Viúvas Negras escrita por Estressada Além da Conta


Capítulo 2
Arquivo 2: Três mensageiros




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— SHOUNEN! O QUE VOCÊ FEZ COM MINHA GAROTINHA?!

— Não grite, monge rejeitado! — Ayako exclamou, mirando um soco na cabeça do monge.

— Não se preocupe, Bou-san... Você ainda é meu preferido... — Osamu tomou uma das mãos do monge com as suas, fazendo sua melhor expressão de garoto apaixonado. Mai resistiu a vontade de rir — Mas não quero sofrer sozinho por sua causa... Espero que possa entender...

— Me larga! - Houshou puxou sua mão de volta bruscamente — Quer parar com isso?!

— Viu? Você nunca dá trégua quando estamos na frente dos outros! Isso magoa! — Ele pôs a mão no peito e deixou escorrer suas lágrimas de crocodilo — Por isso, agora eu sou o amante de Mai.

— Como é?! Não estou sabendo disso! Você disse que tinha esquecido ele! — Mai não resistiu, entrando na brincadeira com uma careta de raiva e apontando para o monge acusadoramente.

— Mai, não seja hipócrita, você também carrega outro homem em seu coração! — O estudante colocou as mãos no peito — Estamos usando um ao outro, que romance condenado!

—… Já acabaram? — A voz de Naru veio fria, irritação evidente em seus olhos, mesmo quando estes se recusaram a deixar o papel em suas mãos. Mai suspirou.

Ela desejou, por um segundo, que a irritação de Naru viesse de ciúmes por ela, mas logo jogou o pensamento fora. Naru provavelmente só não queria mais barulho, e Yasuhara tinha um dom inato de irritar qualquer um, principalmente alguém irritadiço como o esper. E outra, ele provavelmente achava que ela ainda gostava do Gene, e devia pensar que ela sair com o outro garoto era sua forma de superar aquela paixão.

Cientista idiota.

— E quando nós vamos ver "Lábios Rubros"?

— Hoje, mais tarde. Se o Naru-chan deixar a gente sair mais cedo, podemos chegar antes mesmo dos trailers.

Todos olharam para o chefe, que finalmente tirou seus olhos do papel que fingia ler, apenas para não dar bandeira de que estava ouvindo tudo—a morena quase riu do quão óbvio ele estava sendo—, e os fitou com aquele olhar que dizia praticamente com todas as letras um belo "não". E as razões dele eram: a) ela estava ali pra trabalhar, não para se divertir; b) se ele a liberasse, todos iam fazer a maior algazarra para serem liberados também.

Resumindo: Naru não queria se irritar por culpa de Osamu e Mai. Ponto final.

— Naru? — Mai chamou.

— Mai, chá.

— De novo? Quanto chá você consegue tomar, inglês idiota?! — Disse, dirigindo-se para a cozinha. Felizmente, como ela já havia feito chá alguns minutos antes, não demoraria muito dessa vez. Rapidamente a garota preparou o chá, voltando para a sala que havia caído em silêncio suspeito.

— O suficiente. — Naru disse subitamente, e Mai não demorou muito para entender que era a resposta para sua reclamação. O cientista realmente esperou ela voltar para responder! E ela era infantil?!

— O suficiente para ter bexiga solta. — Ela retrucou, distribuindo as xícaras entre os presentes.

Antes que Naru pudesse fazer algum comentário que faria Mai ficar com tanta vontade de agarrar o pescoço dele e estrangulá-lo, que Bou-san teria que segurá-la para que não o fizesse—e acredite, ela estava bem perto de fazer isso mesmo—, alguém bateu na porta. Finalmente um cliente.

— Mai, abra a porta.

— Sim, senhor, capitão! — Mostrou-lhe a língua, abrindo a porta — Em que posso ajudar?

— Em meus braços! — A pessoa se jogou em cima da menina.

Um segundo depois, estavam Mai e um garoto de cabelo castanho escuro no chão. Ele a abraçava pela cintura com um braço, em cima dela, enquanto a garota apoiava as duas mãos no torso dele. O rapaz tinha amortecido sua cabeça com uma mão, e ela sentiu quando ele esfregou o nariz em seus pescoço. Ela conhecia aquela voz, e aquele gesto, e o cheiro de canela.

— K... Kenji-kun?

— Mai-chan! Mai-chan! — Kenji se levantou, puxando-a junto — Ah, Mai-chan! Senti tanto sua falta!

— Kenji, você vai matá-la. — Outro garoto idêntico ao primeiro comentou, entrando no escritório.

— Solta ela, seu babaca! — Outro garoto idêntico aos dois separou a moça de Kenji, que caiu no chão.

— Não precisa me empurrar, Kaoru!

— Você ia sufocá-la! E você, Kyo, fica ai parado, sem fazer nada!

O grupo observava tudo em silêncio, desligados do mundo a sua volta graças à surpresa. Por isso ninguém viu quando e como Naru surgiu ao lado de Mai, a puxando para longe dos três. Ele ficou na frente dela, como quando a protegia de um espírito, e a moça nem sequer hesitou em colocar suas mãos em seu braço numa tentativa de acalmá-lo. Os visitantes não eram perigosos. De fato, eram antigos amigos dela.

— Agora que ela está salva, podem se apresentar e contar o motivo por que vieram aqui. Ou estão em meu escritório apenas para agarrar minha secretária?

— Perdoe meus irmãos. Sou Sakaki Kyo. Prazer em conhecê-los.

— Meu nome é Sakaki Kenji! Eu gosto de sorvete e videogames! — Kenji se apresentou, deixando um sorriso enorme aparecer em seu rosto.

— Sakaki Kaoru. Não me importa quem vocês sejam, apenas vamos acabar com isso rápido. — Kaoru resmungou, de braços cruzados.

— Eles são os trigêmeos Sakaki… Meus amigos de infância! — Mai exclamou, ainda segurando o braço de Naru gentilmente.

Os trigêmeos possuíam olhos verdes e pela clara, com rostos finos e perfeitos. Eram altos e tinham cabelos castanhos cortados do mesmo jeito, assim como Mai se lembrava. O que os diferenciava, além da personalidade, eram as roupas. Kyo, o mais velho, vestia-se sempre de verde ou azul e em tons escuros. Kenji, o do meio, gostava de cores berrantes, como amarelo e laranja. E Kaoru, o mais novo, optava sempre por vermelho ou preto. Mas nenhuma das mulheres presentes seria capaz de negar que eles eram lindos. Até mesmo Hara-san, que dizia ter um amor profundo por Oliver Davis, estava quase arrancando um pedaço deles com os olhos.

— Mas o que vocês vieram fazer aqui, meninos?

Naru lançava um olhar de puro desagrado aos trigêmeos. Mas a repentina sensação de divertido deboche veio à mente, e a garota sorriu afavelmente, sabendo que aqueles sentimentos vinham do seu guia espiritual, Gene. Por mais que ela gostaria que ele finalmente encontrasse a paz eterna, era reconfortante saber que ele estava lá. Impedia a solidão de consumi-la por completo. E era um parceiro maravilhoso para zoar o Naru.

— O que nós faríamos num centro de pesquisa do paranormal? Comprar ovos de páscoa? — Disse Kaoru, sarcástico — Não seja boba, Mai.

— Ué, mas você não disse que queria ver a Mai-chan?

— Cale a boca, Kenji!

— Vocês vão me dizer por que estão aqui ou vou ter que bater em vocês? — Mai perdeu a paciência. Honestamente, as pessoas deviam apreciar mais seus esforços em impedir Naru de destruir elas  — E acreditem, hoje em dia eu sou ainda muito mais forte que antigamente.

— E creio que não seja certo de minha parte segurá-la. Afinal, ela tem bons motivos. — Naru comentou, ameaçando sair da frente.

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Algum tempo depois, e sem que ninguém entendesse como, os três estavam devidamente acomodados, e distantes das mulheres. Mai trouxera o amado chá do inglês narcisista. E Oliver fez questão de fazer sua assistente permanecer ao seu lado enquanto ela anotava tudo, lançando um olhar para os rapazes que seria capaz de matá-los em meros segundos. Lin meneou a cabeça, o quão óbvio seu chefe podia ser? Era realmente incrível como Mai não sabia o quanto era amada pelo cientista.

— Então?

— Viemos a pedido de nossa Jovem Mestra. — Kyo se pronuncia — Nós trabalhamos na mansão dos de Carmesí, uma antiga família. Há algum tempo, coisas estranhas têm acontecido... Gritos masculinos. Correntes se arrastando. Um choro de mulher. Risos de crianças. Já fomos puxados por algo e sempre é quando algo está prestes a nos ferir ou nos matar. As chamas das velas já ficaram negras, as pinturas parecem se mexer e...

— E as bonecas! — Kenji exclamou — Tem duas bonecas de pano que, não importa como se tente livrar delas, sempre voltam para a cozinha.

— E sua patroa?

— Nunca sai de seu quarto.

— Os outros empregados já viram tudo isso?

— Além de nós há apenas uma barqueira.

— Barqueira?

— A mansão principal fica numa ilha. Essa mesma. A Ilha das Viúvas Negras, onde a população masculina é quase nula.

— Eu já ouvi falar dessa ilha... — O padre comentou — É aquela cuja lenda diz que todos os homens que casaram ali morreram ali, deixando suas esposas viúvas.

— O fundo do buraco é mais embaixo. — Kaoru replicou — Os homens que casam com as de Carmesí morrem assim que sua primeira filha completa três anos. Dificilmente um deles sobrevive, mas nenhum passa da terceira filha.

— E são sempre garotas?

— Sim, a família nunca teve um filho homem.

— Mas isso é estúpido! — Bou-san reclamou — Se os pretendentes sabem que vão morrer, pra que se casar?

— Por amor. — Mai respondeu — A lenda diz que todas daquela família são amáveis e muito bonitas. Dizem que, para um homem solteiro, elas eram irresistíveis. Histórias de irmãos se matando para poder casar com uma delas não são mentiras.

— Porém elas escolhem apenas um. Após ser escolhido, não tem mais volta. — Kyo sorriu, misterioso — Isso vai contra "O amor deixa a vida mais bela", não é, Mai?

— Você não vai tirar a pessoa romântica que existe em mim!

— Naru. — Lin chamou, tirando o chefe de seus pensamentos. Naru suspirou.

— Aceitamos o caso... Com a condição de que Mai não vá.


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