Reindeer em cena.

Ambos falam baixinho:

– Não te esqueças, meia-noite tem de estar tudo pronto – Patrícia.

– Eu sei (cara enfadonha). – Charles.

Patrícia acena e sai.

Charles fica sozinho em palco por uns minutos, enquanto monta o ‘‘equipamento’’.

Entra Helena Frost. Tenta abrir a porta para a divisão onde Charles se encontra, mas ele é mais rápido, e ficam ambos do lado de fora. Helena faz uma expressão nervosa quando vê Charles, e não repara que este se encontra nervoso também.

Discutem. Charles tenta impedi-la de passar para que não veja o equipamento.

Edward Montgomery entra. Salva Helena. Charles sai (volta para dentro da divisão).

Fim Cena I

Cena II

Torre mais alta. Patrícia Pan em cena. Montando o equipamento.

Fala para um Walkie Talkie:

– Contacto. Tudo a postos. Espero pelo sinal. Câmbio.

– Contacto. Por aqui também. A galinha está prestes a pôr ovo. Termino. – Lysbelle Frost.

Fim da Cena II

Cena III

Jardim das traseiras. Lysbelle Frost, escondida atrás do Plátano Centenário. Guarda Walkie Talkie no bolso do casaco.

Entra Erika Safiris, que aborda Lysbelle.

Conversam. Lysbelle de semblante nervoso. Erika interessada.

Lysbelle confessa que o alvo do ataque é Hannah Safiris, irmã de Erika. Erika não se mostra espantada ou escandalizada. Alinha (aparentemente) no plano.

Cena IV

Um moreno cuja-identidade-foi-deixada-desconhecida-propositadamente atrai ‘‘a galinha’’ para o local combinado: meio da multidão que assistia ao concerto e dançava.

Fim Da Cena IV - Fim do Ato I

Ato II - Cena I

Jardim das traseiras. Atras do plátano centenário. Lysbelle acompanhada por Erika.

Lysbelle avista o moreno, que lhe faz o sinal positivo com o polegar.

– Vou fazer os archotes por cima do palco pegarem fogo. Á minha contagem, disparas. Percebeste?

Erika acena. Mas apercebe-se tarde demais que Lysbelle fala mesmo a sério.

Os archotes rompem em chamas e a multidão grita entusiasmada.

– Um…Dois… - conta Lys.

– Três! – grita Erika.

Dardo enfeitiçado acerta Lysbelle nas costas.

Fim de Cena I

Cena II

Charles e Patrícia, nas suas respetivas posições:

– Um...dois…TRÊS! – dardos são disparados.

Fim da Cena IV - Fim do Ato II

Ato III - Cena I

Jake Hood, centro da multidão a uns metros de Hannah Safiris.

Apercebe-se de bestas armadas em duas das janelas da mansão. Analisa a sua aparente trajetória (com ajuda dos seus conhecimentos sobre arcos) e apercebe-se de qual é o alvo.

Dirige-se a paço rápido empurrando a multidão para proteger Hannah. O seu primeiro paço em frente coincide com o momento em que os archotes rompem em chamas.

Jake é atingido pelo dardo enfeitiçado de Patrícia. Jake cai no chão profundamente adormecido.

Hannah é atingida um segundo depois, e uma quantidade infinita de penas castanhas começam a crescer pelo seu corpo.

Ela solta uma berro. Não repara na presença de Jake a seus pés.

O moreno cuja-identidade-foi-deixada-desconhecida-propositadamente já desapareceu.

Fim de Cena I

Cena II

Lysbelle, atingida por dardo enfeitiçado, tem um bico no lugar do nariz e da boca, pequenas penas pelo seu corpo e está agachada no chão a imitar uma galinha.

Erika olha atónita para a cena. Em seguida lembra-se da irmã e procura-a com o olhar entre a multidão.

Avista Hannah também coberta de penas e enfurece-se. Lança-se sobre Lysbelle e desatam numa luta entre lobo e aprendiz de galináceo.

Lysbelle, na defensiva, lança milhares de bolas de fogo em todas as direções. Nenhuma acerta Erika, mas o plátano centenário irrompe em chamas tal como tinha acontecido com os archotes.

Erika para de arranhar Lysbelle. Dá-lhe uma paulada no pescoço. Lysbelle fica inconsciente. Erika (agora transformada) coloca-a sobre o dorso de tigre branco e foge das chamas.

Fim da Cena II - Fim do Ato III

Espero que agora já tudo esteja esclarecido

Se não estiver,

Não foi tempo perdido

Pois a esta hora nem sempre tudo fica compreendido

Quem sabe amanhã pareça mais certo

Talvez cativante como um livro aberto

A narradora

(eu disse narradora não poeta – não me venham dizer se estes versos não fizerem sentido)