Cartas Para Quinn escrita por lovemyway


Capítulo 24
Capítulo 24 — Mensagem para Rachel


Notas iniciais do capítulo

Oiii gente!!


Antes de vocês correrem para ler esse capítulo, eu peço um minutinho da sua atenção, porque eu queria dizer uma coisa. Posso falar? Posso mesmo? Então aí vai sauhasuhsa... OBRIGADA!

Mencionei no cap. anterior, e quem me segue no twitter deve ter visto meu desespero, que minhas provas começaram na segunda e terminaram na sexta. Foi uma correria. Estudei loucamente, fiquei tensa, preocupada, louca, exausta, enfim. Fiquei bem acabada mesmo sauhsausahuhssauhuas. Mas se teve algo que botou um sorriso no meu rosto, esse algo foram vocês.

Sério, obrigada mesmo por cada comentário do capítulo anterior. Nunca vi tanta gente comentando, até me assustei ushauashsuahsuahsa. Vocês fizeram um sorriso surgir no meu rosto numa semana bem tensa pra mim. Ver o carinho de vocês por essa história foi tão ♥

Queria dar um obrigada em especial à Nick Faberry, GioLia e Daiane Ximenes. Vocês me deixaram incrivelmente feliz com as recomendações. Sério. Eu tava precisando de alguma coisa pra ser minha luz no fim do túnel esse semana, e vocês encheram esse coraçãozinho ♥ de felicidade. Obrigada mesmo, gente!

Era só isso mesmo que eu queria dizer... Ah, e o próximo cap. provavelmente não vai sair tão rápido. Esse eu já tinha pronto, mas o próximo ainda estou escrevendo.

Espero que curtam, gente ♥

E embora outubro ainda não esteja aí, queria deixar logo meus parabéns a todo mundo que faz aniversário nesse mês lindo e maravilhoso ♥

Sem mais delongas, boa leitura! :D



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De: Quinn Fabray (qfabray@zwer.com)

Para: Rachel Berry (rachelberry@zwer.com)

Assunto: Santana




Querida Rachel,



Desculpe-me por ter demorado a lhe responder. Como disse anteriormente, as coisas não tem sido fáceis por aqui, e fomos realocados recentemente, o que tornou tudo um pouco mais complicado. O lado positivo é que ainda temos internet. A sorte tem estado a nosso favor, não é? (risos). Quem sou eu para reclamar?

Ok, acho que preciso ser completamente honesta com você. Outro motivo pelo qual demorei a responder foi porque, sinceramente, Rachel, eu não sabia o que dizer. Ainda não sei ao certo, mas a falta de você foi maior que a falta de palavras, então aqui estou eu, tentando dizer… Bem, acho que nem eu mesma sei.

Sabe, desde que nos conhecemos, cada carta e e-mail tem me dado um pouco de você. Um pouco da sua história, da sua personalidade, dos seus medos e desejos; do que você ama e do que você odeia. Um pouco de tudo. Então eu fui conhecendo você. Eu fui descobrindo mais e mais sobre Rachel Berry, a garota de dezesseis anos que vivia em uma cidade pequena demais para os seus sonhos; alguém que apesar da pouca idade, carrega em seu coração grandes cicatrizes; alguém que sabe o que quer, e não tem medo de correr atrás; alguém com uma coragem e determinação que muitas pessoas mais velhas e mais sábias não possuem. O que só prova que idade não é tudo.

Todo esse tempo depois, eu ainda me pego descobrindo coisas sobre você. Como o seu coração é grande; como você realmente se importa com as pessoas; como você é milhões de vezes mais incrível do que eu sempre imaginei que fosse. O que você fez por mim, pela Santana... Não tenho palavras para descrever o quanto isso mexeu comigo. E com ela. Saiba que Santana não é do tipo que gosta de falar sobre sentimentos, ou admite que gosta de alguém... Mas desta vez ela abriu uma exceção. Portanto, senhorita Berry, você vai ter o privilégio de falar com o cão em pessoa (risos). Mas vamos deixar isso para o final, porque se ela lhe escrevesse alguma coisa agora, eu provavelmente não teria coragem de enviar (Santana é um pesadelo, realmente).

Não se preocupe, você não vai precisar derramar sua fúria em cima de ninguém (risos). Tudo está bem melhor agora, principalmente depois que a tensão desapareceu. As coisas por aqui são assim. Por mais séria que a briga seja, no final, sempre acabamos voltando a falar um com o outro. Nem sempre porque queremos, mas porque a confiança nos nossos colegas é fundamental. Inimizades não são para lugares como esse. Então você não precisa se preocupar; estou tão segura quanto poderia estar.

Sua mãe parece mesmo ter sido uma pessoa maravilhosa, Rach. Gostaria de tê-la conhecido. E parece ter sido uma mulher muito sábia, também, além de ter um bom coração. A maioria das pessoas não teria tido essa mesma atitude. Acho que já sei de quem você puxou a sua bondade. Tenho certeza absoluta que se sua mãe estivesse viva, ela estaria orgulhosa da mulher que você está se tornando. Eu sei que eu estou, e nós nos conhecemos há não muito tempo.


É realmente ótimo que você e seu padastro (pai) tenham se dado tão bem logo de cara. O fato que você o aceitou como um pai, que você o acolheu, que você escolheu amá-lo, ao invés de guardar qualquer espécie de rancor (fundado ou não), diz muito sobre você. O que não é bem uma surpresa, ao menos não para mim, que tenho visto esse seu lado há algum tempo. O que realmente me impressiona é que outras pessoas não tenham visto o mesmo.

Minha mãe também era incrível. Ela era do tipo de pessoa que botava a necessidade de qualquer um acima da sua, o que irritava meu pai, algumas vezes, porque ela era boa demais, e tinha gente que acabava se aproveitando disso. Ainda mais no meio em que eles trabalhavam. Não estou dizendo que todos os advogados gostam de tirar proveito de outras pessoas — mas os que meu pai conhecia não eram lá um exemplo de seres humanos. Ou pelo menos isso era o que minha tia costumava dizer.

Acho que em todos os meus anos de vida, só escutei a minha tia falar bem de uma advogada, que trabalhava com o meu pai. Era uma sócia dele, acho; ela também morreu no onze de setembro, e foi enterrada no mesmo dia que meus pais. Não sei seu nome, se tinha família ou não, se era casada ou solteira — tudo o que sei é que, segundo minha tia, a mulher era um anjo. Ela e minha mãe eram grandes amigas, e até mesmo papai, que não era um homem lá que ia com a cara de qualquer pessoa, parecia adorá-la. A sociedade deles parecia que ia ser duradoura. Exceto que, bem, não foi.

Às vezes me pego pensando nessa mulher. Às vezes penso nos clientes que meu pai ia atender aquele dia, e que estavam no lugar errado, na hora errada. Penso nas pessoas em todos os outros andares que poderiam não estar ali; que por um golpe do destino, acabaram no meio de uma tragédia. Pessoas que, no final, transformaram-se em números. É isso o que eles são hoje em dia, não é? Números? Seus nomes, idades, profissões, familiares, amigos… Nada disso importa. O que importa é que eles são apenas somas à contagem de mortos que aquele dia deixou.

Acho que isso é o que dói mais. Até hoje, quando falam do onze de setembro, eles não falam no que nós perdemos. Falam do que os Estados Unidos perderam; falam do que o país sofreu; do golpe que a população americana sentiu. Mas e o golpe que nós sentimos? E a dor com a qual temos que conviver até hoje? Gostariam que pensassem em nós nessa data. Não com pena, não quero pena de ninguém. Quero compreensão. Quero que as pessoas entendam que o mundo não precisa mais de violência; que o que verdadeiramente precisamos é de mais amor.

Ok, eu vou deixar Santana escrever o que ela escrever. Ela já está ficando impaciente, e está começando a me encher a paciência (risos). Suponho que agora a cruz seja sua para carregar, senhorita Berry :p

Então aí vai…




Querida hobbit,

Meu Deus, esse negócio de "querida" é tão gay. Vocês duas, sério, é como se a tela do computador fosse explodir em purpurina a qualquer momento. Se houvesse um reality show sobre sentimentos reprimidos, vocês seriam as campeãs. Ok, tudo bem, Quinn está toda nervosinha aqui, então vou parar de implicar... Por enquanto. Não foi por isso que eu pedi para falar com você (na verdade, até foi, mas não deixe a Quinn ler isso).

Então, my little pony, eu recebi a mensagem da Brittany, e eu só queria dizer... Sério, Rachel, eu queria mesmo dizer obrigada. Você não sabe o quanto isso significou para mim. Ou, pensando bem, até saiba. Sei que você e Quinn carregam cicatrizes que nunca vou poder entender (e a recíproca é verdadeira), mas a melhor coisa sobre os amigos é que eles não precisam te entender para estarem ao seu lado, e te ajudarem quando você precisa.

Eu fico feliz que Quinn tenha você. Era deprimente vê-la se arrastando pelos cantos feito alma penada; algumas vezes era até assustador, porque ela tinha essas olheiras enormes debaixo dos olhos. Ficava parecendo a Samara, daquele filme O Chamado, exceto que Quinn é loira... Mas se ela pintasse os cabelos... Enfim. É bom que ela tenha alguém que a compreenda. Alguém que possa amenizar essa dor de uma forma que eu nunca pude. Alguém que se importa não só com ela, mas com as pessoas que a cercam. Todas as vezes que Quinn dizia que você era especial, eu pensava que você tinha algum tipo de problema, ou coisa do gênero.. Agora eu compreendo o que ela quis dizer.

Se você repetir para alguém essas palavras, eu negarei até o túmulo, mas… Você é mesmo especial. E não digo isso por você se parecer com uma criatura mítica (lamento muito que os duendes estejam em extinção. É realmente uma pena). Digo porque pessoas que se importam de verdade com os outros são bem difíceis de achar. Veja a Rainha dos baixinhos (desculpe, mas você a chama de rainha, e tem a altura de um garoto de doze anos; você precisa admitir que estava pedindo por essa, hahaha), por exemplo, que passou a vida procurando, e só encontrou uma há milhas e milhas de distância.


Então, só para você saber, você e Quinn juntas... Eu aprovo. E saiba disso, elfo doméstico, minha aprovação não é algo que dou levianamente. Eu tenho um sexto sentido para pessoas que não prestam, portanto, consigo identificar uma com facilidade. Assim como sei identificar as pessoas genuinamente boas. E eu sei que você é uma delas.

Sabe, Stuart Little, estar cercada por pessoas que se importam conosco é uma das melhores sensações do mundo. Você sente que poderia cair milhares de vezes, e mesmo assim, nunca encostaria o chão, porque aquelas pessoas estariam lá para impedir que isso acontecesse. Eu estava mesmo dizendo para Quinn um dia desses que o amor machuca, mas ele também cura. Espero que esse amor possa curar vocês duas (e nem venha me negar que você não está de quatro pela versão super gay da Barbie, vulgo Quinn Fabray, porque eu sei que você está).

É o seguinte, pequena miss sunshine, a Garbie (gay Barbie) vai me matar se souber que eu disse isso… Para o meu próprio bem, espero que ela não leia o que estou escrevendo… Mas o tanto que você está arriada por ela, ela está arriada por você. Então façam um grande favor a humanidade, e se ajeitem logo, porque não acho que vou aguentar mais assistir Quinn se reprimindo toda aqui. Sério. Não faz bem pra saúde. E eu já saí do armário há muito tempo; não tenho mais paciência pra quem tá começando.

Ok, ok, falando sério… Olha, Rachel, eu sei que você gosta dela. Eu vejo isso nas suas palavras, nas suas atitudes. Não sei se você mesma já se deu conta disso, ou se está tentando não sentir, mas, seja como for, eu quero que você saiba de uma coisa. Se você tem medo que seus sentimentos possam não ser recíprocos, então não tenha. Não estou dizendo que são, até porque se forem ou não, não cabe a mim dizer isso. O que estou dizendo é que Quinn se importa muito com você. Você a tocou de uma forma que eu jamais vi acontecer antes. Quinn foi sempre muito fechada, muito na dela, nunca se abriu pra ninguém.

Até você aparecer. Não sei que tipo de mágica vocês, gnomos, fazem… Seja o que for, você encantou minha amiga. Você a conquistou de uma forma que fez ela se abrir. Você não vê a diferença, Rachel, mas eu conheço essa mulher há séculos, e eu vejo. Eu sei. Você faz bem a ela tanto quanto ela faz bem a você.

Então, se você ignorar todas as minhas piadas, eu quero que você tire duas coisas dessa mensagem: a primeira é que estou extremamente grata pelo que você fez por mim. Eu não sabia o quanto precisava disso. Nunca tinha parado para pensar no quanto o passado ainda me afeta. Sei que é um longo caminho até a cura, mas acho que o mais importante é sempre dar o primeiro passo, e continuar andando. Eu tirei um tempo para reavaliar minha vida, minhas decisões, e percebi que não estou vivendo como gostaria de viver. E os dias são curto demais para serem desperdiçados.

A segunda coisa é que sua amizade com a Quinn é algo valioso. Algo valioso para você, e algo valioso para ela. Vocês são importantes uma para a outra, porque vocês se tornaram melhores. E esse é exatamente o tipo de pessoa que deveríamos escolher para ter por perto. Pessoas que nos façam lutar mais; pessoas que nos incentivem a sermos as melhores versões de nós mesmos; pessoas que nos compreendem, ou quando não compreendem, que nos apoiam de qualquer jeito.

Eu sinto que o futuro reserva muito mais a você e a Quinn do que vocês mesmas possam imaginar, mas isso é algo que só o tempo pode dizer.

Até lá, tudo o que posso dizer é: obrigada por tudo.

Da sua mais nova amiga,

Santana Lopez.








Santana não está me deixando ler o que ela escreveu, então estou assumindo o pior (risos). Peço desculpas logo por qualquer besteira que ela tenha dito. Você sabe, é a Santana.

Até mais, então, minha Rach.

Com carinho,

Quinn.




*






— Muito bem, o que está errado? — perguntou Kitty, sentando-se ao lado da amiga no sofá minúsculo. Rachel estava com o computador no colo há uns bons trinta minutos, e encarava a tela fixamente, quase sem piscar, uma expressão fechada em seu rosto. — Você parece que acabou de receber a notícia que a Broadway vai deixar de existir, ou algo do tipo.

Isso parece ter chamado a atenção de Rachel, porque ela se virou para olhar Kitty com o cenho franzido. A garota loira revirou os olhos, e puxou o computador para perto de si, apontando a tela num pedido mudo para ler o que Rachel estava olhando. A garota concordou com um aceno de cabeça, e passou a observar as próprias mãos com interesse.

Kitty leu tudo sem dizer absolutamente uma palavra. Quando terminou, ela soltou um longo suspiro, e colocou o notebook na mesa de centro, antes de se virar e encarar Rachel, que não parecia ter a coragem de fazer o mesmo.

— Você quer falar sobre isso? — indagou a garota loira.

— Não — murmurou Rachel.

Kitty observou Rachel por longos segundos. Por fim, ela deu de ombros e sorriu.

— Então, vamos assistir A Pequena Sereia? Prometo não te bater se você cantar as músicas.

Ela não esperou que a amiga dissesse nada. Correu para o próprio quarto, pegou o DVD, colocou no computador, e conectou o computador à televisão. Ela apertou o botão do play, e voltou para o sofá para se sentar ao lado de Rachel, que continuava calada. Kitty tomou as mãos de Rachel com as suas, fazendo a garota a encarar, mas Kitty fingiu não perceber.

Kitty Wilde podia ter muitos defeitos, e ela estava ciente da maioria deles. Ela sempre foi do tipo de pessoa que escolhia se esconder, ao invés de lutar. Não que ela não fosse forte o suficiente para lutar suas próprias batalhas, mas porque ela temia o fracasso mais do que qualquer outra coisa. Ela cresceu sofrendo a pressão em seus ombros de ter que sempre a melhor. Ela nunca se contentou até estar no primeiro lugar. Ela precisava ser melhor que todos os outros — e se seus talentos não bastassem, então ela faria de tudo para tirar a competição do caminho. Ela jogava sujo, e muito embora isso a incomodasse, ela não deixou de fazê-lo.

Não até conhecer Santana Lopez. Ela teve bastante consciência, desde o começo, o quanto Santana e ela eram parecidas em suas personalidades. As duas eram extremamente sarcásticas, e se escondiam atrás do humor ácido para não demonstrar nenhuma vulnerabilidade; as duas eram muito protetoras em relação às apessoas que elas amavam, além de serem bastante teimosas e cabeça quente. As semelhanças, porém, acabavam por aí. Enquanto Santana tinha coragem de ser ela mesma, Kitty estava sempre fingindo ser outra pessoa; enquanto Santana enfrentava as situações de cabeça erguida, Kitty fugia dos confrontos, ao menos que tivesse a certeza de que podia vencê-los; enquanto Santana não tinha medo de correr atrás daquilo que realmente queria, Kitty sequer sabia o que ela queria.

Kitty não percebeu o quanto precisava de alguém como Santana em sua vida, até a morena aparecer. Durante todo o tempo que se comunicaram, Santana a ensinou lições valiosas. Por causa disso, a vida de Kitty havia mudado. Ela havia mudado. Levou um tempo para que ela tivesse coragem de dar o primeiro passo, e muita coragem para continuar andando depois de dá-lo, mas ela havia conseguido. Ela havia se libertado da prisão que ela criara para si mesma. Ela devia muito a Santana, e tinha um lugar especial para a garota em seu coração, assim como ela sabia que Rachel sentia o mesmo em relação a Quinn.

Ou, ao menos, foi assim que começou. Ao contrário de Santana, que conhecia Quinn há muitos anos, Kitty não sabia tudo sobre Rachel. Levou um tempo para que ela conseguisse enxergar além das aparências; para que ela visse a Rachel que Quinn tão facilmente conseguiu enxergar. Mas, quando viu, Kitty a amou. Não no sentido romântico — seu coração pertencia à Marley —, mas Rachel se tornou uma parte importante de sua vida. Uma parte que a mantinha com os pés no chão. Uma parte que a lembrava da pessoa que ela tinha sido, da que ela era, e da que queria ser.


Justamente por isso, foi tão difícil ver sua amiga se apaixonando, e não poder falar absolutamente nada a respeito disso. Desde que sua amizade com Rachel começou, Kitty percebia o modo que os olhos dela brilhavam quando falavam da soldado; ela via a excitação de Rachel todas as vezes que recebia uma carta, ou sua apreensão quando elas demoravam para chegar. Ela observou durante o verão que Rachel estava começando a perceber seus próprios sentimentos, e lhe deu o espaço que ela precisava para perceber como ela se sentia em relação a Quinn.

Kitty sabia que Rachel era do tipo de pessoa que não tinha medo de amar, e tinha medo de não ser amada. Ela sabia o que era dor; sabia o que era sofrer; sabia o que era perder alguém importante. Talvez por isso, ela sempre dava uma grande parte de si mesma a todos que amava, como se ela quisesse provar o quanto eram importantes. O problema é que, apesar de dar uma parte de si mesma, Rachel nunca se dava ao todo. Ela guardava uma parte para si. Ela trancava essa parte em seu peito, bem escondida, de forma que ninguém jamais pudesse acessá-la. Ela guardava, porque tinha medo de que todas as partes que ela dava aos outros fossem acabar em pedaços, e ela tivesse ao menos uma sobrando para a manter viva.


E Quinn havia roubado aquela parte. Quinn havia a deixado mais vulnerável do que ela jamais estivera. E Rachel estava com medo disso. Kitty queria poder ajudá-la de alguma forma, mas Rachel nunca foi até ela, nunca lhe disse nada. Então ela esperou em silêncio, sabendo que o momento chegaria eventualmente.

— O que eu faço? — Rachel perguntou, depois de um longo tempo em silêncio, levantando o rosto para encarar Kitty, as lágrimas descendo lentamente por suas bochechas. Kitty limpou suas lágrimas, e lhe ofereceu um sorriso reconfortante.

— O que você quer fazer?

— Eu não sei, K.

— Rach, eu lhe disse como descobri que estava apaixonada pela Marley?

— Não, acho que não — disse Rachel, endireitando-se no sofá, procurando uma posição mais confortável. Kitty revirou os olhos, e passou o braço pelos ombros de Rachel, trazendo-a para perto de si. Rachel deitou a cabeça no ombro de Kitty e fechou os olhos, concentrando-se no som da voz de sua amiga.

— Eu sempre a observei. Desde a primeira vez que a vi. Acho que tenho uma queda por morenas — disse Kitty, cutucando Rachel na cintura, fazendo-a soltar uma pequena risada. — Então sempre que eu via nos corredores, na sala de aula, no ginásio… Eu não conseguia tirar meus olhos dela. Era como se ela me hipnotizasse de alguma forma. E claro que eu lutava contra isso, o que quer que “isso” fosse. Até que teve esse dia… Alguma apresentação do clube do coral no ginásio, não consigo me lembrar do que foi. Marley teve uma parte do solo da música, e quando a ouvi cantar…

Kitty suspirou dramaticamente, fazendo Rachel rir novamente.

— Eu já sabia que sentia alguma coisa por ela. Naquele dia, depois da apresentação, eu a encontrei no banheiro da escola. Você lembra? Que jogaram tomates em vocês?

— Como esquecer? — Rachel murmurou. — Foi terrível.

— Sim… Então eu a encontrei no banheiro, completamente suja de tomate, com uma cara horrível no rosto, limpando-se na pia com papel toalha, e tudo que eu consegui pensar foi como ela estava linda, e no quanto eu queria beijá-la. Foi quando eu percebi o quanto realmente gostava dela.

— Parece ter sido especial.

— Não, foi terrível — Kitty balançou a cabeça, rindo. — Isso só me fez tratá-la ainda pior. Honestamente, não sei como ela ainda está comigo. Com o meu temperamento, e tudo que fiz a ela…

— Você é incrível — disse Rachel, erguendo a cabeça para encarar a amiga. — De verdade, K. E merece ser feliz ao lado da pessoa que você ama.


— Você também merece, Rachel.

Gentilmente, Kitty afastou Rachel de si, e a segurou pelos ombros, encarando-a com intensidade.

— Eu sei que você está assustada, e isso é normal. Só não deixe que o medo se torne tudo, ok? Sei como é isso. Como é tomar atitudes baseadas no medo. E não é legal, Rach. Nunca saí nada de bom por causa disso.

— É só que… — Rachel mordeu os lábios —, ela está tão longe. Não sei o que pode acontecer a ela. E se… E se algo acontecesse? Eu não sei se suportaria, K. Eu já perdi minha mãe, e Quinn significa tanto para mim.

— Você não pode viver pelo “e se”, Rachel. Coisas ruins podem acontecer a qualquer onde de nós, aonde quer que estejamos.

— O que você sugere, então?

— Sugiro o que você faça o que faria se não estivesse assustada. Faça o que seu coração mandar, Rae — Rachel abriu um largo sorriso para a amiga, e Kitty revirou os olhos. — Agora será que podemos voltar ao filme? Você estragou a melhor parte. O príncipe quase morreu afogado.

Rachel soltou uma grande risada, e concordou com um aceno de cabeça. Kitty sorriu. Dever cumprido, ela pensou, antes de retornar o filme a parte que estava, e voltar a se sentar no sofá, sentindo-se bastante satisfeita consigo mesma. Era bom ajudar alguém, para variar.



*






De: Rachel Berry (rachelberry@zwer.com)

Para: Quinn Fabray (qfabray@zwer.com)

Assunto: RE: Santana




Querida Quinn,



É uma via de mão dupla, não é? Assim como você foi descobrindo mais a meu respeito, eu descobri mais ao seu. E a pessoa que conheci é simplesmente maravilhosa. Você não tem ideia do quanto significa para mim, Quinn. Gostaria que você soubesse exatamente o quanto. Eu vou demonstrar para você um dia, só preciso pensar nas palavras que quero dizer. Palavras que não me vem a mente agora, então… Bem, prioridades, não é? (risos).

Sua mãe também parece ter sido maravilhosa, Quinn. Quero dizer, os seus pais parecem ter sido ótimos. Você os amava muito, não é? Posso entender isso. Posso entender sua dor. Mas sabe, Quinn, uma coisa que a vida me ensinou é que quando você perde alguma coisa, você ganha outra tão maravilhosa quanto.

Eu também penso sobre minha mãe às vezes. Penso no que teria acontecido se ela nunca tivesse ido trabalhar. Penso nas pessoas com quem ela trabalhava; nas pessoas que estavam lá só de passagem. Não parece justo, não é mesmo? Não é justo. E eu concordo plenamente com você. Gostaria que as pessoas se lembrassem nessa data não dos números, mas de todos que foram tocados por essa tragédia de alguma forma. Não só dos que morreram, mas também dos que tiveram que continuar vivendo ao perder aqueles que amavam.

Acho que todos precisam de mais amor. As pessoas precisam aprender a ter mais carinho, mais compreensão, mais respeito e tolerância em relação ao próximo. Seria um mundo bonito, não seria? Gostaria de poder viver nele.

Sobre Santana… (risos), ela é bem espirituosa. Gostei dela. De verdade. Você é extremamente sortuda por ter uma amiga que se importe tanto com você, Q. Pelo jeito que ela falou sobre você, não tenho dúvidas que Santana se atiraria na frente de uma bala por você (o que espero que nunca aconteça, porque não quero que nenhuma das duas se machuque).

Diga a ela, por favor, que fico muito feliz em saber que a mensagem da Brittany pode ajudá-la de alguma forma. Às vezes a gente só precisa de um empurrãozinho para chegar a algumas conclusões, e de outro empurrãozinho para tomar alguma atitude. E é pra isso que servem os amigos, não é? Para nos apoiarem quando precisamos, mas também para dizer que estamos agindo como idiotas quando necessário (risos). E também para dar aquele empurrão quando precisamos :p

Você não sabe o quanto fico feliz em saber que as coisas finalmente estão indo bem por aí. Eu estava realmente preocupada com a sua segurança, e se alguma coisa acontecesse com você… Como eu disse antes, Quinn, você é muito importante para mim. Já perdi muito nessa vida. A última coisa que quero é também perder você.

Acho que não contei, mas Brittany vem me dando aulas particulares de dança. Ela é espetacular. Nunca vi uma dançarina tão talentosa. E ela tem uma voz muito bonita, também. Bastante agradável. E eu totalmente a invejo por conseguir ser tão boa nas duas coisas (risos). Brincadeiras à parte, é bem legal da parte dela tirar um pouco do seu tempo para me ajudar. Estou melhorando bastante por conta disso. Até a professora July está tendo dificuldades em encontrar algo para criticar (mas quando não tem, ela inventa; imagino que ela faça isso pelo prazer em tentar me fazer desistir. Desculpe, crazy July, sua tática não está funcionando).

Queria tanto poder ver você, Quinn. Poder te dar um grande abraço. Ouvir o som da sua voz. Já imaginei ela de várias maneiras diferentes, mas nenhuma parece ser boa o bastante. Espero que um dia possamos nos encontrar. Eu certamente espero ansiosamente por esse momento. Pelo momento em que poderei colocar meus olhos sobre você pela primeira vez. Soa como um sonho para mim (risos). Sendo bem sincera, não tenho ideia de como seria minha reação. Mas, independentemente de qual fosse, de uma coisa não tenho dúvidas: eu estaria feliz.

Falando em felicidade, quem parece de bem com a vida é a Kitty. Você não sabe o quanto é estranho vê-la sendo tão carinhosa. Totalmente esquisito, como se eu estivesse em uma espécie de realidade paralela (risos). Não que ela não seja um boa amiga; ela só não é esse tipo de amiga, que curte beijos e abraços. Imagino que você me entenda em relação a isso (Santana deve ser igual, não duvido).


Preciso ir agora. Meus amigos e eu vamos sair para um bar que tem karaokê. Algum pedido especial? (risos). Pode me dizer. Quem sabe eu não cante para você quando nos encontrarmos pela primeira vez ;)

Até mais, querida.

Com amor,

Rachel.


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Notas finais do capítulo

Até mais! :D