A Noiva escrita por Felipe Melo


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

- Para desenvolver um Livro é dificil... Depois de Lágrimas que já terminei mas não terminei de postar todo aqui... Foi Dificil... Essa é minha segunda Ficção... espero que gostem... tdo aqui contido é meu... e fans de Lágrimas logo posto tudo... e quando terminar A Noiva... volto com o segundo livro... Espero que Gostem... Amo Comentários... Beijos & Beijos



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Capitulo Um

“A Nova Ordem Veio para socializar e criar um mundo perfeito. Para quê apocalipse, se o mundo pode ser tranqüilo?”

– Nova Ordem (Revista Atualizada)

Estou tomando um ar fresco. Não consigo me concentrar no que tenho para estudar. Só essa semana terá quatro provas finais. Por um lado me sinto tranqüila, - mas por outra atônita. O mundo em que conheci mudou há dois anos. O governo dos Estados Unidos caiu. Não só ele mais de muitos países. Entramos em colapso. Foi desesperador. Lembro-me que pessoas não conseguiam comprar um ovo, por menos de cinco dólares. Isso arruinou grandes famílias. E quase passamos fome aqui. Mas dentre as dificuldades surgiu algo em que chama de A Benção. Cinco e ricos empresários conseguiram se manter. Eles criaram um sistema governamental. Cada continente tem o seu. Eles o chamaram de Nova Ordem. E para mim isso significou o fim.

Antes de a Nova Ordem assumir, - eu era normal. Podia ir a festas de amigos, saia para o shopping com as amigas. Mas hoje tudo mudou. Meninas que completam 16 anos são obrigadas a casar. Sim, isso é louco.

No ano de 2030 muitas mulheres começaram a sumir. Algumas morreram normalmente, - pela idade já avançada. Outras morreram por doenças. A partir daí o desequilíbrio feminino afetou o mundo. O nascimento de mulheres se tornou menos. Hoje por incrível que pareça, somos quase uma raça extinta. Somos apenas cem mil nos aqui. E muito poucas em outras ordens. O governo então declarou que as mulheres restantes fossem ao médico e tirassem amostra de DNA, para que no futuro a espécie estivesse assegurada. Isso não adiantou. Então como um bom governo, - eles decretaram que as meninas que completassem dezesseis anos, deveriam casar. Isso arruinou minha vida.

Sou filha única. Meus pais são fotógrafos. Antes de isso tudo acontecer vivíamos em uma completa harmonia. Hoje nem conversamos direito. Minha mãe acha que tenho que casar o mais rápido possível. Meu pai concorda. Não tenho mais direito de opinião dentro de casa.

Existe também um sistema de pareamento. Somos pareadas com jovens capazes de corresponder nossas expectativas. Sou negra. E bem, meus pais são uma mistura. Tenho medo de casar. Lembro que ainda pequena sonhava com casamentos estilo Disney. Mas hoje, - passo longe de catedrais e capelas. Todos dizem que é normal, mas ninguém vê que temos apenas 16 anos. Somos adolescentes. Não estamos preparados para casar. Juramos amor eterno ao namorado, cachorro, amigos mais isso é tudo coisa do momento. Namorados passam, cachorros morrem e amigos? Bem “alguns” amigos são para sempre.

– Liz – chama minha mãe – Camila no telefone.

Entro rapidamente. Camila e eu nos conhecemos desde a quarta série. Até hoje somos amigas. Minha amiga Melina diz que somos gêmeas. Quando a nova ordem se estalou fui obrigada a mudar de escola, e quando cheguei lá, encontrei Camila. Melina também estuda lá. Mas ao contrário de nós duas, tem o desejo de casar. Eca!

– Alô – digo cansada depois de correr – Camis?

– Oi – diz ela – tenho algo para te contar. Mas não pode ser por aqui. Podemos nos encontrar?

Olho para trás. Minha mãe verifica o e-mail, e meu pai não está em casa. Será mais fácil falar com a mãe.

– Claro – digo – é muito grave?

Ela suspira. Conheço esse suspiro. Realmente a situação é critica.

– Se quisermos continuar solteiras creio que sim.

Minha cara despenca. A palavra Noiva me causa repulsa. Tento respirar e me acalmar.

– Pode me adiantar sobre o que é?

– Digamos que teremos que nos alistar mais cedo. É só o que posso dizer.

– Onde nos encontramos?

– No mesmo lugar de sempre.

Desligo rapidamente. O mesmo lugar quer dizer Sorveteria. Camila ama sorvetes. E eu amo comer. Creio que o assunto não será muito agradável. Tento respirar. Logo, logo isso acabará. Respiro fundo mais uma vez, corro para minha mãe dou-lhe um beijo no rosto e voou para a sorveteria.

A caminho da sorveteria que fica no centro de Laguna Beach. Deparo-me com catedrais lindas, que hoje foram fechadas. Igrejas, mesquitas, templos e até mesmo salões do reino não existem mais. Claro que a Bíblia ainda é comercializada, mas pelo menos por aqui, Deus não existe. O único Deus americano tem o nome de Victor Salazar Petravicius. O homem chefe da nova ordem. Todos aqui o acham a salvação da humanidade. Se eu o encontrasse na rua, garanto que ele não sairia vivo.

Muitos pôsteres da Nova Ordem estão espalhados pela cidade. Afundo-me temporariamente no banco de motorista, querendo fugir de tudo aquilo. Todos levam suas vidas normais. Mas não tem mais liberdade. Nós não temos liberdade. Queria poder escolher meus namorados. Queria poder chegar a casa e apresentá-lo aos meus pais. Mas isso nunca mais vai acontecer. Continuo seguindo o caminho para a sorveteria, pensando em como minha vida irá mudar quando os 16 anos chegar.

– Você demorou – diz Camila ao me receber na porta da soverteria.

– Estou nervosa – disse eu – diga-me o que descobriu.

A sorveteria da Linda é a mais bonita, limpa e com sorvetes deliciosos. Aqui praticamente é nosso ponto de encontro. Sentamos em uma mesa la no fundo. Camila me olha e respira...

– Estava conversando com minha mãe agora à tarde, e ela me disse que as meninas mais bonitas terão que se alistar mais cedo. O alistamento é obrigatório. Já era né? Mas agora parece ser mais urgente.

Tento digerir as palavras dela. O alistamento é obrigatório. Mas só nos alistamos depois de terminamos o segundo grau. Assim ficamos com o tempo livre para exames, provas de vestido e estaremos menos nervosas. Olho para ela com um ponto de interrogação claro no rosto.

– Calma – diz ela nervosa – vou explicar. Sabe o Thomas? Filho do “deus americano”?

Ela nem ao menos espera eu acenar que sim.

– Ele quer se casar. Sim ele tem dezoito. Mas ele é filho do governante. Então qual o problema? Bem, ai está à questão. Ele decretou que as jovens que fizesse dezesseis anos a partir do próximo mês, se alistassem. Ao todo são mais de 100 jovens. E nós estaremos lá.

Meu coração se despedaça. Foi por isso que mamãe estava telefonando para o banco de dados de Laguna Beach hoje de manhã. Ela já sabia. Já estava providenciando meus exames. Abaixo a cabeça, e por dentro me sinto pequena. Camila nota meu desconforto. Ela pega minha mão.

– Não fique assim – diz ela – estaremos juntas.

– As mais bonitas ficam no palácio da ordem é isso?

– Sim. De cem ficarão cinqüenta. E assim sucessivamente.

Tento me acalmar. Tento ver uma saída nisso tudo.

– Não á saída dessa vez. Sabe que antes da apresentação iremos mega produzidas. Ele estará lá nos olhando.

– Nos comendo com os olhos você quer dizer.

Camila parece espantada com meu comentário. Sou desbocada. E fazia aulas de boxe. Nunca fui uma menina comum. Já minha amiga, tem seus conflitos internos, mas ainda assim é muito fofa.

– Talvez assim seja melhor. Podemos pelo menos ter uma vida normal. Afinal não é nada perigoso. Não vamos sofrer lavagem cerebral nem nada parecida. Vamos apenas casar. Depois poderemos trabalhar, sairmos...

Eu a fuzilo com os olhos. Ela percebe e para.

– Não podemos casar. Isso é injusto. Não temos culpa que nascem mais homens do que mulheres. Se a população está descontrolada, eles que arrumem um jeito.

Ela não responde. Camila tem opiniões fortes. Mas eis nossa diferença. Eu sou mais “fora da lei”. Não sigo as regras. Já Camila é mais certinha.

– Não estão pedindo nada demais Liz.

– Estão sacrificando nosso futuro sem nos perguntar.

– Não teremos certeza se vamos ser selecionadas.

– Não. Não temos. Mas e se formos?

Ela não responde mais uma vez. Chegamos a pensar nisso. Se acaso casarmos não poderemos morar em Laguna. Nossos maridos escolheram o local. Nossos maridos cuidaram de tudo. Ou seja, uma sociedade machista. Senti-me no século dezessete. Pelo menos podíamos trabalhar. Fazer planos. Claro, mas e os filhos? Arfei!

– Que inferno! Queria viver nos anos 80.

Camila sorriu.

– Você e suas manias de stress. Acalme-se. Filhos são como bonecas.

Sorri. Filhos como bonecas? Onde ela estava com a cabeça?

– Se não aguentar cuidar, fuja e deixe para o pai.

Rimos e logo nos abraçamos. Se fossemos selecionadas, iríamos ser rivais. Thomas Salazar é lindo. Alto, moreno e de olhos azuis. Viajou por todo mundo. Não queria entrar nessa. Não queria disputar com minhas melhores amigas. Camila se afastou.

– Sem chorar. Não morremos, e nem fomos selecionadas. Estamos apenas cogitando possibilidades.

Ela e suas manias de não demonstrar afetividade. Amava isso.

– Sabe Camis? Você é tão forte.

– Eu sei. Mas minha força vem de Deus. Apenas dele.

Mais uma vez sorri. Uma das únicas famílias que permaneceram acreditando em Deus foi à família dela. À medida que as igrejas fechavam a família Ribeiro se manteve em suas tradições. Isso nunca mudou.

– Será que Deus não pode nos arrebatar?

– Prefiro isso a um apocalipse. Desculpe-me. – disse ela.

– Já estamos em um apocalipse.

Pegamos nossas casquinhas e entramos no meu carro. Eu a levaria para casa. Mas estava preparada para as revelações de minha mãe a hora que eu chegasse a casa.

– Preparada para a revelação? – disse ela para mim no meio do caminho – sua mãe com certeza já sabe que eu contei a você algo importante.

Suspirei. E tentei não pensar na discussão que me deixaria de castigo pelas últimas duas semanas de normalidade em minha vida.

– Com certeza não. Ela ligou para sua mãe não foi?

Camila assentiu.

– Ficaram falando nisso por meia hora. Mamãe já tinha me contado, mas imaginei que a sua não.

Assenti mais uma vez.

– Minha mãe sabe que não gosto muito desse lance. Às vezes acho que ela deve me achar uma “cretina”.

Camila riu.

– Claro que não. Ela te ama. Mães só querem o melhor para nós. Somos suas “pestes” favoritas.

– Pestes é um termo feio. Sou uma benção.

– Desde quando resolveu usar termos educados? – disse Camila rindo.

– Desde quando resolveu casar?

Foi quando rimos alto e percebemos que tínhamos pouco tempo pela frente.

Minha casa ficava no fim da Rua Maine. Número 155. É uma casa normal. Amarela e com muitas janelas. Minha amiga Melina diz que minha casa é a casa da Miney. Sorrio mesmo sabendo que agora terei que encarar minha mãe.

Lembre- se isso não pode ficar pior. Pense nas moscas que tem apenas vinte e quatro horas de vida.

Foi o pensamento mais idiota que já tive. Mas entro em casa e minha mãe me espera com uma mesa de jantar com tudo o que gosto. A mesa está decorada com uvas, nozes e outras coisas. De jantar temos purê de batata, arroz e frango grelhado. Mal tenho tempo de admirar mais quando meu pai me acorda de meus pensamentos.

– Pensando no que vai comer? – diz ele sorrindo.

Meu Pai é Joseph Smith. Trinta e oito anos. Cabelo claro e moreno. É mediano. E tem um sorriso doce. Sorrio para ele, sinto saudade da época em que ele dizia que não ia namorar antes dos quarenta.

– Sim – disse eu – onde está mamãe?

– Está na cozinha. Parece estar nervosa, aconteceu alguma coisa?

Apenas balanço fazendo que não.

– Coisas de mulheres. Poderia nos dar licença?

Ele ri.

– Okay – diz ele – às vezes esqueço o quanto você cresceu. Para mim você sempre será uma menininha.

Sorrio. Lágrimas querem me subir aos olhos, mas eu as afugento. Jamais voltarei a chorar. É uma promessa que fiz a mim mesma. Desde muitas brigas com minha mãe sobre assunto “casamento”, disse a mim mesma que não choraria. Doía-me brigar com ela. Mas eu precisava expor meu ponto de vista.

– Liz querida – diz ela limpando as mãos no avental vermelho – tenho novidades para você.

Ela me abraça e eu não retribuo o sentimento. Sinto-me enganada. Controlada. Pelo governo, pelos meus pais, e pelo mundo ao meu redor. Tento manter a calma.

– Mãe – começo – porque não me falou que me escreveu para a seleção mais cedo?

Ela parece frustrada. Joga o pano de prato no armário e se apóia na pia me olhando.

– Achei que fosse gostar – diz ela sorrindo – poderá fazer os exames finais sem se estressar.

Olho em seus olhos talvez procurando aquela mãe de antes. Mas o máximo que encontro é um olhar frio. Desde que a Nova Ordem se instalou minha mãe só vive para eles. Fotografa para eles. E tudo mais.

– Sabe que não quero casar. E mesmo assim insiste?

Ela sai da cozinha e vai para onde meu pai está. Ele nos olha percebendo a tensão que se espalha.

– Você não sabe o que é melhor para você. Eu sou sua mãe. E as leis do país são claras. Pensava que já tinha se acostumado ao novo sistema.

Não consigo mais me controlar. Despejo toda a minha frustração em cima dela.

– Não posso ter uma vida normal. Porque meus pais acreditam que a Nova Ordem é a salvação. Meninas vão se alistar daqui a um mês pensando que vão ser felizes. Quando na verdade deviam estar estudando, saindo e sendo felizes. E querem saber? Eu não sou FELIZ.

Minha mãe coloca a mão na boca. Meu pai levanta da poltrona para consolá-la. Vejo que nada do que eu disser fará com que mudem de opinião. Só podemos mudar de país com autorização dos pais. Fecho os olhos e subo correndo as escadas. Esbarro em uma caixa na escada, e lá dentro vejo um vestido. Ouço murmúrios atrás de mim.

– Elisabeth – grita meu pai – volte aqui.

Mas não o ouço. Ignoro. Os dois. Eles não me entendem. Não sabem como me sinto. Corro para meu quarto e tranco a porta. Sinto que as lágrimas se aproximam. Transformo-as em fúria. Um dia vou conseguir sair desse pesadelo. Vou ter uma vida normal. Jogo-me na cama. Deixo que hoje as lágrimas escapem. Só hoje.

Enquanto choro, ouço pessoas batendo na porta tentando entrar em um mundo onde as coisas permanecem normais para mim. Não quero ver ninguém. Afundo-me em meus pensamentos. E tento rever meus conceitos. Minha consciência diz que estou certa. Choro por saber que só tenho duas semanas normais em minha vida.


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Notas finais do capítulo

- Comentem... Fico Mto Feliz...- Recomendem se gostarem... - Divirtam-se ... Beijos & Beijos