Filho da Mentira escrita por Sirena


Capítulo 11
Son of Lie- Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Oiiiiiiiiiiii voltei!
Estava inspirada essa semana então resolvi postar mais um...
Espero que gostem!



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Capitulo Onze

Son of Lie- Parte 2

Loki

Mesmo não sentido meus pés fui obrigado a caminhar.

Um passo, após o outro. Tropeçando a cada poucos passos, inclinado com o peso mórbido do meu corpo quadruplicado pelo peso das correntes que afundavam minhas costas.

–Balder odiaria ver seu estado nesse momento, imaginar a que ponto o irmãozinho chegou-Comentou meu pai- Não acha?

Ele sorriu.

–Perdoe-me Loki. Esqueci que você não pode mais falar.

“Não consigo mais andar” pensei, levantando a cabeça para a chuva. Ela molhava meu rosto, lavando meus olhos, retirando o sangue que outrora prejudicava minha visão.

“Não consigo”

Eu caí de joelhos, exausto. Não conseguia sentir mais minhas pernas. Não sentia mais nada além de dor e um cansaço que ia além da minha compreensão. Tentei me levantar novamente, mas tudo que consegui foi que meu corpo voltasse a tocar a lama e na chuva úmida, a cabeça inclinada para baixo.

–Vai ficar realmente parado?- Perguntou meu pai, ajoelhado ao meu lado- Você não pode permanecer aí quando centenas de pessoas estão paradas neste tempo horrendo para te ver.

“Quero descansar. Por favor, deixe-me descansar”

Eu não tinha mais forças para nada. Mesmo se eu quisesse levantar e correr, não conseguiria.

Não restava mais muito de mim.

–Vamos, Loki. Estou pedindo para que você se levantar. Você está mudo, não surdo. Sendo assim, pode perfeitamente me ouvir.

Continuei imóvel, parado, apenas lutando para respirar, alimentar meu corpo com oxigênio o bastante para sobreviver.

–Não me obrigue a fazer isso. Eu acabei de polir minhas botas- Ele disse, colocando um dos pés nas minhas costas afundando meu corpo na terra macia e suja.

–Sabe, eu deveria fazer você ir até a Cripta se arrastando como a serpente que você é, mas ia demorar muito.- Falou em tom pesaroso- Ajudem o prisioneiro a prosseguir, por obsequio.- Ordenou meu pai.

Prontamente dois guardas, um de cada lado agarrou meu braço, puxando-me para cima, ajudando-me a firmar meus pés fracos no chão. Um dos soldados, o da minha direita, olhou rapidamente para mim. Eu o conhecia. Syro. Embora nunca ter trocado uma palavra sequer com ele, nos víamos quase diariamente, um contato maior do que alguns de meus familiares.

–Eu sinto muito- Sussurrou, os olhos verdes bem destacados na pele escura.

Uma lagrima deslizou pelo meu rosto, invisível pelas gotas de chuva que caiam na mesma direção. Gostaria de agradecê-lo pelo gesto. Gostaria de poder falar.

Mas não podia.

Fiz um breve aceno. Era tudo que conseguia fazer. Tudo que minhas forças permitiam.

Mesmo com a ajuda dos guardas, ainda precisava arrastar para caminhar, o calcâneo se rasgando nas pontas das estalagmites. Um caminho não muito longo, porém parecia extremamente desgastante e intenso quando se está perto da morte.

Enquanto eu me aproximava da Cripta, o local onde era realizada as punições dos prisioneiros, poderia ouvir o som da multidão, das pessoas afobadas, ansiosas para ver o novo vilão de Asgard. A nova mente insana e criminosa.

O filho do rei.

Eu já presenciara uma punição. Uma única vez. Acho que foi um ladrão ou um assassino. Não me lembro exatamente. A única coisa, a única imagem que não saí da minha mente é de ver o carrasco empunhando um machado grosso, maior que seu braço, afiado, a lamina caindo nas junções dos seus membros arrancando-os como se fossem folhas de papel, um por um, restando apenas um tronco manchado de vermelho e um rosto deformado pela dor. Mais nada.

Nunca pensei que um dia estaria no seu lugar. Que estaria sendo punido por um crime que ainda não tomei total conhecimento do que seria. Sei que menti. Sei que isso é uma forma de traição. Eu conheço perfeitamente os princípios de Asgard. Fui criado neles, conheço as leis. Mas nunca pensei que esse ato me levaria até aqui.

Que me levaria ao meu fim.

–Pare- Ouvi uma voz dizer. Era comigo?

–Eu ajudo levar o prisioneiro a partir daqui. Este garoto é especial. Precisa que um velho amiguinho o leve até o altar-Zombou Tyr, segurando meu braço com força, afundando a unha nos ferimentos causados por ele.

–Aposto que esta gostando de toda essa atenção, não está?- Ele perguntou, puxando minha cabeça para trás pelo cabelo, obrigando-me a observar a multidão em torno, o povo, os lideres, seus olhos fixos em mim, acompanhando meus passos- Você não apenas gosta, está amando. Natural como um peixe na agua. Faz parte de você. Parte de seu sangue. Mesmo sendo uma casca podre ainda é um príncipe. Nasceu para ser um líder, para receber atenção. Para ser reverenciado. Mesmo que para todas as almas viventes aqui e até mesmo aquelas que estão se desintegrando no além você seja apenas mais um traidor imundo.

Tyr puxou meu crânio em sua direção, um segundo para meus lábios fechados pelo o aço, uma eternidade em meus olhos.

–E você sabe disso, não sabe?!- Era uma firmação, não uma pergunta.

Não, eu não sabia. Não havia certeza de nada naquele minuto. Nada além do fato de que eu não gostava daquilo. Acho, que teria que ser alguém insano para apreciar um momento como aquele.

–Infelizmente a atenção não irá apenas para você essa noite. Como Odin foi estragar seu momento de gloria, nesta noite escura e chuvosa?- Ele se virou para direção oposta- Por que atrapalhar o momento triunfal do filhinho caçula, trazendo mais uma aberração criminosa?

Como assim? Como assim havia mais alguém?

–Você o conhece. Vamos, olhe para ele- Pediu.

E obedeci.

Olhei.

Mas não queria ter visto.

Não queria ter imaginado. Não queria... Céus! Como? Por quê? Por quê?

Garret.

Garret era o outro prisioneiro.

–Você o conhece! Não negue, nem mesmo com um gesto. Eu vejo pelo seu olhar. Vejo o terror gritante em suas pupilas. Era seu amiguinho? Não me diga! – Exclamou, surpreso- Agora sim, isso vai ficar realmente interessante. Muito interessante...

As palavras de Tyr passaram quase despercebidas em minha mente caótica. Sufocada por uma única pergunta: por que Garret estava ali? Tinha a ver comigo? Ele seria condenado por ter me ajudado? Não! Tinha que ser outra coisa. Alguma coisa que... Não sei ele tinha feito no passado. Um crime que ainda precisava ser pago.

“Não era minha culpa. Não era minha culpa” Era tudo que conseguia pensar, um pensamento falso. Um pensamento que no fundo sabia que era mais uma mentira.

–Chegamos, pequeno tolo- Avisou assim que chegamos ao altar da Cripta. Um palco gigante, com o piso de rocha , iluminado por tochas que mesmo com a chuva constante se mantinham acesas para visão plena dos espectadores. No canto, toras, cordas e instrumentos de torturas antigos, facas, flechas e machados que mesmo rústicos eram piores e mais dolorosos que qualquer espada moderna.

Mas o que mais me chamou a atenção foi a figura alta e morena, vestida com trapos, rasgados e disformes, o que restava da sua roupa integra. Mesmo com a distancia ainda conseguia ver as manchas vermelhas e roxas que coloriam sua pele sufocada pela luz amarela e artificial do fogo.

–Onde está seus modos, príncipe? Não se sabe que se deve ajoelhar na presente de seu rei!

Assim que proferiu essas palavras , ele soltou seu braço, a força que me sustentava. Imediatamente caí no chão, curvando, uma pilha de ossos que não conseguia se manter fixo, sem utilidade.

Um inseto na presença do rei.

Um nada diante de meu pai.

–Estávamos no aguardo da sua presença. Faltava apenas você para começarmos a festa- Inclinou-se, retirando lentamente sua luva direita e jogando-a no chão. Repetiu o mesmo processo com a outra.

Não havia mais problemas ele sujar as mãos.

–Povo de Asgard. Boa noite. Sei que não esperavam estar aqui, nem mesmo eu o Pai de Todos, seu rei esperava estar aqui. Meu planejamento inicial era ter um banquete agradável na presença dos de mais lideres dessa terra harmoniosa. Mas convenhamos. Quem espera ser traído?- Ele aumentou o tom de voz, um grito- Pelo próprio filho?!

Ele se parou, ao meu lado.

–Sim. Vocês conhecem este garoto ao meu lado! Loki Odinson. Vocês podem dizer... Ele é apenas um garoto. Eu também fiquei surpreendido quando ele me traiu. Mentiu para mim e ainda trouxe... - Ele fez um sinal com o indicador, para que o guarda ruivo ao fundo o entregasse um saco vermelho- Essa ave amaldiçoada- Ele disse, jogando o conteúdo no chão. O corpo decepado de Valravn despejado no chão- Sim, um corvo. A ave amaldiçoada. –Ele suspirou- Um menino, mas que já teve a ousadia de mentir, trair e... Magia Negra? Bruxaria? Será que podemos classifica-lo assim, após manchar nosso solo pacifico?

Ele se distanciou, um silêncio momentâneo de seu discurso.

–Mas um traidor sempre tem um cumplice. Quando você encontra um rato, sempre encontra mais, um ninho. Como uma praga. Por isso gostaria de apresentar vocês, Garret- Ele se dirigiu ao meu amigo, um sorriso maligno nos lábios- Sei, ele não é tão famoso como o outro, mas provavelmente algum de vocês já o avistaram na rua e aposto que nunca pensaram que ele fosse um traidor. Não culpo vocês, pois eu mesmo fui enganado, deixando que ele servisse nosso mundo como um soldado. Que arrependimento- Ele se lamentou.

–Você é um traidor- A voz de Garret ressoou ao fundo. Impressionado com a ousadia do prisioneiro, o rei se dirigiu até ele, a ira translucida em suas feições.

– Quero que diga isso, olhando para mim- Ordenou.

–Você é um traidor. Um mentiroso. Um idiota hipócrita- Afirmou, os olhos fixos nos de Odin.- Olha o que fez com o próprio filho! Você está matando o próprio filho!- Ele gritou, sua voz dissipado prelo soco desferido por Tyr.

–Eu não estou matando meu filho. Ele está matando. Seus atos o levaram até aqui. Suas mentiras.

Garret sorriu, os dentes manchados de sangue.

–Quem é que está mentido aqui além de você?-Perguntou, irônico.

Tyr socou novamente sua face. Uma. Duas vezes.

–Tenha respeito pelo seu rei!-Gritou meu pai.

Ele levantou os olhos castanhos, ameaçadores.

–Você não é meu rei!- Afirmou Garret, para que todo o povo ouvisse.

Tyr agarrou Garret pelo pescoço, jogando-o no centro da Cripta, a cabeça batendo na pedra. Ele estava bem próximo de mim agora, menos de um metro de distancia, a respiração acelerada, tanto quanto sua mente ativa.

–O que fizeram com você , Loki?- Perguntou Garret, tentando se arrastar até mim.

“Desculpe-me, Garret” pensei, toda culpa refletida em meus olhos cinzentos.

–Você é acusado de traição contra seu rei e sendo assim, contra a própria Asgard. Você confirma isso?- perguntou o Olho, o homem responsável pela ordem do reino.

–Sim- Ele afirmou- Se meu crime foi ajudar esse garoto inocente eu confirmo minha participação.

–Quero uma resposta direta. Você traiu ou não nosso rei?- Repetiu o Olho.

–Sim. Eu o trai- Confirmou.

–Você sabe das consequências deste ato?- Indagou o Olho, a íris arroxeada destacada pela massa de cabelos brancos presos num rabo de cavalo.

–Sim. E aceito com prazer as consequências. - Ele disse, a voz firme, sem hesitação.

Por favor, não faça isso. Não... Faça isso Garret...

–Meu rei?- Perguntou o Olho, voltando-se para Odin.

–Quero que deixe o prisioneiro defronte a Loki- Ordenou o rei.

Um dos guardas surgiu por trás, agarrando um dos braços de Garret, o obrigando a se virar, permitindo que ele ficasse frente a mim, me observando detrás da mecha de cabelo desalinhado caído em seu rosto.

–Vai ficar... Tudo bem... Loki- Prometeu o prisioneiro, engolindo em seco.

–Vocês viram que esse homem se auto- declarou culpado pelo crime de traição. Ele merece ou não uma punição?- Perguntou Odin ao seu povo.- Digam ele merece ser punido?

O silencio foi tomado pela voz. Uma voz cega, num tom surdo.

Um grito positivo.

Eles queriam que Garret fosse punido.

–Vejam, não sou eu quem falo. Mas o povo. Eles querem justiça. Querem livrar nossa terra de mentirosos e traidores. E assim sendo, como um bom líder, irei respeitar sua decisão.- O povo vibrou, sua alegria era quase áspera, tangível- E a punição para este ato infame é a decapitação.- Declarou o rei.

“Não, por favor” – Eu queria gritar.

O guarda fez um gesto para virar Garret, deixar sua face visível para o povo, porém Odin fez um gesto com a palma.

–Não. Quero que Loki veja isso. Bem de perto.- Disse ele, sombriamente.

Olhei para o carrasco que se aproximava, um homem alto com o rosto encoberto por um capuz longo e escuro. Em uma das mãos um machado sujo com sangue seco pendia ameaçadoramente, pronto para o próximo golpe.

–Não confiei em ninguém, Loki. Lembre-se disso- Murmurou Garret, os olhos vermelhos, injetados.- Agora, lembre-se o que eu disse e... Feche os olhos- Pediu, gentilmente.

Mas eu não obedeci. Eu não conseguia processar suas palavras, não conseguia...

Então... Eu vi...

Vi quando o machado desceu lentamente, enquanto os olhos castanhos do meu amigo me fitavam.

Quando o brilho tão presente se dissipou. Vi quando a ultima luz se apagou. Quando a escuridão surgiu.

Observei enquanto a cabeça se separava do corpo, ainda imóvel, como se não tivesse recebido o estimulo que a parte principal, seu pilar não estava mais presente. Que estava caída manchada de sangue escuro, largada como se fosse um pedaço de carne exposto, sem valor inumano.

Ouvi as vozes que comemoravam a morte de um ser humano. Que gritavam pela morte de um inocente. Que apoiavam a injustiça.

Que escureciam minha alma.

–Viu o que fez Loki- Meus olhos se desviaram do carrasco, agora a cinco passos do corpo- Depois do que fez com sua mãe, deixando-a louca daquela maneira você ainda conseguiu piorar a situação. Levar um velho soldado a trair seu pai- Ele parou. Havia uma pequena faca em suas mãos, um objeto de prata, leve, que dançava entre os dedos enquanto ele falava- Levar alguém a morte. Quantos mais você vai matar?

Ignorei. Simplesmente ignorei o que ele falava.

A faca, acompanhei ela com os olhos. Seus movimentos, imaginando ela penetrando sua carne, cortando o osso... Separando o vasos sanguíneo.

Repentinamente senti uma sensação estranha, singular. Minha cabeça que já estava doendo começou a latejar, palpitando, martelando.

E então, como um reflexo, a faca que outrora desviava de seu dedo anelar se afundou no mesmo. Um movimento não físico, mas puramente nervoso, apenas utilizando a mente, a consciência.Pude manipular as leis da gravidade, forçando a faca mudar seu curso e penetrar em seu osso. Um ato tão voluntário quanto involuntário. Algo que não tinha noção plena.

Simplesmente fiz, sem saber como ou o que estava fazendo.

Fiz o que almejava fazer. Que mesmo que fosse pouca, que ele soubesse o que era dor.

Odin gemeu, os lábios retorcidos pela dor. Como se soubesse o que havia acontecido, o rei olhou para mim e, por um momento, pude ver meus olhos refletidos nos seus.

Não cinzentos. Não se tratava da cor habitual que convivi durante todos esses catorze anos, mas verdes. Um verde claro, intenso, com um brilho impossível, sobrenatural.

–Seu bastardo, feiticeiro- Ele falou entredentes, arrancando o objeto de seu dedo e jogando-o no chão- Como tu ousas?

Ele balançou a cabeça.

–Acabei de provar minha teoria que além de ser o Filho da Mentira, Loki, o Traidor também está envolvido com magia- Ele falou, mostrando sua mão suja de sangue- O que vocês acham de uma punição pessoal?- Perguntou, estendendo a mão para Tyr.

A Espada do Rei, entregou imediatamente um chicote para seu mestre, ainda enrolado sobre si mesmo. Com um simples movimento, o chicote retornou a sua forma original, esticado, cinzento, aterrador.

–Cometeu mais um erro.

O chicote estalou nas minhas costas arruinadas, se envolveu em meu crânio dolorido e rasgou minha face ferida. Uma tortura opressora, pois sofria em silencio, sem voz, apenas lagrimas.

Chorei pelo meu amigo morto, por Valravn, por todos que feri.

Por mim e pelo meu sofrimento.

E depois disso, depois que o chicote estalou pela decima vez, minha respiração estava praticamente nula e quase todo meu sangue estava espalhado na Cripta, finalmente me entreguei a escuridão.

Um frio congelante e sem luz que esperava que durasse para sempre.

Pois agora, mais do que qualquer coisa eu queria descansar em paz.

Eu queria morrer.


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Notas finais do capítulo

Ok, piorei a situação dele né?
Bem terá mais um capitulo antes do fim da parte um.
Mereço reviews?Recomendações?(Ok já estou exagerando rs)
Por favor me avisem caso achem que a estoria esteja ficando chata ou enfadonha.