Acordou em seu quarto com uma brisa vindo de sua janela. Mesmo sabendo dos perigos que rondavam, mesmo sabendo que era imprudente, principalmente por ser a líder do clã, a deixava aberta à noite. A lua, sempre ela. Iluminava o aposento, sua face. Refletia em seus olhos, fazendo-os parecer dois aprendizes a lhe observar. A lua. Para sempre ela. Mesmo estando na escuridão, longe de seu sol, continuava a brilhar. Como um anjo que não desiste apesar das tormentas. E hoje parecia que reluzia em sua cor avermelhada a dor de seus sentimentos.

            A lua lembrava ela. Solitária na imensidão negro-azulada. Esperando por algo, alguém que a libertasse. Mas ao chegar na hora de sua partida, vinha a vinda dele, a quem tanto ama. O sol, sempre alegre e ativo, parecia não saber da espera da lua. Continuava a transmitir felicidade a todos em sua grande área azul-clara. Um azul tão doce e brilhante quanto os olhos de seu amado. O sol, o seu sol, com certeza era Naruto.

            Levantou-se e foi até a janela. A brisa suave combinava perfeitamente com o clima quente sem exageros que era Konoha. Da mesma forma que a lua, olhava sua vila como se esperasse que Naruto aparecesse de repente e lhe tirasse dali. Do clã, com suas regras sujas e corrompidas. Daquela casa que não trazia mais que lembranças dolorosas de sua mãe. De sua família que não fazia mais que deixar tudo no silêncio e na humilhação. Mas, como a lua, estava fadada a apenas sonhar. Naruto jamais corresponderia seus sentimentos. E mesmo sabendo disso, resolveu declarar-se naquela luta contra Pain.

- Seu sorriso me salvou – lembrou-se em voz alta de suas palavras naquele dia – Aishiteru, Naruto-kun.

            Olhou mais uma vez a lua, deu sua melancolia para ela e voltou-se para trás.

            Sentiu seu pulso ser segurado.

            Nunca fora boa em uma característica básica de um shinobi: perceber chakras quando se está distraído. Mas aquele, mesmo não tendo percebido antes, era inconfundível.

- Aishiterumo, Hinata-chan.

            O sol finalmente viera encontrar a lua.

            Hinata não teve coragem de se virar, nem ao menos para perguntar como havia chegado ali, passado pela guarda Hyuuga. Algo nela, intuição talvez, lhe dizia que nada precisava ser feito. Pelo menos não por ela.

- Venha comigo – ele a puxou pela mão para logo depois saltarem os dois andares da Mansão Hyuuga.

            Fizeram o mínimo de barulho possível, esconderam seus chakras e foram andando silenciosamente até a floresta próxima ao clã. Correram até ter certeza de que ninguém os via. Estavam próximos de uma linda cachoeira.

            Ele se virou para ela.

- Eu estive te observando sempre que pude, desde que voltei com vida daquela batalha contra a Akatsuki.

- Naruto-kun...

- Shiii... – ele colocou seus dedos sobre os lábios dela – Eu acho que você merece uma resposta decente... Eu a enrolei por muito tempo – corou.

            Hinata se calou. Olhos nos olhos, pérolas nas safiras.

- Talvez eu tenha sido um grande bocó... Ah! Talvez não – ele baixou o olhar, um pouco envergonhado, apenas por segundos – Eu fui um grande bocó! Lutando por uma pessoa que eu sabia que não me amava, não percebi seus sentimentos.

            Ele fez uma pausa, observando o rosto da mulher a sua frente mais atentamente.

- Sempre pensei que o primeiro a me reconhecer fosse o Iruka-sensei, vindo acompanhado de meu time. Mas suas palavras me abriram uma visão que eu nunca tinha imaginado antes... Você sempre esteve lá, Hinata. Mas eu achava que você só estava para zombar, como todos os outros. Nunca imaginei que era porque me amava.

            Hinata sentiu lágrimas incontroláveis caindo sobre seu rosto, sentiu Naruto as limpar delicadamente.

- Você sempre esteve ao meu lado Hinata, eu nunca retribuí! Sei que provavelmente deve ter sofrido por seu silêncio e minha incompreensão. Gomen nasai, Hinata-chan.

            Malditas lágrimas aquelas que não paravam de cair impedindo-lhe de demonstrar sua felicidade. Por impulso, o abraçou. Segurou firme em seu casaco, deixando, enfim, que as lágrimas caíssem como quisessem. Naruto a correspondeu.

- Você foi meu sol Naruto-kun, quando todos me diziam ser uma fracassada sem talento, me comparando à Neji... Lembrando-me de minhas responsabilidades quanto líder. Quando todos me humilhavam e me olhavam torto. Quando todos estavam contra mim... Eu vi seu esforço em tentar ser reconhecido.

            Uma pausa para tentar se acalmar. Ela o segurou mais forte.

- Hinata-chan – sussurrou Naruto ao seu ouvido – nós somos iguais.

            Ela o olhou. Provinha dali sua fonte de vida, de admiração, de exemplo, de amor. Provinha do Jinchuuriki que toda Konoha humilhou.

            Lentamente e hesitando de leve, ele encostou seus lábios nos dela. Seu primeiro beijo, meio atrasada fechou os olhos para sentir mais o sabor daquilo.

            O beijo se aprofundou com certa ingenuidade da parte dos dois. Ela pode sentir quando foi encostada em uma árvore, quando os braços dele envolveram sua cintura e sua nuca, e quando ela apertou mais ainda seu abraço. Estava beijando Naruto. E era real.

            Afastaram-se levemente para respirar. As duas faces rubras, sem saber o que falar. O que sentiam era como se finalmente estivessem em casa. Em seus próprios lugares ao qual pertenciam. Nunca haviam provado de tal felicidade.

            Passaram a noite ali, com mais algumas palavras a serem ditas e recordações a serem lembradas. Não pensaram no tempo, na falta que sentiriam deles ou até mesmo se os descobririam naquele lugar. Naquele momento, eles queriam contar ao mundo que finalmente encontraram-se.

- Olhe, Hinata-chan – chamou Naruto, sentado apoiado em uma árvore com ela no meio de suas pernas – Está tendo um eclipse lunar!

            Hinata olhou para a lua, refletindo sua alegria em seus aprendizes lunares. Estava ali a felicidade. A lua finalmente teve seu sol.

- Aishiteru, Hinata-chan.

- Aishiterumo, Naruto-kun.

            Não havia mais nada a ser dito.