No auge de seus 22 anos de idade, Takahashi Misaki tinha se deparado com um nível completamente diferente de horror.

“USAGI-SAN, VOCÊ ESTÁ SERIAMENTE TENTANDO MORRER?” O jovem estudante reclamou, logo que viu o escritor Usami Akihiko esparramado em cima de sua mesa de trabalho, com vários livros e papéis velhos jogados pelo quarto. O estado do cômodo era tão deplorável que até Suzuki-san estava coberto de poeira.

“Finalmente. Terminei.” Foram as últimas palavras de Usagi antes de desmaiar de sono. Com alguma dificuldade, Misaki conseguiu arrastar seu amado para a devida cama, logo depois voltando para limpar aquela bagunça toda. Quando se dirigiu a mesa, percebeu que haviam 5 manuscritos terminados.

“Ele terminou isso tudo em cerca de 10 horas... E antes do prazo acabar... SÓ PODE SER O FIM DO MUNDO!” Gritou o universitário, completamente chocado. Porém, em consideração ao cansaço do escritor, decidiu ir fazer o jantar e perguntar que tipo de urso feito em ouro maciço Aikawa tinha o prometido para fazê-lo trabalhar tão arduamente depois.

Passadas algumas horas, Akihiko desceu as escadas carregando seu eterno companheiro urso, aproveitando que Misaki mexia alguma coisa em uma panela para agarrá-lo por trás.

“O QUE DIABOS ESTÁ FAZENDO, BAKA USAGI?” O mais novo reclamou.

“Não é obvio? Estou abraçando o Misaki.”

“SE NÃO PARAR VOU JOGAR SOPA QUENTE NA SUA CARA!” Misaki conseguiu se soltar e sentou em um dos sofás, sendo seguido pelo escritor. “Antes que eu esqueça, preciso me esconder num daqueles abrigos para catástrofes?”

“Por quê? Não me diga que está sugerindo que nós façamos algo divertido num daqueles lugares... Ah, é uma boa ideia Misaki, a Aikawa ia amar um BL assim...”

“NÃO É ISSO SEU VELHO PERVERTIDO! É que você terminou um monte de mangás bem antes do prazo, e isso é mais do que raro, é impossível.”

“Ei, eu posso trabalhar duro quando eu tento.” Usagi falou.

“Não, na maioria das vezes você só engana todo mundo dizendo que já terminou de escrever, quando na verdade nem começou.”

“Dessa vez é diferente. Eu e a Aikawa fizemos um acordo.”

“Que tipo de acordo?” Misaki perguntou, enquanto terminava de organizar a mesa para a refeição. Ambos sentaram e se serviram com sopa quente, antes de Usami continuar a falar.

“Eu estava pensando em viajar para a Inglaterra, e ela disse que o único jeito de eu deixar o país sem que ela mandasse alguém me arrastar de volta seria se eu terminasse meu trabalho bem antes do prazo. Provavelmente a Aikawa achou que isso ia ser impossível, mas eu provei o contrário e agora tenho uma semana de folga.”

“Inglaterra hein... Algum problema na sua antiga casa?”

“Não, eu apenas achei que ia ser bom levar o Misaki para conhecer outro país. Você me disse que queria ir, lembra?”

“Usagi-san, isso é impossível! Eu não tenho dinheiro para uma viagem dessas, e tenho que começar a pensar no que vou fazer depois da faculdade... Além do mais, o Nii-chan tem vindo nos visitar um monte de vezes, você não acha que ele iria achar estranho o fato de nós dois irmos juntos para a Inglaterra?”

“Dinheiro não é problema, você está de folga da faculdade e já decidiu que vai querer trabalhar na Marukawa quando terminar de estudar. E quanto ao Takahiro... Misaki, você não acha que já está na hora de contarmos a verdade para ele?” O mais velho levantou de sua cadeira e ficou abaixado perto do moreno, segurando gentilmente suas mãos.

“Do... Do que está falando Usagi-san?” Misaki corou e tentou olhar para os lados, mas Usami o obrigou a encará-lo.

“Uma hora o Takahiro vai acabar descobrindo tudo. Com o passar dos anos, ele vai achar cada vez mais estranho o fato de você nunca se mudar daqui, ou de nenhum de nós se comprometer com uma mulher. E quanto mais tempo passar, mas vai ser difícil contar pra ele que escondemos algo assim por tantos anos. Eu sei que você tem vergonha, mas é melhor assim...” Akihiko falou as ultimas palavras da frase com certa tristeza, e Misaki percebeu isso. Aquilo era ruim. Não queria ver seu amado triste, mas dizer a verdade era muito embaraçoso.

“NÃO É QUE EU TENHA VERGONHA DE ESTAR COM O USAGI-SAN!” O estudante juntou toda a sua coragem para dizer aquilo, mas logo depois ficou completamente vermelho. “Q-Q-Q-Q-Quero dizer, E-E-Eu ainda fico meio constrangido quando Usagi-san faz coisas pervertidas em lugares públicos, mas não é esse o motivo para eu não querer contar tudo ao Nii-chan...”

“E qual é?”

“É que... Conhecendo ele como eu conheço, o Nii-chan vai começar a ter ideias erradas, e pode pensar que Usagi-san me forçou a fazer alguma coisa... E eu sei que ele é um amigo muito importante para você, então não quero estragar tudo.” Misaki fechou os olhos, esperando o escritor fazer alguma piada e/ou o assediar sexualmente, mas tudo que sentiu foram as mãos que ele amava tanto acariciando seu cabelo. Aquela era uma das coisas das quais o moreno nunca se cansaria.

“Misaki... Você é realmente fofo... Está me seduzindo tanto que eu vou acabar esquecendo nosso assunto e te jogando na cama.”

“PARE DE DIZER ESSE TIPO DE COISA, MALDITO!”

“Mas eu fico feliz que você não tenha vergonha do nosso relacionamento. E se a possibilidade do Takahiro brigar comigo é sua única preocupação, podemos contar tudo a ele o mais rápido possível. Afinal, Takahiro pode ser meu melhor amigo, mas a coisa que eu mais me importo no mundo é estar com o Misaki o tempo todo.”

“Usagi idiota... Você sempre fala coisas assim para me enrolar.”

“Não é enrolar se eu estiver falando a verdade.” Usagi aproveitou o fato de Misaki estar concentrado em sua própria vergonha e o beijou carinhosamente.

“SEU PERVERTIDO ESCRITOR DE BL! NÃO ME ATAQUE DE UMA HORA PRA OUTRA!”

“Então se eu avisar posso te beijar, Mi-sa-ki?”

“EU VOU LIGAR PRO NII-CHAN E MARCAR UM JANTAR!”

“Faça isso acontecer o mais rápido possível, vou reservar nossas passagens e o hotel. Quando terminar, vou estar no meu quarto esperando pelo Misaki para dormirmos juntos.” Akihiko subiu as escadas segurando Suzuki-san novamente em seus braços.

“COMO SE EU FOSSE FAZER ALGO ASSIM! E VOLTE AQUI, AINDA NÃO DISSE QUE CONCORDO COM ESSA DROGA DE VIAGEM!” O universitário gritou, mas em seu interior sabia que muito provavelmente iria aceitar aquelas duas coisas. Se sentindo derrotado, decidiu prosseguir com a ligação para seu irmão mais velho.

“Misaki, que bom você ligar! Eu estava com saudades!” Takahiro falou animadamente.

“Nii-chan, nos falamos ontem... Enfim, olha se você e a Nee-chan puderem, o Usagi-san disse para convidar vocês pra jantar aqui. No dia mais próximo que estiver disponível de preferência, porque ele vai começar um novo trabalho em breve.” Misaki decidiu não falar ainda da notícia que tinham, para não preocupar Takahiro.

“Na verdade eu tenho uma folga amanhã, e acabei de ter uma ótima ideia! Misaki, seria um problema se eu e a Manami levarmos uma outra pessoa?”

“N-Não, eu acho...” Para evitar desconfianças, o moreno decidiu aceitar.

“Perfeito! Estaremos ai amanhã as 19:00! Até lá!”

“Até...” O rapaz deixou seu celular cair no chão, depois de se dar conta do que estava fazendo. Aquela única noite iria mudar sua vida toda, estava mesmo disposto a contar tudo? Mas ai lembrou de tudo que já tinha acontecido, e se decidiu completamente enquanto se dirigia ao quarto de certo escritor.

“Tudo combinado. Eles vem aqui amanhã.” Misaki disse, parando na porta.

“Você ligou mesmo pro Takahiro?” Usami perguntou, fechando o notebook e se aproximando do menor.

“É CLARO QUE EU LIGUEI! TEM ALGUM PROBLEMA COM ISSO BAKA USAGI?”

“Na verdade é o contrário. Eu estou muito feliz, Misaki.” Akihiko deu um sorriso sincero, do tipo que derretia o coração de Misaki.

“Ah e eu vou dormir aqui hoje. Não que eu queira ficar com você ou algo do tipo, mas minha cama está cheia de livros em cima e não tenho tempo de arrumar.” O moreno sentiu seu coração parar quando Usagi o segurou feito um saco de batatas e o jogou na cama.

“Isso não é nada bom. Se Misaki continuar sendo tão sexy, eu vou acabar morrendo.”

“ENTÃO MORRA DE UMA VEZ SEU ASSEDIADOR!”

“Mas ai... Você ficaria solitário.” O albino sussurrou, enquanto tomava os lábios de Misaki.

E naquela hora, Takahashi Misaki percebeu que seria completamente impossível planejar a noite seguinte. Não com seu coelho favorito tocando seu corpo daquela maneira.