The Cruel Beauty escrita por Tsu Keehl


Capítulo 50
Capítulo 50


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores!
Dessa vez não demorei tanto para atualizar a fic como das outras vezes. O motivo é que eu tinha uma parte deste capítulo já escrito na época que escrevi o capítulo anterior. Mas isso não significa que foi um capítulo fácil de escrever: estando meio bloqueada com essa fic há mais de ano, cada novo capítulo que tenho de escrever é muito trabalhoso e cansativo, o que me faz protelar muito para dar prosseguimento a escrita dela. E por isso que já posso anunciar aqui que a fic finalmente está chegando em seus momentos finais. Talvez reste mais um ou dois capítulos para a história ser finalizada!
Eu até tinha tido algumas ideias leves para continuar mas simplesmente descartei porque essa história já se estendeu por tempo demais e eu preciso findá-la para focar em outros projetos literários. Mas prometo fazer o meu melhor nessa reta final para entregar algo legal á vocês!
Enfim, curtam o capítulo!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/491872/chapter/50

~*~


— O que pensa que está fazendo?!
  Cruello conhecia muito bem aquela voz e, ao ouvi-la foi como se todo o calor do seu corpo evaporasse. Ele permaneceu estático por alguns segundos, acreditando que ainda não despertara direito. Mas a voz repetira a pergunta e ele reuniu coragem para abrir os olhos.
  Não era possível.
 Mas ela estava ali. Exatamente como a via na época em que desfilava na Devil’s e conduzia a empresa com sua mão de ferro enluvada.
  Cruella Devil.
  O rapaz se ergueu lentamente, sentando-se no sofá, estático.
— O que foi? – a voz da mulher o fez ter certeza de que não era uma miragem. – Que cara de assustado é essa? Parece que viu um fantasma!
  Ele franziu as sobrancelhas.
— O que você está fazendo? – Cruella olhou para a mesa com embalagens vazias de comida e partes de roupa espalhadas no chão. – Que deselegância! Parece que você regrediu aos seus tempos de rebeldia a negar sua linhagem!
  Cruello estava se sentindo zonzo e talvez aquilo fosse a consciência de que estava dentro de seu próprio sonho. Já tinha assistido um filme ou lido um livro assim, não se lembrava.
— O que está acontecendo com você, Christian?
  Ele esfregou os olhos e olhou para frente, sentindo seu corpo arrepiar. Sim, ela estava mesmo ali. Fez o sinal da cruz mas em seguida recebeu um tapa na mão vindo da piteira que Cruella Devil segurava.
— O que pensa que está fazendo, seu energúmeno?!
— Ai! Me...benzendo...?
— Você é um Devil! Um DEVIL! – Cruella bateu na cabeça dele com a piteira. - Não entende que um DEVIL não fica fazendo sinais cristãos? Isso é blasfêmia com o nome e a linhagem da nossa família! Muitos antepassados nossos foram perseguidos pela Igreja e até mesmo queimados na fogueira ou decapitados na guilhotina!
— Que eu saiba, com base no que a senhora me fez ler sobre a linhagem e história da família Devil, alguns antepassados foram perseguidos por cometerem desacatos e fomentarem revoltas e não por terem o sobrenome Devil...
— Cale-se! Eu não posso ficar perdendo o tempo que ganhei, para ficar te ensinando sobre a história da família Devil! Eu estou aqui por outro motivo!
— Me...assombrar?
— Acha que eu sou um espírito obssessor que veio te assombrar?
  Cruello pensou em responder “sim” mas se conteve. Na verdade, toda aquela situação era estranha e não sabia se o arrepio e o frio na barriga que estava tendo era por ver Cruella Devil ou se era porque estava vendo Cruella Devil na forma de um espírito. Se ela em vida já o assustava, em morte então...
— T-tia... – começou, a voz um pouco fina. – O que...o que a senhora está fazendo aqui?
— Óbvio que estou aqui para lhe dar uma bronca E não se faça de desentendido! – ela apontou a piteira ameaçadoramente para ele. – Como você pôde...um Devil, o último da linhagem mais pura da família...se enrabichando por uma mera Radcliffe! Neta daquele estropício do Ronald!
—...acho que é Roger o nome dele...
— Dá no mesmo! Me diga que você só está passando o tempo com essa moça, aproveitando para saciar algum tipo de fetiche e que depois vai voltar a sanidade e se portar como um Devil!
  Silêncio. Cruello encarou Cruella, que o encarou de volta.
— Não me diga que...
— T-tia...veja b-bem... – Cruello gesticulou, tentando forçar o típico sorriso. – É preciso que a sen...a senho-ora entenda o contexto que...
— VOCÊ SE APAIXONOU DE VERDADE POR ELA?!
  Cruello Devil nunca pensou que uma agressão física vinda de uma entidade sem corpo físico fosse capaz de realmente causar algum dano no corpo físico de alguém. Mas se aquilo fosse real ou não, estava doendo. Cada bordoada, tapa e golpe de piteira desferido por Cruella Devil e que ele tentava inutilmente evitar rolando pelo sofá e protegendo suas partes mais vulneráveis
— Vergonha! Desgraça! Humilhação pra toda sua raça! Ofensa! Atroz! Não será mais um de nós! Um Devil!
— Desculpa tiaaaa! – ele deixou escapar com um choramingo. – Não foi minha intenção, mas aconteceu! Eu não tenho culpa...
— Claro que tem culpa! Droga! – Cruella praguejou, se afastando. – Meu tempo acabou por enquanto. Mas não pense que irei parar de te assombrar! Eu voltarei. Eu voltarei...

~*~

  Cruello abriu os olhos e viu a tela da enorme TV á sua frente. Percebeu que estava deitado no sofá e se ergueu, sentando-se no mesmo e olhando ao redor. Uma, duas vezes. Sozinho. Estava sozinho.

“Eu sonhei? Péra...eu sonhei que estava tendo um sonho e que minha tia aparecia? Tipo, Inception? Sinistro...”

  Mas aquilo não havia sido real. Não tinha como. Aquela vez  na mansão Devil em que fizera um ritual de invocação para atrair a alma de Cruella Devil só tivera um sonho estranho, nada mais...

“ E ademais, eu não acredito nesse tipo de coisa de espíritos!  O que estou tendo são apenas sonhos oriundos da minha mente excessivamente em movimento que acaba se misturando com lembranças.Até porque se estivesse viva, ela jamais aceitaria que eu me relacionasse com Igraine. Na certa iria tentar me vender para a filha ou filho de algum sheik, como Scarlet já tentou fazer. E no fim das contas, está próximo do aniversário de titia. Isso deve acabar influenciando...”

Aniversário de titia.

Cruello soltou um gemido. Ah, era isso mesmo. Havia esquecido por uns dias, mas lógico que sua mente faria questão de lembrá-lo, enviando um sonho vívido com Cruella Devil o atacando.
  Quantos anos já haviam se passado desde seu falecimento? Cruello preferia não pensar nisso, assim como evitava pensar naquele dia fatídico em que perdera os pais.
Perdas, perdas.
  Coçou os olhos com certa força, para afastar aquele ardume que teimou em querer vir. Não deveria ficar pensando sobre isso, tinha muito no que pensar e no que fazer. Perdas eram perdas, passado era passado.

“ Um dia você precisa falar sobre isso, Christian. Precisa colocar pra fora, encarar para aceitar e superar.”

  Cruello resmungou, afastando tais lembranças. Não precisava disso, já sabia muito bem lidar com as coisas. Era um Devil!
  E falando em lidar com coisas...precisava resolver muitas. O que planejava para levar Igraine era algo mais fácil de resolver e já havia listado o que era necessário, bastava começar a colocar em prática. Afinal, ele tinha uma empresa para manter, assessores para guiar e funcionários para produzir.
  Ainda que Cruella Devil o tivesse deixado há anos, os ensinamentos que ela lhe passara (algumas vezes de forma quase traumática) eram algo que ele procurava seguir devidamente e foi graças a isso  que Christian deixou de ser Devs e se tornou Cruello Devil, sendo respeitado e admirado como um bom herdeiro do legado não apenas da empresa, mas da família. Ele não poderia abrir mão dessa responsabilidade, nunca.
  Bocejou, estalando as costas. Olhou no celular, verificando que a madrugada já estava na metade. Logo teria de ir para a empresa, então nem adiantava voltar a dormir. O melhor a fazer era começar a arrumar as próprias malas.
  Aprovando a própria ideia, rumou para o quarto. Ligou o aparelho de som  em enquanto The Cramps tocava, começou a organizar uma de suas valises. Ao abrir uma das gavetas da mesa de cabeceira, tirou uma pequena caixinha, olhando para ela por alguns segundos.
  Na primeira vez, Igraine tivera a audácia e a falta de noção de recusar (se bem que ele apenas jogou diante dela já desistindo da proposta) mas agora, se passado meses que estavam em um relacionamento, ela não iria fazer isso. Não recusaria Cruello Devil duas vezes!
  Mas ao mesmo tempo, Cruello ponderou. Será que era o certo? Sua tia jamais aprovaria.  Podia ouvi-la praguejar, vê-la atirando objetos em sua direção e chamando os advogados para deserdá-lo, tirando seu nome do testamento e de tudo que herdaria por direito.
  Um arrepio percorreu seu corpo ao imaginar isso.
   Cruello olhou novamente para a caixinha em mãos e as colocou dentro de um bolso interno da valise.
   Cruella Devil havia falecido há anos, não poderia fazer nada contra ele por conta das decisões que ele tomaria para a sua vida. Ou será que poderia?

~*~

  
   Igraine observou as pilhas de roupas devidamente colocadas sobre a sua cama, sentindo-se apreensiva e indecisa.
   Não fazia a mínima ideia do que levar e para seu horror, percebia agora que não possuía roupas que fossem ideais para uma viagem, ainda que não soubesse para onde iriam, de modo que só poderia especular. E suas especulações só reforçavam a ideia de que nada em seu guarda-roupa parecia compatível para os lugares que era provável que fosse.
  Pegou o celular que estava na mesa de cabeceira para verificar as horas. Precisava se apressar. Três dias atrás Cruello havia lhe ligado e sido bem categórico e incisivo a respeito do que fariam. Queria poder conversar com ele pessoalmente sobre isso, mas Cruello disse que estava ocupado demais acertando coisas na Devil’s para, nas palavras dele “conseguir ficar incomunicável por alguns dias sem correr o risco de voltar e a empresa estar um verdadeiro cenário apocalíptico”.

 Releu novamente a pequena mensagem de Cruello, confirmando que já havia preparado tudo e que iria buscá-la na data marcada, que era amanhã.
— E eu aqui nem comecei a arrumar a minha mala!
    Um frio percorreu sua barriga, reacendendo sua ansiedade. Iria viajar com Cruello Devil. Quem diria!
   Estaria mentindo se dissesse que nunca havia pensado nisso. Pensara várias vezes, em segredo, mas com o passar do tempo e a convivência com Cruello, começou a crer que ter dias a sós com ele, livres das responsabilidades do trabalho (na maioria dele) seria algo que precisaria programar com antecedência.
  Mas agora surgia a possibilidade de passar uns dias somente os dois (sabe-se lá onde), Igraine sentia-se ansiosa. Passar alguns dias sozinha com Cruello...a primeira viagem que fariam juntos. Seriam só alguns dias (pois Cruello dissera que não tinha como ficar muito tempo) e ele parecia realmente focado para que isso acontecesse exatamente como estava programando.
  Sorriu enquanto escolhia uma camisola de alcinha da gaveta e a colocava na pilha de roupas que pretendia escolher para levar, lembrando-se de parte da conversa que havia tido com Cruello noite retrasada, quando ele pedira que Alfred a levasse até a Devil’s e ficassem a sós em sua sala após o horário comercial da empresa.

**flash-back**

— Os bichos não vão, Igraine.
— Por que não?
— Porque não, oras. Não há necessidade alguma de levá-los!
— Não posso deixar o Fofucho! Ele ainda é muito pequeno! E não posso levá-lo sem levar DoisTons porque ela é mãe dele!
   Cruello bufou, revirando os olhos em claro sinal de insatisfação.
— A Nanny pode cuidar deles, já vai cuidar dos outros, não?
— Não posso sobrecarregar a Nanny! E além do mais, eu tenho que avisar a ela...
— Avisar que você vai se mandar comigo? Ah não...
— E por quê eu não avisaria? Não sou o tipo de mulher que sai pra sabe-se lá onde, sabe-se lá com quais intenções, sem avisar ninguém...vai que me acontece alguma coisa!
— O que acha que pode acontecer com você?
— Eu não sei. Me diga você!
— ...o que está insinuando?
  Igraine encarou Cruello, que mantinha as mãos na cintura, aguardando uma explicação.
— Você por acaso está achando que eu vou te sequestrar, pra te manter trancada em um porão por anos e depois dar um jeito de me livrar do corpo?
  Ao ouvir, Igraine disfarçadamente se afastou um pouco, circundando a mesa do rapaz, notando que ele deixava tudo muito bem arrumado e nos devidos lugares.
— Credo, isso foi muito específico...
— Eu assisto casos criminais para relaxar.
  Igraine encarou Cruello com mais suspeita e circundou mais um pouco a mesa. Ele soltou uma risadinha.
— Cada um tem seus gostos...o que você fica assistindo para relaxar?
— ...vídeo de bichinhos fofos. Como uma pessoa normal.
  Cruello riu.
— Olha, Igraine. Eu sou uma pessoa confiável, gosto de você e, acima de tudo, tenho uma reputação a zelar. Não faria nenhum crime do tipo, prejudicando a minha imagem, a minha empresa, o legado da minha família e a minha popularidade. Posso ser um Devil, mas sou um Devil consciente. Não como alguns antepassados meus.
— ..o que alguns antepassados seus fizeram?
— Isso não vem ao caso! É coisa do passado. Posso garantir que não farei nada criminoso com você ou até mesmo não fazer nada que você não queira. Juro.
  Igraine o encarou por alguns segundos, parecendo pensar. Então falou.
— Se você não fará nada que eu não queira, então não pode me impedir de levar Fofucho e DoisTons, porque não levá-los não é o que eu não quero.
  Cruello estreitou os olhos. Mas olha que audácia.

**fim do flash-back**

  No fim, havia conseguido, depois de muita insistência (e até uma certa chantagenzinha) convencer Cruello a aceitar que ela levasse Fofucho e DoisTons. Claro, isso depois de prometer que não deixaria “aqueles animais” com intimidades dentro do local em que iam ficar. Ele até lhe enviara por email uma lista de coisas sobre isso, que Igraine enviara para a lixeira do email após ler as três primeiras linhas.
  Mas agora precisava se apressar em arrumar as coisas. Sua cabeça ficou tão a mil nos últimos dias que nem havia conseguido se concentrar. Era a partida abrupta, mas não inesperada de seus pais (nem queria pensar sobre isso, não valia a pena), era seguir trabalhando na ONG e deixando tudo arrumado para os dias que viria e sem poder avisar ninguém sobre isso e, principalmente, a ansiedade por fazer a sua primeira viagem com Cruello. Onde passariam alguns poucos dias juntos.

  “Ainda que seja algo rápido, vai ser a nossa primeira vez sozinhos por mais de um dia. Ou seja..vamos conviver um com o outro...é  tipo, quase um micro teste de como seria se morássemos juntos!”

  A constatação nesse pensamento fez um arrepio percorrer o corpo de Igraine, a fazendo corar e sentir-se ainda mais ansiosa. Quando olhou no espelho e viu que tinha um sorriso abestalhado na cara, tratou de estapear a própria cabeça, o que fez o gato Mimo, que estava empoleirado em cima do travesseiro na cama, olhá-la intrigado.

 “ Tenho que parar com isso! Onde já se viu, só vou passar uns poucos dias com ele num local só para nós e eu aqui pensando já em viver diariamente com o Cruello numa mesma casa. Pare com isso Igraine, você é uma mulher adulta e independente, não uma adolescente apaixonada!”


— Igraine, onde eu colo...o que você está fazendo?
   Nanny abrira a porta sem bater, a tempo de ver uma Igraine assustada tentando se jogar sobre o monte de roupas na cama.
— O que é essa bagunça?
— N-nada...só estou...olhando minhas roupas...
    Silêncio. Nanny encarou Igraine, que a encarou de volta. O silêncio foi se tornando perturbador e o olhar da mulher mais velha, inquisitivo. Cruello tinha razão quando disse, certa vez, que Nanny possuía um “fogo nos olhos”, ao ponto de que Igraine não conseguiu suportar.
— Ai, tá bom!
    E Igraine contou, resumidamente, a conversa que tivera com Cruello dias atrás na cozinha e depois as conversas com Cruello e o que estavam planejando.
— Mas por favor Nanny. Não conte a ninguém, eu disse ninguém, sobre isso! Cruello recomendou que mantivéssemos em segredo porque senão iam atrás de nós...ele disse que só deixou postagens programadas dele nas redes sociais mas que bom que não sabiam porque...
— Mas que bom que me contou! Onde já se viu se você sumisse sem dar qualquer satisfação, não atendesse o celular? Eu assisto muitos noticiários, ia ficar imaginando um monte de coisas!
— Eu sei! Eu também não gostei muito dessa ideia de sair sem avisar ninguém, ou de ficar incomunicável. Isso é coisa dos meus pais e eu, definitivamente, não quero ter esse tipo de hábito rude deles!
— Falando nos seus pais... – Nanny começou, com a voz intencionalmente calma.
— Eu não quero falar sobre isso e eu estou bem, Nanny. Sério. Não é a primeira vez que eles agem assim, nem vai ser a última. É algo comum deles. Seus ideais e lutas sempre em primeiro lugar, para fazer um mundo melhor. Então, vamos deixar pra lá!
  Igraine começou a remexer em uma gaveta que estava relativamente cheia com cremes e itens de maquiagem.
— Eu não sei por que o Cruello atolou minha gaveta com tudo isso, eu não sei usar sequer metade! Não posso dar liberdade para ele entrar no meu quarto que ele já começa a colocar no meu armário roupas e coisas que eu nem sei onde e como usar!
  Nanny observou a garota. Realmente, Igraine não entendia as vantagens e sorte que tinha em estar namorando com um homemfeito Cruello Devil. Parece que ela foi tão bem criada pelos avós, que carecia de uma certa esperteza de aproveitar oportunidades. Mas talvez fosse isso que fez uma pessoa como Cruello gostar dela.
  Mas com relação a não querer falar dos pais, Nanny achava que isso era mais como um mecanismo de auto proteção do que a garota estar realmente desinteressada na partida dos mesmos.
— Então...quando você vai?
— O Cruello disse que vem me buscar amanhã...
— E você não arrumou nada ainda?!
— É que...é que...eu nunca viajei assim! Mas eu vou arrumar há tempo...mas Nanny, por favor..não conte a ninguém para onde eu e o Cruello estamos indo. Vou te avisar porque acho importante caso aconteça alguma coisa...a gente precisar e quer um tempinho juntos sem ninguém pra interferir mas...
— Tudo bem, minha boca é o túmulo de Tutancamon antes de ser descoberto! Eu acho que é importante você sair um pouco e espairecer a cabeça com um homem gostoso depois desses últimos dias...o rebuceteio que foi aqui em casa aquele dia...
  Igraine concordou. Só de lembrar daquela confusão de gente maluca na sua casa naquele dia a fazia ficar com dor de cabeça.
— Bom, vamos deixar esse papo pra lá e focar em arrumar sua mala. Mala e não mochila, você vai viajar com Cruello, provavelmente ele  vai te levar a algum lugar chique!
  Nanny se levantou da beirada da cama e começou a ver as roupas sobre a mesma, fazendo ela mesma a escolha do que a garota deveria levar, enquanto continuava a falar.
— Sabe que eu guardo segredos muito bem...guardei por anos o segredo dos seus avós, aquele que você ficou com um punk quando foi pra Londres na sua adolescência...
  Igraine arregalou os olhos. Só agora percebia que não havia contado ainda a Nanny que Cruello e Devs eram a mesma pessoa.
— Nanny, tem uma coisa que eu preciso te contar. – ela começou, com um sorriso faceiro. – Que se eu contar, você não vai acreditar...

~*~

Três dias depois

Foi decidido que a reunião extraordinária e de extrema urgência seria realizada na própria residência de Igraine. Ainda que ela não estivesse presente, todos os envolvidos concordavam que este era o melhor lugar para se discutir a situação e descobrir o que poderia ser feito.
— Já se passou três dias e nenhum sinal. – falou Valder. - Acho que temos de avisar a polícia.
— E permitir que a situação venha a público com um monte de gente criando bafafá e teorias na internet, correndo o risco de manchar a imagem da Devil’s e do Cruello? – ralhou Scarlet. – De jeito nenhum!
— Mas ele está sumido sem dar notícias!
— Cruello já sumiu por uma quinzena quando se meteu lá em Dubai na casa do Sheik, até pensamos que ele tinha sido vendido ou se casado com uma das filhas do sheik e o haviam o obrigado a não entrar em contato com ninguém.
— Eu lembro disso. – Alfred falou após pegar um biscoito caseiro da bandeja sobre a mesa. – Ficamos preocupados, a Scarlet até tentou entrar em contato com a embaixada inglesa em Dubai, mas aí um fotógrafo flagrou o Cruello curtindo uma balada por lá no dia anterior e aí ficou tudo bem.
— E ele chegou na Devil’s com a maior cara lavada como se fosse tudo bem ele ter picado a mula pra Dubai, curtido baladas, raves, orgias e sabe-se lá mais o quê! – ralhou Scarlet, cruzando os braços e as pernas, sentada no sofá. – Aquele afetado só dá trabalho quando decide não estar trabalhando!
— Mas ele sumiu sozinho, não levando a Igraine! – Valder protestou. – E a Igraine é uma moça direita, ela nunca iria se ausentar sem avisar previamente ou mesmo manter formas de contato!
— Talvez o Cruello a tenha sequestrado.
  Todos os olhares recaíram em Yumie.
— Qualé! Eu assisto muito documentário criminal e aí a gente pensa nas possibilidades com base nas estatísticas!
— Cruello não faria isso. – Hans foi categórico. -  Ele sabe que seria muito problemático depois ter que lidar com a justiça, a mídia e a opinião pública! Não vale o risco.
Silêncio sepulcral. Todos encararam Hans com um misto de incredualidade e assombro. Afinal, por que o haviam chamado mesmo? Ele além de amigo, era advogado e maior aliado de Cruello, acobertando suas maracutais e o livrando dos problemas que as maracutaias criavam.
— As coisas estão indo de zero a cem muito rápido... – Alfred murmurou, servindo-se de mais um biscoito. – Eu não acho que o chefinho tenha feito algo assim, ele gosta mesmo da Igraine. E gosta muito de si mesmo demais para correr risco de ser preso.
— Mas então, o que aconteceu? Já estamos há dias sem notícias!  Daqui há poucos os avós da Igraine perguntam dela e o que eu vou responder?!
   Nanny falara aquilo de forma forçadamente ensaiada, para passar credibilidade de que não sabia de nada.
Então, o som de uma chamada que vinha do notebook colocado sobre a mesinha de canto, ao lado de Scarlet. Ela clicou e uma tela se abriu,surgindo Alexander Arkin.
— Olá, pessoal. – ele acenou para a tela. – Vocês estão me vendo? Estão me ouvindo? Está transmitindo aqui? A conexão está boa? Olá, estão me entendendo?
— Posiciona essa câmera direito! – resmungou Scarlet. – A tela desse jeito faz parecer que você está com uma papada enorme.
 Constrangido, Arkin rapidamente ajeitou a câmera do celular no que parecia um suporte improvisado.
— Desculpem, estou sem meu notebook e não sou muito adepto dessas “lives”... – ele deu um risinho constrangido. - E então, alguma noticia do Cruello?
  Todos abaixaram a cabeça, derrotados.
— Hãn... – Arkin pigarreou. – Bom, mas foram poucos dias não é? Talvez eles tenham...hum...tirado alguns dias de folga...
— O Cruello não pode tirar dias de folga! – rosnou Scarlet. – Ele tem responsabilidades na empresa, inclusive para o evento de aniversário que precisamos planejar! Os fornecedores, patrocinadores e profissionais precisam das diretrizes e tomada das decisões para dar andamento as suas tarefas!
— Mas ele deixou uma pasta contendo uma lista de coisas. – lembrou Valder. – Eu cheguei um dia no trabalho e a pasta estava em cima da mesa dele, com uma cópia na minha mesa.
  Scarlet bufou.
— Mas não tem o suficiente sobre as diretrizes para todos os setores da empresa durante a semana toda! E além da semana já teríamos que ter tudo planejado dos prazos de confecções, marketing. E também...
— E os pais da Igraine? – Yumie perguntou interrompendo o monólogo de Scarlet. - Onde eles estão?
Nanny soltou um suspiro irritado diante da pergunta e se empertigou no sofá.
— Eles foram embora.
— Como assim? – Scarlet indagou. – A única filha deles está desaparecida, de mala e cuia, e eles simplesmente foram embora?
— Braun e Amber são assim. Prezam pelo ativismo desenfreado deles ao redor do mundo. – Nanny suspirou, em um misto de irritação e tristeza. – Eles disseram que precisavam ir urgentemente para o Brasil ajudar a combater queimadas, garimpo ilegal e não sei mais o quê...eles deixaram uma carta para Igraine.
  Ela gesticulou indicando o aparador, onde um punhado de folhas amassadas com alguns garranchos escritos nelas. Fez-se um silêncio reflexivo em cada um dos presentes ao olharem para os tais papéis, mas nada foi dito.
— Bom, em vista da situação e com o prazo para se iniciar as preparações para o desfile em homenagem a Cruella Devil, não podemos perder tempo. – Arkin continuou. - E por mais que a Devil’s tenha funcionários super capacitados para o cargo que ocupam, é obrigatório que o Cruello esteja á frente e presente em todas as produções e decisões! Nem que seja só pra fingir que está fazendo alguma coisa! Então diante disso..Scarlet me convenceu, junto do diretor e mais alguns acionistas da Devil’s...além do advogado da empresa e o advogado pessoal do Cruello... – ele gesticulou indicando Hans. – Chegamos a um consenso de que precisamos contratar uma pessoa para encontrá-lo.
— Como assim? Tipo um detetive particular? – Alfred virou-se indignado. – E você nem me avisou?
— Quem você contratou?
  A pergunta apreensiva de Nanny foi respondida pelo toque da campainha. Intrigada, ela se levantou para abrir a porta e esta se abriu de supetão, surgindo Patrick Star, a luz do sol irradiando por trás dele, criando uma aura de brilho ao seu redor.
— Aqui estou eu, como prometido! E vou resolver este caso!
  Todos os demais presentes olharam indignados para Arkin.
— Qual é! Eu estava sem opções! Não queria a polícia no caso porque senão iria acabar saindo nos tabloides sensacionalistas!
— E o que você achou que ia acontecer chamando justamente Patrick Star?! – Scarlet ficou indignada. – Quando falei para você contratar alguém, pensei que ia contratar um detetive de verdade e não um fofoqueiro de celebridades!
— Situações desesperadas requerem medidas desesperadas!
— Bom, como diria Jack, o Estripador. – falou Patrick ajeitando os óculos. – Vamos por partes...
  Ele sacou o celular do bolso e abriu o editor de textos enquanto colocava um gravador ligado sobre a mesa. – Precisarei recolher o relato de cada um de vocês e para isso preciso que respondam as minhas perguntas de forma sincera e sem omitir nada! Então vamos começar...A questão que nos reúne aqui é: onde Cruello e Igraine estão?
  Todos ficaram em silêncio, os olhos passando de um para o outro com suspeita diante da pergunta do jornalista.
  Patrick Star acionou a câmera do celular e começou a andar ao redor de onde os presentes  estavam.
— Algum de vocês devem saber...devem ser capazes de fornecer alguma pista...e eu vou descobrir.

~*~

   A dálmata DoisTons empurrou a porta com seu corpo e adentrou no quarto silenciosamente, com suas patinhas fazendo um tec-tec quase inaudível. Ela caminhou pelo quarto relativamente bagunçado, suas patinhas fazendo um “tec-tec” suave no piso. Ela parou diante da cama, observando a forma parcialmente coberta por um lençol que estava deitada ali. Pensou em latir, mas sabia, por experiência própria no outro dia, que não era uma boa ideia. Então, pulou na cama, se aproximando sorrateiramente. A cabeça estava descoberta e ela cuidadosamente começou a lamber o rosto humano, primeiro na testa, depois na bochecha, nariz e boca.
— O que... – olhos abriram-se devagar, afastando molengamente o focinho da dálmata com a mão. – Você...
   O grito ecoou por todos os cômodos daquela casa e até mesmo fora dela. Igraine largou a frigideira e só teve tempo de desligar o fogo antes de correr até o quarto, já prevendo o que poderia ter acontecido. Ao entrar no quarto, se deparou com Cruello na cama, em um misto de pânico e revolta, se protegendo com um travesseiro e tentando atacar com outro enquanto a dálmata DoisTons, também sobre a cama, abanava freneticamente a cauda, tentando pular, achando que os movimentos que Cruello fazia com o travesseiro para afastá-la eram uma brincadeira.
— Igraine, tira essa criatura dos infernos de cima da cama e de perto de mim! SOLTA, DESGRAÇADA! SOLTAAAA!!
   DoisTons havia pego uma ponta do travesseiro e Cruello puxava a outra e aquele cabo de guerra pareceu empolgar a cadela que conseguiu arrancar o travesseiro das mãos de Cruello, fazendo o maior fuzuê na cama.
— QUE INFERNOOOO!
  Igraine controlou o riso ao ver os cabelos de Cruello desgrenhados e sua cara transtornada em um misto de choque e fúria. Com DoisTons ocupada em destruir o travesseiro, ele saiu aos tropeços da cama, enrolando uma das pernas no edredom e quase indo ao chão por isso. Vestindo apenas uma cueca vermelha, ele passou por Igraine disparando ordens.
— Tira aquele seu bicho da cama, tire toda a roupa de cama e bota pra lavar agora! Que nojo, que nojo!
— Calma, Cruello! A DoisTons só queria te dar bom dia. – Igraine resmungou indo até a dálmata. – E com você atiçando ela com o travesseiro...
— Eu não aticei! – ralhou ele na porta do banheiro. – Essa cachorra não conhece limites e você a deixa andar livremente pela casa!
— Ela está acostumada, Cruello. E só queria te dar “bom dia”. Com lambeijos.
— Dispenso os cumprimentos dela!
  Cruello começou a lavar o rosto e em seguida a escovar efusivamente os dentes. Pegou o enxaguante bucal e dispensou uma boa quantia na boca, gargarejando e depois cuspindo na pia, se adiantando para colocar mais pasta na escova e retomar a escovação.
— Ela lambeu minha boca! A minha cara e a minha boca! – ele repetiu o ritual com o enxaguante bucal. – Você sabe que cachorro fica lambendo as próprias partes íntimas e enfiando nariz e boca em tudo que é lugar?!
— Ora, não seja exagerado...
— Exagerado?! Eu estou pontuando fatos! Prezo muito a higiene! Assim que terminar minha higiene matinal, vou pegar todas aquelas roupas de cama e colocar na lavanderia para que a moça da limpeza as lave amanhã! Na verdade, vou comunicá-la para dedetizar toda essa roupa de cama e o travesseiro vai pro lixo porque sua cachorra já babou todo nele e fez sabe-se lá mais o quê!
   Enquanto Cruello fechava a porta do banheiro, Igraine foi até a cama, onde DoisTons estava deitada confortavelmente sobre o travesseiro.
— Você é uma danada mesmo, hein! Sabe que o Cruello não gosta dessas coisas. – ela afagou a orelha da cachorra, que abanou a cauda. – Agora sai daí e vai lá ver seu filho.
Obedientemente a dálmata desceu da cama e saiu do quarto, e Igraine tratou de começar a dobrar as cobertas e lençóis.
  Já fazia dois dias que ela e Cruello estavam naquele lugar, um lugar confortável e com uma belíssima vista, do tipo que ela apreciava. Mas totalmente diferente do que esperava que Cruello pudesse gostar ou escolher para si.
   Realmente, sabia pouco sobre os gostos dele.
   Ficou tão absorta em seus pensamentos, que só percebeu que havia passado minutos quando sentiu os braços de Cruello envolverem seu corpo e inspirou o aroma agradável de banho recém tomado que emanava dele.
— Já terminou de se higienizar? –ironizou.
— Sim. Mas o trauma que foi ser acordado com lambidas de cachorro não é algo que vou esquecer facilmente!
   Cruello a virou para que ficasse de frente para ele, beijando-a enquanto suas mãos acariciavam as costas e a trazia para mais perto. Igraine gemeu baixinho quando ele começou, sentindo seu corpo reagir as carícias que começavam lentas, mas habilidosas.
— O que está querendo?
— O que você acha? – ele sussurrou, roçando os lábios em seu pescoço.
  Cruello gostava daquilo. Aos poucos estava conseguindo fazer com que Igraine se tornasse mais a safada que ele sabia que ela era. Ontem haviam feito mais um grande avanço que Cruello chegou mesmo a pensar que não viria tão cedo.
  Era formidável ver o quanto Igraine acabava ficando mais á vontade quando estavam sozinhos e livres da interrupção das pessoas que os cercavam. Ainda que fossem por períodos curtos, deveria tentar fazer esse tipo de “fuga” mais vezes com ela.
  Quando tencionou  aumentar a intensidade das carícias, Igraine o afastou.
— Cruello, não podemos fazer isso agora!
— Por que não? Não temos compromisso algum e mais ainda: ninguém para nos atrapalhar! – ele pensou um pouco. – Só a sua cadela e o rebento dela, mas isso eu resolvo trancando a porta.
— Você parece que está no cio, aquieta esse fogo!
  Igraine riu e se afastou um pouco dele. Ainda estava um pouco cansada da noite anterior. Foi até a janela, a abrindo e afastando as cortinas, para que a iluminação entrasse. O dia estava nublado, o que não era novidade (como ela soubera depois) naquela região montanhosa. Mas mesmo que não houvesse sol, a visão compensava. Da janela do quarto, podia ver a floresta de pinheiros que descia a um vale e mais ao longe, as montanhas e seus picos que sumiam entre as nuvens. Era um lugar lindo, de natureza.  E eles estavam já há dois dias, naquele confortável e bem arrumado chalé.
   Essa foi mais uma das coisas que surpreenderam Igraine, como se já não bastasse tudo que a tinha surpreendido antes. Aquele lugar afastado, perto das montanhas e cujos sinais de telefone e internet eram limitados e oscilantes. Era um lugar agradável, embora jamais imaginasse que Cruello a trouxesse para um lugar do tipo, ainda mais quando fez a proposta.
— Você alugou esse lugar? Foi muito caro?
— É bem caro hoje em dia. Mas eu não aluguei, a propriedade está no meu nome.
— Sério?! Não esperava que você gostasse desse tipo de lugar mais afastado e ligado a natureza.
—Realmente não é o tipo de lugar que gosto. Mas para termos um momento a sós, se fez necessário.
— Eu gostei daqui. É um lugar lindo e tranquilo.
— É...eu imaginei que ia gostar mesmo.  – Cruello falou, se espreguiçando. – Bom, eu vou trabalhar um pouco até a hora que você quiser comer alguma coisa, aí podemos ligar e pedir.
— Trabalhar? Cruello, você já fez isso ontem! Nós viemos aqui para ficarmos longe de tudo, pra não ter nada atrapalhando e podermos curtir um ao outro. Foi isso mesmo que você disse!
— Nossa, raposinha. Tá gostando tanto de me ter pra você sem interrupções que só ficar umas horinhas sem isso já te afeta, é?
  Cruello dissera isso recostando-se na cama,  o roupão afrouxado para mostrar parte do seu corpo.
— Pare de ser tão convencido. – Igraine fungou, tentando disfarçar o rubor. – Tá bom, faça o que tem que fazer. Mas lá na varanda. DoisTons e o Fofucho estão lá e precisam ficar em supervisão, porque esse é um lugar diferente pra ela. E vou preparar um lanche pra gente porque estou com fome!

~*~

   Cruello contemplou o calmo cenário á sua frente e deu uma tragada no cigarro. Era até um pouco estranho ter passado mais de 24 horas sem ser notificado de nenhuma responsabilidade ou situação que demandasse sua atenção e decisão. Mas sabia que, quando voltasse, teria toneladas de coisas para resolver.
  Diante dessa certeza, ele deu uma última tragada no cigarro, apagou-o no cinzeiro sobre a mesa e voltou a pegar o lápis, olhando para as folhas desenhadas que tinha diante de si.
Precisava conseguir fazer uma boa quantidade de modelos para o próximo desfile, já que era para uma data especial de homenagem. Já havia feito alguns, mas a maioria ainda eram apenas os modelos com poucos esboços. Precisava finalizar algumas e outras deixar quase prontas, para depois na hora do confecção, refazer uma ou outra coisa.
  Igraine havia dito para ele não trabalhar nesses dias que estavam ali, pois esse era o combinado...combinado que ele havia proposto. Mas embora tivesse proposto isso, Cruello não conseguia se desvincular totalmente de suas obrigações, por mais que quisesse. E Igraine precisava entender isso. Ele era um Devil, herdeiro da Devil’s, precisava estar á frente, principalmente quando tinha de preparar o próximo desfile.
  Por falar em Igraine, podia sentir o cheiro do café fresquinho e panquecas que ela fazia na pequena cozinha do chalé.Quem diria que, afinal que ele, Cruello Devil, iria acabar se envolvendo tanto por ela? Mas talvez...era assim que as coisas deveriam acontecer.
  As palavras que havia dito para ela quando se despediram há dez anos atrás, após terem se conhecido por menos de vinte e quatro horas ainda eram bem lembradas.
  Um ruído fininho e esquisito tirou Cruello de suas reminiscências e ele olhou para o que estava próximo de si.
  Em uma espécie de “caminha” DoisTons dormia profundamente, mas seu filhote não estava aninhado junto, como sempre ficava. Rapidamente Cruello olhou ao redor, procurando o bichinho e então sentiu algo roçar em sua canela: ali estava o pequeno Fofucho parecendo interessado no cordão do tênis que o rapaz usava.
  Cruello fez uma cara de entojo. Onde já se viu, um bicho pequeno daqueles, que parecia um rato branco ter andado até perto dele e pior – a mãe dormindo e nem tomando conta da própria cria.
  Cruello tentou desviar o pé do filhote, mas Fofucho insistia, querendo abocanhar o cadarço. Cruello bufou. Não podia chutá-lo, mas não queria que aquele cachorro ficasse de intimidade.
— Volta pra sua mãe, sua coisinha...
  Criando coragem, Cruello pegou o filhote na mão, erguendo-o próximo de si. O filhote tinha uma textura estranha e era mole, parecia um rocambole. Notou que o filhote começava a mostrar pintinhas na pele, típicas da raça. Cruella Devil sempre gostara da pelagem de dálmatas, inclusive foi esse gosto obsessivo que acabou se tornando uma de suas grandes quedas sociais.
  Pelagem de dálmatas...
  Colocando o filhote na mesa, mais especificamente dentro do seu estojo de lápis, Cruello sussurrou para que o filhote ficasse quieto (não que tenha dado muito certo, pois Fofucho começou a roer a base do estojo)  e começou a rabiscar no desenho a sua frente. Era isso, um tema voltado ao monocromático, ao preto e branco, ao...
  Ele teve um sobressalto ao ouvir um grito que parecia ecoar vindo das montanhas.
— CRUELLO CHRISTIAN DEVIL!!!!!

~*~


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E o capítulo chegou ao fim! Com a minha decisão de colocar a fanfic em reta final, espero conseguir fazer um bom e digno trabalho. Agradeço imensamente a todos que continuam acompanhando, aos antigos e novos leitores. É graças á vocês que eu não desisto dessa história!
Bom, não tenho muito a dizer sobre o capítulo então gostaria de saber a opinião de vocês então...digam!
Até o próximo capítulo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Cruel Beauty" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.