.. Três meses depois

As últimas folhas começavam a se desprender dos galhos secos, Naomi estava com a cabeça encostada na janela do táxi, seus olhos pareciam se perder por entre as calçadas cinzentas da bela Londres, enquanto seu assistente tagarelava, a jovem distante e um pouco diferente da divertida garota de Boston, não tinha contado a ninguém sobre os problemas que só acarretaram pontos negativos em sua vida, abarrotando todos seus projetos de outono/inverno.

– Não acredito que a Cyrus teve a ousadia de usar esse vestidinho brega! - resmungou Toddy, enquanto mexia em seu celular, não houve uma resposta pronta como sempre esperada de sua design, então se virou na direção de Naomi e a cutucou tirando-a daquele maldito transe. - Credo, Diva. Está parecendo que viu um fantasma! Ou está de nova paixão.

Naomi soltou um longo suspiro, ajeitou seu sobretudo e o encarou.

– Acho que deveria estar preocupado com os relatórios que irá apesentar para os diretores da revista. - respondeu áspera. - Não tenho tempo para pensar em bobagens.

Toddy franziu o cenho, balançou a cabeça e voltou sua atenção para a tela do celular.

– Afinal, o que aqueles caipiras de Boston fizeram com minha diva alegre? Até parece que foi em um funeral. - resmungou.

Teria sido melhor, pensou enquanto mordei o lábio, assim que o táxi estacionou na frente do belo restaurante "Tremont Ville", ela fechou os olhos por um segundo. Não demorou para abrir a porta e descer, sentiu uma leve brisa gelada adentrar seu sobretudo preto, fazendo-a fechá-lo, Toddy pagou o táxi.

– Definitivamente Londres é bem caidinha. - resmungou.

Naomi balançou a cabeça, riu, ele estava apenas fazendo o de sempre : Reclamar. Sem demora, Toddy estendeu sua mão na direção dela, que não recusou e soltou uma risada.

– Agora sim, ao menos uma risada, não é cherrie? - disse, dando lhe uma piscadela com o olho esquerdo.

– Cala a boca e se comporta. - respondeu Naomi, encarando-o. - Esses caras são duros na queda.

Toddy suspirou, colocou a mão livre sobre o peito, arrancando outra risada de Naomi. Não adiantava tentar ser, seria ao lado de um rapaz do Brooklin.

– Qual é? Nasci no Brooklin, cherrie. Eles quem tem que ter medo de mim. - disse.

Ambos caminharam na direção da imensa porta de vidro, um rapaz de altura mediana abriu a porta para eles, Naomi agradeceu com um gesto de cabeça. Seguiram na direção da recepção do local, uma mulher alta vestida elegante estampava um sorriso automático nos lábios pintados de nude quando os atendeu, o velho costume britânico de ao menos tentar ser agradável.

– Reservas? - perguntou a jovem loura.

– Sim, em nome de Gooding, reserva para quatro pessoas. - respondeu.

A jovem procurou pelas folhas em tom pardos do grosso livro de reservas, era um pouco antiquado, mas era tolerante já que se tratava dos neuróticos europeus e suas manias estranhas.

– Por aqui. - disse a jovem, apontando para o lado esquerdo do belo restaurante, ao menos o local era fantástico em sua decoração, estilo vitoriano "bem tradicional". - Aqui está, Sr's Gooding.

Toddy encarou Naomi que se segurou para não corrigi-la, realmente não estava com vontade de ser "americana", não naquele momento, um dos garçons se aproximou da mesa e entregou para ambos o cardápio.

– Apenas uma salada. - disse Naomi, fazendo pouco caso do cardápio.

Assim que o garçom se afastou, Toddy se aproximou de Naomi e cochichou sobre suas férias no Hawaii, e como quase morrera afogado nas cálidas águas salgadas do paraíso, fazendo-a se contorcer de tanto rir, mas quando se ajeitou sobre a cadeira, avistou de longe o rosto de Charles, ela não se moveu, lá estava ele, acompanhado por outras três pessoas, duas mulheres bem vestidas e um rapaz de cabelos avermelhados, ela sentiu suas pernas gelarem.

– Credo! - resmungou Toddy novamente, pegando-a de surpresa - Afinal, o que tanto está tirando sua paz? - ao se virar para trás não notou nada diferente, apenas dois casais em uma das mesas atrás de si, ao se voltar para ela, pôde notar que sua cor praticamente desaparecera. - Está bem?

Fora um grande erro ter aceitado a proposta de Gillard para ir até Londres, estava ciente que poderia encontrá-lo, mas realmente achou que seria impossível já que Londres era imensa. Seus olhos estavam tristes, estava com uma expressão de como tivesse levado um golpe. Os lábios de Naomi se entreabriram, como se quisesse dizer-lhe algo, mas foi nesse minuto que os diretores Londrinos apareceram em sua frente, fazendo-a sobressaltar e bater o joelho contra a mesa.

Toddy franziu o cenho surpreso com aquela reação, Naomi rapidamente se levantou e cumprimentou-os, Joice Sullivan e Ullian Silverman.

– Peço desculpas por tê-la assustado. - disse Ullian novamente, antes de se sentar.

– Imagina, estava com a mente longe. - respondeu Naomi, toda sem graça. - Bom, vamos falar sobre a grife que estavam planejando. - disse. - Aliás, meu assistente irá presidir esse nossa conversa, Toddy Benson.

O agradeceu com um leve gesto e logo começou a falar sobre as ideias, enquanto Naomi praticamente engoliu o vinho em apenas um gole, seria um desastre se Charles a visse, ajeitou-se de lado, mas era quase impossível já que estava sentada quase de frente com ele, mas parecia conversar de forma descontraída.

Ela sentia seu coração prestes a saltar do peito e não estava conseguindo disfarçar seu incômodo, era como se estivesse perdida dentro de um tubo.

– Não acha? - perguntou Ullian, tirando-a do transe.

– Desculpa, acho que acordei um pouco distraída nessa manhã. - justificou-se, enquanto limpava a boca com o guardanapo. - Poderia perguntar novamente? - pediu.

Ullian trocou um rápido olhar com sua sócia e assentiu.

– Sobre as cores, outono e inverno requer tons suaves e não neutros como são de costume. - disse, enquanto gesticulava com sua mão. - Talvez tons pastelizados, dourados em vez dos tradicionais pretos e marrons de todos os anos.

– C-Claro, devemos sair da velha rotina e implantar algo inovador e impactante. - se odiou por ter gaguejado no começo. - Algo menos pesado e um pouco leve.

Toddy cutucou a com a ponta do pé, fazenda-a encará-lo, o jovem limitou-se em apenas um gesto "passando a mão sobre o cabelo", era sinal de dar uma desculpa para ir até o banheiro.

– Se me derem licença, preciso ir ao toalete. - disse Naomi.

Ambos assentiram, a jovem se levantou e virou de costas para a mesa de Charles, por um tris ele não a vê, caminhou com passos rápidos na direção do toalete que ficava no fundo do lugar, ao entrar no banheiro, achou que seu coração iria sair de seu peito, caminhou na direção das pias e encostou-se sobre ela, abriu a torneira, tentando distrair sua mente - sempre funcionava -, lavou ambas as mãos e ergueu seus olhos para encarar sua imagem refletida no imenso espelho.

Afinal, não era o fim do mundo, poderia ter encontrado qualquer pessoa, mas quem iria ligar? Devemos deixar o passado para trás, retirou o batom vermelho de sua bolsa e retocou-o.

Perfeito!

Ajeitou os cabelos, respirou fundo tomando coragem e caminhou confiante na direção da porta, ao abri-la deixou sua bolsa cair no chão, abaixou-se para pegá-la e ao levantar acabou trombando em alguém, com um salto de 15 cm era inevitável uma queda, mas sentiu uma forte mão segurar a curvatura de sua cintura, evitando a queda.

– Tá maluco? - resmungou por um segundo, tudo acontecera em questão de segundos que mal pôde perceber com quem trombara, ao terminar de se ajeitar, ergueu os olhos castanhos na direção dele. - C-Charles! - disse de forma nervosa e surpresa.

– Talvez um simples obrigado seria bem mais educado. - respondeu áspero, enquanto a encarava com aqueles belos olhos azuis turquesa.

Naomi perdera toda a noção de como poderia agir diante daquele encontro, sentiu sua garganta secar, não disse nem uma palavra se quer, apenas caminhou para longe dele deixando-o com cara de bobo, aproximou-se da mesa onde estava e segurou na mão de Toddy que se espantou com a temperatura da mão dela.

– Desculpem, mas realmente precisamos voltar para o apartamento. - disse um pouco eufórica. - Reagendaremos outro encontro em um lugar menos agitado, não estou me sentindo bem.

O rosto dela estava tão pálido quanto uma vela de cera, Ullian e Joice concordaram, sem esperar uma possível resposta verbal, Naomi praticamente arrastou Toddy consigo na direção da porta de saída.

– Irá me contar o que a deixou dessa forma? - perguntou Toddy, enquanto ajeitava seu casaco.

Naomi permanecia parada, encarando a rua movimentada na espera de um táxi, mas droga, sempre quando se precisa de um eles praticamente evaporam.