Hope, Mais Uma Vez Amor escrita por Nynna Days


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoinhas. Então, esse capítulo foi muito divertido de fazer. Achei que Mellany estava se comportando demais e não estava fazendo jus a reputação dela. Então, vamos nos rebelar...



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Eu tranquei a janela.

Não que isso tivesse me feito dormir com mais tranquilidade. Revirei na cama e tirei breves cochilos. Quando faltavam cinco minutos para o despertador tocar, me levantei. Parei em frente ao espelho do banheiro e me amaldiçoei por estar pernoitada. Minha pele estava mais pálida do que geralmente era e embaixo dos meus olhos cinza tinham enormes hematomas roxos.

Quase dei um sorriso. Estava parecendo um vampiro recém-saído de Crepúsculo. Consultando mentalmente o meu horário, fiz uma careta ao relembrar que tinha educação física. Puxei todo o meu cabelo para trás e fiz um coque frouxo. Claro que meu cabelo continuava rebelde e se soltava sozinho. Revirei os olhos e peguei uma presilha. Isso teria que servir.

Ainda no banheiro, fiz minha higiene matutina e parei diante ao espelho, refletindo. Será que Adriel realmente era um pervertido? Só que ele havia me salvo de Austin no dia anterior. Então como ele sabia que minha janela estava aberta? Grunhi, passando as mãos por meu rosto até pararem em meu cabelo. A presilha se soltou.

“Ah, porra!”, resmunguei tentando prendê-lo novamente. Desisti, fazendo apenas um rabo de cavalo. Peguei uma mecha por entre os dedos e a encarei, ameaçadora. “Um dia vocês irão conhecer a minha fúria.”, praguejei.

Pelo menos isso havia dado uma cor ao meu rosto. Minhas bochechas estavam coradas de raiva, só que não deixavam de destacar minhas olheiras. Contra todos os meus princípios, peguei meus óculos Ray-Ban escuros e me senti melhor. Vesti calças jeans escuras e uma camisa listrada. Sorri para o meu reflexo e desci as escadas com a mochila nas costas.

“Está de ressaca?”, Nicolas me perguntou concentrando o olhar nos meus óculos.

Revirei os olhos e me sentei ao seu lado, pegando o café.

“Não dormi muito.”, pausei por um segundo, me virando para meu irmão que ainda estava duvidoso. “Estou falando sério, Nicolas. Mas se isso te fizer sentir melhor.”, tirei os óculos, dando de ombros.

Meu irmão fez uma pesquisa minuciosa por meu rosto, procurando por qualquer resíduo de ressaca. Apenas comi tranquilamente ignorando. Ainda que doesse, tinha dado motivos para que ele duvidasse de mim. No final, ele apenas deu de ombros e voltou-se para o seu café da manhã. Demorou alguns segundos, mas finalmente notei o que estava faltando.

“Onde está Caliel?”

Isso o fez ficar totalmente vermelho e tossir o café recém digerido. Dei um sorriso maldoso e recoloquei o óculos. Levantei uma sobrancelha, esperando.

“Ela estava muito cansada.”, ele murmurou, fingindo indiferença. “Deixei que ela dormisse mais um pouco. Ela não tem que dar aula hoje mesmo.”

Minha vontade foi de continuar provocando-o, mas o som da buzina do carro de Dexter me fez dar um pulo do lugar e catar minha mochila de qualquer jeito. Nicolas sorriu com o meu movimento destrambelhado e lhe dei língua, saindo.

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“Não acredito que você foi atrás dele.”, Harper sussurrou raivosa na aula de biologia. Seu rosto estava totalmente vermelho, e, assim como eu, estava de cabelo preso. “Eu disse para você esquecer esse assunto, merda.”

Fiquei boquiaberta com a sua reação. Se não estivéssemos no meio da aula, era capaz dela dar um pulo e voar no meu pescoço. Suas mãos apertando a cadeira com força era uma prova física disso. Ela fechou os olhos por um segundo e respirou fundo, tentando recuperar o controle. Tinha uma coisa que estava batendo em minha cabeça, mas afastei-a rapidamente não deixando que aquele pensamento absurdo se concretizasse em minha mente.

“Relaxe, Moore.”, eu murmurei fingindo copiar tudo o que a professora colocava no quadro. A verdade que eu nem sabia qual era o assunto da matéria. “Não deu para descobrir nada.”, fiz uma careta e revirei os olhos – tinha tirado os óculos quando a professora me ameaçou de ir para a detenção. “O idiota do Parker me seguiu e tentou me agarrar.”

Um tremor passou por minha coluna enquanto a memória daquela cena me assombrava. Esse também tinha sido um dos motivos da minha insônia. Toda vez que cerrava os olhos, revivia a sensação de pavor de quando seus braços me seguraram. As palavras tinham saído em um tom indiferente por meus lábios, mas Harper me conhecia o suficiente para saber que eu estava tremendo por dentro. Fechei as mãos em punho, acalmando-me.

Quando cruzei com Austin no corredor, tentei parecer a mais desinteressada e apática possível. Entretanto, ainda consegui notar – e sentir – o seu olhar em mim enquanto passava. Tive que me segurar para não voltar em casa e tomar outro banho. Me sentia suja. Imunda. Estremeci com essa lembrança. Tive a leve percepção de que Harper estava segurando minha trêmula mão. Aquilo me acalmou momentaneamente.

“Acho que ele está precisando de uma lição.”, minha amiga sussurrou e deu um sorriso travesso. Levantei uma sobrancelha, duvidando das intenções de suas palavras. Ela assentiu, como se lesse os meus pensamentos. “Vamos fazê-lo lamentar por uma coisa que ele tanto ama.”

Lutando contra os sentimentos obscuros que me rondavam, eu sorri.

*****************************

Tinha sempre um motivo para que eu fosse para a diretoria. E eram sempre motivos ruins. Começou quando, na primeira semana, eu xinguei o professor de matemática – realmente tínhamos muitos problemas pessoais – o que gerou uma semana de detenção. Depois, fui pega em uma briga com uma patricinha do terceiro ano que me chamou de esquisita. Mais uma semana de detenção.

Isso porque estava tirando as inúmeras vezes em que fui pega bêbada pelo estacionamento. Depois que Caliel me pegou e me fez atravessar o corredor todo quase sendo arrastada, tinha cortado isso da minhas listas de proezas. Mas, o que estou tentando dizer é que eu era uma garota muito má quando queria.

E Austin Parker tinha mexido com a garota errada.

Claro que, para o que eu e Harper estávamos planejando, o castigo seria muito mais severo do que uma semana na detenção. Por isso fomos cuidadosas em tudo. Com os mínimos detalhes. Mary e Dexter estavam nos ajudando – o que era uma coisa rara. Só que eles sabiam o que Austin tinha feito comigo e estavam dispostos á me ajudar com a vingança. Pouco tardia, mas ainda assim seria uma doce vingança.

Nos mantivemos longe um do outro, mas pertos da porta de entrada. Dei um sorriso satisfeito quando o professor disse que iríamos correr do lado de fora. Mesmo que fosse o começo de outono, o tempo estava fresco. Fingi me aquecer e recebi um olhar desconfiado do professor. Eu nunca fazia a aula. A não ser quando estava aprontando. Ele ficou me vigiando durante as três primeiras voltas, até que desistiu e direcionou sua atenção para os outros alunos.

Mary, por exemplo.

“Aí, meu tornozelo.”, ela disse depois de fingir – muito bem – uma queda no meio da corrida. Harper sempre me relembrava que ela fazia parte do clube de teatro antes de entrar para a nossa banda. Agora eu estava dando valor ao seu talento. “Está doendo. Professor, não consigo me levantar.”, começou a chorar.

Se fosse a outra ocasião, eu teria parado e a aplaudido. Só não tínhamos tempo a perder. Pelo canto do olho, percebi que uma pessoa não estava dando atenção ao show de Mary. Jeremy tinha uma sobrancelha levantada na minha direção. Eu sorri, travessa – mesmo que meu coração ainda desse uma leve pontada toda vez que eu o encarava – e recebi um mexer de cabeça em retribuição. Sabia que ele não iria me dedurar, ainda mais depois de tomar conhecimento contra quem era o ataque.

Dexter, que sempre ficava no banco, se ofereceu prontamente para levar Mary para a enfermaria. O professor ficou temeroso e eu também. Se ele fosse junto, iria estragar tudo. Só que algo chamou a atenção dele instantaneamente. Jeremy tinha empurrado um garoto sem querer e eles estavam discutindo. Vendo que não poderia deixar a turma sozinha, ele concordou em deixar Dexter ir com Mary.

“O restante, continue correndo.”, ele apitou.

Todos reclamaram, mas continuaram. Olhei para o meu relógio e sorri. Faltava menos de dois minutos. Troquei um rápido olhar com Harper, que estava do outro lado da pista, e sorrimos. Discretamente, ela apontou para as mochilas escondidas debaixo dos bancos. Assenti, quase tenso um ataque do coração no segundo seguinte ao escutar a voz de Jeremy ao meu lado.

“O que você está aprontando, Brown?”

Olhei para o seu rosto, vendo o leve resíduo de suor em sua testa. Ele deveria parecer nojento, mas continuava lindo. Sua expressão estava neutra e eu desconfiei da minha própria sanidade. Estava escutando vozes em minha mente. Ele me deu um olhar de canto e uma sombra de sorriso apareceu em seus lábios. Ah, eu não estava doida.

Mantive meus olhos fixos no caminho.

“Uma coisa que você irá gostar muito.”, garanti. Rapidamente passei os olhos pela pista, encontrando Aliel conversando com Jason. “Por que não está correndo com a sua namorada?”, tentei não cuspir ao pronunciar namorada, só que o desprezo era facilmente perceptivo.

Jeremy não pareceu notar.

“Jason vai fazer meses com a Burke e quer uma ajuda sobre o que fazer.”, ele deu de ombros, sério. “Eu não sou a melhor pessoa para dar esse conselho.”

“Mas Aliel é.”, concluí.

Ele sorriu, sonhador.

“Se você tivesse a noção de quanto...”

Jeremy não teve tempo de terminar a frase. Todos tomaram um susto ao escutarem o som do alarme de incêndio. O professor começou a gritar as instruções, para que todos saíssemos permanecessem em seus lugares. Enquanto isso, a porta do ginásio se abriu e uma multidão de alunos de outras salas e anos começaram a se juntar á nós. Discretamente me movi para onde nossas mochilas estavam e a peguei. Harper estava sentada, tranquilamente.

“Quanto tempo nós temos?”, eu perguntei.

“Uns cinco minutos.”, ela pegou a mochila e se levantou. Parou apenas para me dar um sorriso. “Chegamos ao nível máximo da vingança. Está sentindo a adrenalina?”

Meu corpo estava agitado e eu tinha quase certeza que poderia correr aquela pista umas cinco vezes sem cansar. Só que ao invés disso, passei pela multidão discretamente – recebendo um boa sorte de Jeremy – e conseguimos por um milagre chegar até o estacionamento. Que, com toda aquela confusão estava totalmente vazio.

Harper e eu trocamos olhares e assentimento, focando no Mercedes Benz Roadster vermelho. Jogamos as mochilas no chão e eu prontamente peguei os óculos escuros, vendo Harper fazendo o mesmo. Sorri, sentindo-me ótima enquanto pegava um canivete da mochila e furava todos os pneus do carro. Harper pegou a chave e arranhou toda a lateral. Sem perceber, começamos a cantarolar Before He Cheats da Carrie Underwood.

I dug my key into the sid

Of his pretty little souped up 4-wheel-drive

Carved my name into his leather seats

I took a Louisville Slugger to both headlights

I slashed a hole in all four tires

Maybe next time he'll think before he cheats”

Ainda cantando fomos até nossas mochilas e pegamos pequenos bastões medievais. Mary e seus contatos com o teatro realmente haviam nos ajudado hoje. Meu sorriso se ampliou e Harper fez uma reverência em direção ao carro.

“Faça as honras, Senhorita Brown.”, ela disse polidamente.

Ri, retribuindo a reverência e não hesitei em dar uma pancada no vidro do carro. A satisfação me possuiu instantaneamente. Harper rapidamente se juntou á mim e quebrou o vidro frontal. Queria ter destruído tudo mais, só que nosso tempo estava acabando e só tínhamos poucos segundos para ir embora. Juntamos tudo e com a alma de um ninja, nos camuflamos na multidão.

“Brown!”, o professor gritou meu nome.

“Aqui”, respondi a chamada. Ele nem deu um segundo olhar na minha direção. Se eu estive ali aquele tempo todo, nada iria pegar fogo. Jeremy chegou ao meu lado, sorrateiro. “Tudo feito.”

“Você é rápida e certeira, Brown.”, ele sussurrou de volta. “Ah, achei Aliel. Nos vemos por aí.”, ele se afastou indo em direção de sua namorada e seus amigos.

Harper – que tinha pegado as nossas mochilas e escondido novamente – passou um braço em meus ombros e acompanhou meu olhar. Ela balançou a cabeça, mas não disse nada de imediato. Só quando a pista começou a esvaziar que ela finalmente disse o que tanto queria. Na verdade, eu teria preferido que ela continuasse em silêncio, mas era pedir demais.

“Você tem que ficar com outras pessoas.”, ela murmurou me arrastando para o vestiário. Com toda aquela confusão, o professor não viu sentido em continuar a aula. “Já viu que Jeremy não é uma opção. Sinceramente? Ele nunca foi. Não sei quem está mais gamado nesse relacionamento. Mas você ficar olhando para ele com cara de cachorrinho de caiu da mudança, não dá.”

“Eu sei”, gemi. Estalei os dedos de minha mão, nervosa. “Recebi alguns convites para encontros, só que não estava com cabeça para isso. Com a viagem, Adriel, o casamento...”, balancei a cabeça, tentando espantar os meus pensamentos.

Harper franziu o cenho.

“O que Adriel tem a ver com isso?”

Antes que eu tivesse a chance de responder – ou mentir, o que era mais possível de acontecer – algo me puxou pelo antebraço. Me preparei mentalmente para encarar as acusações e a raiva de Austin. Só que foi outro loiro quem me puxou. Meus olhos se arregalaram diante da expressão acusatória dele.

Minha mente estava cheia de perguntas. E toda a satisfação e alegria que eu havia sentindo enquanto quebrava o carro de Austin, se esvaiu de meu corpo. Tudo era gelo. O braço de Harper foi retirado de meus ombros, mas ainda conseguia sentir a sua presença ao meu lado. Adriel, notando-a também, lhe deu um olhar penetrante. Eu teria dando um passo para trás se não fosse o aperto firme do meu monitor. Harper apenas cruzou os braços.

Adriel suspirou, soltando o ar como se estivesse cansado.

“Harper, por favor.”, ele pediu em um sussurro.

Minha amiga estreitou os olhos por um segundo, avaliando a expressão de meu monitor. Ela soltou o ar e jogou as mãos para o ar, como se desistisse e se afastou sem me dizer nada. Assim que ela estava longe o suficiente, Adriel abaixou o rosto o bastante para que seus olhos ficassem na altura dos meus. Seu cheiro me envolveu e minha boca ficou seca.

Seus dedos finalmente soltaram meu antebraço, mas o calor do seu toque permaneceu em minha pele. Passei a língua por meus lábios secos e o amaldiçoei quando seguiu meus movimentos com os olhos astutos e gatunos. Tudo dentro de mim estava agitado e a capacidade de fazer alguma piada esperta ou sarcástica tinha se esvaído de mim.

Adriel não tinha noção no terreno minado em que estava pisando e aproximou ainda mais o seu rosto. Seu hálito fresco invadiu meu nariz e me deixou mais perdida do que antes. Tudo o que o envolvia me intoxicava. Agradeci que ainda estava com os óculos escuros, assim ele não veria que eu não chegava aos pés de sua perfeição estética.

“O que vocês aprontaram?”, ele sussurrou com rapidez. “Sei que você e Moore não estavam com os outros quando aquela confusão aconteceu.”

Queria que Harper estivesse ali. Pelo menos iria me dar uma ancorar para sair daquele perigoso sonho. Por um segundo, a menção de minha amiga, fez a lembrança do breve olhar de reconhecimento entre ela e meu monitor voltar. E a ideia doida que tinha se instalado em minha mente conseguiu firmar raízes em meu cérebros.

Sabia que Adriel escondia alguma coisa. E o que quer que fosse, Harper sabia o que era.


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Notas finais do capítulo

Será que Harper realmente sabe? Algum chute sobre essa história?



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