Ó querida Arabella, garotas não foram feitas para ficarem juntas. Você sabia disso, por quê não me avisou? Entre um cigarro e outro, me pergunto se você também está pensando em mim. Eu penso em você todos os dias. Naquele canto do quarto, sentada ao chão e descalça, você me contava suas histórias, sempre com teu senso de humor ácido. Na cômoda, você regava meu cacto. Ainda o guardo aqui, morto, afogado, pelas minhas lágrimas e pelo seu excesso de água. Pois você sempre gostou de transbordar, Arabella. Transbordava sua insanidade em todos que conversavam contigo, e transbordou sua podridão em mim. Você me estragou, me amassou, me apodreceu. Até o último dos meus átomos tem o seu arome fétido. Chanel n°5, roubado da loja. Ele continua impregnado nos lençóis, e em mim.
Você é falsa. Com cabelos tingidos e lentes de contato. Seus olhos violeta são tão mais bonitos. Me estupra e me arrasa. E pede licença para fazer isso. Involuntariamente, minha boca diz "sim." Feiticeira. Perfume hipnotizante, olhos mudos. Boca grande, sempre pronta para falar merda. No meu ouvido então... Me come com os olhos, e seu sorriso vadio me encanta. Pois você não passa disso. E eu sou um nada para você.
Eu te amei, e você me quis. Você não tem caráter, minha querida. E eu não tenho convicção. Nós éramos diferente, mas você fez questão de equilibrar a gangorra, só para depois sair e assistir a minha queda. Enquanto faço pequenos anjos na cama sem lençóis, percebo o quanto foi cruel da sua parte me deixar dormir e me deleitar em seu corpo macio e perfumado para depois ir embora. Eu me aninhava em você e você, como uma víbora, me distraía, esperando o momento certeiro para me abocanhar. Eu senti seu ser em mim, e você me sugou do meu próprio corpo. Você foi minha perdição. Tudo estava indo bem, mas você sabia que era o momento. O maior baque não foi o meu tropeço na beira do precipício, foi quando eu caí no chão.
E parei.