Atraída por um Darcy escrita por Efêmera


Capítulo 21
Espiando um Encontro


Notas iniciais do capítulo

Olá, povo lindo! Digam-me como estão.
Então, falei que estaria postando, certo? Então lá vai mais esse capítulo lindo. Espero que gostem. Resposta para os comentários lá embaixo.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/489705/chapter/21

― Fomos roubados! Meu Deus, fomos roubados! ― gritei desesperada ao correr para o meu quarto. Nada! Abri a porta do meu guarda-roupa. Outro nada enorme! Onde estavam as minhas coisas? E quem roubava roupas?

Ok, eram roupas de marca. Mas eram apenas roupas, droga!

Darcy vinha logo atrás de mim. Estava visivelmente mais calmo, mas reconheci uma nota de preocupação e confusão em sua face.

― Tem certeza? Não me parece que você foi roubada.

Dizendo isso, ele alcançou seu celular e discou algo, levando o aparelho até o ouvido.

― Tio... ― Com quem ele estava falando? ― Estamos aqui no seu apartamento... ― Ele estava falando com o meu pai? Ele chamava meu pai de “tio”? Em que mundo eu estava vivendo? ― Sim, estou com ela. ― Silêncio. ― Ah, compreendo. Foi minha mãe? ― Mais silêncio. ― Que bom que o senhor os procurou então. Até daqui a pouco. ― e desligou.

Eu estava parada, olhando-o chocada. Minha mente ainda ecoava o “tio”, não dando espaço para refletir sobre as palavras que havia captado.

― Você chama meu pai de tio?

― Vamos, temos que ir para a mansão. ― respondeu ignorando minha pergunta e deixou o quarto. Eu o segui, precisava de resposta.

― Você realmente chama meu pai de tio? ― tentei novamente. Ele continuou andando, mas conhecia minha persistência o suficiente para ainda evitar responder.

― Sim.

― Por quê? ― perguntei novamente enquanto esperávamos o elevador.

― Porque quero.

Idiota.

― Então vai me chamar de prima agora?

Ele me olhou como se achasse divertido o que eu havia falado, seus lábios esticados em um pequeno sorriso.

― Você não é minha prima.

― Nem meu pai é o seu tio. ― apontei.

― Mas eu não beijei seu pai, beijei? ― ele tornou me encarando, seus lábios ainda ostentando o sorriso dúbio. Não pude evitar ficar vermelha e abaixei minha cabeça. Ainda não conseguia lidar com a lembrança daquele beijo. Era tão surreal.

O elevador chegou e me salvou da situação, fazendo-o olhar em outra direção. Entramos no mesmo que, para minha sorte – ou azar –, não estava vazio. O síndico, um senhor muito simpático de meia-idade, me olhava divertido.

― Lizzie... ― começou o homem usando o nome pelo qual eu insisti que ele me chamasse. ― O que você está fazendo aqui?

O olhei sem entender, afinal era para ali ser meu lar, não é? Nada mais normal do que eu frequentar o lugar.

― Bem... eu vim para casa- ― comecei, mas não tive como continuar porque o Sr. Stevens falou logo em seguida.

― Mas o seu pai se mudou ainda esta tarde. Ocorreu um erro da administração, o apartamento estava locado para outra pessoa. ― O homem parecia irritado com isso, mas não continuou a falar.

― Se mudou? Ele não me falou nada! E agora, onde ele está? ― perguntei olhando para Darcy.

― Ele está lá em casa, estão nos esperando.

Na casa dos Darcy novamente? O que iríamos fazer lá?

Despedi-me do Sr. Stevens e deixamos o prédio, seguindo para a mansão. Quando finalmente entramos na propriedade a hora já estava bastante avançada, o que me fez pensar que não iria encontrar ninguém acordado. Mas foi com surpresa que encontrei todos reunidos na sala de estar. Maggie correu para me abraçar, seguida por Georgie (que embora ostentasse um sorriso nos lábios, não tinha a aparência vivaz de sempre).

― Lizzie, que saudade de você! ― começou a mulher mais velha.

― Você sumiu. ― disse Georgie. Me senti mal por ter sumido da vida delas daquela forma. Não era porque havia me mudado que tinha que desaparecer completamente.

― Me desculpe... estava ocupada...

― Não precisa se desculpar, está tudo bem. De agora em diante tudo voltará a ser como era. Voltaremos a ser uma família! ― falou Maggie e eu não pude conter minha expressão de confusão.

― Nós voltaremos a morar aqui, filha. ― disse papai, seu olhar triste, como se tivesse sido derrotado. Senti sua dor por algum tempo, até que percebi o que aquilo significava. Eu iria voltar a fazer parte da família Darcy... iria voltar para todos que havia aprendido a amar recentemente. Não consegui conter minha felicidade, um sorriso radiante tomando a minha face.

@@@@

A primeira semana de aula depois que eu retornei para a casa Darcy passou rapidamente. Durante a semana, Henry havia se aproximado mais de mim e vivíamos conversando. Ele havia me confessado que seu comportamento rude com Darcy era porque estava apaixonado por Stefanski, e a adoração dela por Darcy havia tornado o comportamento dele muito vingativo. Compreendi, embora não concordasse; nem todo mundo sabe lidar com o que sente.

Em uma de nossas conversas, ele acabou tendo a ideia “fabulosa” de fazer ciúmes a ela. Eu tentei tirar isso da cabeça dele, esperando que um homem, que se esperava que fosse mais maduro, parasse com aquela ideia infantil. Ele não aceitou. Pior, me pediu para ajudar. Eu tentei fazê-lo voltar atrás, mas não consegui. Pior, ele começou a falar que isso também poderia me ajudar, fazendo Darcy ficar com ciúmes de mim. Confesso que no começo fiquei com o pé atrás, mas depois de um tempo acabei por achar a ideia legal; não estaria perdendo nada mesmo.

Então tudo começou. Passamos a chegar aos treinos juntos, vivíamos conversando mais abertamente, saíamos juntos e muitas vezes ele ligava para a mansão me procurando. Henry era até legal, além de bastante agradável de olhar (apesar do bigode horrível), nossa conversa fluía de maneira tão agradável que logo a nossa amizade se tornou verdadeira. Os encontros passaram a ser uma parte bastante agradável da minha vida, e desde então eu não mais sentia que fazia aquilo para colocar ciúmes em Darcy. Mas, apesar disso, era tudo amizade. Sempre que eu olhava para Henry conseguia vê-lo apenas como um grande amigo, alguém que poderia fazer parte do meu pequeno círculo de amizades verdadeiras.

Tudo estava indo bem, havia vários burburinhos sobre nós estarmos juntos. Claro que sempre desmentíamos, afinal nosso objetivo não era entrar em um relacionamento com o outro, mas ainda assim continuávamos muito próximos. Na mansão, Maggie parecia preocupada, tendo mais conversas comigo do que antes e sempre perguntando o que eu tinha com Depardieu. Tentei diversas vezes convencê-la de que era apenas amizade, mas ela não aceitava.

Eu e Depardieu só tivemos um momento problemático, quando, enquanto conversávamos em um dos banquinhos da faculdade, ele me roubou um beijo. Foi um selinho rápido e sem importância, mas, por ele segurar firme meu rosto contra o dele, acabou por parecer mais longo do que realmente era. Me irritei com ele e me alterei um pouco, deixando-o sozinho desde então. Ele me pediu desculpas depois, mas o deixei correr bastante atrás até realmente o perdoar. Segundo ele, o beijo foi apenas para dar mais veracidade ao nosso caso. Eu não podia odiar mais, afinal não queria veracidade, só a ideia já bastava!

Quando menos esperei já era sexta-feira e eu, Jane e Char estávamos almoçando na imensa cafeteria da faculdade. Jane e Char não paravam de falar de seus namorados. Sim, namorados. Eu era a única solteira. Charles havia marcado de passar o sábado com Jane, em Londres. Char também tinha planos para o dia seguinte com o namorado misterioso, já que era o dia de folga dele. Eu olhava para as duas e sentia uma ponta de ciúme. Era ótimo ver Jane apaixonada, e Char se apaixonando. E, melhor ainda, sendo correspondidas. Eu só queria ter essa sorte.

― Então... ― comecei, parando a conversa das duas sobre namorados. ―, eu ouvi falar sobre um filme que está em cartaz. Que tal se a gente aproveitasse o domingo para ver? Faz tempo que não vamos ao cinema.

― Perfeito!  ― Char falou e Jane concordou. Tive que aceitar. Não estava realmente alegre em ir com elas, mas eu não tinha muita escolha. Já havia tentado quem eu realmente queria, Darcy, mas, embora ele tenha sido um pouco receptivo ao meu convite, negou na hora. Uma parte da culpa da rejeição foi minha. Lembro perfeitamente da minha bola fora...

― Um filme? ― ele perguntou sem levantar os olhos do livro que estava lendo na biblioteca. Em dias anteriores, teria me colocado para correr, agora estava até conversando.

― Sim, vai estar em cartaz até domingo e a crítica é favorável. Quer ir comigo?

― Não.

― Mas é muito famoso. É um romance sobre um ciborgue e uma colegial. E o ator é igualzinho a você, é até tão frio quanto!

― Isso foi uma tentativa de insulto? ― indagou levantando o olhar até o meu.

― Claro que não!

― Se você quer tanto ir, por que não vai sozinha ou chama Depardieu?

― Se não quer ir, não precisa ser rude assim...

― Você me chateia. ― E voltou a ler.

Depois eu havia desistido de tentar ir com ele. Não que eu tivesse certeza que ele iria aceitar, mas pelo menos eu poderia tentar, não sou tão covarde assim.

Também havia Georgie, mas ela andava tão melancólica que eu tinha certeza que a última coisa que ela iria querer ver seria um romance. Eu teria que falar com ela aquela noite, tinha certeza. Ela não poderia continuar assim. Quando eu finalmente cheguei a casa procurei por ela por todos os lugares, até que só restou o quarto dela ou então ela poderia estar no orfanato – eu torcia para que ela estivesse. Não demorou muito para que ela abrisse a porta depois que eu bati.

― Ah, Lizzie, é você! ― ela falou desanimada, voltando a entrar no quarto. Eu sorri para a minha amiga, pelo jeito ela estava amando Richard demais.

― Quem você achou que seria? ― perguntei a seguindo.

― Sei lá, às vezes me pego sonhando que alguém vai me chamar dizendo que ele está lá embaixo me esperando. Ele não está, não é? ― perguntou esperançosa e eu ri.

― Não, Georgie, ele não está.

― É uma pena...

― Mas todos os outros estão, você não pode fazer isso com a sua família. Sua mãe tem estado preocupada, embora tente não demonstrar, eu vejo como ela olha para você. Já Darcy...

― William tem amado tudo isso. Foi ele quem fez Rick ir embora!

Eu arregalei os olhos chocada, minha boca fazendo um O.

― Você não pode acusá-lo assim sem ter certeza, Georgie, Richar-

― Ele me falou, Lizzie! Ele confirmou ontem à noite. Ele veio aqui no meu quarto e disse o que tinha feito e me pediu desculpas. Eu o perdoei, afinal o amo demais para não perdoar, mas ele não tinha o direito de ter feito isso!

Uma parte de mim queria não acreditar, mas eu sabia que Darcy era capaz daquilo. E eu não sabia de nada do que estava acontecendo, Rick havia escondido tudo!

― O que ele fez, Georgie?

Ela suspirou, as olheiras em volta dos seus olhos mostrando que ela não estava nada bem com aquilo tudo.

― Ele disse ao nosso primo que ou ele tentava me esquecer, ou não iria mais querer a amizade dele. Ele fez Richard escolher! Mas Rick me escolheu... Só que daí Will falou que também iria cortar ligações comigo. Comigo, acredita? A irmã dele! Então Richard teve que tentar mais isso. Agora estou com medo de que ele realmente me esqueça.

― Ele não vai, Georgie. Você já falou com ele depois disso?

Ela sorriu sem graça, mas não era um sorriso de alegria.

― Tenho me comportado como uma idiota e rejeitado todas as chamadas dele.

Eu sorri também, ela não tinha jeito. Eu tentei mais uma coisa...

― Eu acho que vocês estão perdendo tempo ao aceitar os obstáculos que o seu irmão impõe.

― Ele não põe mais obstáculos, Lizzie. Ele me pediu desculpas e disse que iria parar de atrapalhar.

― Mesmo assim... você está deixando de falar com Rich por causa de Darcy!

― Mas ele não me contou o que estava acontecendo! Era suposto que o meu irmão seria algo que eu iria cuidar, e ele resolveu lidar com Will sozinho, me deixando de fora! ― Georgie se exaltou. ― Tá certo que o nosso relacionamento não era realmente um relacionamento, mas ele me beijou, sabe?! Eu não contei para ninguém, mas ele finalmente criou coragem e me beijou lá na estufa. Ele veio visitar meu irmão, daí como Will não estava eu pedi para ele dar uma volta comigo e rolou. Eu pensei que ele iria fazer algo, mas não, ele foge para a América!

― Mas ele não tem tanta culpa assim, Georgie.

― Eu sei! Na verdade Darcy havia visto o beijo, ele me contou. Ele estava na estufa na hora e ficou muito irritado com a traição de Rick.

― Mas Darcy não tem nada a ver com isso, Georgie...

― Ele tem, Lizzie. Ele pode não ter o direito de fazer isso, mas tem muito a ver. Eu, ele e Richard crescemos como irmãos e ele se acostumou com isso. De repente nossos sentimentos mudam e ele não gosta, porque para ele eu e Richard somos irmãos, entende? E ele está com ciúme, eu sei. Sempre fomos tão próximos, ele não me quer com homem algum, principalmente com alguém que é como irmão para ele. Eu confesso que faço a mesma coisa com as mulheres que se interessam por ele. Com você foi diferente, mas odeio qualquer mulher que tente se envolver com o meu irmão. Eu o compreendo, porque seria capaz de fazer a mesma coisa.

Eu gargalhei da cara dela, embora o assunto fosse tenso.

― Você não faria, Georgie, é um anjo.

― Eu faria, Lizzie. ― ela me encarou. ― Faria até mais pelo meu irmão. Depois do que George tentou fazer comigo eu abri meus olhos.

Eu suspirei, resignada.

― Eu entendo... Mas então, o que vai fazer com respeito a Rich?

Ela ficou calada por um tempo, parecendo refletir. Depois suspirou.

― Atendê-lo.

Eu sorri para a sua decisão.

― Ótimo, faça isso mesmo!

Depois de lhe desejar boa sorte com um abraço, eu a deixei sozinha no quarto para que pudesse se resolver com Richard, afinal eu precisava descansar.

@@@@

Domingo havia chegado e eu estava na fila do cinema esperando as meninas chegarem. Mas, para minha infelicidade, Jane ligou avisando que iria sair com Charles novamente e Char teria um compromisso inadiável com os pais dela. Eu suspirei resignada, não havia nada que eu pudesse fazer, exceto aceitar. Mas, ainda assim, estava triste, pois só tinha casal ao meu redor e eu era a única pessoa sozinha. Quando eu finalmente tinha lamentado o bastante, tentei sair da fila para voltar para casa, mas fiquei paralisada quando vi Darcy passando ao lado de Stefanski. Eu não podia acreditar que ele estava fazendo aquilo. Ele havia rejeitado o meu convite para sair com ela? Por que ele estava com ela e não comigo? Sem poder me segurar, meus olhos começaram a se encher de lágrimas diante da visão. Ele não sairia com ela se não estivessem juntos. Foi com esse pensamento que eu virei-me para voltar à fila, mas antes que conseguisse me choquei em alguém. Pedi desculpas pelo inconveniente, mas quando levantei os olhos para ver quem era, deparei-me com henry que não tirava os olhos do casal que havia passado anteriormente.

― Henry?

― Ei, Lizzie. ― respondeu, seu rosto abatido. Então ele fixou os olhos nos meus e se aproximou: ― Por que Darcy é mais popular com as garotas que eu?

Não entendi muito bem sua pergunta.

― Er... Por que você está aqui?

― Porque estou seguindo a Megh!

Fui completamente pega de surpresa. Ele era capaz daquilo?

― Henry, não venha me dizer que está stalkeando a vida de Stefanski!

― Eu nunca faria isso! ― declarou com veemência. ― Mas eu estava tentando criar coragem para convidar ela para sair, no fim acabei aqui atrás deles.

― Mas... como isso é possível?

― Sem questionamentos, Bennet, vamos entrar! Não podemos deixá-los sozinhos lá dentro, precisamos ficar de olho.

― Mas a fila está enorme, nunca conseguiremos.

Então, para a minha surpresa, Henry me mostrou dois ingressos. Aceitei a entrada, mas ele se negou a aceitar o pagamento da minha parte quando eu insisti para que ele fizesse isso. Eu entendia o motivo pelo qual ele não aceitava: Henry também tinha dinheiro, o trocado da entrada do cinema não faria falta. E, além do mais, tinha um ótimo coração... Claro que há incertezas quanto a determinados momentos, mas nada confirmado.

Entramos na sala e demos um jeito de sentar justamente atrás deles. Darcy estava, como sempre, atento a qualquer outra coisa que não fosse sua companhia, mas a Stefanski estava usando suas táticas durante quase todo o filme para aproveitar alguma coisa relacionada a ele.

Primeiro ela tentou encostar a cabeça no ombro dele. Tentativa frustrada com sucesso pela minha capacidade de ser inconveniente ao jogar um panfleto entre os dois e acabar com o clima que ela havia manipulado. Depois, ela ainda tentou segurar a mão dele, mas, mesmo que eu não tenha mérito algum sobre isso, tenho que admitir que fiquei feliz. Em sincronia perfeita, Darcy retirou a mão justamente no momento que ela estava colocando. Fiquei refletindo sobre aquilo, pois me pareceu que ele havia visto a tentativa dela. Talvez eu estivesse imaginando demais.

Quando o filme terminou, apressei-me para que saíssemos bem atrás deles, pois eu queria ouvir a conversa. Meghara no geral falou do filme, do quanto não gostava de coisas românticas e que preferia que o lado científico tivesse sido mais explorado. Já Darcy falava sobre como queria construir um ciborgue para ele. Eu ri disso, era bem a cara dele mesmo. Depois eles seguiram para uma lanchonete e corremos para que não os perdêssemos de vista. Sentamos em uma mesa por trás da deles, ficando completamente escondidos, mas bem confortáveis para ouvir tudo o que falavam.

― Conte-me, Fitz, você já sabe o que vai fazer no futuro? ― Stefanski perguntou.

Fitz? Ele já permitiu que ela chamasse ele apenas pelo apelido? Foi isso? Onde estava o “marquês” ou “Darcy” ou qualquer outro nome?

― Não sei.

― Não sabe? Você tem um leque de opções, não há nada que não possa fazer.

― Imagino.

Eles ficaram em silêncio e eu não sabia o que estava acontecendo, pois era impossível ver qualquer coisa da mesa deles, apenas escutar.

― Então, mudando de assunto... Que tipo de garota você gosta? ― tentou Stefanski novamente.

Quem ela pensa que era para tratá-lo com tanta intimidade? E por que ela estava fazendo isso depois da rejeição?

Bom, eu teria feito o mesmo e não poderia negar que fiquei nervosa esperando a resposta dele.

― Vamos ver... Prefiro garotas que sejam bonitas, glamorosas e inteligentes. Ah, e que saibam cozinhar também, de preferência coisas salgadas.

Meu peito apertou. O tipo de garota dele era quase o oposto de mim. Eu era até bonita, mas nada comparada à Stefanski que, além de ter sido criada para saber se comportar, ainda tinha dinheiro à disposição para se manter impecável; não tinha glamour algum, afinal havia sido criada por um pai solteiro e sem dinheiro; era inteligente, mas andava precisando me focar no que realmente importava; e, para piorar, só sabia cozinhar mesmo coisas doces. Eu não tinha chance!

― Eu prefiro homens bonitos e inteligentes! ― disse Stefanski, sua voz mais animada, talvez por saber que o perfil citado por Darcy era justamente o dela. ― E detesto homens grudentos e com bigode.

Olhei para Henry, ele olhava para a mesa sério.

― Poderíamos ser o casal ideal, não? ― ela tornou.

― Talvez. ― ele respondeu e depois fez silêncio, voltando a falar segundos depois: ― Mas...

― Mas? ― interpelou Stefanski.

― Nada. O que gostaria de fazer agora?

― Estava pensando em passar no Shopping, estou precisando comprar algumas coisas. Vamos comigo?

― Claro.

― Vamos, então. ― E ambos saíram da lanchonete.

Eu e Henry os seguimos até o Shopping. Uma parte de mim queria parar, já sabia que ele havia escolhido ela, mas outra ainda queria ver como aquilo iria terminar. Eu era um pouco masoquista depois de tudo.

Eles pareciam um casal de verdade enquanto andavam pelas lojas, embora não estivessem de mãos dadas, mas foi só depois que saíram que eu havia chegado à minha decisão definitiva: era hora de desistir. À minha frente, estava Meghara Stefanski e Darcy. Ele havia passado o braço pelo ombro dela, e ambos pareciam um casal apaixonado. Era demais para mim e eu vi que não tinha mais lugar ali. Não só porque eu estava machucada e me machucando ainda mais, mas também porque ele havia feito a escolha dele e eu, como alguém que o amava, teria que respeitar. Eu não seria egoísta ao ponto de atrapalhar ainda mais a vida dele. Eu estava fazendo papel de idiota, espionando o encontro de outra pessoa e só constatando o que eu não queria saber. Eu merecia aquilo.

― Bennet, por que está tão calada?

― Estou indo embora. ― falei sem nem ao menos me dar ao trabalho de olhar para Henry. ― Não irei mais ficar vendo isso. Se eles se gostam, não há nada que possamos fazer.

― Então você vai aceitar o relacionamento deles? ― perguntou irritado.

― Isso não está ao meu alcance. ― lamentei, meus olhos se enchendo de lágrimas pouco a pouco. ― Ele já fez a escolha dele e eu irei respeitar. Além do mais... não quero me sentir pior do que já me sinto. Estou indo.

E foi quando eu virei que senti meu corpo se chocando a algo muito forte. Eu já estava ficando viciada nisso, por favor. Quando levanto os olhos, me deparo com um senhor, beirando os quarenta anos, que anteriormente estava segurando um copo com algum suco, mas que agora só segurava um copo vazio, pois o suco estava sobre todo o seu sobretudo e camisa, que por sinal eram claros. Eu gelei.

― Sinto muito, me desculpe! Sinto muito por ter molhado a sua roupa.

O cara, muito irritado, olhava-me como se pudesse arrancar a minha cabeça a qualquer momento. Henry se afastou, provavelmente com medo, me chamando para que eu me juntasse a ele. Mas eu não poderia me afastar sem antes me desculpar adequadamente. Para a minha surpresa, o cara gritou de repente:

― Então, o que você vai fazer quanto a isso? Esse sobretudo custou 1.500 euros!

― 1.500? ― perguntei chocada.

― Quero 800 para a limpeza! ― esbravejou o homem e eu quase sujei as calças.

― Não tenho esse dinheiro agora! ― falei com medo. Na verdade eu não tinha aquele dinheiro e ponto. ― Que tal 50?

― Está brincando comigo? ― o cara gritou novamente. Eu me afastei, vai que ele quisesse me agredir! ― 800 ou vai se arrepender!

― 10 deve servir. ― Uma voz muito conhecida falou e eu me senti mais calma no mesmo instante. Era surpreendente o poder que ele tinha sobre mim. Quando todos olharam na direção dele, ele tornou: ― Não... Talvez 7,50.

― Como? ― perguntou o cara, furioso.

― Estou falando sobre a limpeza dessa roupa barata.  ― continuou ele despreocupadamente.

― O que você falou? ― o senhor falou novamente. ― Este sobretudo é um... como é o nome mesmo?

Enquanto o cara tentava lembrar o nome da tal marca, Darcy riu na cara dele.

― Uma marca que nem sequer lembra do nome? Você deve ter comprado em uma feira qualquer.

― Seu maldito! ― o homem esbravejou novamente, mas quando ele tentou bater em Darcy, ele se esquivou e aproveitou o momento de desequilíbrio do cara para segurar na minha mão e correr, me levando com ele.

Corremos por mais tempo do que eu estava acostumada, mas eu não estava me importando, pois era algo que eu estava fazendo com ele. Algo que nós estávamos compartilhando. Quando eu sonhava em estar de mãos dadas com ele por toda a vida, ele parou. Embora não gostando de ter parado, eu aproveitei o momento para descansar de tão cansada que a corrida havia me deixado.

― Acho que fomos longe o bastante. ― ele ofegou, depois voltou a ficar calado enquanto tentava ficar composto. Eu não tentei falar, olhava para ele arrependida do que tinha feito. Mas foi enquanto eu pensava nisso tudo que as coisas começaram a fazer sentido. Como ele havia percebido o cara que estava gritando comigo?

― Darcy... Você sabia que estávamos seguindo vocês?

Ele já estava mais controlado quando falou:

― Eram tão óbvios que seria estranho se eu não notasse, os percebi quando cheguei no local do encontro.

― Então você sabia que Henry estava apaixonado pela Meghara?

Ele pareceu envergonhado, mas logo falou:

― No começo não... pensei que vocês estivessem saindo juntos, foi só hoje que percebi que o Henry estava interessado nela.

Eu senti a minha consciência pesada, afinal não tinha o direito de invadir a privacidade dele daquela forma. Tentei falar olhando para a camisa dele:

― Me desculpe! Depois que vi vocês juntos, eu só... mas se... Digo, se você gosta da Meghara, eu só...

― Quer sair comigo? ― ele perguntou de repente e eu olhei para cima surpresa, minha boca formando um O, para encontrar seus olhos presos em mim.

― Eu quero! ― respondi rapidamente. Era uma chance, talvez a única, eu deveria aproveitar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Então, amores, o que acharam? Deixem suas opiniões! No próximo capítulo eles terão esse encontro e uma conversa que mudará para sempre o futuro dos dois. E para as pessoas que acham que eu apelo na Lizzie, que ela deveria ter mais um pouco de amor próprio... Gente, já falei e repito: a fic é uma versão de Itazura na Kiss, um mangá/anime/drama japonês. A escrevi principalmente para quem é fã das duas obras, embora algumas pessoas que leiam apenas de O&P também gostem, mas EU SEI que uma Elizabeth Bennet não seria assim. Essa é a minha Elizabeth Aihara. q A fic está chegando na METADE, tem muita coisa para acontecer. Ela é sobre esse casal se descobrindo, aprendendo a viver juntos e crescendo nesse meio tempo. Eles estão em constante evolução, não irei apressar as coisas. Obrigada pelos comentários (que apenas dessa vez não irei responder, estou respondendo aqui porque as cólicas estão me matando. q). E eu amo os comentários de vocês, seja críticas negativas ou positivas, ou apenas aquele "gostei", "continua", etc, estarei respondendo aos próximos individualmente. haha Beijinhos, até breve!